Fui acordada por Maria na manhã que se seguiu. Ela abriu as cortinas calmamente, enquanto tentava me despertar com palavras que se embaralharam como meu sono tranqüilo. Abri meus olhos azuis pesados e encarei a pouca claridade que irradiava de minha janela.



- Apresse-se, senhorita Rosalie. – pedia Maria, abrindo meus armários e procurando alguma coisa dentre os montes e montes de vestidos. As palavras dela começavam a fazer sentido aos meus ouvidos. – A Senhora, sua mãe, já está pronta há quase uma hora. Parece que iram sair mais cedo.



Bocejei cansada e sentei-me, ainda um pouco desorientada. Percebi que nevava do lado de fora, e passei a sentir o frio desde aquele momento. Passei os olhos pela minha mais nova adorada caixinha de musica de toquei meus pés macios no chão gélido, saindo da cama.



Maria ajudou-me a vestir o vestido amarelo e cheio de babados que ela havia escolhido para mim naquele dia, e também arrumamos meus cabelos. Quando desci para o café da manhã, ainda pude ver a emprega embolando-se pelos meus armários procurando meus casacos.



Ao chegar à cozinha para comer algo, encontrei meus irmãos mais novos com bolo nas mãos e olhos cobiçosos. Todos nós sabíamos que, se mamãe chegasse ali naquele momento, mandaria os dois colocarem o doce no lugar e ir procurar algo mais saudável para ingerir. Dividi o bolo com eles.



Durante o curto período que passei em casa naquele dia, senti vontade de agradecer a papai pelo presente – mas ele, como em todos os outros dias, já havia saído para o trabalho. Então, simplesmente me encolhi com um bom livro na sala de estar, até que mamãe apareceu devidamente vestida e bem alimentada para que pudéssemos ir embora.



George e John também iriam, e estavam incrivelmente animados quando Alfred entregou nossos casacos e se despediu, avisando que William estava pronto para nos levar a cidade. Dei a mão a meus irmãos e caminhamos, atrás da mamãe, em direção a carruagem. Cumprimentamos o nosso cocheiro e entramos.



Como descobri, não é possível fazer uma viajem silenciosa com crianças de dez e oito anos dividindo a carruagem. Eu ria com mamãe tentando fazer os meninos relaxarem, mas eles sempre viam algo deslumbrante pela janela e voltavam a falar.



Mamãe pediu para William nos levar a uma loja um tanto quanto longe, e que nos encontrasse no mesmo local duas horas depois – pressenti meus pés doloridos logo no momento que avistava a nossa carruagem desaparecer do outro lado da rua, onde varias pessoas andavam. Suspirei.



Entrei na loja, sendo puxada por mamãe e seguida por George e John. Era enorme e muito bem decorada, com cadeiras confortáveis e panos em todos os lugares que meus olhos puderam alcançar. Quando me dei por mim, mamãe já falava com a dona do estabelecimento como se fossem melhores amigas. Cumprimentei todas trabalhadoras ali presentes.



Mamãe disse que precisa de dois vestidos de festa e trajes a rigor masculino, e então desapareceu pelo local, me deixado sozinha com meus irmãos que, rapidamente, saíram correndo e sumiram de vista entre os panos.



Resolvi que seria melhor se procurasse um bom tecido macio enquanto estivesse inútil naquele lugar. Estava, distraidamente, procurando o pano ideal para fazer meu vestido de Ano Novo, quando ágüem me chamou atenção, tocando minhas costas.



- Rose! – disse a voz doce e familiar. – É muito bom encontra-la aqui.



- Oh, Vera! – sorri ao dizer o nome de minha melhor amiga, abraçando-a. – O que faz aqui, minha amiga?



- Provavelmente o mesmo que você. – contou ela, e rapidamente sua face ficou séria e contorcida em duvida. – Ah, sim. Preciso lhe falar sobre aquele meu segredo.



Suspirei pesadamente. Ela dizia de uma forma que realmente fazia parecer que era algo grande e horrível. Nada que Vera Foster fosse capaz de fazer, ou até mesmo pensar em fazer. Mas nós duas ouvimos alguns passos pesados e nos viramos em direção ao barulho. E lá estavam mamãe e Katherine Foster.



- Querida, olhe quem eu encontrei aqui. – dizia mamãe, e então reparou que eu estava na companhia de Vera. – Ah, vocês já se encontraram. Claro. Bem, crianças, resolvemos continuar as compras juntas.



- Maravilhoso. – disse eu, e Vera sorrio ao meu lado.



Demorou para que achássemos George e John – que estavam brincando com Wendy, a irmã mais nova de Vera. As costureiras pegaram nossas medias e os tecidos e panos escolhidos para os vestidos, e saímos da loja com a garantia da roupa pronta até sexta, dois dias antes da festa.



Tínhamos uma hora até William vir nos buscar, e acabamos por ir com os Foster até um local que, além de gracioso, vendia chá e bolinhos de morango e mel. Meus irmãos e Wendy conversaram sobre coisas de crianças e prestei atenção em algumas partes, realmente nostálgica daquela época tão meiga.



Eu contava a Vera sobre minha mais nova e maravilhosa caixinha de musica – ela sempre parecendo muito avoada – quando ela pareceu tentar me interromper. Aquela altura, já estavam todos na mesa entretidos em suas conversas.



- Parece que não consegui lhe contar meu segredo novamente. – ela cochichou, baixinho.



- É, parece que é. – cochichei de volta.



- Surgiram outras oportunidades. – ela voltou a cochichar.



- É. – confirmei, o tom de voz tão baixo quanto o dela. – Por que estamos cochichando?



- Eu não sei. – ela disse, um pouco mais alto. Rimos.



Entramos, então, em uma conversa sobre a festa de Ano Novo, que aconteceria no próximo domingo. Vera confirmou sua presença, e eu confirmei a minha, dizendo que mamãe nunca nos deixaria perder essa festa.



Contei, também, sobre meu chá na casa dos Vangor. Falei sobre James e seu interesse parecido com os meus, de gostar da leitura. Mas parecia que eu preferia romances impossíveis e ele, aventuras. Vera perguntou se eu havia gosta dele. E disse também sobre a conversa nada agradável que mamãe e eu tivemos na noite anterior, e que eu realmente só o tinha como um amigo.



Aproveitei e falei sobre a caixinha de musica também. Ela pareceu desinteressada novamente, mas lhe disse que, apesar de parecer algo simples, era realmente especial. E ela acreditou, ou ao menos pareceu.



Saímos do restaurante, e, na porta de saída, pensei ter ouvido a doce melodia da caixinha de musica.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.