— Outra vez! – gritava o produtor do outro lado do vidro. – Coloque mais emoção na segunda linha, por favor.

Não era comum para o líder N errar quatro vezes seguidas em meio às gravações, entretanto ele próprio sabia que não estava em condições de cantar nada naquele momento. Mirava as faces de seus companheiros de grupo, pedindo desculpas com o olhar, sabia que era o culpado de todos estarem até aquele horário gravando. Deveria compensá-los depois, quem sabe pagando o jantar... Hongbin mostrava suas adoráveis covinhas enquanto sorria, de forma a incentivar o mais velho. Aquilo normalmente o ajudaria bastante, mas era só ver as sobrancelhas franzidas e o olhar distante do rapper loiro que seu peito voltava a doer.

“Enquanto você tira quem te deixou

Suas lágrimas continuam caindo, mas você deseja a felicidade dessa pessoa”

Hakyeon suspirou cansado, sentindo-se aliviado pelo produtor não ter pedido para repetir aquela mesma estrofe. Saiu do estúdio forçando um sorriso, pedido desculpas educadamente ao homem dos cabelos grisalhos, afirmando em seguida que ia se empenhar mais da próxima vez.

— O que houve com você, Hyung? – perguntou um dos vocalistas principais, abraçando o pescoço do moreno.

— Não é nada, Ken. Eu só estou um pouco cansado... – continuou com seu sorriso forçado, torcendo para ninguém além de Wonshik o decifrasse. Tinha certeza de que apenas ele sabia que seus olhos se curvavam quando sorria de verdade.

Não tocando mais no assunto, os seis membros do VIXX seguiram o manager até a van, com suas costumeiras brincadeiras e risadas altas. Hakyeon foi para o seu lugar no banco da frente, ignorando completamente a algazarra que se formava atrás de si. Colocou seus fones de ouvido, ligando qualquer música triste para tocar no volume máximo. Era primeira vez que aquilo acontecia, pois N era sempre quem começava as brincadeiras. O moreno voltou a suspirar, encostou a cabeça no vidro da janela enquanto fechava os olhos, recordando-se daquilo que ocorrera há uma semana.

Lembrava-se bem, haviam acabado de saber pelo diretor da empresa que iriam lançar um novo single, e apesar de não demonstrarem muita reação em frente ao homem, chegaram a pular de alegria assim que voltaram para o dormitório. Os rapazes resolveram aproveitar que tinham o resto do dia livre para sair para comer, como em muito tempo não faziam. Taekwoon concordou em pagar tudo desta vez, e com sua costumeira expressão vazia em sua face, foi chamar o líder para ir também, que surpreendeu todos ao recusar. Ravi fez o mesmo, afinal ele sempre preferia ficar na casa para compor.

— Eu estou com fome... – comentou o mais velho, sentando-se ao lado do loiro no sofá.

— Deveria ter ido com eles então.

A risada gostosa do rapper veio seguida de um abraço apertado. Hakyeon sorriu, estava com saudade de passar algum tempo sozinho com aquele que descobriu amar tanto. Desde antes do debut o de pele morena era perdidamente apaixonado pelo rapaz de nariz engraçado, e sua surpresa foi descobrir que era recíproco desde o início. Conversaram coisas aleatórias enquanto permaneciam abraçados, N se esquecendo da fome e Ravi se esquecendo da letra que deveria compor. Era sempre assim, perdiam a noção de tudo quando estavam a sós.

— Que tal aproveitarmos o comeback para dizer pro mundo que estamos juntos? – disse Hakyeon, indo até a cozinha quando a barriga reclamou.

— De novo essa história? – Wonshik disse rindo, tentando escrever alguma rima. – Já te disse para parar com essa brincadeira.

— Não estou brincando. – retrucou o moreno.

