Superando Você

Capitulo 5 - A Vingança: Parte 2


Depois de verificar que Cameron não estava no laboratório, calibrando a centrífuga como ele achava, House foi em direção a sala de diagnóstico. Ao entrar, encontrou todos reunidos na mesa analisando, novamente, o arquivo da pequena paciente. House se dirigiu ao quadro branco, escrevendo o novo sintoma.

“Fizemos um eletrocardiograma, que mostrou um aumento do coração. Vamos lá! Novos sintomas, novos palpites. Go!” – House anunciou sua presença e foi em direção ao quadro branco para anotar o novo sintoma, onde também estavam escritos outros sintomas como:

– Mal Estar;

– Febre Alta;

– Perda de Apetite;

– Dor;

– Aumento do Tecido Epitelial Cardíaco.

“Pode ser linfoma. Não é preciso, necessariamente, os caroços serem externos. Explicaria o aumento do coração.” - Foreman deduziu após ver o novo sintoma.

“Mas não explica os calafrios, espasmos e paradas cardíacas. E os pequenos caroços que ela possui na pele, descobrimos que é devido a alergia ao medicamento.” – Contrapôs Cameron.

“Pode ser auto-imune.” – Chase disse pela primeira vez.

“Não parece ser Ainda não aplicamos nenhum tratamento, não teve tempo da doença se adaptar ao medicamento, tivemos que parar por causa da alergia.” – Cuddy mostrou que estava presente.

“Pode ser lúpus, os sintomas batem...” – Chase tentou parecer indiferente, dando de ombros, e quase caiu da cadeira com o susto que levou, por todos gritarem com ele ao mesmo tempo.

“NUNCA É LÚPUS!”

“Francamente Wombat! Achei que já havia ensinado isso antes. Mas acho que foi o dia em que você estava alisando o seu cabelo na frente do espelho.. Ou foi quando você estava babando em cima da Cameron? Deve ter sido o cabelo, porque pela Cameron você faz todo dia..” – House repreendeu.

“Você quer dizer durante todo o dia, néh?” – Foreman completou com uma pequena risada.

“Dá pra voltarmos ao diagnóstico, por favor!” – Cameron disparou já irritada, esfregando as têmporas, tentando amenizar uma futura dor de cabeça. House desviou seu olhar para a porta, rapidamente, ao perceber a aproximação de alguém na porta.

“Agora não Wilson, eu estou no meio de um diferencial. Você pode pagar meu almoço mais tarde.”

“Na verdade, House, eu vim buscar a Dra. Cameron para almoçar.” – o oncologista respondeu.

“Obrigada Wilson, mas agora vai ser um pouco difícil. Podemos deixar para outro dia?” – Cameron lançou um olhar de desculpa e um pequeno sorriso tristonho.

“Isso mesmo Wilson, outro dia” – House bufou de raiva, mas Wilson não perdeu o pequeno tom de ciúmes em sua voz e sorriu de satisfação.

“Na verdade, eu vou esperar. Acho que vou até ajudar no diagnóstico. Não tem problema eu ajudar aqui, certo House?” – Disse Wilson, entrando na sala e se sentando ao lado de Cameron, dando um aperto em seu ombro, ganhando um sorriso educado da moça e um olhar de repreensão de House, o que o fez sorrir mais largamente. Wilson então lançou um olhar que House deduziu como: ‘Eu sei que você tem um plano e eu estou aqui para te vigiar. Não faça nenhuma bobagem, House’.

“Que seja! Faça o que quiser.” – House declarou, quando interpretou a mensagem passada por Wilson.

“Voltando ao diagnóstico...” – Cameron declarou, de novo.

“Claro, desculpem-me. Pode ser câncer.” - Wilson optou.

“Já fizemos uma biopsia antes e estava limpa.” – Cuddy avisou.

“Talvez sej-“

“Calado canguru que se acha médico! Você já disse barbaridades demais por hoje.” – House falou quase gritando e completou em um tom mais baixo: - “Britânico estúpido...”

“Australiano” – Todos corrigiram indiferentes.

“Não importa. Onde já se viu? Lúpus?! Ridículo..”

“E se for neuro-“ – Foreman foi interrompido por um gritinho abafado de Cameron.

