Visão do Mike

— Como uma Malik você deve cantar muito mal — eu disse, guardando minhas coisas na mochila.
— Como? — Perguntou Nat, parada com o microfone na mão.
— Meus pais me disseram que por gerações os Malik cantaram muito mal, uma Malik até quebrou uma taça de cristal e...— Eu comecei, mas Natasha saiu correndo da sala de música, deixando o microfone cair no chão e indo sem rumo pra algum lugar.
— Espera, Nat!— gritei, mas mesmo assim ela saiu correndo. _Afinal o que há de errado com essa garota?!_ Pensei.
Me levantei e corri atrás dela.
— Nat, espera! — gritei.
Ela ainda corria sem olhar para trás.
Irritado, puxei ela pela cintura, segurando firme para que ela não fugisse.
— Não me ouviu chamando? — perguntei, olhando em seus olhos castanhos meio vermelhos.
— Não. Só me solta...— Ela respondeu lutando contra meu aperto de aço em volta de sua cintura. Encarei ela, o canto de seus olhos vermelhos, os cílios juntinhos e as bochechas molhadas...
— Natasha, você estava chorando?
— Isso importa pra você? — Ela rebateu, cansando de tentar se soltar.
— Na verdade sim. O que aconteceu? Foi algo que eu falei? — perguntei.
Ela olhou para baixo, evitando meu olhar. "Como uma Malik, você deve cantar muito mal”. Foi o que eu disse.
— Me desculpe, eu estava brincando. Não achei que..— comecei.
— "Me desculpe"?! Mas o que houve com você? Está me pedindo desculpas? Como se o que eu sentisse importasse para você. Sinceramente, Michael, você é muito fingido. — Nat disparou me interrompendo.
— O quê? Natasha, você não sabe do que está falando...— Respondi passando a mão no cabelo. Ela realmente achava que eu não me importava com ela? Patético.
— Eu sei, sei que você me despreza desde que eu cheguei, e agora você age assim...— ela explicou.
— Assim? — perguntei puxando-a para mais perto.
Olhei em seus olhos, brilhantes de raiva, as mãos fechadas em punhos em volta de seu corpo frágil. Uma lágrima escorria por sua boca rosada, e sem pensar eu... eu a beijei.

Visão da Nat

Michael me beijou? Eu estava perplexa, mas relaxei e levei minhas mãos até seu cabelo, ele pediu passagem e eu cedi.
— Você ainda acha que eu não me importo com você, Nat? — Perguntou cheirando o meu pescoço. "Estranho, mas fofo".
— Acho. Na verdade eu tenho certeza...
Antes que eu pudesse terminar ele me beijou de novo; dessa vez com mais urgência, com delicadeza, como se eu fosse frágil.
— Nunca mais fale que eu não me importo com você! — ele disse me dando selinhos carinhosos.
—Me desculpa por ser dramática, Mike — eu disse com vergonha de chorar na frente dele.
— Não peça desculpa Nat, eu que fui o idiota...— ele disse levantando meu rosto. Por um momento me senti hipnotizada por aquele par de esmeraldas me olhando. "Como é lindo", pensei.
— Você está certo Mike, minha voz não é boa.. e quando disse que eu era feia tinha razão,você só errou em dizer que os Malik não cantam bem — respondi, triste.
— Nat, eu menti, não percebe? Você é linda, e sua voz... nunca ouvi nada igual — ele disse olhando em meus olhos.
"Pode ser minha impressão, mas sua voz está carregando uma pitada de admiração".
— Me perdoa? — ele perguntou com cara de cachorro sem dono. "Típico", pensei. Mas confesso que era muito fofa.
— Não faça cara de cachorro sem dono, Michael! — comecei —Eu te perdoo.
Ele sorriu e me deu um selinho, ouvimos passos no corredor e nos separamos.
— Finalmente achamos vocês! — era o Niall acompanhado da Izzy.
— Amiga, você está bem?— perguntou Izzy.
— Sim, estou — Respondi.
— Já terminou o trabalho? Vamos para o quarto? — me perguntou Izzy.
— Vamos...Tchau Mike...Tchau Niall — disse sorrindo.
— Tchau garotos — despediu-se Izzy.
— Tchau — Responderam juntos.
No caminho para o quarto não conseguia parar de pensar no beijo. Só espero que a Izzy não perceba.

