Stay with me

Se houve Amanhã


O Sea Hope parou, nós ouvimos os motores desligando quando subíamos as escadas com cuidado. Malone disse que a direita do navio foi completamente tomada e sabemos que os elevadores estão interditados, provavelmente o Capitão e a tripulação estão rendidos. Nós avançamos em fila indiana, eu sou a última, estou atrás do Summerlee, e Roxton lidera na frente para dar cobertura. Quando ele para nós ficamos apreensivos, mas depois seguimos em frente, pois infelizmente não podemos descer porque as saídas dos decks inferiores ficam travadas, por isso somos obrigados a cruzarmos a promenade para chegarmos aos barcos de emergência. Mantenho meu revólver junto de mim e também fico olhando para trás pra ver se estamos sendo seguidos, só que prefiro não demonstrar minha insegurança porque se John descobre que os mercenários estão atrás de mim, ele seria o primeiro a colocar sua vida em risco para me defender. Os rapazes tomam à dianteira enquanto me atraso, pois eu vejo um homem de quase 2 metros perto da porta giratória, mas felizmente ele ainda não nos viu, então aproveito esta vantagem para emboscá-lo antes que descubra minha arma apontada para seu peito. Eu faço mira e estou pronta para atira, só que Summerlee é rápido e abaixa minha mão:

— Oh não Marguerite, aquele senhor está fugindo como nós. Eu sugiro que guarde suas balas, pois um tiro aqui fará tanto barulho quanto um raptor.

— Ficou maluca? Poderia ter entregado nossa posição!!! – Roxton me repreende com seu olhar arrogante porque conhecemos as táticas de guerra, porém John e Summerlee estão certos, eu agi impulsivamente, perdi o controle, eu me esqueci que não estamos lidando com selvagens e sim com mentes criminosas e bem treinadas. Oh deve ser a antiga Madge ressuscitando por estarmos em Londres, pois antes de embarcarmos para o platô eu faria qualquer coisa para salvar minha pele. Depois deste pequeno evento, continuamos nossa fuga e então nosso grupo consegue atravessar todo o hall do átrio. Nosso Major Lorde John Richard Roxton abre a porta do convés e depois coloca a cabeça para fora, mas do nada ele para:

— John o que foi??? – Pergunta Challenger com a voz tão baixa que eu quase não o compreendo.

— Por que paramos? – Agora sou eu quem está sussurrando, mas Roxton não fala nada, ele apenas chia para mim para fazermos silêncio. Neste momento sinto o frenesi atrás de minha nuca, minha boca seca e então abro meus olhos o máximo que consigo. Aperto tanto a arma em minhas mãos que meus dedos ficam doloridos, então olho para Malone e noto que está nervoso.

— John o que ver? – Challenger pergunta outra vez.

— Tem 2 deles vindo da proa.

— Que maravilha!!! Só falta cercarem a gente, nos prenderem em galões de madeira e nos lançarem ao mar. – Percebo que meu comentário fez todo mundo me encarar. – O quê?

— Às vezes você é tão otimista, minha querida! – John faz ironia enquanto lanço um olhar sério para ele.

— O que vamos fazer? Alguma idéia brilhante?

—Sair daqui é uma idéia e tanto, Malone. – Challenger e eu pensamos iguais.

— Mas como vamos sair? Lá fora tem 100 mercenários armados.

— Marguerite não seja exagerada!

— Oh não Roxton pode ter mais.

— Querem guardar essa discussão de casal para quando estivermos em terra firme?

— Eu certamente não me importo Summerlee.

— Senhorita Krux???

— Eu estou apenas tentando sair viva deste vapor!

— Muito bem, eu tenho uma idéia! – Então Summerlee conta seu plano para nós, só que enquanto conversávamos sobre, somos surpreendidos pelos 2 mercenários. Um deles enche as mãos na mochila de Malone e joga com toda força no chão, em seguida desfere vários chutes na barriga. O outro mercenário golpeia Summerlee na testa e ele desmaia perto dos pés de Challenger que está tentando atirar, mas o mesmo bandido o golpeia com o cabo de sua própria arma. Corro para me esconder atrás das chaminés, só que uma mão me acha na escuridão e puxa meus cabelos para trás. Tento acertar uma pisada no pé de meu agressor, só que ele é muito forte e usa a mão para me amordaçar. Pressinto que serei seqüestrada e talvez morta, a menos que o mandante me queira viva, mas então enquanto procuro respirar através dos dedos dele mascarando meu rosto, John ataca-o pelas costas e acerta uma coronhada no meio da nunca.

— Obrigado! – Abraço o corpo do meu cavaleiro de armadura prateada e eu fecho meus olhos, então John afunda o nariz no meu pescoço:

— Dois já se foram! Ele te machucou???

— Não! – Agora ele toca meu rosto, mas mal conseguimos enxergar naquela sombra, então a gente corre para ajudar os demais:

— Estão todos bem? – Roxton se preocupa com o sangue escorrendo da cabeça de Challenger.

