Superfreddie

Além da Morte


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A tenebrosa face do Apocalypse, logo à sua frente, com os olhos vermelhos e ossos expostos o faz tremer por dentro. Seu bafo quente e mal-cheiroso colidem em seu rosto.

Mas o herói não pode pensar em fechar os olhos e morrer, por mais tentadora que seja a ideia.

O mundo que o adotara como um filho dependia da sua persistência, e, em especial, três mullheres que faziam parte essencial de sua vida, definiram o que ele era.

Quando conseguiu, com sua visão borrada, quebrar o alongado osso do joelho da criatura, uma ponta de esperança nasceu. Ele podia feri-lo, ele podia abatê-lo.

Finalmente, com suas últimas forças, resolveu lançar um último ataque, o derradeiro ataque, no qual empreenderia toda a sua força de vontade.

E, depois...

Apenas pôde sentir uma última alegria.

Afinal de contas, pôde ver de perto sua amada esposa uma última vez, e, mais importante, confirmar que o monstro havia sido abatido.

Algumas palavras balbuciadas e, então, somente escuridão.

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Lentamente, Freddie abre seus olhos.

A primeira sensação que ele tem é da grama fresca sob seu rosto e mãos. Isso era estranho: dificilmente ele sentia os objetos daquela maneira, exceção feita às vezes em que a kryptonita roxa estava por perto.

O rapaz se arrisca a abrir os olhos e é ofuscado pela claridade do local.

Ele não sente dor. Na verdade, a sensação que ele tem no momento é bem prazerosa.

Freddie apoia suas mãos no chão e se senta.

Olha ao redor e constata estar em uma espécie de campo, coberta com uma relva verde e reluzente. O céu sobre esse solo é azul, com nuvens brancas formando uma bela paisagem.

A paisagem descrita, no entanto, é desconhecida por ele, acostumado a fazer inclusive viagens extra-terrenas.

Curioso, tenta alçar voo para ver ao redor, algo que lhe vem quase instintivamente.

Mas não consegue.

Tenta acionar seus sentidos aguçados, mas nada. Estava sem poderes.

Levanta-se e olha para baixo, para o próprio corpo. Estava com seu uniforme kryptoniano, porém, intacto, muito diferente da forma como ele se lembrava durante a luta contra o Apocalypse.

Coça a nuca e olha para o horizonte. Nenhuma cidade à vista.

Onde eu estou?

“Como você cresceu, filho...”

Freddie se vira para ver o interlocutor, mas não era nem necessário. Aquele timbre grave e pausado era reconhecido por ele, mas, para sua infelicidade, não era mais ouvido desde seus dez anos.

“Papai...?”

Seus olhos arregalados logo se enchem de lágrimas ao ver a figura do seu pai, do jeito que ele se lembrava, usando até mesmo a camisa xadrez de mangas compridas e a velha calça jeans surrada que ele adorava.

Instantaneamente, Freddie correu ao seu encontro, envolvendo o homem em um apertado abraço.

“Pai! Que saudade de você!”

“Whoa! Mais cuidado, campeão... Ainda bem que aqui você não tem a sua força...”

O homem mais novo solta seu pai, lhe direciona um largo sorriso.

“Papai, eu, eu... sonho há tanto tempo com isso...”

Jonathan coloca seu braço esquerdo sobre o ombro do filho, o induz a caminhar com ele.

“Eu também, filhão. Apesar de que nunca te abandonei, sempre estive ao seu lado.”

Como resposta, o homem recebeu um olhar curioso do seu filho.

“Sim, Freddie. Eu acompanhei a primeira vez em que você fez o bem, quando você vestiu esse uniforme... Aliás, no princípio, achei um pouco... digamos, apertado demais. Mas depois gostei, viu...”

“Pai, eu, eu... queria fazer como você me ensinou, ajudar as outras pessoas, ser responsável...”

Com o indicador direito, Jonathan bateu no S do peito de Freddie.

“E você conseguiu, filhote. Não vejo como poderia ficar mais orgulhoso de você.”

Os dois continuaram a andar por um tempo. Aquele campo parecia não ter fim, e Freddie acaba por quebrar o silêncio.

“Então, pai... eu estar com você, significa que eu morri mesmo.”

Jonathan levanta seu olhar em direção ao filho e sorri.

