Superfreddie

Tragédia e recomeço


Janeiro de 2004

O vento bate em seu rosto com força, enquanto ele corre alegremente pelos campos do Kansas. Tudo à sua volta não passa de um borrão, apesar de que, se ele se concentrar, consegue visualizar tudo o que acontece à sua volta em câmera lenta. Quando ele chega perto do celeiro, dá um salto gigantesco, aterrissando no teto da construção.

Agora com dez anos, o garoto se acostumou com seus poderes e se diverte constantemente com eles. Nos últimos três anos, ele e seus pais ainda descobriram vários novos poderes.

Pouco depois de descobrir ser superforte, Freddie soube que também era invulnerável, devido a ser atropelado por um touro sem ficar com um arranhão sequer. A bem da verdade, quem se machucou ao chocar com ele foi o touro, que teve uma pata fraturada e teve de ser sacrificado. Acrescentando seus novos poderes, com o passar dos meses ele descobriu que possui uma audição muito acima do normal (o que nem sempre é vantagem), na qual ele pode, caso saiba o que ouvir, acompanhar as pessoas com as quais ele mais se importa. Descobriu também que consegue olhar com exatidão lugares muito distantes, uma espécie de visão telescópica. Por uma ou outra vez ele pensou ter enxergado atráves das coisas, mas ele não tem controle sobre isso ainda.

Ele foca a visão para o oeste, na direção da casa de sua amiga, Lana, que está brincando no jardim, balançando-se em um pneu amarrado em um galho da árvore plantada próxima à casa dela. Talvez ele passe por lá daqui a pouco.

Mais uma olhada e ele vê seu melhor amigo, Nevel. Ele parece estar dando uma bronca em um funcionário da fazenda; Nevel é muito bom com Freddie, mas o garoto não entende certas atitudes dele. Às vezes Nevel é tão arrogante...

Freddie inspira fundo e sorri para o nada. Sua vida é tão boa, tem ótimos amigos, ninguém lhe perturba (para sorte dessas pessoas, pois o garoto seguramente poderia derrubá-las com apenas um sopro), seus pais são tão carinhosos. Ele não podia esperar nada melhor, ainda que não soubesse com exatidão o que ele era. Alienígena? Um clone com superpoderes? Um experimento? Ele não sabia nada sobre quem seriam seus verdadeiros pais. Mas, no fundo, isso não importava. Ao menos por enquanto.

De repente, ele ouve sua mãe gritando.

Assustado, ele foca sua visão na direção do som, e vê seu pai caído ao chão. Ao escutar com atenção aos batimentos cardíacos de Jonathan, ele percebe que os sons estão estranhos, descompassados.

Ele sai correndo em alta velocidade, gritando pelo pai. Em poucos segundos, ele chega a Jonathan, e o pega no colo.

“Papai, papai, eu vou te levar pro hospital! Aguenta firme.”, Freddie diz chorando.

“Não, filhote...”, Jonathan diz com uma voz fraca. “Lembre-se, você não pode revelar seus poderes, filho...”

“Mas pai, eu posso te salvar, eu posso fazer o que quiser!”

Jonathan coloca mão no rosto do filho.

“Não, querido, tem certas coisas que nem você pode fazer. Freddie, eu preciso que você escute atentamente o que eu tenho pra te dizer.”

Chorando, o menino assente.

“L-lembra... daquele filme que vimos... o Homem-Aranha? Do que o tio dele disse, grandes poderes trazem grandes responsabilidades?” Freddie acena positivamente.

“Então, filho... você tem ainda mais poderes do que ele... você precisa ter muito mais responsabilidade.”

Marissa, chorando copiosamente, observa Jonathan, no momento em que ele a vislumbra pela última vez.

“Eu te amo, Marissa... desculpa não ficar mais tempo ao lado de vocês...”

“Eu também te amo, querido...”

“Freddie, você foi meu melhor presente... sempre vou estar ao seu lado...”

“Não morre, Papai! Fica comigo!”

Jonathan lentamente fecha seus olhos e deixa este mundo.

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Março de 2004 - Seattle, EUA

Sua mãe, sentada no lado do motorista, põe a mão sobre seu braço e lhe dá um daqueles sorrisos que sempre o confortam. Ele olha para o lado de fora e vê o prédio onde ele irá morar, o Bushwell Plaza.

