Superfreddie

O Destino do Superman - Dedicado à Gaby Jacob


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O cientista Emil Hamilton, chefe das pesquisas ultrassecretas das Forças Armadas, observava com pesar o cadáver da horrenda criatura Apocalypse, que fora derrotada por Superman.

Via-se um resquício da cor vermelha dos olhos tecno-orgânicos, a boca cheia de ossos estava entreaberta.

Uma imagem ainda horrenda. Fosse somente sua vontade, teriam enterrado aquela criatura nas profundezas da Terra, para nunca mais ser vista. Entretanto, seus superiores haviam ordenado que a criatura fosse estudada para, quem sabe, possibilitar a criação de novas armas biológicas.

Emil, um homem caucasiano, barba e cabelos grisalhos, presentes estes dados pelos 55 anos vividos, tinha ressalvas quanto a essa ordem.

Contudo, as cumpriria.

Como cumpriria estudar o cadáver do Superman, não fosse ele roubado do laboratório por um humanoide que aparentava ter os mesmos poderes do herói. Daí as novas ordens de recolher o corpo de Apocalypse para outro setor, o que ele estava supervisionando.

Dr. Emil reparou que as sirenes de emergência se acionaram. Seria mais uma invasão?

Em sua cintura, pegou o revólver calibre 45, engatilhando-o.

Virou-se em direção à entrada e deu de frente com um homem alto, vestido de negro da cabeça aos pés (parecia um ninja), os olhos flamejantes e vermelhos.

Puxou o gatilho e atirou nele.

Entretanto, o tiro nada fez, ele permanecia lá, em pé, os olhos ainda vermelhos.

“Q-Q-Quem é você??”

Emil sentiu uma pressão na base do pescoço e tudo ficou preto.

Freddie, paramentado com um uniforme negro, amparou o corpo do cientista, deitando-o delicadamente no chão.

Sua sorte é que não foi a Sam, amigão... que digam seus amigos que estavam aqui na última visita dela.

A visão de calor derreteu todas as câmeras de segurança.

Freddie caminhou alguns passos e parou à frente do container onde estava o corpo do Apocalypse, aquele que chegou mais perto de liquidá-lo. Suas pupilas dilataram, ele engoliu em seco, seu ritmo cardíaco aumentou. Seria medo?

Não posso deixá-lo aqui, não posso permitir que algo como isso volte à vida ou incentive a criação de outras aberrações...

Freddie apertou seus dentes, fechou o punho com força e desferiu um murro no composto plástico que detinha o composto que emulava um líquido amniótico, despedaçando-o. O líquido vazou para todo lado, e o corpo do monstro caiu aos seus pés.

Ele pegou o osso direito que saía do ombro da criatura, erguendo-a.

“PARE! DEIXE AÍ O CORPO, ELE É PROPRIEDADE DO GOVERNO DOS ESTADOS UNIDOS!”

Uma saraivada de projéteis atingiu suas costas, mas ele não deu atenção. Olhou para o teto e seus olhos ficaram mais brilhantes, soltando uma maciça quantidade de visão de calor, que derreteu o metal do teto, bem como o solo.

Em poucos segundos emergiu da terra, continuando para o alto até alcançar o vácuo espacial.

Uma vez lá, seu uniforme negro deu lugar ao uniforme azul com detalhes em vermelho que tanto estava acostumado a usar.

Sem o atrito com o ar, alcançou em breves instantes uma velocidade absurda.

Horas depois, parou, flutuando no silêncio interminável do espaço.

Milhares de quilômetros à sua frente, estava o Sol, a principal fonte do seu poder.

Freddie olhou para Apocalypse, e logo depois para o Sol.

Com um movimento firme, lançou o cadáver da criatura em direção à estrela que provê nossas vidas, observando Apocalypse sumir para ser consumido no calor inimaginável.

Freddie fechou os olhos, estendeu os braços com as mãos abertas.

Tão próximo do Sol, sentia várias vezes multiplicadas todas as benesses da energia que lhe abastecia, conferindo a ele ainda mais poder.

Sorriu ao ver o corpo de Apocalypse ser desintegrado.

Então, virou-se e começou sua viagem de retorno ao seu planeta adotivo, pois tinha compromisso marcado para horas depois.

