Superfreddie

Ameaças de Krypton


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Abril de 2016

– Então, Sam, o meu Freddie resolveu te contar o nosso segredo?

Sam sorri. A primeira que coisa que lhe vem à cabeça é que sua sogra a havia chamado de ‘Sam’, em vez de ‘Samantha’; outra, que a loira jamais a havia visto com um sorriso tão sincero e relaxada. De repente, a loira cai em si: imagina o peso que a mulher teve de carregar por toda a vida, criando um menino de outro planeta com extraordinários poderes, sem poder contar com a ajuda de ninguém.

A jovem abraça sua sogra.

– Te admiro muito, Sra. Benson.

– Me chama de Marissa, Sam.

Sorrindo, Freddie observa a bela cena à sua frente.

– Bom! - diz a mulher, tão logo terminar de abraçar a nora - Eu te obriguei a engolir aquela gororoba sem graça daquela vez, então está na hora de fazer alguma coisa gostosa pra você!

Ao ouvir em comida, os olhos de Sam brilham. Quem diria que começaria a gostar tanto de sua sogra?

Dezembro de 2016

A primeira coisa que ele sente é sua mão direita, que quase involuntariamente se abre e fecha, causando-lhe uma dor imensa, pois os músculos não haviam se mexido por dezenas de anos. Ainda que tivesse aplicado corretamente o soro preparatório para a animação suspensa, o processo para acordar era por muitas vezes extremamente doloroso para o usuário.

O homem consegue mover seus braços.

Até então, mal se lembrava de quem era e muito menos do que fazia naquela nave.

Após os braços, consegue mover suas pernas e seu tronco. Resolve então arriscar se levantar; a cúpula protetora de seu casulo estava aberta.

O homem, ostentando uma barba negra, senta-se na câmara de êxtase, e as memórias começam a voltar à sua mente.

Ele era um dos generais mais poderosos do planeta Krytpon, respeitado nos quatro cantos do mundo. A simples menção do nome “Zod” fazia seus inimigos tremerem, havia sido responsável por inúmeras vitórias em guerras intergalácticas.

Era um dos homens de confiança do Imperador kryptoniano Zar-Ul.

Enfim, tinha uma vida cobiçada por muitos, mas alcançada por apenas um: o impiedoso e poderoso General Zod.

Mas a inesperada explosão do sol atrapalhara todos os seus planos de tomar o poder de Krypton para si próprio. Se todos tivessem dado ouvidos ao ridículo Jor-El, que bradava aos quatro cantos sobre a explosão do sol...

Zod fora obrigado a deixar o planeta como um covarde, levando consigo somente seus comandados mais confiáveis: sua concubina e tenente Ursa e seu homem forte, o bestial Non.

O homem carrancudo se levanta.

Algo estava estranho em seu corpo. Seu ombro, que latejava intermitentemente devido a um ferimento adquirido em uma batalha, havia parado de doer. Apesar de passar anos sem se mover, sentia-se revigorado como nunca se sentira antes. Não sentia fome, não sentia sede, não sentia frio ou calor.

Ele olha para os lados, percebe que seus dois companheiros de viagem também estão acordando.

O general digita um comando no painel de controle que abre a entrada da nave. Dá passos para fora da nave, observa que a camuflagem funcionava bem.

Só então ele olha para o céu.

“Um sol amarelo!”

Lendas antigas davam conta que, em uma expedição interplanetária que durara anos, uma equipe conseguira ganhar poderes extraordinários sob um sol amarelo. Mas nunca mais ninguém havia viajado por tanto tempo.

As luzes solares lhe causam uma agradável sensação quando alcançam sua pele. Zod fecha seus olhos e sente seus músculos se fortalecerem. À sua frente, há uma grande e centenária árvore. Determinado a testar a teoria, arranca a árvore facilmente, atirando-a longe.

“Extraordinário! As lendas eram verdadeiras!”

“General?”

A voz feminina lhe atrai a atenção.

“Ursa. Non. Satisfação em revê-los.”

“Ruuurrhh?”

Non grunhe e sorri ao ver se mestre.

“Em qual planeta estamos, Ursa?”

“Segundo o computador de bordo, estamos no setor 2814. Os nativos chamam de Planeta Terra. Viemos para cá pois a nave detectou tecnologia kryptoniana neste planeta.”

“Tecnologia kryptoniana? Onde?”

