Eu olhava aborrecida para minha lista de assuntos desse mês, e aquilo era apenas matemática. Apesar de achar que seria fácil, só de pensar em estudar tudo aquilo novamente já me dava nos nervos. É só isso que eu tenho feito há quase três anos, esperando o dia em que finalmente eu pare de crescer e possa ir pra escola como o resto da família. Não que a Oak Harbor High School seja tão legal assim, mas é melhor que ficar trancada no meu caixão.

A pouco mais de dois anos nos mudamos para uma cidade muito ensolarada no Condado de Island, Washington, chamada Oak Harbor. No meu primeiro ano, nos mudamos de Forks para a nebulosa Prince Rupert, na British Columbia, Canadá, onde vivemos por três anos. A cidade era muito bonita, mas tão fria e chuvosa quanto Forks. Passamos bons momentos lá, apesar de eu ficar tão escondida do mundo quanto sou agora. Toda a família se dedicou a acompanhar o meu crescimento, então todos os dias eram domingo. Eles se revezavam para me manter sempre ocupada e feliz. Quando tivemos que nos mudar novamente eu já parecia ter mais de doze anos. Como meus pais e tios se matriculariam na escola novamente eu não teria tanta companhia, então pedi aos meus pais que nos mudássemos para uma cidade de clima mais ensolarada e mais perto de Forks pra que o Jake pudesse nos visitar com mais freqüência. Apesar da relutância do papai, a mamãe achou que meu pedido era razoável e o colocou em votação. A família toda se dispôs a atendê-lo, menos o papai. Ele alegou que seria perigoso ficar tão perto de Forks e que um clima mais ensolarado dificultaria o disfarce. Depois de muita insistência, ele concordou com a condição de que ele escolheria a nossa próxima cidade. E foi assim que viemos parar em Oak Habor. O vovô arranjou uma vaga no hospital local e os outros se matricularam na Oak Harbor High School, enquanto eu passava os meus dias mofando em casa, respondendo exaustivas lições que o papai me passava. Não falo com um humano a muito tempo. A não ser como o meu avô, com o Jake e o Scoot, um amigo virtual.

Não é como se eu fosse perigosa ou algo assim. É só que os humanos podem perceber o meu crescimento um pouco acelerado e começar a fazer perguntas. E nada pode ser mais importante que o maldito segredo. Nós já enfrentamos os Volturi antes e, com muita sorte e alguma ajuda dos amigos, conseguimos nos safar. Então temos os evitado como ao inferno. Depois daquele incidente, em que eu minha família quase fomos condenados, mamãe havia prometido ao vô Charlie que não se afastaria dele tão cedo. Ficamos lá até o final do ano letivo para que ele pudesse aproveitar um pouco da minha companhia. Minha convivência com o Charlie foi curta e por isso muito preciosa. Me apeguei ao meu avô de uma forma inexplicável. As lembranças de Forks sempre me deixavam meio triste. Mas sempre que me sentia assim eu podia simplesmente pegar o telefone e ligar para eles. E era isso que eu iria fazer. Deixei a lição de lado por um instante e peguei o meu celular sob o balcão da cozinha. O telefone chamou algumas vezes, até que caiu na caixa postal. Eu deveria saber que ele estaria no trabalho a essa hora. Resolvi não deixar recado. Ao invés disso disquei outro numero que atendeu no segundo toque.

- Ness! – Jake atendeu empolgado.

- Ei Jake!

- Senti sua falta baixinha. Eu já ia mesmo te ligar. Charlie falou que vocês estão vindo pra o seu aniversário.

- Ei! Eu já não estou mais tão baixinha assim!

- Acho que eu vou descobrir então!

- Tudo bem! É um pedido do Charlie, na verdade. Acho que ele vai ter um ataque cardíaco quando me ver novamente. Talvez você pudesse ir preparando o coração dele.

- Pode deixar! Ele ficou de passar aqui à tarde pra ver os freios. Eu terei uma conversa com ele. – Jake montou uma oficina mecânica em Forks com Embry e Quill (e com uma forcinha da mamãe) assim que terminaram o colegial. Claro que no começo ela pertencia ao Billy, pelo menos no papel. Mas assim que eles alcançaram a maioridade oficializaram a sociedade, e a oficina tem ido muito bem, desde que a outra única oficina mecânica em Forks praticava um preço absurdo, segundo Jacob.

- Obrigada Jake. Acho que ele vai ficar um pouco assustado.

- Não esquenta Ness, ele te ama.

- É! Certo. – o silencio se estendeu por um instante.

