No caminho para a mansão, o carro dá vários solavancos pela estrada, a minha cabeça está encostada na janela enquanto vejo a rua passar sem dizer uma palavra com Lorde Roxton, mas posso ver com o rabo do olho que John me observa de vez em quando. Eu não ouso dizer nada e nem ele arrisca alguma coisa, porém tenho a impressão que ainda não acredita que estou sentada ao seu lado depois de aceitar a sua hospedagem. Se fosse outra época eu saberia o que fazer e faria o que estivesse ao meu alcance para tirar vantagens desse homem, mas agora tudo é diferente, nós não somos desconhecidos e estou apaixonada. Se fechar os meus olhos eu ainda posso sentir suas mãos tocando minha pele naquela maldita caverna no platô, posso ouvir em minha mente suas declarações e lembrar os atos heróicos arriscando sua vida por mim como está fazendo agora. É um alívio estar de volta à Londres, só que sob estas condições é preferível morar numa casa da àrvore há centenas de quilômetros de onde eu pertenço, ou acredito que pertenço, pois ainda não sei quem realmente sou.

Então, durante meus pensamentos dentro do carro, Lorde Roxton me desconcentra quando toca seus dedos no dorso de minha mão para avisar que finalmente chegamos. Ergo meus olhos para admirar sua linda casa ou parte dela por causa dos muros altos e dos portões de ferro. Roxton abre a porta do automóvel para mim e depois se apressa para pegar a minha bagagem. Enquanto ele cuida das minhas malas eu olho fixamente para o brasão de sua família e acho que me lembro de ter visto um desses nas terras da propriedade em Avebury, meu local favorito para brincar quando criança, mas só até alguém me dizer que eram túmulos. Às vezes, quando penso sobre o passado eu tenho a sensação que já deveria ter conhecido John há muito tempo, pois nossas vidas se cruzaram tantas vezes que até para mim que sou uma pessoa incrédula, fica difícil não acreditar nessas coincidências.

— Bem-vinda Marguerite! – A voz de Lorde Roxton soa contente demais para mim, só que eu sou incapaz de uma palavra irônica, pois fiquei impressionada com a dimensão de sua fortuna e percebo o quanto sua família é rica.

— Então é aqui que você mora??? – Esta é a única coisa que consigo pronunciar diante da maravilhosa mansão, mas John coloca a mão sobre meus ombros e me encoraja andar para frente, então finalmente passamos pelo portão e eu sou capaz de imaginar cada pedacinho dos cômodos antes mesmo de adentrarmos. Enquanto nossos pés se deslocam razoavelmente rápidos, vou esquadrinhando o jardim, nessa hora o coração começa a bater mais forte do que o normal e não vejo a hora do dia terminar.

John gira a maçaneta e abre a porta, em seguida afasta o corpo para a esquerda fazendo as honras como anfitrião. Sua cabeça está virada para acompanhar meus gestos e como sempre ele sorrir, só que eu mais uma vez não digo nada, apenas entro e conheço a sala, pois não quero que tenha esperanças de um romance comigo ou então sou eu quem está morrendo de medo de se entregar novamente nos seus braços. A sala é maravilhosa, não tenho como descrevê-la com palavras, pois é muito mais do que eu imaginava quando me contava sobre sua família. John está de pé me analisando, só que ele não sabe o que se passa dentro do meu coração, porque quanto mais penetro na intimidade da sua vida, mais ansiosa vou ficando para nunca mais deixá-lo de fora da minha, porém todo dia me convenço que não podemos ficar juntos.

— Vem. – Roxton segura minha mão. – Vou te levar para se instalar no quarto! - O quarto dele fica no andar de cima e para chegar lá precisamos subir uma linda escada de carvalho, depois passar pelo corredor repleto de obras de artes tão valiosas que eu jamais poderia comprar com um único diamante encontrado no platô, por isso agora compreendo a falta de ambição dele diante das encantadoras pedras, pois na verdade ele nunca foi pobre, ele cresceu diferente de mim, pois eu sim conheci a pobreza. Porém quanto mais vou conhecendo, mais desejo saber de onde saiu toda a fortuna dos Roxton, pois vejo muitos objetos raros espalhados pela casa, como também um cemitério Druida em Avebury. Como conquistaram ou herdaram estas terras??? Continuamos pelo corredor, há muitas janelas na casa e as cortinas estão abertas no andar superior, parece que alguém as esqueceu de fechar, então sinto a brisa gelada na ponta de meu nariz, pois estamos no inverno e eu já não me lembrava mais como era o frio da Europa. Roxton não solta minha mão e depois de passarmos por inúmeras portas fechadas, achamos uma ao final do corredor e então paramos nela. Então espero ele abrir a porta, feito isso, John me convida entrar e meu coração bate forte dentro do peito, pois descubro que ali é o seu quarto, por isso tento voltar, só que ele usa o braço para me impedir e nessa hora trocamos um novo olhar.

— Roxton eu não devia estar aqui!

— Por que não?

— Por todas as coisas que você já sabe e talvez por mais algumas que me dão vergonha de contar. – Vejo seus olhos se apertarem como se sentisse pena de mim e novamente ele segura minha mão e eleva para os lábios.

— Eu já disse que pode confiar em mim???? – Respondo apenas com minha cabeça, então ele continua e encosta minha mão em seu peito, mas aquele frio no corredor e em minha barriga, a angústia de saber que o Marechal numa hora dessas deve está me procurando pela cidade e também o amor que sinto por John, quase me fazem fugir para sempre, só que eu não consigo, porque a outra parte de mim quer ficar ao seu lado.