— Oh não se preocupe com o galo! – Challenger passa os dedos sobre a ferida aberta na testa, ele sente o líquido nas pontinhas e a ardência que incomoda bastante, só que não é nada sério. Então depois do susto a gente decide continuar. Nós corremos pela promenade mesmo no escuro quase absoluto, porque as luzes do Sea Hope foram apagadas de propósito para outra armadilha, deste modo nós conseguimos enxergar apenas com ajuda da lua e de algumas lâmpadas de emergência. No meio da correria sinto a mão de Roxton segurar na minha, John agarra forte para não me soltar, pois não podemos nos perder agora. Sinto que ele me protege, pois eu sei que enquanto estivermos juntos faremos o impossível pela expedição e pelo o outro. Muitos passageiros passam por nós amedrontados como baratas e alguns pulam na água para escapar, pois não estamos longe da praia. Nós esbarramos em mulheres com crianças e até em animais que são transportadas da Amazônia, como as cobras que se soltaram e estão rastejando pelas tábuas. Nós sentimos os corpos dos animais sob o solado de nossas botas e então começo a ficar sem fôlego, pois eu não agüento mais correr, estou ficando exausta:

— John eu não posso mais.

— Não podemos parar Marguerite, estamos perto dos barcos.

— Eu estou cansada! – Neste momento atiram em nós, então nos abaixamos enquanto as balas raspam perto demais.

— Não se preocupe, eu prometo que quando a gente estiver em casa eu cuido de você. - De repente ouvimos mais tiros, então Roxton me ajuda a levantar e me leva para as grades do vapor, enquanto isso Malone, Summerlee e Challenger também se aproximam.

— Se ficarmos aqui vamos morrer! – Malone fala o óbvio.

- Meus amigos, nós teremos que pular pra fora do navio. – John é o primeiro a perceber que estamos lutando numa batalha desigual, pois quem pode ver o inimigo no escuro???

— Droga, não era esta recepção que eu tinha em mente!!!

— Acha que consegue Summerlee??? – Novamente John se preocupa com nosso Arthur.

— Sem dúvidas eu nadarei para salvar minha vida! – Nós subimos nas grades e nesta hora Challenger oferece o braço para ajudar Summerlee, enquanto John me pega pela cintura e me equilibra nas barras. O vento forte está soprando nos meus cabelos, minha saia balança violentamente, eu tento manter meus dois pés seguros antes de pular no mar, então eu forço meus olhos para baixo, só que é difícil calcular a queda.

— Vão, vão, vão!!! – Escuto a voz de John e sinto a palma de sua mão tocar minhas costas antes do salto, então neste instante fecho meus olhos e me jogo no vazio escuro. A expedição nada para longe do Sea Hope e em segundos vários tiros são disparados contra as pessoas que estão na água, porém quanto mais balas tocam nas marés do atlântico, mais a expedição nada com braçadas largas e precisas. Depois de 20 minutos nadando em favor das ondas, a expedição Challenger consegue encalhar em Brighton. Roxton e Malone são os primeiros a pisar na areia, em seguida eles vão ajudar os outros a saírem do mar.

— Onde está a Marguerite??? – Roxton percebe que não estou entre eles, e então grita meu nome mais alto para que eu o ouça. – Marguerite! Marg, Marguerite???

— Marguerite!!! – Ned e Challenger ajudam a procurar por mim enquanto Summerlee se recompõe. Roxton começa a fica aflito, ele zanza pela areia de um lado para o outro e leva as mãos para a cabeça enquanto os olhos buscam enxergar além-escuridão. Apavorado e com medo de me perder ele decide voltar pra água, só que depois de mais alguns minutos, ele volta para a areia, mais cansado e desesperado:

— Ela não estar lá, Challenger!!! – A água salgada do mar escorre por seu rosto e pinga dos seus cabelos. O chapéu ficou perdido no fundo do oceano, a sua roupa está encharcada e dentro das botas tem bastante areia, só que ele não se importa com sua comodidade, pois me salvar é primordial.

— Calma Roxton, Marguerite sabe nadar. – Challenger procura acalmá-lo colocando as mãos em seu ombro e peito.

— E cadê ela? Onde estar? Por que não a vejo aqui conosco???

— Se a senhorita Krux não se afogou. – Summerlee está sentado na areia, com as pernas esticadas, com os olhos ardendo, pois perdeu os óculos, mas felizmente as sementes estão seguras. – Eu sinto muito, John, mas presumo que Marguerite tenha planos diferentes dos nossos!

— O que você quer dizer Summerlee? – Ele para de andar de um lado para o outro e então chega perto do botânico.

— Roxton, Summerlee quis dizer que a Marguerite resolveu voltar pra casa sem a sua ajuda.

— Não, isto não é verdade Malone!!! – Roxton ameaça nosso jornalista com o dedo.

— Tenha calma, homem. Se bem conheço Marguerite, ela não ficará sem receber parte da glória.

— Mas se ela não aparecer, Challenger?

— Então amanhã nos folhetins saberemos se seu corpo encalhou nesta praia, mas se não se afogou como nós sabemos que não, ajudaremos encontrá-la como sempre fizemos no platô. Você precisa pensar homem! – Challenger é definitivo, mas escolhe as palavras com cuidado, pois ele sabe o que a herdeira representa para o caçador. Então convence Lorde Roxton esperar o dia amanhecer, pois eles ainda precisam pegar um carro até Londres e de lá retomarem suas vidas. Amanhã provarão a extraordinária existência do mundo perdido.