Academia de Gotham - 31 de janeiro, 07:47.

Desde o seu primeiro dia naquele colégio, era a primeira vez que Ethan se sentia ansioso. Não um ansioso bom e nem ruim, só tentava inutilmente antecipar o dia. Queria saber como seria cruzar com Apolo nos corredores agora que ambos sabiam quem eram e o que faziam, o que podiam fazer. Não tinha falado nada para os mentores - ambos passaram o fim de semana ocupados com missões -, então não tinha nenhuma dica útil para usar.

A estratégia era simples: fingir que nada aconteceu, que não se conheciam. Não havia equipe ou socos no corredor, não havia nada.

— Bom dia, raio de sol! - Marceline chegou com um pulo e encostou o ombro nos armários frios, enquanto Ethan organizava os livros para a primeira aula. - Desculpa por ontem, peguei no sono.

Ela fez uma careta e Ethan se sentiu mal por tê-la deixado atravessar a madrugada trocando mensagens sobre a matéria atrasada dele. Mesmo que ela tivesse insistido muito para isso.

— Tudo bem, acho que eu peguei tudo. Obrigado, aliás.

— Achei que você estaria com um hematoma no rosto. - Ela comentou.

Ethan apertou os livros de capa dura nos dedos e evitou encarar os olhos verdes da garota. Precisava, desesperadamente, melhorar as habilidades com mentiras. Em vez de explicar o porquê do hematoma deixado por Apolo sumir tão rápido ou inventar alguma coisa, ele só mudou de assunto.

— Eu vi que tem outros times além de basquete.

— Tem o que você quiser, principalmente por ter parentesco com o Wayne. Se você quiser, o diretor inventa uma modalidade olímpica só pra você competir. - Ela riu. Ter o Dick Grayson como meu responsável legal significava parentesco direto com Bruce Wayne e isso significava dinheiro - na visão da escola, é claro.

Ethan acompanhou a amiga até o espaço de lazer do colégio, onde se sentavam quase todos os dias junto com algumas amigas dela para esperar o tempo passar até o início das aulas.

A Academia de Gotham ainda estava se acostumando a ter Apolo de volta depois de um afastamento por motivo de saúde - missão -, então toda a sala espaçosa e repleta de alunos ficou em silêncio ao vê-lo entrar. Marceline revirou os olhos e Ethan nem se preocupou em desgrudar os olhos do livro que lia, apoiado na mesa de madeira cara.

Apolo parecia igualmente interessado no acordo silencioso de fingir que nada havia acontecido entre os dois, mas nem todo mundo concordava. Sempre em grupo de quatro pessoas, Apolo passou direto ignorando Ethan e a ruiva, mas os outros três, Luke, Ryan e Alex, não resistiram: Alex, o mais alto e magro, esbarrou na cadeira onde Ethan estava sentado; Luke foi mais maldoso e empurrou o copo de café de uma das meninas sentadas à mesa sobre o livro que Ethan lia; Ryan puxava as risadas.

Anna, Violet e Marceline levantaram assim que o café começou a se espalhar na mesa, mas Ethan respirou fundo antes de fazê-lo, viu o líquido quente manchar as páginas do seu livro novo de física e usava todas as técnicas que aprendera com Dick para se controlar.

— Vocês são uns idiotas! - Anna resmungou.

— Qual o problema, gordinha? Vai ficar com fome sem o café? - Ryan riu sendo acompanhado por uma platéia.

Anna se encolheu e foi rodeada por Violet e Marceline, ambas furiosas. Enquanto isso, Ryan e os outros dois riam muito satisfeitos por terem atingido a gordinha e o novato ao mesmo tempo.

Anna estava vermelha por segurar o choro, Violet vociferava para eles calarem a boca e Marceline fuzilava Apolo com os olhos.

— Vai chorar, gorducha? Tudo isso por causa de um café?

Nenhuma técnica ensinada pelos mentores ou mesmo por um monge seria o suficiente para manter Ethan calado. Ele se aproximou de Ryan até o espaço entre os dois ser mínimo e o encarou de cima, Ryan e sua estatura mediana não eram o suficiente para encarar Ethan nos olhos. Mesmo sendo o mais musculoso dos três, Ryan se sentiu acuado pelo olhar feroz do novato.

— O que você acha de mexer com alguém do seu tamanho? - Ethan falou e tinha uma ferocidade desconhecida na sua voz, acompanhando a do olhar.

Ryan tinha as palavras na ponta da língua, mas não saíam. Olhou para o carpete vermelho do chão automaticamente e só voltou a levantar o rosto quando se viu acompanhado dos amigos.

Geralmente, só os três resolviam situações assim com facilidade. Juntos, eram mais fortes, mais engraçados, mais valentes. Mas o mesmo tremor que Ryan sentiu ao encarar Ethan foi sentido por Alex e Luke, eles não desviaram o olhar por vontade própria, era instinto. Ethan era como um predador feroz ali, os três só obedeceram os comandos de seus corpos e sentiam o coração acelerando com a adrenalina e o impulso de correr.

— Tem certeza que é assim que você vai querer começar a sua vida aqui, Hawk? - Apolo falou, caminhando entre os amigos e se aproximando.

Foi só ouvindo a voz e o nome dito errado de propósito, que Ethan lembrou-se de onde estava. Desarmou a postura, mas ainda olhava Apolo nos olhos. Os três garotos deram alguns passos para trás, se sentiam seguros e tranquilos agora. Se sentiam valentes de novo, mas ali atrás. Apolo disparou um olhar para Marceline, que entendeu e puxou as amigas para fora, mas não sem antes fuzilar cada um que riu de sua amiga com os olhos furiosos.

— Cai fora daqui, Hawk. Não quero ter que acabar com você.

Apolo tinha um alerta no olhar, um alerta que tentava dizer a Ethan que fosse embora. Ele também sentiu um arrepio na espinha quando encarou o novato nos olhos, mas sabia o que tinha de fazer. Ali era o seu reino, o seu território… ele tinha batalhado muito para ser descoroado ali dentro.

Ethan já se parecia mais com o bom rapaz que seguia Marceline pelo colégio do que com a fera de segundos antes e isso, mais a benevolência sem sentido de Apolo, fizeram os três garotos protestarem com reclamações, mas reclamações baixas porque não queriam que o novato escutasse.

— Deixa as meninas em paz. - Ethan pediu.

— Quem você pensa que é? - Luke, o baixinho mais invocado se aproximou, mas ainda ficou atrás de Apolo.

— Fica na sua, novato. - Alex o seguiu.

— O cãozinho de guarda da Marceline tá bravo! - Ryan era sempre o que puxava as risadas.

Apolo revirou os olhos brevemente antes de pegar Ethan pelo agasalho mais uma vez.

— Eu realmente não queria fazer isso, novato.

Dessa vez, foram dois socos. Bem rápidos e com uso moderado da força que Apolo tinha, mas o suficiente para tirar sangue do nariz de Ethan. Depois, Apolo o empurrou no chão e deu passos largos para fora, seguido de seus amigos.

— Já falei pra deixar as amigas da Marcy em paz! - Ele deu um tapa na cabeça de Ryan.

— Você disse pra deixar a Marceline em paz, não as amigas dela. - Luke defendeu.

Apolo deu alguns passos até estar cara a cara com o baixinho e falou com a voz baixa e carregada de ameaça:

— Agora estou falando que é pra deixar a Marceline, as amigas dela e quem mais eu quiser, em paz. Entendeu? - Ele o encarou até receber um aceno de cabeça como resposta.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.