Capítulo único

A água estava numa ótima temperatura, o sol estava em potência máxima e a praia cheia. Thomas foi andando com a água batendo nos calcanhares até achar uma parte razoável, com menos pessoas na areia ou na água, mas olhando para frente só era possível ver um mar de pessoas e guarda-sol ocupando todo o espaço.

Talvez não tenha sido uma boa ideia sair de casa, mas o que mais ele deveria fazer? Estava numa cidade cujo atrativo era a praia. Ele também não precisava ter vindo sozinho, era férias de verão, ele deveria estar aproveitando ao máximo. Pulando de asa delta, bungee jump, ou seja, lá o que as pessoas fazem para se divertir, ou ter aceitado algum dos convites de Teresa, eles vieram para a cidade juntos, mas ela estava sempre cercada de amigas, não que Thomas se importasse, mas as vezes ele só queria vagar por aí sozinho, sentar numa pedra, ver o pôr-do-sol.

Teresa normalmente o acompanharia em qualquer coisa, mas desde que havia saído do armário parecia que Teresa havia se declarado seu cupido oficial e toda vez em que saiam juntos ela tentava o empurrar para o primeiro cara bonitinho.

Thomas só conseguia se afundar na cadeira e morrer de vergonha. Férias de verão, romance de verão, ele precisava aproveitar mais, ela dizia. Mas Thomas não estava procurando alguém, ele só queria um pouco de paz e sossego.

Depois de mais alguns minutos parecia que havia finalmente encontrado um canto que por alguma razão não estava muito cheio. Tirou os chinelos e a camisa, os jogou em qualquer canto e entrou na água.

Em cinco passos a água passou do calcanhar para os joelhos, mais alguns e voltou a bater mais baixo. Continuou caminhando, meio que nadando até que cobrisse o tórax pelo menos.

As ondas vinham fortes e depois algumas fracas, ele queria boiar, mas o mar não permitia.

Fechou os olhos e ficou ali dançando com a água, afundando e pulando, mergulhando, girando.

“Hey, você ta bem? ”.

Thomas abriu os olhos e se deparou com o rosto preocupado de um garoto sentado numa prancha. Com aquelas roupas completas, cabelo loiro, combinava com ele.

“Sim”. Murmurou, ele queria soar confiante, mas acabou saindo como algo patético e meio incerto.

“É que já faz algum tempo que você está aqui parado...”.

“Oh, eu só estou... hm... pensando”. Patético. Thomas se estapeou mentalmente, por que ele era tão ruim em ser social?

“Ok, cuidado com as ondas”. O garoto começou a remar para mais distante.

“É, ok, obrigado”. Murmurou antes de fechar os olhos. ‘Você também’. Pensou, ele deveria ter dito em voz alta, teria sido legal, teria...?

Thomas afundou na água, talvez fosse melhor desaparecer e nunca mais ver o loiro bonitinho.

Foi uma péssima ideia mergulhar sem ver a próxima onda, ele emergiu no exato momento que a onda estava quebrando, o que o jogou a metros para frente, ele levantou cuspindo água e tossindo.

Talvez isso fosse um sinal para sair do mar, mas Thomas queria continuar lá, flutuando, pensando não seriamente sobre a vida, sobre procurar um emprego quando voltar e talvez achar umas pessoas para dividir um apartamento.

Ele voltou para onde estava e continuou lá.

“Então, eu estava pensando...”. A mesma voz o interrompeu. Thomas se virou para trás e viu o mesmo loiro sentado na prancha. “Você não está tentando se matar, está?”.

“Não! Claro que não, céus...”.

“Por que nós estamos no fundo e as ondas estão quebrando por aqui e--”

“Eu sei nadar, ok? ”. Thomas falou mais alto com as bochechas coradas.

“Porque eu vi você bebendo água mais cedo”. O loiro torceu os lábios numa expressão incrédula.