“Infelizmente os sensores não conseguiram determinar o local exato.”

“Planeta Terra. Em que bola de lama imunda viemos parar... Bem. Convém estudarmos os costumes, as capacidades dos nativos e suas defesas, bem como nossos novos poderes, antes de iniciarmos a reconstrução de Krypton. Vejo muito potencial neste planeta. E, se há tecnologia kryptoniana, talvez algum de nossos compatriotas esteja habitando este lugar.”

“Ursa, verifique se há transmissões neste planeta miserável. Necessitamos aprender sua língua. Claro, isso não vale para você, caro Non.”

Zod afaga Non.

“Hurrrrh...”

“Eu não sei quais são nossos poderes, mas sinto que minhas capacidades intelectuais estão mais afiadas. Sinto-me mais forte e resistente. Acredito que não será muito difícil subjugar os nativos...”

Uma semana se passa.

Zod e Ursa, somente de analisar as transmissões de TV e rádio, já haviam aprendido a língua inglesa. E, melhor ainda, sabiam onde estava o kryptoniano que havia aterrissado no planeta.

Jamais imaginaram que seria tão fácil identificá-lo: usava o selo da família El no peito.

Considerando essa informação, era lógico supor que o homem conhecido como Superman era o filho primogênito de Kara e Jor-El, cujas últimas notícias às quais Zod tivera acesso davam conta que a mulher estava grávida.

Pelo instrumento arcaico conhecido pelos terráqueos como ‘Internet’, facilmente interceptado pelos instrumentos da nave, o General e sua tenente sabem informações cruciais sobre o planeta, como países estratégicos, pontos militares, locais onde estão os líderes, entre outras.

À primeira vista, o país mais belicoso do planeta eram os Estados Unidos.

Conquistá-los, então, tornaria a tarefa mais fácil. Não que fosse muito difícil fazê-lo, graças aos poderes extraordinários derivados do sol amarelo, já dominados pelos três. Non teve um pouco de dificuldade, mas fora capaz de dominar seus poderes.

Havia apenas um ser no planeta que poderia causar problemas: o rebento de Jor-El. Contudo, Zod ainda não sabia se os atos do tal ‘Superman’ seriam apenas um embuste do rapaz para mais tarde assumir o controle do planeta ou se ele realmente se importava com aqueles primatas atrasados.

Era hora de confrontá-lo para obter a verdade. Fosse um aliado, desde que a liderança de Zod não fosse questionada, poderia ser um ajudante importante; caso contrário, era necessário exterminá-lo como a um inseto, destino merecido por manchar a glória do império kryptoniano, ao servir como palhaço para seres inferiores.

O local onde o suposto herói é mais visto é a cidade conhecida como Seattle.

“Ursa, Non! Vamos encontrar o herdeiro de Jor-El.”

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É tarde de quarta-feira, e a temperatura está agradável. Enfeites de Natal tornam a paisagem ainda mais agradável, crianças sedentas por presentes esperam ansiosamente na fila para conversar com o Papai Noel contratado para ficar na frente do principal shopping center da cidade.

Carly, com um microfone na mão, está se preparando para entrar ao vivo em uma matéria para o jornal vespertino. O trabalho da morena seria entrevistar as crianças e pais que andavam pela calçada. Normalmente, os repórteres detestam esse tipo de pauta, mas não Carly, lhe agradava esse aspecto humano nas matérias.

Sempre acompanhada de seu escudeiro Jimmy Olsen, a morena começa a entrar na contagem regressiva. Já havia escolhido uma senhora para entrevistar.

Entretanto, um tumulto gerado no meio de uma praça próxima lhe rouba a atenção.

A morena olha para cima e se espanta. Vê três pessoas flutuando, as três vestindo uniformes negros.

“Carly! Estamos no ar!”

Ela olha espantada para a câmera, e demora alguns segundos até ganhar controle da situação.

“Bom... estamos ao vivo da segunda avenida, onde três seres misteriosos estão... flutuando acima da Praça da Liberdade...”

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Freddie está entregando uma matéria com fotos ao Sr. White, na redação do Planeta Diário. O homem, fumando um grande charuto, passa os olhos por cima das fotos e parece gostar do que vê, uma vez que sorri.

“Bom, muito bom, garoto. Me lembra de quando eu era um molecote como você.”

“Então... já posso ter o emprego fixo, Sr. White?”