Visão da Izzy

Nat voltou muito pensativa para o quarto, entrou no banheiro sem nenhuma palavra e foi tomar um banho. Sentei em minha cama folheando uma revista, até Nat finalmente sair.
— E aí, como foi o trabalho? — perguntei.
— Foi legal. — ela disse sem dar muito assunto.
— E...?— perguntei, fechando a revista.
— E ... ele me beijou. — Ela anunciou.
— O quê?! — gritei, perplexa.
— Eu empurrei ele, e aí vocês acharam a gente — Nat respondeu, mentindo. Não sabia o porquê dela mentir ou o que escondia, mas ela com certeza havia mentido. Cerrei os olhos, desconfiada.
— Hmm...
— E você e o Niall? — ela perguntou.
— Ele me disse uma coisa...
— O quê?— Perguntou Nat, se sentando na minha cama.
— Ele disse que gosta de tudo em mim — soltei.
— AHHHHH! Ele gosta de você, Izzy!
— Claro que não, Nat. Nem sabemos o quer dizer isso na língua dos garotos... Pode ser normal — expliquei.
— Eu acho que ele gosta de você. E não vou mudar de ideia — ela disse.
— Ele também disse: “quando um lobisomem ou um vampiro gosta de alguém eles ficam meio zonsos, eles nunca sabem o que é, mas é amor. E geralmente nunca erra”. Nat... Você gosta do Michael? — perguntei de uma vez.
— Não! Claro que não, Izzy!— Nat respondeu negando com a cabeça.
— Então tá...

Visão do Niall

— Você estava nos observando, não é? — Mike perguntou.
— A Izzy quem pediu para eu a acompanhar, me desculpa cara — eu disse.
— Tudo bem... O que vocês viram? — me perguntou ele, preocupado. Mike preocupado... Isso é estranho.
— Nada. Estávamos escondidos no quartinho de limpeza. — Respondi, enfim.
— Fazendo o que lá, em Niallzinho? — perguntou ele, malicioso.
— Nada, seu besta — Respondi dando um empurrão nele.
— Calma Niall, eu te entendo. Você gosta da Isabelle, certo? — ele perguntou. Somos amigos, e sei que posso confiar nele.
— Sim, eu gosto muito. Na verdade eu não sei explicar... Nunca gostei de alguém como gosto dela — continuei
— Acho que estou apaixonado — disse, sorrindo.
— Você acha? Eu tenho certeza.
— Mike? — perguntei.
— Sim..? — ele respondeu.
— Você gosta da Nat, certo? — eu perguntei.
— Está tão na cara? — ele perguntou.
— Para ser sincero, está sim. Mas você tem que demostrar carinho por ela e não ser grosso, seu idiota.. — expliquei.
— Eu beijei ela hoje — ele disse.
— Como?
— Eu a beijei. Ela correspondeu e tudo o mais — ele disse, no mundo da Lua.
— Mike, nunca imaginei você gostando de alguém. Mas estou feliz por você...— eu disse, dando tapinhas em suas costas.
— A Nat é diferente. É forte e frágil ao mesmo tempo, tem uma voz incrível, é linda... Quando ela se transformou em lobo senti algo estranho, sabe? — disse.
— Acho que sei... senti algo parecido quando vi a Izzy pela primeira vez. Como se o mundo parasse e só houvesse ela lá— disse por fim.
— Niall, é difícil deixar o orgulho e eu precisava desabafar. Então, por enquanto, deixa isso entre nós, beleza? — pediu.
—Relaxa, cara. Eu estou aqui para o que der e vier; esses vão ser os nossos segredos — eu respondi — Achei que o primeiro a saber sobre você fosse o Luke, vocês são melhores amigos — eu disse me fingindo de ofendido.
— Todos vocês são, não só o Luke. Mas acho que ele não entenderia — disse ele, pensativo.
— Sei. Vamos, daqui a pouco é o jantar.

