Surreal - Art and Insanity

Capítulo 23 - O assento vazio e a voz irritante


Acordei sem muita dificuldade, pois não estava dormindo profundamente, dificilmente eu passava do primeiro estagio do sono.

Meus preparativos para ir à escola não demoravam muito, e não gastarei meu precioso tempo descrevendo minhas manhãs, escolhas de roupas e outras coisas triviais.

Na escola tudo parecia estar como sempre, algum aluno aglomerado nos cantos de sempre, outros conversando pelos corredores e atrapalhando a passagem dos que andavam ali. Tudo parecia estar como sempre esteve, mas quando entrei na sala, sentei-me e não vi Anne sentada perto da janela, percebi que havia algo diferente.

Não me lembro de algum dia em que tenha visto aquela cadeira vazia, em que Anne tivesse faltado, ela parecia do tipo que nunca faltava, a não ser que tivesse acontecido algo. E se algo tivesse acontecido algo ninguém naquela sala e na escola estaria sabendo, eu era o único que ousava falar com ela, se eu não sabia provavelmente ninguém sabia onde ela estava.

A primeira aula já havia se passado, mas eu ainda insistia em olhar aquele lugar, como se esperasse que Anne surgisse de repente ali; mordendo a caneta, fingindo estar assistindo a aula e ignorando qualquer outra coisa.

Ninguém reparou naquele lugar vazio, eu reparei. Não vi Anne olhando para qualquer coisa e não para mim.

_Sebi..._ Alice chamou-me interrompendo meus pensamentos com sua voz estridente.

Virei-me e olhei aquela garota de longas madeixas escuras e um grande sorriso, escondendo meu descontentamento por ter meu nome ridicularizado através de um apelido que deveria ser uma demonstração de carinho.

_Sebi, vamos fazer o projeto história juntos?_ Ela perguntou animada mexeu um pouco no cabelo.

_Qual projeto?_ Perguntei, eu realmente não me lembrava de nenhum projeto.

_Aquele para a nossa semana cultural que a professora Flora está organizando. Pensei em fazer sobre expressões artísticas ao longo da história, o projeto será feito em duplas de alunos, e sei que você é muito bom nisso então..._ Ela parou e olhou-me um pouco desconfortável.

Uma coisa da qual tenho certeza é de não querer ficar perto de Alice, ela é do tipo que quer se tornar o mais próxima possível, te dar apelidos e ir para sua casa nos finais de semana. Não queria alguém como Alice por perto, e tenho sorte por ser bom em dar qualquer desculpa.

_Expressões artísticas ao longo da história foi uma boa ideia, ainda não tinha pensado nisso, mas você me fez lembrar. _ Falei sorrindo como se estivesse agradecido e completei_ Mas... A Professora Flora pediu para que eu ajudasse Anne, tudo bem para você?

Eu não precisava da permissão dela, mas ela precisava pensar que eu ligava para seu bem estar, era isso que Alice imaginaria, pois é o que ela deseja. É muito mais fácil pensarmos que está acontecendo o que queremos do que pensar que está sendo enganado.

_Tudo bem._ Ela respondeu ainda feliz.

Virei-me e ia saindo da sala quando me lembrei de um detalhe.

_Alice..._ Falei num tom baixo, apenas para que ela olhasse para mim, e quando os olhos esverdeados e brilhantes se fixaram em mim continuei_ Se você puder evitar comentar o que eu te disse sobre a professora Flora ter pedido para...

_Ah, claro, não comentarei isso com ninguém._ Ela interrompeu-me, suas palavras expressaram muita veemência e aqueles olhos vidrados, assustadores.

Aquilo bastou para mim, dei um aceno e sai da sala. Já sabia o que fazer, mas antes teria que ir atrás de uma antiga conhecida.