Jennifer Campbell

O processo de adoção não era fácil, eu e Kendall visitamos alguns orfanatos e finalmente tivemos o nosso famoso imprint, aquela criança olhava para nós com esperança, mas além disso, nós dois nos encantamos por ele, era um garotinho de apenas 2 anos, estava brincando com as outras crianças e parecia o mais feliz dali diferente de todas as outras crianças, que pareciam tristes, ele emanava alegria até dos poros do rosto.

Quando o conhecemos, descobri que se chamava Allan e tinha perdido a família em um trágico acidente em casa, onde ambos os pais foram mortos e apenas ele sobreviveu. Allan parecia uma criança feliz demais para um órfão, e a diretora do orfanato nos contou que ele mal se lembrava dos dois, nunca pareceu ter vivido com alguém.

Passamos quase seis meses indo até aquele lugar e vendo Allan crescer pouco a pouco e descobrir um mundo novo, cada semana tinha uma novidade nova para nos contar.

Também os ensinávamos coisas novas e Kendall parecia que ia chorar, todas as vezes que nos despedíamos dele. Em uma daquelas noites durante os seis meses, Kendall chorou tanto nos meus braços que eu ao menos soube o que dizer, queríamos o Allan como filho e não desistiríamos, era aquele sentimento que nós dois tínhamos em comum.

— Jen, viu meu caderno? – Kendall pergunta, enquanto tinha uma cesta de roupas na mão.

Olhei para dentro da cesta e lá estava o caderno dele, é claro que ele não percebeu, Kendall anda de fato muito confuso nos últimos dias, não o culpo.

Apenas apontei para a cesta e ele olhou ali, logo sorrindo sem graça e eu logo voltei ao roteiro do filme que eu precisava estudar, eu seria a protagonista, queria me sentir mais do que preparada, mas minha mente insistia em não absorver nenhuma palavra.

— O que acha de uma pausa? – Kends pergunta e eu apenas assinto – o que acha de encontrarmos nossos amigos? Tem tempo.

— Vamos – sorrio fraco e ele se senta no sofá ao meu lado – eu estou bem amor.

— Eu sei que está, só quero que fale comigo – ele suspira e deixa a cesta no chão, se virando um pouco para mim.

— Eu o quero Kendall, quero o nosso menino... fomos até proibidos de vê-lo com frequência, eu sei que faz parte do processo, mas isso doi tanto – choramingo e o Kendall me acolhe, logo alisando meus cabelos, enquanto minhas lagrimas começam a manchar sua blusa.

Ficamos um bom tempo em silencio, tudo aquilo era muito doloroso, e eu sei, paciência é uma virtude, mas não dá para ser tão paciente assim, não enquanto tudo o que queremos é poder ser pais.

A campainha tocou e eu me afastei do Kendall, enxugando minhas lagrimas e o deixando ir atender, quem quer que fosse. Acredito que a maior dificuldade da adoção é porque eu e Kendall casamos as presas, em uma cerimonia simples, apenas no cartório, com nossos amigos mais próximos, apenas para oficializar aquilo, mas não precisávamos de fato, já que moramos juntos, há algum tempo.

— Jenni, vem aqui – Kendall chama e eu franzo o cenho, me levantando e indo até a porta, havia um policial, a assistente social que acompanhava nosso caso e ao seu lado nosso pequeno Allan.

— Querido? – chamo o garotinho, que soltou a mão da mulher e veio correndo para mim, me abaixei e o carreguei, o aconchegando em meus braços – meu Deus, o que... o que fazem aqui?

— O processo de adoção foi atualizado, vocês têm a guarda provisória do Allan – a mulher diz e eu mordo o lábio emotiva – virei nas próximas semanas para ver como estará a adaptação.

Apenas assinto, mas o Kendall parecia uma estátua na porta, incrédulo demais para aceitar aquela situação de uma vez, sem questionar.

— Amor, ele será nosso – digo para o Kendall, que piscou perdido e logo nos abraçou, tendo cuidado com o menino no meus braços.

— Nosso menino – Kendall diz emocionado, enquanto Allan se soltava de mim e se juntava a ele.

Kendall chorava emotivo demais e eu fui finalmente recepcionar a assistente social e o policial, os dois adentraram a casa, o policial fez uma revista oficial, para saber se realmente não temos armas de fogo em casa, ou qualquer coisa ilegal e a assistente social foi apenas garantir de que tudo estava no devido lugar.

Como recebemos a Lucy e a Marisol direto em casa, as tomadas estão sempre com proteção, os moveis sempre com protetor nas bordas, facas e garfos, sempre ficam em um lugar fora de alcance e a casa é totalmente a prova de crianças.

— Senhor e Senhora Schmidt, por acaso vocês têm outro filho? – a mulher pergunta e nós negamos.

— Eu tenho uma afilhada de três anos e uma sobrinha de sete – Kendall explica – elas sempre vêm passar o final de semana conosco, então deixamos a casa protegida.

Ela apenas assentiu e escreveu algo em sua prancheta.

— Percebi que tem um quarto infantil, mas parece feminino.

— Ah não, aquele é o quarto das nossas sobrinhas, foram elas quem decoraram, o quarto do Allan será o vazio, queremos que ele escolha o tema, mas temos um berço cama no nosso quarto, preparamos caso ele viesse antes da hora – suspiro e sorrio, e a mulher novamente anota algo em sua prancheta.

— Muito bem, aqui parece tudo em ordem, voltarei na semana que vem, só para ver o Allan – ela diz e eu assinto, logo acompanhando ela e o policial até a porta.

Kendall não queria desgrudar do garoto. Os dois estavam agora no tapete, brincando com alguns super-heróis, não gente, não compramos esse brinquedo para o Allan, eles são da Lucy e da Marisol.

Olhei os dois e neguei, eu juro que se isso for um sonho, por favor, não me acordem nunca mais, porque eu quero parar nesse momento, o momento em que eu finalmente tenho a oportunidade de ser mãe.

— Vem aqui querida – Kendall chama, e eu me sento do outro lado do Allan, o apreciando de pertinho – ele é nosso amor, isso não é um sonho.

— Sim amor, é um sonho, mas um sonho real – aliso a cabeça pequena e sorrio quando tenho suas vistas sobre mim – você é o nosso pedacinho de sonho, sabia?

— Soninho mama? – Allan diz com sua fofura e eu sorrio, abrindo os braços e o tendo aconchegado a mim.

Cheiro seus cabelinhos cheirosos e lhe dou um beijo na cabeça. Este é o nosso novo momento.