Depois da morte de Jonathan Benson, o dono da fazenda, Sr. Papperman, ofereceu à Sra. Benson um alto montante em dinheiro como meio para que ela e Freddie vivessem. Como há alguns anos ela tinha parado seu curso de enfermagem, ela resolveu ir para Seattle, cidade onde alguns parentes seus viviam, para continuar os estudos e conseguir emprego, enquanto seu filho Freddie poderia ter acesso a melhores escolas.

Freddie e sua mãe, após deixarem o carro no estacionamento, vão à recepção, onde um homem com uma aparência desleixada e uma enorme verruga na cara está lendo o jornal, sem prestar muita atenção à sua volta. Seu crachá informa que seu nome é Lewbert.

“Boa tarde, Senhor.. Lewbert. Sou Marissa Benson, a proprietária do apartamento 8-D, gostaria de saber se nossos móveis já foram colocados.”

“Ahhh... não tô nem aí, vai lá ver! E parem de sujar meu chão!!!”

Marissa vai com Freddie à entrada do elevador e desabafa.

“Nossa, que homem grosso.”

Freddie olha para o homem repugnante, que se levantou para buscar um copo d’água e, antes que ele sentasse em sua cadeira, em supervelocidade a puxa antes que Lewbert se sente, o que o faz cair desajeitadamente no chão. Ele se levanta e grita:

“Quem fez isso? Foi você, garoto?”

“Eu? Como eu ia fazer isso de tão longe?”

“Ahhh!!! Eu mato quem fez isso!!!”

Freddie dá uma risada irônica, mas sua mãe parece não gostar. Ela fala, tão logo entram no elevador.

“Fredward Clark Benson! O que seu pai lhe falou?”

“Mas mãe... ele gritou com a senhora...”

“Se você for aprontar alguma com todo mundo que me irrita, o que vai acontecer? Você precisa ser mais discreto!”

“Desculpa, mãe...”

“Vou desculpar porque aquele sujeito mereceu. Mas que não se repita.” Ela dá uma piscada para ele.

Mãe e filho entram no apartamento que vai ser a residência deles pelos próximos anos. A mobília já havia sido disposta, para alegria da senhora.

Eles descansam da longa viagem por algumas horas.

Mais tarde, a campainha é tocada.

Freddie atende a porta e se vê de frente com um rapaz alto, magro, aparentando vinte e poucos anos.

“Oi, amiguinho. Vim dar as boas vindas a vocês, novos vizinhos. Meu nome é Spencer.”

“Prazer, Freddie. Entra aí, Spencer.”

Spencer Shay se apresenta aos dois novos moradores do prédio, educamente oferecendo um bolo, o qual a Sra. Benson aceita e aproveita para convidar ao recém conhecido vizinho para que este tome um café.

Os três conversam por vários minutos.

“Sabe, Freddie, eu tenho uma irmãzinha mais ou menos da sua idade. Quer conhecê-la?”

“Quero!”

“Posso levá-lo até meu apartamento, Sra. Benson?”

“Pode, vou dar uma arrumada aqui.”

O rapaz leva o menino até seu apartamento, que fica localizado em frente ao dos Benson.

“Carly, vem conhecer o novo vizinho do 8-D!”

“Tá bom, Spence!”

Alguns segundos depois, Freddie quase fica de queixo caído ao ver uma menina de cabelos negros lisos, muito bonita, que chega perto dele e lhe dá um abraço e um beijo na bochecha.

“Oi! Eu sou Carly Lane Shay!”

“Fredward Clark Benson, mas pode me chamar de Freddie.”

“Quem taí, Carls?”, Freddie ouve uma terceira voz.

“Vem aqui, Sam, é o novo vizinho do 8-D.”

Descendo pelas escadas vem uma loira baixinha, de olhos azuis bem claros, tão bonita quanto Carly. Ela olha para Freddie e lhe dá um sorriso simpático, o que ele retribui imediatamente.

“Esta é a Sam, minha melhor amiga.”

Sam se aproxima para, tal qual Carly, dar um abraço e beijo no garoto, porém, ele sente uma súbita fraqueza e forte enjoo, algo inédito para ele, que nunca havia ficado doente ou se ferido antes.

“E-eu... não tô me sentindo bem...”, diz ele, afastando-se da loira, o que parece melhorar um pouco seu estado.

“Ei, qual é o seu problema, seu bobão?!?”, ela diz nervosa, enquanto ele se afasta mais ainda.

“Eu... vou pra casa, não estou bem. Tchau...”

Ao se afastar da menina loira, ele quase que imediatamente se recupera do súbito mal estar. Assustado, ele abre rapidamente sua porta e adentra o apartamento, imaginando o que poderia ter lhe causado aquilo.