Ravi sabia onde tudo aquilo ia chegar, então tentou explicar outra vez, da forma mais paciente possível, que se o relacionamento dos dois não fosse segredo, muita coisa ruim iria acontecer. Não que o líder não soubesse disso, mas o que o incomodava de verdade era que o namoro fosse omitido de seus amigos e da família de Wonshik. Nem sequer os outros membros da banda tinham conhecimento sobre os dois, apesar de desconfiarem.

— Devíamos conversar com os meninos. – N chegou à sala novamente, tentando chamar a atenção do namorado. – Não gosto de esconder algo tão importante, você sabe.

O rapper bufou, bagunçando os próprios fios descoloridos. Não gostava de repetir várias vezes a mesma coisa.

Ya, já falamos sobre isso! – vociferou, esperando que o outro esquecesse o assunto. O que não funcionou, pois se existia algo que o moreno sabia fazer bem era ser teimoso.

— E eu continuo sem entender! – O moreno disse no mesmo tom, não se intimidando ao ter o olhar do outro sobre si. – Sei que todos iriam nos apoiar, assim como os meus pais.

— Nem todo mundo é igual aos seus pais, Hakyeon! – Ravi desistiu de vez de escrever, levantando-se do sofá. – Minha família não é boazinha, não irão me perdoar por estar namorando... Outro cara! Não posso contar para eles!

O líder sentiu as mãos tremerem. O silêncio se instalou ali enquanto os dois se encaravam profundamente. Hakyeon lembrava-se de todas as palavras que o outro proferira quando o pediu em namoro, e sabia que ele havia jurado que iria passar por cima de todos que tentassem impedi-los de ficarem juntos. Disse que não se importava se as pessoas não os aceitassem, pois o sentimento que nutria por ele era forte o suficiente para superar tudo. Infelizmente, o que Ravi dizia e o que fazia eram coisas completamente opostas.

— Você tem vergonha de mim. – disse baixo, ainda encarando os negros. – Que droga, Wonshik! Não devia ter me pedido em namoro se sentia vergonha de mim!

— Talvez tenha sido um erro termos começado esse namoro! – gritou ele, saindo daquela sala o mais rápido possível.

E aquele foi o momento em que Cha Hakyeon sentiu o coração doer com força. As lágrimas já se juntaram em seus olhos, mas não se permitiu chorar. Não podia chorar! Sempre discutiam sobre aquele mesmo assunto e o moreno não demorava a pedir desculpas, pois era sempre quem insistia. Entretanto, não faria isso desta vez. As palavras duras ditas pela voz rouca que tanto gostava ecoavam insistentemente em sua cabeça. Talvez aquele relacionamento estivesse mesmo fadado àquele final.

O líder apertou os olhos com força afastando aquelas lembranças de sua mente. Respirou fundo, trocando a música que tocava em seu celular em seguida. A van estacionou em frente ao dormitório, fazendo N sentir-se aliviado. Foi o primeiro a sair de dentro do veículo, ignorando as poucas fãs que ali estavam e andando o mais rápido possível para dentro do prédio. Queria se trancar no quarto e ficar sozinho com seus próprios pensamentos, repetindo mentalmente que não deveria chorar.

~**~

Com as sobrancelhas franzidas e lápis da mão, Kim Wonshik desejava ser surdo. Sanghyuk gritava com Hongbin, enquanto Jaehwan cantava extremamente alto. Caramba, como compor alguma coisa em meio a tanto barulho? Suspirou, bagunçando os fios loiros. Se queria paz e tranquilidade naquela casa, deveria jogar pesado. Tirou a carteira do bolso, ficando ligeiramente feliz por ter algumas notas lá dentro.

— Alguém quer comer frango? – gritou, não precisando esperar muito para os outros membros aparecerem na sala como mortos de fome. Ravi pediu para que todos fossem e deixassem-no sozinho, pois precisava escrever alguma letra.

— E o N Hyung? – perguntou o maknae.

— Eu o chamei, mas ele não quer ir. – disse Taekwoon, enquanto se dirigia à saída.