“Hah! Não! Você ainda está verde, mais alguns meses e voltamos a conversar. Agora vai pegar o seu pagamento no RH.”

“OK...”

Resignado, o rapaz, com sua câmera no estojo, se dirige ao RH do jornal. Se detém no meio do caminho quando vê nas telas de TV dispostas na redação três pessoas flutuando no centro da cidade. Carly narrava o acontecimento, todos na redação voltaram sua atenção para as TVs.

“Cat! Ron! Vão pra lá agora! Eu quero fotos, eu quero fatos!” - grita Perry White, ordenando a seus subordinados que corressem ao local.

Freddie fica espantado. O que poderiam ser aqueles três?

Ele vai apressado em direção a uma porta que dá no almoxarifado do andar. O pagamento teria de esperar.

Aquele cômodo já era conhecido e era perfeito para sair com discrição, pois havia uma janela pela qual o rapaz podia se esgueirar para fora. Um leve contato do seu polegar direito com o dispositivo localizado próximo à sua cintura faz o uniforme pouco a pouco se expandir, substituindo sua roupa. Quase ao mesmo tempo, suas feições mudam como em um passe de mágica, graças ao indutor de imagens.

Freddie deixa sua câmera escondida, na esperança de reencontrá-la mais tarde.

Abre a janela e se atira por ela, mergulhando de cabeça. Antes que atingisse o solo, inclina levemente sua direção, acionando seu poder de voo, e segue pela rua, a mais ou menos 20 metros de altura, quando finalmente começa a ganhar altura, voando mais alto que os prédios, rumo à Praça da Liberdade.

Sua visão telescópica já detalhara as três pessoas que flutuavam. Todos aparentavam ser mais velhos que ele: um homem de barba negra espessa, muito alto e com físico avantajado, e uma ligeira impressão de ser bobo; uma bela mulher de cabelos negros e curtos; e um homem de barba bem feita, cabelos negros com pontos grisalhos e um semblante assustador. Este último ficava à frente dos demais e lhe dirige a palavra.

Nota do autor: as frases em itálico são na linguagem kryptoniana.

– Filho de Jor-El, é um prazer conhecê-lo, mesmo em um planeta tão distante de Krypton.

Freddie se espanta e ao mesmo tempo se alegra. Agora, sabia que não estava só no universo, ainda havia compatriotas do seu planeta extinto. Mas como ele sabia que era filho de Jor-El?

– Vocês... são de Krypton?

– Claro, rapaz. Perdoe-me por não me apresentar. Eu sou Dru-Zod, conhecido como General Zod, comandante supremo das invencíveis forças militares do Oeste. Esta é minha companheira Ursa, e meu amigo Non.

Mil perguntas vêm à cabeça de Freddie, curioso para saber como eram seus pais, seu país, seus costumes, sua história. E agora isso seria possível, pois 3 pessoas que viveram naquela época estavam à sua frente.

– Vejo que você ostenta o símbolo da Casa de El em seu peito. Imagino que seja o primogênito de Jor, sua esposa Kara estava à espera de uma criança, segundo as últimas notícias que tive antes do ‘incidente’ com Krypton.

– Sim! Eu sou Kal-El! Eu tenho tantas perguntas para fazer...

– Calma, rapaz. Antes de mais nada, quero saber quais são seus planos para conquistar este planeta.

A expressão de Zod havia ficado mais séria. A empolgação de Freddie se transformara em dúvida e medo.

– Como assim, conquistar?

– Ora, não me diga que não planeja construir uma nova Krypton neste planeta insignificante e atrasado?

– Eu fui adotado por este planeta, não tenho intenção de governar ninguém!

– Tudo bem, filho. Com minha chegada, você me ajudará a governar este planeta e iniciar a construção de um novo Império kryptoniano.

Freddie se afasta alguns metros. Precisava tentar contornar a situação.

– General, somos apenas visitantes neste planeta. Tenho certeza que podemos conviver pacificamente com os humanos, o planeta Terra pertence a eles.

Os olhos dos três kryptonianos se acendem em vermelho.

– Era o que eu pensava! Tinha de ser o filho de um fraco como Jor-El... Você mancha a glória do povo kryptoniano! Superman... que nome ridículo, e ainda por cima veste-se como um palhaço, age como servo desses macacos primitivos humanos!