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Freddie, vestindo uma simples camisa azul e jeans, entrou na redação do Planeta Diário, sendo recepcionado por uma multidão de pessoas. No teto, havia uma faixa de quase três metros de comprimento com os dizeres ‘BEM-VINDO DE VOLTA, FREDDIE!’.

As pessoas aplaudiram sua chegada, muitas vindo em sua direção para abraçá-lo. Cat Grant, Perry White, Ron Troupe, até mesmo Steven Lombard, que sempre caçoava dele, foram correndo em sua direção, felizes pelo seu retorno.

“Calma, gente... tem Freddie para todos!”

Seus amigos mais próximos também estavam lá, mas mantinham-se à distância pois já haviam tido sua parcela de festa. Em especial Sam, Carly, Marissa e Diana, que havia vindo correndo da Ilha Paraíso. Ele também já tinha dado um abraço em Spencer e Gibby, obviamente.

“Clark, como estou feliz em te ver, pensei que ia perder meu repórter mais corajoso!”, Perry exclamava, enquanto bagunçava o cabelo de Freddie.

“Valeu, chefe.”

“Eu tenho planos pra você, Benson... Vou te transformar no responsável pelo caderno de cotidiano...”

“Obrigado, Perry... mas acho que vou recusar. Eu queria ficar mais sossegado agora, estou pensando em escrever um livro, talvez cuidar de matérias mais relacionadas com os costumes humanos, para serem publicadas no caderno de variedade do domingo...”

“Eu entendo, filho. Podemos providenciar isso.”

A desculpa para o sumiço de Freddie foi um sequestro mal elaborado de forças rebeldes no Afeganistão. A história contada consistia no fato que ele conseguira escapar do seu cativeiro, aparecendo de repente na Embaixada dos Estados Unidos, todo sujo e com roupas rasgadas. Ainda bem que ninguém questionara como ele tinha mantido o físico privilegiado todo esse tempo...

Sorrindo, o repórter abraçou sua esposa e deu-lhe um selinho. As amigas Carly e Diana, além de sua mãe Marissa, aproximaram-se e os envolveram em um grande abraço.

“Que bom que você voltou, Kal... quero dizer, Freddie.”, afirmou emocionada a amazona.

“Obrigado, Diana.”

“Espero que você não assuste mais sua mãe desse jeito, FreddieBear...” Marissa beijou o rosto do tão amado filho.

“Não, Mamãe. Não vou.”

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Dois meses depois

“Carls, quer por favor decidir onde você quer colocar este piano?!”

Coçando seu queixo, a esguia morena olhava de um lado para o outro na sua sala de estar, enquanto seu melhor amigo sustentava o piano de cauda com as mãos.

“Ah, vai, Freddie... A Sam te teve por vários anos, tenho certeza que ela usou e abusou dos seus poderes... Agora é minha vez. Humm... acho que ali no canto, perto da sacada, ficaria ótimo...”

Carly apontou e Freddie andou com o piano, colocando-o ali.

“Aff. É tão difícil fazer mudança...”

“Quem diria que você ficaria com quase tudo do Nevel, hein?”

O espólio de Nevel Alexander Papperman, na verdade, ficara para o filho, Percy. Carly, como responsável por ele, acabou por ser a responsável pela administração dos bens, incluindo aí a NevelCorp, rebatizada como Blue Inc., uma alusão à cor primária do Superman. Carly optou por continuar com sua carreira jornalística, deixando o conglomerado sob administração de Choe Sullivan, aceitando sugestão dada por Freddie.

“É tudo do Percy, na verdade. Só espero que ele seja diferente do pai.”

“Será. Ele terá o exemplo de Peter. Aliás, ele e Percy estão chegando, é melhor você parar de mandar no Superman.”

Carly iniciara uma relação com Peter Lang, um primo de Samantha Lang Puckett, que, aliás, adorava o pequeno filho da morena, que vivia grudado com ele, como naquele dia.

“Bendita superaudição, hein, Kal-El?”

A porta do elevador se abriu, e um garotinho saiu correndo para abraçar sua mãe. Logo atrás, um rapaz de cabelos loiros, idade regulando com as de Freddie e Carly.