Visão da Izzy

— Jantar? — perguntei.
— Vamos — Nat disse me puxando e fechando a porta do quarto. Apressada demais, eu diria.
Chegando ao refeitório, vimos Mike e Niall se dirigindo à uma mesa. Zayn e Law iam a mesma, enquanto eu e Nat pegávamos nossa bandeja.
Peguei uma torta de morango com calda. Caminhamos silenciosamente até a mesa e nos sentamos. Os meninos ainda estavam em pé conversando. Me sentei em uma ponta e Nat na outra, Zayn sentou do lado da Law e Niall sentou do meu lado, Mike sentou do lado da Nat.
— O que é isso? — Naill perguntou olhando para a bandeja.
— Torta de morango — Respondi, colocando um pedaço na boca.
—O que será que ele queria dizer quando disse que gosta de tudo em mim?_ Pensei.
— Estão gostando do colégio? — Zayn perguntou.
— Sim. Mas não acham que os dormitórios das meninas e dos meninos deveriam ser juntos? — brinquei.
— Isso seria legal — Luke disse, chegando na mesa.
— Com certeza — Calum respondeu sentando ao lado de Mike.
— Eu estava só brincando, gente — disse, rindo.
— Será, Isabelle? — Mike perguntou, sarcástico.
— Claro, cachorro — Respondi. Peguei um pedaço de torta, mas fiquei paralisada quando vi Mike passando a mão nos cabelos de Nat, e Nat deitada no peito dele fazendo o mesmo.
Deixei o garfo cair no prato, e todos viraram seus olhares para mim.
— Natasha Malik e Michael Clifford, vocês estão namorando?!— quase gritei.
— Não — Mike respondeu sem hesitar. Vi quando Nat abaixou a cabeça e se afastou um pouco dele.
— Nat! Você me disse que vocês só se beijaram e que você empurrou ele! O que aconteceu? — perguntei.
— Eu menti Izzy, desculpa — Ela respondeu envergonhada.
— É... Izzy? — Niall me chamou.
— O quê?— perguntei.
— Aqui está sujo de calda— ele apontou.
— Ah.. Saiu?— perguntei, tentando limpar.
— Não...— ele respondeu, esticou a mão e limpou pra mim.
— Pronto — ele disse.
— Obrigada — eu disse escondendo o meu rosto corado.
— Agora só falta a gente — Liam brincou, olhando para Law. Ela olhou rapidamente para ele em reprovação, se levantou e foi embora. Nat também se levantou, mas as duas foram para direções opostas.
— Mike, seu idiota! — Gritei e saí atrás da Nat.

Visão da Lawrence

Uma brincadeira inofensiva para os que escutaram. Para mim, não. Ele realmente quer me irritar, porque não é possível que passe por sua cabeça inútil que eu voltarei para ele. Sair de lá foi o melhor que eu poderia ter feito. Olho meu relógio de pulso e confiro que ainda dará tempo de ir a academia do colégio.
Ao chegar, me preparo e coloco minha bandagem. Começo o treino desferindo alguns golpes no saco de pancadas; essa é minha meditação pessoal. A cada golpe minha mente se esvazia, restando apenas o som de toda a energia que está sendo gasta aqui dentro, as respirações agitadas, como se estivéssemos travando uma luta contra nós mesmos, nos obrigando a continuar até que o objetivo seja concluído.
Me encosto no armário laranja, olhando para o ringue no centro da academia. Vejo Chris dando um golpe preciso no rival e concluo que agora é o treino para seu campeonato. Ele parece totalmente imerso no que está fazendo; todo o seu corpo reage ao ataque do outro lutador e acerta o mesmo, fazendo-o cambalear. No final ele cai e Chris vence. Abro meu próprio armário, pego minha mochila que havia guardado e a garrafa de água.
— Lawrence! — Chris corre na minha direção enquanto tira suas luvas.
— Como vai? — pergunto, terminando de trancar a pequena porta de metal.
— Não melhor que você — responde, me olhando.
— Em que sentido? — cerro um pouco os olhos e me viro para ele.
— Entenda como quiser... — nós sorrimos — Então, o que acha de sairmos um pouco do colégio?
— Seria ótimo — respondo sem hesitar. Qualquer oportunidade de respirar ar fresco e sentir o vento na minha pele é bem-vinda.
— Me encontra no muro que dá para o estacionamento daqui meia hora — uma voz grave o chama — Meu treinador, tenho que ir. Até mais.
— Até.