Sem que Superman esperasse, Zod o atinge com um grande feixe de visão de calor, atordoando-o. O herói despenca e aterrissa pesadamente no solo, abrindo um buraco. Ele nunca imaginava que um dia seria atingido pelo seu próprio poder, com o qual tomava tanto cuidado para não ferir ninguém.

Superman se levanta e observa que há muitas pessoas no parque.

“SAIAM DAQUI AGORA, FUJAM!!!” - o herói grita, gesticulando.

As pessoas bem que tentam, mas o três kryptonianos simplesmente acionam suas visões de calor e incineram 13 pessoas que estavam mais próximas.

“NÃO!!!”

– Você se importa com esses vermes? Tudo que eles merecem é isso: queimar!

O herói voa o mais rápido que pode, e atinge os três vilões com seus punhos erguidos à frente, o que os atordoa. Ele para em frente a Zod e o soca com força suficiente para derrubar uma parede de concreto, mas o vilão revida logo a seguir, pegando-o pela capa, girando e atirando-o a grande velocidade contra uma estátua representando um herói de guerra norte-americano, que se despedaça ao ser atingida pelo corpo do herói.

Sem dar tempo para ele se recuperar, Ursa aterissa sobre ele, afundando-o no chão. Ela coloca a sola de sua bota sobre o pescoço dele, prendendo-o ao chão.

– Superman... ridículo, você é apenas mais um pretensioso ser patético que finge servir a estas criaturas nojentas, quando na verdade tem certeza de ser alguém superior a eles. Hipócrita.

Freddie pega a perna da mulher e a atira longe.

Mas, antes que pudesse organizar seus pensamentos, é atingido pelas costas por Non, que o empurra enquanto voa, colidindo-se com um prédio, que ficava próximo do parque. Ursa pega um carro ocupado e o atira contra o herói, que se esforça para apanhá-lo, tentando salvar seus ocupantes. Ele não consegue, pois, quando agarra o veículo, Zod lança sua visão de calor, explodindo-o.

O herói lutava como podia, mas não conseguia concatenar seus planos, pois era atacado a cada instante por um dos três vilões, tão poderosos quanto ele e talvez mais experientes em lutas corpo-a-corpo. Ele era atacado com suas visões de calor, golpes diretos e toda sorte de objetos duros e pesados que estavam à disposição dos vilões, que não se importavam em matar ou ferir pessoas inocentes. A rua em que travavam a batalha estava destruída.

Enquanto Freddie luta contra Zod, Non se aproxima e lhe desfere um fortíssimo murro no estômago, com força suficiente para demolir um prédio. Com a violência do golpe, o herói se curva.

Em supervelocidade, Ursa agarra seu braço esquerdo, Non seu braço direito, fazendo-o ficar de braços esticados e à mercê dos punhos de Zod, que lhe dá três murros no estômago, que fazem Freddie ficar ajoelhado à sua frente, com sangue saindo pela sua boca.

– Sim, Kal-El. Ajoelhe-se perante Zod!

Carly corre e vê com Jimmy a terrível cena: o maior herói do planeta ajoelhado em frente a seus inimigos, indefeso.

“Neste momento, Superman está com problemas com os três vilões que parecem ter o mesmo poder que ele, acredito que também sejam kryptonianos.”

Freddie sente o gosto do seu sangue na boca. Ele poderia continuar resistindo, mas sabe que a derrota era inevitável. Talvez, por ser exposto ao sol por mais tempo, pudesse ser mais forte do que os três individualmente, mas lutar contra os três em conjunto era demais para o rapaz.

Enquanto sente seu estômago arder de dor, ele olha ao redor, para as expressões pasmas das pessoas que depositam tanta confiança nele. Pelo menos cinquenta pessoas haviam morrido nos últimos minutos, Freddie estava arrasado, mas precisava fazer algo.

O herói fecha os olhos e abaixa a cabeça.

– Diga que você será meu servo, Kal-El. Quem sabe eu poupo sua vida.

Novamente abre os olhos, levantando sua cabeça, fitando o General Zod.

E libera sua visão de calor com força total, atingindo o vilão no rosto, deixando-o cego temporariamente.

– Ahhhh!!! Maldito!!!

Contando com o fator surpresa, ele agarra os braços de Ursa e Non e, com toda a força que lhe restava, colide-os um contra o outro. Com os três vilões atordoados, Freddie se levanta.

E sai voando, desaparecendo pelos céus de Seattle.

Desamparada, Carly acompanha a cena do herói fugindo.

“Superman... parece... ter fugido...”