Lorde Roxton puxa minha cintura e me deixa muito perto da boca, então eu não evito o beijo, pois não há por que ficar nessa negação. Quando duas pessoas se amam não conseguem fugir delas mesmas e precisam admitir o que sentem. Desta forma, começo beijar Roxton na porta do quarto e sinto seus dedos em minha cintura, depois as palmas de suas mãos alisam minhas costas enquanto me abraça e nos leva para dentro. Nessa hora o sangue começa a ferver, as bochechas coram, minha respiração ofega e Lorde Roxton transpira nas têmporas, enquanto também respira ofegante, então depois de alguns minutos a gente percebe o que vai acontecer entre nós. O sexo acontece da forma como eu sonhava todos os dias e noites, pois me senti amada, tocada profundamente, adorada, desejada e protegida, ele é o único que me dá prazer e ao mesmo tempo o amor verdadeiro. Depois do dia que ficamos presos na gruta respirando gás carbono, nunca mais tínhamos feito amor, eu sabia que Roxton queria, John tentou várias vezes, só que eu sempre arrumei uma desculpa, mas agora já chega de fugir.

☆☆☆☆☆

Algumas horas depois quando desperto, fico olhando Roxton dormindo ao meu lado, sinto o dorso e seus braços nus enquanto a gente divide as cobertas e continuo deitada escutando sua respiração, então sorrio e desejo ficar na cama para sempre, só que a barriga dar sinais que não estou sonhando e sou obrigada a levantar para procurar comida. Consigo me desvencilhar do corpo de Roxton sem acordá-lo e visto a camisa dele, pois meu roupão ainda está na mala e minhas roupas são muito complicadas de vestir quando há uma emergência. Antes de sair do quarto eu dou uma olhadinha para Roxton, mas ele continua dormindo, então fecho a porta com cuidado e sigo pelo corredor nas pontas dos meus pés descalços. Desço as escadas abotoando ainda a camisa porque são muitos botões, mas avanço com prudência, pois não sei se há mais alguém em casa. Depois de entrar em 2 ou 3 cômodos errados, finalmente consigo acertar a cozinha e ela também não me decepciona, pois é tão ampla e linda quanto o restante da mansão. Eu não sei cozinhar, isto não é nenhuma novidade, mas não estou planejando fazer um banquete, só que eu não sei o que preparar para mim, então pego uma maçã e mordo enquanto abro todos os armários para procurar algo rápido e prático.

— Será que posso ajudá-la??? – Atrás de mim eu escuto uma voz desconhecida, então me viro o mais rápido que posso para descobrir quem é a pessoa que acabou de falar comigo. Eu vejo um homem bonito, um pouco magro para sua altura, ele usa bigode e tem os cabelos loiros escuros, acho parecido com Roxton, só que não tão bonito.

— Perdão? O que disse??? – Estou constrangida pela pouca roupa que estou usando, então percebo que fui boba de pensar que aquela casa tão rica ficaria limpa e tão bem conservada sozinha por quase 4 anos.

— Eu perguntei se a senhorita está com alguma dificuldade, pois estou oferecendo minha ajuda.

— Obrigado, mas já achei. Com licença!!! – Procuro sair da cozinha para evitar que este senhor me devore com os olhos, pois de longe eu reconheço esse olhar, só que ele se coloca na frente do caminho e me impede de passar.

— Não tão rápido senhorita, eu nem sei qual é o seu nome. – Fico olhando para ele com ares de incrédula, então percebo que ele entendeu minha expressão. – Meu nome é Rudy! Rudy Roxton, sou dono dessa casa!!!

— Dono dessa casa??!!! – Sei que ele está mentindo.

— Bom e do John também, mas mais minha do que dele. – Ele pisca para mim e eu sinto asco quando segura meu braço.

— O que está acontecendo aqui?

— Oh Roxton?!!! – Ainda bem que Roxton chega para nos interromper.

— Rudy solta o braço de Marguerite.

— Marguerite? Então seu nome é Marguerite??!!! - Ele me olha dos pés a cabeça. - Parabéns John porque ela é linda e você é um homem de muita sorte!!!!

— Acho que devo dizer que sorte não é a questão! - John me protege com seu corpo.

— Então qual é a questão meu sobrinho?

— A questão meu TIO é que você ainda está na MINHA CASA. – Pela forma como eles se falam eu imagino que os laços de sangue não são tão fortes entre os dois. Continuo atrás de Roxton enquanto eles conversam, estou escondendo minhas pernas atrás do corpo de John, porque vejo que Rudy não se cansa de me olhar e John também percebe, por isso está quase mandando seu tio embora, mas ele compreende que está sendo inconveniente e então decide nos deixar a sós.

— Seu tio é um homem jovem e muito curioso pro meu gosto.

— Ele ficou aqui durante o tempo em que estivemos no Platô, supostamente cuidou de tudo enquanto estive fora, inclusive no dia que minha mãe morreu, mas você tem razão, ele é uma pessoa extremamente curiosa e isso me irrita na maioria das vezes.

— Foi por isso que você foi duro com ele???

— Não!!! Foi porque ele botou as mãos em você e não deixou de te olhar com desejo nem mesmo depois que eu cheguei. Mas agora vamos esquecê-lo!!! – John abriu um sorriso e acariciou a minha face. – Você está com fome? – Ele fez esta pergunta arqueando sua sobrancelha e a gente sorriu, porque depois do que rolou entre nós era claro que estávamos famintos.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.