Os outros três se despediram do rapper loiro, saindo porta afora sem seguida. Ravi suspirou outra vez, tendo a certeza de que agora sim teria paz.

Entretanto, mesmo depois de cinco longos minutos em silêncio, nenhuma palavra fora escrita naquela maldita folha de papel.

— Merda! – gritou frustrado, pensando no motivo de não conseguir compor.

Sua inspiração não falava consigo há uma semana.

Hakyeon estava visivelmente triste, e isso lhe partia o coração. No entanto, não queria conversar com ele, pois tinha certeza de que iriam tocar naquele assunto outra vez. Por que era tão difícil entender que precisavam manter o namoro em sigilo? Estava entre seu orgulho e sua promessa, disse que iria fazer o moreno feliz e que nunca ninguém iria atrapalhá-los, mas o medo de contar tudo aos seus pais lhe corroia! Talvez... Quem sabe, se contassem juntos para seus colegas de grupo, seu moreno sorriria de verdade para si.

Contudo, sabia estar se esquecendo de alguma coisa. Quando discutiam, N não ficava assim não deprimido. Será que havia dito algo que não devia? Por mais que se esforçasse, não conseguia se lembrar. Cerrou olhos, focando-se no dia em que brigaram, esperando recordar de tudo o que dissera. Pensou ter escutado algum barulho vindo de um dos cômodos da casa, mas ignorou. Precisava concentrar-se em suas lembranças.

Suas íris negras arregalaram-se ao ouvir suspiros baixos, seguidos de soluços no mesmo tom. Levantou-se depressa do sofá, seguindo o som que vinha da cozinha, assustando-se ao ver o que temia. Hakyeon estava deitado no chão ao lado de uma cadeira tombada, suas mãos morenas estavam em seu rosto, enquanto o peito subia e descia rapidamente. Ele estava chorando.

Hyung, o que houve? – gritou o mais alto, se aproximando do rapaz no chão.

Tocou-lhe o ombro, tentando erguê-lo, porém foi surpreendido por um tapa em sua mão.

— Não me toque. – Hakyeon dissera baixo, a voz embargada pelo choro.

Ravi viu o moreno tentar se levantar sozinho, as lágrimas caindo incessantemente de seus olhos... Não gostava de vê-lo chorar. Insistiu em tentar ajudá-lo, estendendo a mão em direção a ele.

— Me deixa te ajudar...

— Por que finge se importar comigo, Ravi-ah? – perguntou N, conseguindo ficar sentado no chão.

A pergunta deixara o loiro confuso. Aquelas palavras dolorosas que Hakyeon proferira com certeza tinha a ver com o que dissera na última briga.

— O que está dizendo? É lógico que eu me importo com você, Hakyeon! – disse alto, segurando os pulsos do moreno em seguida. Mirou seus olhos, sentindo aquela sensação ruim apoderar de si novamente ao ver as lágrimas rolarem.

— Mentira! – exclamou em meio a um soluço, tentando inutilmente fazer com que o loiro o soltasse.

Woshik ouviu um gemido de dor vindo do outro e se preocupou. Tinha certeza de que ele tinha caído e se machucado. Mas como era teimoso! Entretanto, o mais novo sabia que N não chorava por ter se machucado. Ele estava chorando por sua causa.

— Você tem vergonha de mim. – sussurrou, cedendo finalmente ao aperto das mãos alheias.

— Eu nunca disse isso! – Ravi esbravejou, sabia que nunca disse nada sobre ter vergonha dele. Amava estar ao seu lado, já deixara isso claro várias vezes. Hakyeon estava triste por outro motivo...

— Mas você se arrepende... – O moreno dizia de cabeça baixa, tentando em vão parar aquelas lágrimas. – Se arrepende de ter começado a namorar comigo.