“Mamãe!!!”

“Diz oi pro Tio Freddie, Percy.”

O pequeno garoto correu em direção a Freddie, sendo erguido para o alto pelo homem, para alegria de ambos.

“Tio Freddie!”

Peter aproximou-se e estendeu a mão para Freddie.

“Freddie, que bom que a Carly está torturando você com a mudança, em vez de mim...”

Ele então abraçou a morena e deu-lhe um selinho.

“Não se alegre muito, eu já estou indo embora...”

“Ah... já vai, tio...?”

“Já, Percy... sua tia Samantha está com saudades...”

“Manda um beijo pra ela, tio!”

Freddie deu um beijo na bochecha do garoto, deixou-o no chão e foi cumprimentar seus dois amigos.

“Tchau, depois a gente combina um almoço ou jantar.”

“Tchau, Freddie.”

“Tchau, Clark Benson... obrigada pela ajuda.”

“De nada, Lane Shay... mas agora você está me devendo.”

Freddie desceu pelo elevador, cumprimentou os funcionários da torre e saiu pelo saguão. Andou despreocupado alguns quarteirões, entrou em um beco vazio.

Fechou seus olhos para apurar os sentidos, começou a levitar e saiu em alta velocidade pelos céus de Seattle, no intuito de adquirir algo necessário para a noite.

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Sam chegou cansada do trabalho. Um arruaceiro que mantinha uma família refém dera trabalho à sua equipe, mas no fim tudo ficou bem. Ela colocou o cinto com seu revólver em um gancho da parede e estranhou o fato de todo apartamento estar na penumbra.

“Baby? Tá aí?”

Nenhuma resposta. A loira andou em direção à sala, e, chegando perto, reparou que lá havia uma tênue iluminação cintilante, vinda de velas.

Seus olhos azuis se arregalaram ao ver como estava o cômodo, todo sem os móveis, havendo apenas alguns lençóis brancos estendidos por sobre uma espécie de tatame. Várias velas estavam dispostas ao redor. Um pouco mais ao lado, uma garrafa de vinho e uma travessa com carne assada cortada em fatias, acompanhada de batatas e legumes.

Freddie estava lá, sentado no tatame.

“Que é isso, nerd?”

“Um jantar romântico, oras... Fui até a França pra comprar esse vinho pra nós.”

“E cadê nossos móveis?”

“Em um lugar seguro. Não se preocupe. Hoje somos só você e eu. Agora, para de estragar o clima, coloca o vestido que está sobre a nossa cama e vem aqui, a carne está do jeito que você gosta...”

Sam deu de ombros. Fazia tempo que não tinha um jantar romântico mesmo.

Colocou o vestido (um belo vestido longo branco de alças) e foi à sala.

Bateram um animado papo enquanto comiam, Freddie contou a quantas estava o romance que ele resolvera escrever, Sam falou sobre a vontade de fazer apenas trabalho burocrático na polícia.

Terminada a refeição, Freddie tirou da caixa de chumbo a kryptonita roxa, deixando-a perto.

De joelhos sobre o tatame, o casal começou a se beijar.

Sam tirou a camiseta dele, e Freddie lentamente abriu o zíper que ficava localizado nas costas do vestido.

Deitaram-se e se amaram por horas a fio, até adormecerem.

De manhã, Freddie guardou a kryptonita e tratou de preparar o café da manhã.

Sam acordou estranha, sentia-se enjoada, saiu correndo para o banheiro para vomitar.

Assim que ela saiu, encontrou Freddie, que estava preocupado. Ele deixou a bandeja com o café em cima da mesa.

“Amor, o que foi?”

“Alguma coisa... deve ter feito... Aaaah...”, ela disse e saiu correndo para o banheiro de novo.

Sam saiu do banheiro trêmula.

“Freddie... eu juro que parece que alguma coisa se mexeu na minha barriga... aiii!”

Freddie então acionou sua visão de raios-x e seu queixo quase caiu quando constatou o que estava lá dentro.

“Sam... você... tá grávida...”

“Quê? Mas... como? A gente sempre usou camisinha, eu estou na pílula...”

“Deve ter falhado. E tem algo estranho...”

