O intervalo foi “normal”. Bom, a mesma situação desconfortável, porém normal. O dia passou se arrastando já que eu estava ansioso demais para o primeiro ensaio da banda.

Não vi mais o garoto novo o qual não me lembro o nome naquele dia. Enfim, não dei muita importância a isso.

[...]

Eu apenas conseguir o tique-taque do relógio. O professor falava mas eu apenas conseguia ver sua boca se mexendo, sem assimilar nenhuma palavra que ele dizia.

17 minutos.

Agora eu batia meu pé no chão freneticamente.

13 minutos.

Ah, o tempo não passava! Eu ia surtar ali a qualquer momento.

Sim, a banda me empolgava, mas não era só isso, ela era como uma distração, que me afastavam de pensamentos que quase me levaram à depressão.

Eu sempre digo que o universo conspira contra mim, mas, naquele dia, estranhamente, ele estava a meu favor. O professor nos liberou mais cedo! Sim, é verdade.

Fui correndo pra casa. Literalmente. Vi se as coisas estavam em ordem lá na garagem e tava tudo certo. Como muitos já devem ter percebido, sou perfeccionista e muito autocrítico. Muito mesmo, as vezes me martirizo por isso.

Enfim, uns três minutos depois o pessoal chegou. Pedimos uns hambúrgueres antes de ir ensaiar, nada de pizza. Uma dor me atingiu por um segundo quando pensei nisso.

Mas, me recompus e fomos logo para a garagem. Mostrei pro pessoal a música que eu havia escrito, e eles gostaram pra caramba. Hm, não tinha ficado tão boa assim, mas...

“Gente, que tal a gente começar tentando uma música que não é nossa? Pra gente perceber a sincronia e tal...” Hayley falou.

Todos concordaram e Jeremy sugeriu My Hero do Foo Fighters. Bom, todos conheciam e tal, eu sabia a cifra daquela musica mais do que de qualquer outra, então, resolvemos tentar.

Saiu meio fora de sincronia... Meio porque eu estou sendo gentil. Sendo mais realista, foi um completo fracasso.

Vi que todos ficaram meio decepcionados e tal, então, decidi agir, a gente não podia desistir.

“Ei, gente, calma. É nosso primeiro ensaio, com um pouco de treino e força de vontade a gente chega lá! Vamos tentar mais uma vez?” falei os incentivando. Hayley que estava de cabeça baixa fez que sim com a cabeça.

“Esse é meu irmão!” disse Zac apontando para mim com as baquetas. Ri balançando a cabeça negativamente.

Tentamos mais uma vez, mas ainda não ficou muito bom.

“Hm, a gente podia tentar na versão acústica, para começar com algo mais fácil...” Hayley disse.

Subi as escadas correndo para pegar meu violão. Era muito difícil mesmo ficar perto de Hayley sem poder beijá-la, abraça-la. Eu precisava de muito autocontrole para não agarra-la ali mesmo. Ela estava cada dia mais linda.

Eu sou um masoquista mesmo, pensei suspirando.

Voltei colocando a alça do meu violão no meu ombro e começamos. Por incrível que pareça, dessa vez ficou ótimo. A voz de Hayley se encaixou perfeitamente na versão acústica. Não que não houvesse se encaixado na versão original, a banda que estava fora de sincronia mesmo, mas dessa vez ficou maravilhosa. Oh, como eu queria que a gente tivesse escrito essa música!

Tocamos mais uma vez, essa música, só para inflar nosso ego como banda mesmo. Ri com esse pensamento. Olhei para o lado sorrindo pelo fato de termos conseguido e vi Hayley sorrindo na mesma direção. Coramos na mesma hora.

Ah, como eu a amava. Já estava insuportável não tê-la, minha vida não tinha um propósito mais.

“Hey, gente... Eu tava pensando e...” disse Jeremy.

“Ih, o loiro pensou, aí vem besteira!” eu disse o cortando e todos riram.

“Cala a boca, Idioshua.” Argh, por que eles tinham que lembrar desse maldito apelido que eu ganhei no pré-escolar? Fechei logo a cara e Jerm riu. Bufei. “Enfim, não sei se vocês já perceberam, mas a nossa banda está sem nome.” Disse Jeremy com a mão no queixo. Aquilo nos deixou pensativos. A gente precisava de um nome, mas um bem original.