“Vamos falar sobre isso daqui a pouco, tenho coisas mais importantes para conversar com você...”

Finalmente, depois de caminhar muito, os dois chegaram a uma grande área cercada, tendo em seu interior alguns cavalos galopando em alta velocidade. Pareciam felizes.

Pai e filho apoiam seus braços na cerca e observam os animais.

“Lembra que eu queria ter uma fazenda e alguns cavalos pra criar, Freddie?”

“Lembro.”

“Pois é. Acho que eu fui correto na vida, o céu é isso. Você é colocado no lugar que sempre almejou durante a vida, enquanto aguarda o grande julgamento.”

Freddie olha com admiração para a paisagem.

“É lindo, pai.”

“Eu sei. Uma pena não ter sua mãe aqui, mas foi importante ela ficar com você.”

“Você... consegue ver a mamãe? Eu não consigo ver nada!”

“Claro que consigo... Como eu disse, eu sempre estive por perto, Freddie. No momento, Marissa está rezando por você e Sam. Aliás, sobre ela... que beleza de mulher você conseguiu fisgar, filhote! Bonita, honesta, boa pessoa. Uma pena você ter demorado tanto pra perceber isso.”

“Uma pena que eu a perdi.”

Jonathan sorri.

“Oh, um momento. Chegaram algumas pessoas aqui...”

Um portal se abre ao lado dos dois, e dele sai um casal alto. Freddie imediatamente os reconheceu: eram seus pais biológicos, Lara e Jor-El. Eles vestiam trajes similares ao seu.

“Pai? Mãe?”

“Sim, Kal-El. Somos seus pais de Krypton.”

A mulher o abraçou calorosamente, gerando um certo espanto no rapaz, pois pensava que, sendo oriundos de um planeta tecnológico como Krypton, seus pais fossem frios de sentimento.

“Oh, Kal-El... que belo homem você se tornou. Um guerreiro tal qual eu fui em vida. Estou tão orgulhosa...”

“E um homem da ciência, também, Lara, não se esqueça. Só temos a agradecer ao honorável Jonathan Benson e sua inestimável esposa Marissa Benson por criar nosso filho com tanto afinco e hombridade.”

“Você, Kal, conseguiu derrotar a criatura mais letal já feita no universo, e fê-lo com tanta bravura... Eu não consigo expressar meu orgulho por você.”

Freddie deixava algumas lágrimas caírem.

“Eu... estou tão feliz por estar aqui com vocês... Por poder ficar com vocês...”

Os três mais velhos se olham, sorrindo.

“Bom, filhão... quanto a isso...”

“O quê, pai?”

“Sua hora ainda não chegou, Kal-El. Sua jornada ainda não chegou ao fim.”, afirmou Jor-El.

“Mas eu estou aqui com vocês...”

“Uma dádiva concedida por seus préstimos na Terra, filho. Seu momento conosco já está acabando.”

“Eu... não morri?”

Jonathan puxa a aba do seu boné e entorta a boca.

“Er... digamos que você... esteja em OFF.”

“Mas eu não sei como voltar!”

Jonathan coloca a mão sobre o ombro esquerdo de Freddie e lhe aponta uma direção.

“Eu sei que é clichê demais, Fredão... mas se lembra do termo ‘vá para a luz’?Então...”

Freddie começou a flutuar, seus poderes haviam voltado.

“Eu... eu...”

“Vá, filho. Tenha uma boa vida com sua esposa.”

O rapaz sorri.

“Tchau, ‘pais’ e mãe...”

“Até mais, Kal-El.”

“Tchau, filhão. Eu te amo.”

“Eu também te amo, pai... Até.”

Freddie entra no epicentro da luz.

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Em um remoto canto do Planeta Terra, na Fortaleza da Solidão, onde um certo kryptoniano se abrigava de vez em quando, seu fiel servo robótico é acionado quando um tênue batimento cardíaco kryptoniano, imperceptível para as primitivas máquinas daquele planeta, é percebido pelos monitores de tecnologia alienígena.

O chamado Kelex se autoativa.

Rapidamente, sua sinapse, interligada a toda a rede da Fortaleza, localiza de imediato a origem do batimento.

Era impossível alcançar o local. Ao menos para as máquinas da Fortaleza.

Mas havia uma alternativa. Uma em que seu mestre trabalhava havia alguns meses.

Kelex só precisava se deslocar até Seattle...