A mente do rapaz mais alto foi tomada pelas lembranças daquele dia. Realmente tinha gritado aquelas palavras, disse sem ao menos pensar. Soltou os pulsos do moreno, sentindo os lábios tremerem ao ouvi-lo soluçar alto. Como doía vê-lo daquele jeito, e ainda mais por sua causa! Agindo sem pensar mais uma vez, Wonshik ajoelhou-se de frente para Hakyeon, levando a destra até a cabeça alheia, puxando-a de encontro ao seu peito. Envolveu o corpo moreno em um abraço apertado, cerrando os olhos com força.

— Me desculpe! – pediu com certo desespero em sua voz. Não queria perdê-lo.

Repetiu aquelas palavras várias vezes rente o ouvido alheio. Sentiu-se aliviado por ele não ter se afastado do abraço, aproveitando para fazer um carinho nos fios negros.

— Eu não queria ter dito aquilo a você. Eu falei sem pensar, então não chore...

— Então... – disse baixo, se afastando um pouco apenas para olhar o rosto do homem que amava. – Você ainda gosta de mim?

— Eu amo você, Hakyeonnie!

Ah, aquele sorriso! O verdadeiro, que apertava os olhos e mostrava os dentes branquinhos. Deus, como adorava ver o seu moreno sorrir! Wonshik acariciou uma das bochechas quentes e morenas, levando sua boca até a alheia logo em seguida. Os lábios foram pressionados gentilmente em um selo demorado, que logo evoluiu para um beijo mais profundo, lento e carinhoso.

Quando se separaram, Wonshik sorriu de leve colando as duas testas. Permaneceram assim por algum tempo, apenas sentindo a presença um do outro. O rapaz loiro voltou a acariciar a pele quente e macia do rosto alheio, voltando imediatamente a beijar aqueles lábios bem desenhados. Ainda não acreditava que quase perdera aquele homem, e tudo por conta de seus atos impulsivos e sua curta paciência. No fim, escolheu cumprir sua promessa.

— Será que os meninos vão ficar muito surpresos quando contarmos para eles sobre nós? – perguntou Ravi após cessar o beijo, mantendo os rostos próximos.

— Não sei dizer...

— Quer correr esse risco?

Wonshik sorriu sincero ao ver os olhos brilhantes de seu namorado se arregalarem. Abraçaram-se novamente em seguida, sabendo que não precisavam de mais palavras.

~**~

— Mas como você caiu da cadeira? – perguntou o loiro, chegando na sala com o moreno nos braços.

— Eu me desequilibrei quando fui pegar os biscoitos. – Hakyeon respondeu envergonhado. – Não ria!

Ainda com um sorrisinho no rosto, o mais novo voltou para cozinha para pegar um saco de gelo, em seguida, saiu correndo até o quarto de Hongbin, roubando o rolo de gaze que ele tinha guardado em uma caixa. Não se demorou ali, logo retornou para aonde estava o rapaz que parecia sentir dor. Pressionou o objeto gelado no tornozelo inchado do moreno com cuidado, ouvindo-o praticamente gritar em seu ouvido.

— Tá doendo, Shikkie...

— Vai passar. – sussurrou o loiro, tirando o saco de gelo do pé dolorido. Pegou um pouco da gaze roubada e enrolou-a no pé de seu namorado. Sorriu ao ouvi-lo agradecer, coisa que não era necessária. N já cuidara de si várias daquela mesma forma, então mínimo que poderia fazer era retribuir um pouco. Ravi levou seus lábios até o pé machucado, beijando-o com carinho por cima do curativo. Ergueu seu tronco logo depois, abraçando seu Hyung com cuidado.

O coração de Cha Hakyeon estava em paz, a sensação dos braços do rapper apertando seu corpo era indescritível. Estava feliz, finalmente poderia sorrir de verdade. Sentiu-se amado recebendo aqueles cuidados, e naquele momento teve a certeza de que não existia sentimento melhor do que esse.

— Eu te amo, Kim Wonshik.

— Eu também... Cha Hakyeon.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.