“Oh Meu Deus! Ela tem Chagas.” – A voz de Cameron não saiu mais do que um sussurro. Seus olhos estavam arregalados com uma expressão de aflição e desespero.

“Mas ela nunca deixou New Jersey, como pode ter pegado uma doença típica brasileira?” – Chase teve que perguntar.

Mas não foi Cameron quem respondeu. Parecia que ela não conseguia falar uma palavra se quer. House que observava de longe, quase deixou escapar um sorriso singelo por finalmente sua vingança estar em ação. Foi Foreman quem pensou por um momento e respondeu a questão que estava na cabeça de todos.

“Eu fui na casa dela. No congelador eu encontrei vários potes de sorvete de açaí, devia ser costume dela tomar diariamente ou sei lá. Eu li uma reportagem, uma vez onde dizia que o Barbeiro, inseto vetor da doença, ao depositar seus ovos contamina o fruto com o protozoário responsável pela doença. Ela pode ter ingerido algum sorvete contaminado ou alguma coisa assim... Cameron eu sinto muito, sinto mesmo." – Foreman lamentou em um pensamento tardio.

House ainda sustentava seu pequeno sorriso no rosto, até o momento em que ouviu Foreman se desculpar com Cameron. Seu sorriso desapareceu, quando ele finalmente olhou para Cameron, ela já tinha seus olhos cheios de lágrimas e tomava respirações profundas tentando não quebrar na frente de todos.

“Calma Cameron. Chagas tem tratamento nós vamos aplicá-lo imediatamente, certo rapazes?” – Cuddy disse a Cameron e olhou para os outros presentes que, rapidamente, se levantaram prontos para sair, mas pararam quando ouviram a voz de Cameron.

“Não!” – Cameron finalmente encontrou um pouco de sua voz, mesmo que ainda fraca por conta da emoção presente. – “Não adianta... A-A doença atingiu o coração. Ela não aguentaria nem... nem um transplante” – Cameron não conseguia falar direito devido a alguns soluços involuntários.

"Mas isso não nos impede de fazer algo. Eu vou imediatamente processar a tal marca e solicitar uma idenização para os familiares. Se depender de mim, esta empresa será fechada!" - Declarou Cuddy com ligeira raiva presente em sua voz.

Wilson, como o bom amigo que é, percebeu que Cameron estava prestes a desmoronar. Então com conhecimento de causa, ele virou sua cadeira, de forma, que ele agora estava de frente para Cameron. Ele pôs uma mão nos ombros de Cameron, a obrigando a olhar para ele. Quando finalmente ela o fez, ela se joga em seus braços, quase o fazendo cair no chão, mesmo assim Wilson a envolveu no abraço e sentiu as lágrimas dela molhando sua camisa, com isso a apertou mais forte.

“Eu não consegui Jimmy. Falhei de novo..” – Ela choramingava nos braços de Wilson, mas alto o suficiente para que todos puderam a ouvir.

Wilson se afastou um pouco dela para poder olhar em seus olhos, mas permanecendo no abraço, de modo que ele estava abraçando-a de lado. Ele a tirou da sala tentando consolá-la. Os outros que ficaram estavam cabisbaixos, mas ainda curiosos com a atitude de Cameron, ela sempre ficava triste com a morte iminente de algum paciente, mas não demonstrava isso. Ela sempre chorava sozinha, mas desta vez era diferente. Havia alguma coisa acontecendo, ela se apegou de mais aquela menina.

“O que aconteceu com ela? Ela está bem?”

“Por acaso parece que ela está bem Chase?! Sinceramente, hoje é mesmo o dia de você falar bobagens” – Foreman entrou na defensiva.

“Bom, eu não sei vocês. Mas eu estou indo pra ver como ela está.” – Cuddy disse abandonando a sala juntamente com Foreman e Chase, nem percebendo que alguém perplexo ficava para trás.