“O que, Freddie? O bebê não está bem? Quando será que eu engravidei, na semana passada?”

“Não, amor. Você não está entendendo, até ontem você não estava grávida, você ficou nesta noite...”

“Mas que eu saiba os efeitos da gravidez não são tão rápidos assim! Ai! Senti se mexer de novo! E eu tô me sentindo... fraca...”

Freddie saiu correndo e apanhou a caixa de kryptonita. Voltou para Sam e a amparou, ajudando-a a se sentar em uma das cadeiras da cozinha.

“Amor, esse feto está se desenvolvendo umas dez vezes mais rápido do que o normal. Se continuar nesse ritmo, seu corpo não vai aguentar...”

“E o que a gente faz?!”

Freddie abriu a caixa, colocou o pingente no pescoço da esposa.

Ele suspirou de alívio quando viu que seu plano havia dado certo.

“Ufa... ele (ou ela) também é sujeito aos efeitos da kryptonita roxa... parou de se desenvolver de forma anormal...”

Só então Sam caiu em si. Seus olhos começaram a lacrimejar, ela fitou o marido com um nó na garganta. Ele também havia começado a se emocionar.

“Bebê... nós vamos ter um filhinho...!”

“Ou filhinha, Princesa.”

Eles se beijaram, e logo depois Freddie pensou um pouco. O intuito original era conversar com sua esposa com mais calma, mas achou o momento propício. Puxou uma cadeira e pegou as mãos dela.

“Sam. Sei que estamos adiando esse papo, mas precisamos falar sobre o Superman.”

“Freddie, você não...”

“Shhh. Eu... tenho visto os últimos noticiários, a nova aliança entre Israel e os palestinos, a aproximação das Coreias, dos EUA com o Irã... Pelo que eu soube, tudo isso foi motivado pela morte do Superman.”

“E...?”

“E meu intuito original nunca foi bater em gente malvada, Sammy. Era dar um exemplo para os humanos, dar-lhes esperança, uma luz... O mundo está melhor. Eu acho... que a missão do Superman foi cumprida.”

“Então você... vai mantê-lo morto?”

Freddie acenou positivamente com sua cabeça.

“Mas eu vou usar o uniforme de vez em quando porque acho ele ‘da hora’. Sem o disfarce do rosto, claro.”

Sam cutucou a ponta do nariz de Freddie com seu indicador direito.

“Ah... mas eu acho seu outro rosto mais bonito...”

Freddie olhou para o alto, pensativo.

“Engraçado. A Diana também disse isso.”

“O QUE A DIANA DISSE? COMO ASSIM?”

Freddie deu uma risada gostosa e abraçou a esposa, beijando-lhe a testa. Tinham muito o que falar e planejar para os próximos meses.

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Sete meses depois

Na sala de cirurgias, Sam esperava deitada o efeito da anestesia, com Freddie logo ao seu lado. Ao lado deles, um obstetra, um pediatra, um anestesista e duas enfermeiras começaram os preparativos para a cesárea da pequena Lara, a primeira híbrida de um kryptoniano com uma terráquea, batizada com o nome da mãe kryptoniana de Kal-El.

Uma criança que teria dois nomes, um terráqueo e outro kryptoniano: Lara Puckett Benson e Lara Kal-El.

O anestesista deu o sinal verde e o obstetra começou a incisão para a retirada do bebê. Freddie segurava a mão da esposa e lhe dava um olhar confortador.

“Vai dar tudo certo.”

Poucos minutos se passaram e logo um choro agudo foi ouvido.

Lágrimas saíram dos olhos de Freddie e Sam. Ele beijou nos lábios a esposa.

“Nossa... nunca vi um prematuro tão enorme assim... Será que você acertaram a data que acham que ela ficou grávida, não foi antes, não???”, perguntou espantado o obstetra, após averiguar o estado da bebê e passá-la para o pediatra.

Freddie, ainda segurando a mão de Sam, sorriu marotamente.

“Talvez tenhamos errado.”

O pediatra trouxe a pequena Lara para perto de Sam, para sua primeira mamada.

“Parabéns, Mamãe. É uma linda garotinha, muito saudável, pelo visto.”