“Foi um acidente, não era pra você ter visto aquilo”. Murmurou olhando para a água.

“Certo... Meu nome é Newt, se precisar de alguma coisa é só gritar”.

“Thomas”. Respondeu com um meio sorriso. O loiro—ou melhor, Newt, sorriu de volta, ele piscou e voltou a remar para mais longe.

Ele piscou! Ele piscou para Thomas!

Se ele continuasse lá será que Newt voltaria? Ele deveria chama-lo para sair mais tarde? Talvez eles devessem sair do meio do mar para conversar, certo...?

Mais algumas ondas e novos pensamentos de reflexão, Thomas achou melhor sair de onde estava, talvez Newt o seguisse, talvez ele estivesse na areia esperando por ele.

Uma pontada o fez dar alguns passos para o lado, o banco de areia em que ele estava desapareceu, de repente, seus pés não davam mais apoio e ele afundou, e ele não conseguia bater as pernas.

Câimbra.

Ele não iria gritar por socorro, embora agora não fosse a hora para ser orgulhoso, ele sabia que só precisava voltar para o banco de areia e tudo estaria—

Uma onda gigante quebrou.

Merda.

Thomas foi erguido, ele nem sabia como, de repente seu corpo estava na prancha e Newt boiando na água.

“Thomas, que diabos!?”. Ele não estava feliz. Óbvio.

“Ca-caimbra”. Respondeu cuspindo água.

“Você vai ter que mexer a perna”. A expressão no rosto do loiro se suavizou um pouco.

“N-não dá, dói”.

“Eu sei que dói seu idiota, mas as ondas vão continuar quebrando e eu não quero que você caia da prancha”. Newt deu a volta na prancha, suas mãos se fecharam na coxa de Thomas que imediatamente resmungou. “Aqui certo? Apenas tente não me chutar”.

Seus dedos começaram a massagear a região. Thomas tentou não ser patético e choramingar, ele aguentou com os dentes cerrados, ele nem percebeu quando Newt ficou ainda mais próximo e começou a murmurar num tom muito gentil.

“Ssssh, eu sei que dói, vai ficar tudo bem, ok? Já vai passar Tommy”.

Tommy? Ninguém nunca havia o chamado desse jeito.

“Me desculpe”.

Newt deu de ombros. “Acontece, não se preocupe”.

“Eu já estou bem, você pode voltar pra prancha”.

“Nah, é melhor você continuar aí”.

“Não cabe dois nisso aqui? Eu tenho certeza que você também pode subir”.

Newt riu. “Isso não é o Titanic e isso não é uma porta, ok? Eu vou ficar bem”.

Thomas apenas concordou.

Eles voltaram a salvo para a areia. Os dois deitados na areia molhada, a água batendo e voltando.

“Obrigado, Newt”.

“Por nada, Tommy”.

“...Eu não sei fazer isso”. Se sentou na areia, mexeu nervosamente nas mãos, Newt se sentou também.

“Fazer o que? ” .

“Isso”. Apontou de um para o outro. “Eu deveria pedir o seu telefone? Nós deveríamos marcar algo mais tarde, eu nem sei se você é daqui, ou de onde você é, ou se você veio com alguém”. Começou a falar descontroladamente.

Newt riu. “Calma. Eu vim com alguns amigos, eu não sou daqui, estou apenas aproveitando as férias de verão”.

“Oh, eu também. Quer dizer, eu também vim aproveitar as férias, eu estou na casa de uma amiga, quer dizer, ela é amiga da minha amiga de infância. Da Brenda, que é a dona da casa, Teresa é a minha amiga”.

“Brenda? ” Newt repetiu com as sobrancelhas erguidas.

“Você a conhece? ”

“Sim, ela disse que estaria recebendo uns amigos, nós deveríamos nos encontrar mais tarde, acho que ela iria nos apresentar”.

“Oh”.

“Ela falou sobre você”. Um sorriso divertido se formou nos lábios do loiro.