- Jake?

- Ei. É que eu to dando um tempo do trabalho e estava pensando em passar um tempo ai com vocês.

- Sério Jake! Isso seria ótimo! – Isso saiu entusiasmado demais. Me senti repentinamente miserável. Eu devia estar parecendo muito patética e carente.

- Eu podia ir no sábado e passar a semana. Daí eu voltaria com vocês pra festa.

- Você é o melhor!

- Eu sei!

- E o Billy, você vai deixá-lo sozinho? – O pai do Jake tem passado por alguns problemas de saúde ultimamente.

- Ele já está bem melhor e Sue ficou de passar aqui pra dá uma olhada nele.

- Que bom! Então a gente se vê no sábado!

- A gente se vê!

-Com quem você está falando? – Tia Alice gritou da porta me assustando.

- Com o Jacob! Por quê? – Eu desliguei rapidamente o telefone quando a vi de olhos esbugalhados na soleira da porta.

- Por nada. – Ela parecia extremamente frustrada com a minha resposta. Tirou o casaco e o arrastou pelo chão enquanto subia os degraus da escada.

- O que aconteceu com ela? – Eu perguntei ao meu pai que entrou voando pela porta, seguido pelo tio Jasper.

- Sua tia está ficando louca! – Foi a única coisa que ele me falou enquanto corria atrás dela.

Apertei o botão de discagem rápida do celular que ainda estava na minha mão.

- Mãe! O que aconteceu com a tia Alice?

- Ness! Eles já chegaram ai? – Por que ela estava tão surpresa?

- Já mãe. O que houve?

- Sua tia! Ela acha que teve uma visão sua. – Ela parecia divertida.

- O que ela viu? – Eu perguntei desconfiada. Minha tia nunca teve uma visão sobre mim em mais de cinco anos.

- Eu realmente não sei querida. Ela entrou na nossa sala e saiu puxando o Edward! Foi só isso que deu tempo dele me contar. – Ela estava achando tudo muito engraçado.

- Mãe! – Exclamei indignada.

- Não se preocupe querida! Seu pai não parecia preocupado. – Ela falou, finalmente percebendo meu desespero. Eu tentei me acalmar. Afinal, pela cara que ela fez ao me ver, a visão dela foi uma furada.

- Ela não podia simplesmente me ligar e perguntar?

- É a sua tia Ness!

- OK – Minha tia deve estar mesmo doida!

Voltei a olhar pra todos os livros espalhados sob a mesa. Tentei estudar por alguns minutos, mas eu já não conseguia me concentrar. Subi as escadas devagar, na esperança de não ser notada e poder ouvir atrás da porta. Muita estupidez minha por sinal. Papai deu um berro assim que passei pela porta do quarto de Alice. Fui direto pro meu quarto e me joguei na cama de bruços.

Conheço minha tia Alice desde que nasci e sei que ela tem esses ataques de vez em quando. Mas o papai não me pareceu estar levando isso na brincadeira como a mamãe. Ele parecia bem sério quando passou por aquela porta.

Levantei os olhos por um instante e vi que havia uma mensagem piscando na tela do meu computador. Levantei-me rapidamente e sentei-me na cadeira. A mensagem era do Scoot, e me dizia que sentia minha falta e que eu deveria ligar pra ele. Eu conheci o Scoot pela internet, ele é de Portland, Oregon. Nós ficamos muito próximos, apesar de eu não poder falar sobre tudo com ele como eu faço como o Jake, mas ultimamente a amizade vem dando lugar a alguma outra coisa. Meu pai logo que percebeu tratou de ter uma conversa comigo, me falando tudo àquilo que eu já sabia. Que eu não deveria me apegar ao Scoot, que nós nunca teríamos uma chance já que ele nunca poderia saber sobre a nossa família. Desde então eu tenho tentado manter a nossa relação no território da amizade, mas ele tem notado a minha mudança e vem insistindo para que nos encontremos. Meu pai ainda não sabe disso, ou já teria me proibido de manter contato com ele. Decidi deixar essa ligação para depois já que outros problemas ocupavam a minha mente.

Me joguei na cama novamente, dessa vez ainda mais frustrada. O resto da tarde passou muito lentamente. Meu pai veio até o meu quarto algumas horas mais tarde, me trazendo um lanche e nenhum comentário sobre o surto da minha tia hoje mais cedo. Pelo menos ele não reclamou sobre as lições incompletas que eu simplesmente abandonei na mesa. Acabei adormecendo de tanto tédio. Só fui acordada pela minha mãe me chamando para o jantar.