“Oi, Lara...” emocionada, Sam beijou a cabeça da filha, ainda que esta estivesse coberta por líquido amniótico e sangue. “Bem vinda à vida, amor.”

Com lágrimas nos olhos, Freddie apanhou a garotinha, após Sam passá-la delicadamente.

“Oi, minha pequena... bem vinda à nossa família.”

Os preparativos para a bebê continuaram, e Freddie foi em encontro aos seus amigos mais próximos, que estavam na sala de espera. Todos o abraçaram.

“Quero ver minha netinha!”

“Calma, vovó... daqui a pouco.”

Ele levou um tapa no ombro.

“Ê Fredão... é agora que tu vai trocar um monte de fraldas...”, disse Gibby.

Carly se aproximou e beijou Freddie na bochecha.

“Parabéns, Papai.”

“Tio, quando eu vou poder ver a Lara?”

“Daqui a pouco, Percy... daqui a pouco.”

Algum tempo depois, já com os felizes papai e mamãe instalados no quarto junto com sua recém-chegada filhinha, visitas devidamente feitas, os dois tiveram uma rápida conversa.

“Nerd... será que a Lara vai voar que nem você? Vai ser forte? Não sei como criar uma criança dessas...”, ela perguntou enquanto olhava para a bebê, que estava dormindo tranquilamente.

“Talvez... Eu não sei dizer, o DNA dela é um caos genético. Não sei se dá para comparar comigo... De qualquer forma, acho que o meu novo status no Planeta vai nos ajudar, já que vou ficar mais em casa.”

Freddie se levantou da poltrona onde estava sentado e abraçou Sam.

“De qualquer forma, amor... acho que seremos pais do caramba.”

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Dois anos e meio depois

Mesmo cansada pela rotina do trabalho, Sam não se furtava da coisa favorita a se fazer à noite (exceção feita às safadezas com Freddie): ler histórias para Lara, que se desenvolvia relativamente normal. Ela apenas não ficava doente como as outras crianças, nem sequer uma gripezinha.

Depois de tomar um banho relaxante e vestir uma roupa confortável, a loira foi ao colorido quarto da filhinha, loira como ela, mas com olhos castanhos claros.

“E aí, Lara? Quer uma historinha?”, ela viu que a menina já estava com o livro da ‘Alice no País das Maravilhas’ nas mãos, fingindo ler “Oh, que linda, ela já sabe ler... Então não precisa da Mamãe.”

Sam fingiu dar as costas e sair, mas foi interrompida por Lara.

“Não, Mamãe! Eu prefiro quando você lê. Tó, eu parei na página 35, na linha 20, bem onde a Alice encontra a lagarta falante...”

Boquiaberta, Sam abriu o livro, folheou-o e ficou mais surpresa ainda ao ver que o ponto descrito pela filha era exatamente aquele. Deu um sorriso amarelo e continuou a história, até o ponto em que percebeu que a filha havia dormido.

Saiu do quarto e foi em direção à sala, onde Freddie assistia à série ‘Smallville’, baseada na suposta vida do seu mundialmente famoso alter-ego.

“Ridículo, na idade desse cara eu já sabia voar...”, ele afirmou, rindo.

“Nerd...”

“Sim, amor?” ele perguntou, virando-se para ela.

“Er... tipo... a Lara já sabe ler. Isso é normal pra uma criança de dois anos e meio?”

Freddie sorriu.

“Sim. Se ela for de Krypton e viver na Terra, sim. Eu sabia ler nessa idade. Lamento, Sam... ela vai ter poderes.”

Sam bateu com a mão na testa. Se uma criança até então sem poderes dava trabalho, o que dizer de uma que provavelmente conseguiria levantar um carro?

“Oh, não... Tem certeza mesmo que eu não posso mais tomar aquele supersoro???”

“Não dá, é perigoso.”

Ele se levantou e abraçou sua esposa, que estava sorrindo. Acariciou sua madeixas loiras com a mão direita, enquanto a esquerda acariciava o rosto.

“Você ainda tem o pingente roxo. Tenho certeza que vai ser uma ‘Mama’ muito boa, a melhor.”

“E você o Super-Papai...”

