Surreal - Art and Insanity

Capítulo 15 - Primavera


Ignorância é fechar os olhos para o óbvio.

As pessoas estão sempre querendo tornar-se mais, mais cultos, mais sutis, mais queridos. Mas elas não pensam no quanto estão sendo menos, menos despertas, menos espontâneas, menos articuladas.

Não adiantou a busca insaciável de meus pais pela cultura, pela arte e por todo o requinte dos chás beneficentes.

Talvez eu seja uma forma de mostrar para eles que a vida não é perfeita nem para eles, que eles não estão isentos da possibilidade de ter um estorvo, de envergonhar-se na frente de tanta gente culta.

Quem sabe eu tenha trazido para meus pais um pouco de realidade, um pouco de vida. Não precisei de meus quadros para isso, não precisei de cores vivas ou traços delicados, precisei do caos, do meus caos jorrando por meus poros, usei meu impressionismo, meu lado abstrato, minha sombra, minha luz e meu surrealismo.

Litros de surrealismo acompanhados com comprimidos que me faziam adormecer, descansar depois de tanto caos.

Não culpo a ausência de meus pais, não culpo a cobrança e toda aquela pressão de sempre, não culpo a realidade onde cresci, não culpo a sociedade tão superficial e não culpo a mim. Apenas aconteceu, não devia ser assim, mas é.

Não estou acomodado a minha situação, nunca estarei, apenas estou poupando meus esforços para a hora certa, para os momentos necessários. Não me serviria de nada gritar e bater-me contra as paredes em desespero, isso seria patético. Prefiro aguardar o momento certo, é como hibernar, já fiz tudo que tinha que fazer e só resta esperar a primavera.

A primavera me lembra dos nenúfares que cresciam num lago de um parque próximo da escola, eles eram brancos e com o núcleo amarelado, alguns eram creme.

Ninguém lembra dos nenúfares, todos falam das rosas, dos lírios, das orquídeas... Mas não ligam para os nenúfares, eles são tão constantes, e leves sobre a agua, que os vem não sabem o quão profundas são suas raízes submersas.

Nenúfares significa frieza, indiferença ou pureza do coração, não há nome mais apropriado.