“Ah céus”. Thomas escondeu o rosto entre as mãos. “O que ela disse? Ou não diga, eu não sei se quero saber”.

“Que você é solteiro”.

“Ugh... Definitivamente não quero saber”. Murmurou mortificado.

“Meio atrapalhado”.

“Por favor, me devolva para o mar”.

“Bonito”.

“Um tsunami, é tudo que eu peço”.

“Ela não disse nenhuma mentira”.

Thomas tirou a mão do rosto.

“Eu... er...”.

“Eu gostei de você Tommy, eu quero saber mais sobre você”.

“Eu... eu também”.

Newt entrelaçou os dedos aos dele.

“Agora, que tal nós aproveitarmos esse encontro e pregarmos uma peça nela? Quer dizer, ela falou de você pra mim, mas eu estou meio ofendido que você nem tenha escutado falar de mim”.

Thomas riu.

“O que você tem em mente? ”.

Newt abriu um largo sorriso e cochichou seu plano diabólico no ouvido de Thomas. É claro que ele não precisava ter sussurrado, mas isso não era importante.

—/-

Mais tarde Teresa e Brenda o arrastaram para um bar, Thomas foi apresentado para um coreano chamado Minho.

“Onde ele está? Newt não é de se atrasar”. Brenda disse olhando em volta.

Não demorou muito para que o loiro se fizesse presente. Veio caminhando lentamente enquanto segurava duas bebidas e tinha que se esquivar dos outros grupos pelo caminho.

“Hey”. Ele sorriu na direção de Brenda e ignorou Thomas. Thomas tentou não sorrir, pelo menos ele não precisava fingir nervosismo.

“Hey! ” Brenda sorriu largamente. “Deixa eu te apresentar aos meus amigos. Essa é a Teresa”.

“Prazer”. Esticou a bebida na direção dela. “Espero que você goste de Martini”. E entregou o outro copo para Brenda que lhe beijou a bochecha em agradecimento.

“Oh, muito obrigada! ”. Teresa estava quase pulando alegremente, e não muito disfarçadamente cotovelou Thomas nas costelas.

“Ah sim! E por último, mas não menos importante, esse é o Thom--”

Newt se aproximou do moreno, o puxou pela gola da camisa e o beijou. Com tudo. Nos lábios. Thomas tropeçou alguns passos e Newt o empurrou até que os dois estavam aos beijos contra uma pilastra.

Teresa cuspiu toda a bebida em Brenda e Minho tentava não rir muito alto enquanto gravava tudo com o celular.

Depois de algum tempo, Newt recuou um pouco o rosto, Thomas lambeu os lábios.

“Você acha que valeu a pena? ”. O loiro perguntou com um sorriso que dizia tudo.

“Muito”.

“Eu posso te beijar de novo? ”.

Thomas não precisou responder, apenas envolveu sua cintura o trazendo para mais perto.

“AHMEUDEUS! ”. Brenda gritou, parecia nem ter percebido que seu cabelo pingava Martini.

“Quando isso aconteceu? ”. Teresa perguntou para Minho que ainda filmava tudo, ou elas pelo menos.

“Por que você está com a câmera em nós? Filme eles! ”. Brenda tomou o celular e apontou na direção dos dois, até deu zoom. Os dois voltaram a se beijar, ignorando tudo e todos. “Eu sou responsável por eles, eu inventei Newtmas! ”.

“Como é? ”. Teresa cruzou os braços. “De quem foi a ideia de apresenta-los? ”.

“Eu sou capitã desse ship! E esse barco está decolando! ”.

Minho tropeçou numa cadeira e não conseguiu mais se levantar de tanto rir. Brenda e Teresa continuaram discutindo por mais algum tempo sobre ships e Newtmas. E Newtmas, ou melhor, Thomas e Newt decidiram que seria melhor não voltar para perto dos amigos por algum tempo, possivelmente pelas próximas horas, talvez pelos próximos dias.