Eles se beijaram calmamente. Mesmo após tantos anos daquele inocente beijo na escada de incêndio, ambos ainda sentiam faíscas pelo corpo quando seus lábios se tocavam.

Enfrentaram muitos percalços em seus caminhos, por alguns momentos seguiram caminhos distintos, mas, por fim, estavam realmente destinados a ficar um com o outro, mesmo com as maiores ameaças do universo lutando para que isso não acontecesse.

O amor deles era mais forte do que tudo.

E continuaria assim por muitos e muitos anos.

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Epílogo

John Corben observa sua vítima, uma senhora que anda sossegada com sua bolsa por uma praça que nesta hora não está muito movimentada. Ele já a acompanha há alguns minutos, sabe que a idosa acabou de sacar o dinheiro de sua aposentadoria.

É mais fácil do que tirar doce de uma criança.

Escondido atrás de uma árvore, o ladino espera a senhora passar e, num relance, pega a bolsa dela. A idosa, com surpreendente reflexo, dado sua idade, segura a alça da bolsa, desesperada.

“Solta! Ladrão, ladrão!”

Corben faz força e consegue tomar a bolsa da senhora, que se ajoelha no chão e começa a gritar desesperada.

“Pega ladrão! Socorro! Meu dinheiro está todo ali! Socorro!”

Corben corre.

E, de repente, um vulto azul e vermelho pousa logo à sua frente, fazendo-o bater de frente e cair. Corben sentiu como se tivesse se chocado com uma parede de aço.

Na verdade, era algo ainda mais resistente. Ou melhor, alguém.

Tonto, o ladrão visualiza uma mancha azul e vermelha, até que sua visão foi se acertando e ele pôde reconhecer o símbolo ‘S’ em vermelho e amarelo que tanto medo causava nos criminosos.

“Meu Deus, que saco de merda você é, roubando de uma velhinha...”

Aterrorizado, o criminoso olha para cima, mas nem tenta fugir. Sabe que não adiantaria nada.

“Su-Su-Super...?”

Supergirl? Sim, você acertou e ganhou o prêmio! Uma sensacional viagem pra delegacia mais próxima, cortesia da sua amigona da vizinhança, a loira furacão, a mamãe mais poderosa do universo... Supergirl!”

A Supergirl levanta o criminoso pelo colarinho, devolve a bolsa para a idosa (que a agradece efusivamente) e sorri ao constatar que a polícia já estava a caminho.

Bandido entregue e preso, ela decola e pousa em cima do prédio do Planeta Diário, o lugar onde seu pai trabalha. Ela se senta na beirada do edifício.

Enquanto isso, Samantha Lang Puckett coloca uma travessa de bolo de carne sobre a mesa. Seu marido Freddie está lá sentado, lendo uma matéria do Planeta em seu dispositivo de leitura.

Sam coloca as mãos na cintura e torce a boca, contrariada.

“Cadê a Lara, nerd? Foi difícil pra caramba conseguir esta folga e eu queria passar o dia em família! De fim de semana essa menina só sai!”

Freddie desliga o dispositivo, concentra-se.

“Lara, sua mãe está ficando nervosa. Por favor, vem pra cá... pelo meu próprio bem.”

Lara, a cinco quilômetros de distância, ouve seu pai.

“Tá bom, pai. Só impedi um assalto, qualé? Avisa que eu já tô indo. E manda um beijo pra ela.”

“E pra mim?”

“Um beijo pra você também, chorão.”

“Ela está vindo, Princesa. Lara impediu um assalto, dá um desconto pra menina...”

“Essa família El, só querendo saber de salvar o mundo...”

Sam se aproxima do marido e o beija delicadamente nos lábios.

Lara fecha os olhos para se concentrar na agradável sensação dos raios solares banhando seu corpo. Era revigorante.

A garota abre seus olhos, vê seus pais se beijando graças aos dons da visão telescópica combinada com a visão de raios-x. Coloca a língua para fora, em sinal de desgosto, afinal, ‘gente velha não devia se beijar’.

Mas, por fim, sorri.

A Supergirl começa a flutuar, preparando-se para decolar de vez.

“Como você dizia, Papai... PARA O ALTO E AVANTE!”

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FIM

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.