House estava estático. A curiosidade picando ele por dentro. Alguma coisa aconteceu, alguma coisa que Wilson sabia o que era... Ela disse que havia falhado de novo. Falhado em quê?! Ele sabia que Cameron iria ficar triste e tudo mais, só que ele não achava que ela iria se quebrar desta forma. Quando ele a viu ali, a ponto de desmanchar em lágrimas, sentiu algo dentro dele. Ele sentiu que não era isso que ele queria, ele percebeu que não gostava de ver ela dessa forma, isso de alguma maneira fazia algo doer dentro dele. Ele apenas não sabia que sentimento era esse, e isso estava assustando o mundo dentro dele. Para ajudar, quer dizer não tanto assim, sua consciência tinha que vir dizendo que ele fez a coisa errada, que ela não merecia tudo isso, e que ele estava sendo muito mais que o vilão naquela história... Ele havia passado dos limites, e as conseqüências desta ação não seriam nada boas.

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Já estava fazendo três dias que Lucy havia deixado a vida. Havia sido um momento difícil, mas Cameron cumpriu sua promessa e não saiu de perto de Lucy até seu último suspiro. Cameron tomou todas as garantias possíveis, para que a menina não sofresse no leito de morte. A médica estava um pouco distante de todos, até mesmo de Wilson, porém não chorou mais depois da cena na sala de diagnóstico, continuava se mostrando forte, surpreendendo a todos que a essa altura já sabiam o quão próximo Cameron era de Lucy.

Wilson estava em sua sala, dando seu apoio a sua paciente recém-diagnosticada com leucemia, quando a porta de vidro que leva para a sua varanda foi aberta com força por um House apressado.

“O Dr. Wilson tem uma emergência agora. Volte daqui a...” – House olhou a agenda de Wilson em cima da mesa. – “Cinco dias às 14h.” – House se dirigiu a moça, antes sentada em frente a Wilson, porque agora House a empurrava para fora da sala.

“Me desculpe!” – Wilson conseguiu gritar antes que House fechou a porta. – “Mas que diabos House!”

“Ta, ta, ta... Ela vai voltar. Agora veja isso.” – House estendeu a mão para Wilson, entregando para ele um envelope.

“Onde você achou isso? Está endereçado a Cameron... E está aberto House!” – Wilson exclamou.

“Estava em cima da minha mesa hoje de manhã. Não sei o porque veio pro hospital e não pra casa dela.”

“Deve ter sido o endereço reserva que ela forneceu. Mas...” – Wilson deu uma boa olhada em House e pode perceber que ele estava nervoso e ansioso. Era estranho. – “ House você está bem? Por que você está assim?”

“Eu não sei o que está acontecendo comigo. Por que eu estou falando isso pra você mesmo? Tanto faz! De qualquer maneira leia o documento que você irá entender..”

“Eu não estou indo para ler a correspondência dela House. Isso é crime!”

“Então me dá isso seu covarde! Isso é um pedido de adoção. Cameron estava indo adotar aquela criança.” – House estudou Wilson por um momento, e viu que ele não expressava nenhuma reação. – “Você já sabia. Então era isso! Você já sabia!”

“Todos já sabiam, menos você aparentemente...”

“Claro que sim. Ela não perde tempo em falar nada, mas como é que EU não estava sabendo?”

“Ela não queria que você soubesse.” – Wilson encolheu os ombros. E achou que viu House um pouco... chateado? Não era impossível.

“Sabia que deveria ter enrolado mais co-“ – House se calou rapidamente, quando percebeu o que estava fazendo. Mas não passou despercebido por Wilson, que apontou o dedo acusadoramente para House.

“Você! Você sabia do diagnóstico! Eu não acredito que você fez isso House. Por que não aplicou logo o tratamento nela? Você matou aquela menina House!” – Wilson gritava com House a esse ponto.

“Não ia fazer a menor diferença, a doença já tinha chegado ao coração e pulmão. Não tinha mais chances pra ela.” – A voz de House saiu de uma maneira que Wilson nunca tinha o ouvido usar antes, mesmo assim não abaixou o tom de repreensão para com ele.

“Você passou dos limites House. Passou dos limites!”

“ Eu sei.”

Ao ouvir essa declaração de House, Wilson percebeu o que se passava com ele. Ao olhar para o amigo novamente, Wilson percebeu que ele mantinha o olhar no chão, não havia sarcasmo em suas respostas, ele não falava zombeteiro, nem acusador. Isso não era típico de House. Foi então que Wilson percebeu, um pequeno sorriso de realização e alívio enfeitou as feições do oncologista.

“Você está arrependido.”

“É eu acho que estou. E agora?”