“Hm, a minha irmão mais do meio que mora com meu pai está tendo aulas de francês,” Espere um momento. A Hay tinha irmãs? Todos ficamos meio espantados quando ela disse isso. “e ela me contou que achou uma palavra que, sei lá, ela achou linda.” Ela pegou seu celular em seu bolso. “Apenas um momento, vou achar a mensagem.” Ela disse mexendo no celular. “Hayley,” ela disse já lendo a mensagem. “já te contei que estou tendo aulas de francês? Bom, sim, e um dia desses encontrei uma palavra que me encantou: paramour. Significa amante secreto, e além de ser romântica ela soa de uma forma diferente, né?” ela disse fechando o celular e nos encarando.

“Paramour...” dissemos todos ao mesmo tempo, mas de formas diferentes. Hayley deu uma risadinha e ficamos todos com vergonha.

“Como ninguém sabe pronunciar isso, nem eu inclusive. A gente podia colocar em uma escrita pro inglês.” Ela disse procurando algo em sua mochila. “Olha gente,” ela disse nos chamando para sentar em uma mesinha da garagem que eu nem lembrava que existia.

Ela escreveu PARAMOUR em letras maiúsculas no meio da folha. Ficamos uns olhando para os outros. Então Hayley fez uns gestos com as mãos pedindo sugestões.

“Paramur?” falou Jeremy dando de ombros. Gememos todos recusando a idéia. Ficamos ali um tempo pensando em silêncio, cada um esperando que outra pessoa falasse.

“Paramore!” disse Zac entusiasmado. Hm, gostei, gostei.

“Paramore... Ta aí, gostei do nome. Paramore” eu disse. Ficamos felizes por termos encontrado um nome legal e original pra banda.

“Agora que temos um nome, que tal a gente voltar a ensaiar?” falou Hayley entusiasmada e com um sorriso no rosto.

“Que tal aquela musica que você escreveu?” disse Jeremy “A gente” ele disse apontando para ele e Zac “ainda não escutou.”

“Hm, ok.” O sorriso de Hayley desapareceu na mesma hora, mas mesmo assim tocamos a música. Ficou perfeita, como sempre. Tudo ficava perfeito na voz de Hayley, ela tinha uma voz que podia cantar qualquer estilo de música, de country a punk.

Ela cantava de olhos fechados e seu corpo seguia a musica enquanto segurava o microfone que estava no suporte. Não estava mais um clima desconfortável no ambiente, agora o clima era triste e melancólico, e aquilo me deu um nó na garganta, o que dificultava na hora que eu fazia o back vocal. A música acabou.

“Ér, vou ali tomar uma água.” Hayles disse saindo dali assim que a musica acabou, não dando chance a ninguém falar nada.

Fui atrás dela, ela parecia mal. Ela estava na cozinha com um copo de água na mão e fitava a janela com o olhar vazio.

“Hayles?” perguntei e ela se sobressaltou.

“Ai, que susto, Josh!” ela disse colocando a mão no peito tentando se acalmar.

“Desculpa,” eu disse baixo “ta tudo bom?” perguntei.

“Aham, eu só fiquei meio tonta, foi só isso.” Ela disse fazendo uns gestos que a pareciam fazer uma maluca e era o que mais me encantava nela: ela nunca conseguia deixar de ser adorável. “Você ta sorrindo por que?” ela perguntou desconfiada.

“Nada.” Eu disse balançando a cabeça negativamente.

“Vou fingir que acredito.” Ela disse olhando em meus olhos. Ah, eu me perderia naqueles olhos verdes a qualquer momento. Ficamos um bom tempo nos encarando sem falar nenhuma palavra sequer. Para qualquer outra pessoa, seria estranho e constrangedor aquele momento, mas não para nós, porque nossos olhos falavam por si só.

Então, ela balançou a cabeça em algo que parecia uma tentativa de se concentrar. Voltei ao momento presente também.

“Ér, Josh, você podia...” ela fez um gesto com as mãos e eu entendi no mesmo momento.

“Ah, claro.” Disse saindo de seu caminho.

E essa foi minha primeira conversa civilizada com Hayley depois de tudo.