—Eu nunca falto com a minha palavra. Disse que não ia deixar passar nenhuma bola, não foi? —Perguntou fazendo as duas assentirem sorrindo, orgulhosas da amiga. Antes que Emiko pudesse continuar a falar, sua visão foi ficando embaçada e seus olhos se fecharam, fazendo seu corpo cair suavemente no chão. Todas correram para ajudá-la, mas constataram que a amiga estava bem à vê-la ainda com um enorme sorriso no rosto. Mesmo inconsciente, ela ainda se sentia extremamente feliz. Ela conseguira.

Assim que Emiko caiu no chão inconsciente, um silêncio se instalou por todo o campo de futebol. Demorou alguns minutos para que todos percebessem o que estava na cara: Elas haviam conseguido defender e fazer um gol nas Muteki... As quase melhores jogadoras do Japão. Elas podiam derrotar o Noboro. Isso não era mais impossível. Assim que todas chegaram à essa conclusão, todas correram para se abraçarem e comemorarem.

—Por quê...? —Todas se viraram para trás para encarar Naomi, que parecia incrédula ainda encarando o gol sem acreditar. Seus joelhos estavam estirados no chão e seus olhos vermelhos... Como? Ela apertou a grama, rangendo os dentes. —Por quê? Vocês nem ganharam... Perderam de goleada... Não tem que ficar feliz por isso... Mas por que ainda continuam sorrindo? Eu não entendo...

—Não entende? —Perguntou Taiga, se afastando das garotas e caminhando na direção de Naomi. Ela sorriu, considerando que a atacante das Muteki, apesar de prejudicar bastante seu time, agora elas ainda eram amigas. —Isso é futebol. Pessoas se enfrentando, dando tudo de si... Naomi, você pode dizer que não entende, mas está mentindo, não é? —Indagou Taiga, fazendo Naomi encará-la com as sobrancelhas arqueadas.

—Eu não estou mentindo! Eu mesma já descobri que criar espe...

—Será? —Interrompeu Aisaka, cruzando os braços. Se abaixando para ficar frente à frente com Naomi, que a encarou confusa. Era para ela odiá-la. Ela tinha machucado sua amiga. —Naomi, você lembra de quando a Emiko defendeu seu gol? Você ficou toda irritada e tratou de mostrar sua técnica. Não tente mentir para si mesma, você estava tentando criar esperanças o tempo todo. Esperanças de que ia fazer a Emiko não defender nenhum dos seus chutes. —Taiga finalizou colocando a mão sobre o queixo pensativa. Naomi abaixou a cabeça tentando absorver tudo que a garota dissera. Talvez ela tivesse razão. Não deixar ela defender, era tudo isso que ela tinha pensado durante o jogo. Aisaka levantou e encarou a morena confusa. —Quer dizer, eu não sei nada sobre você. Mas já considerado você uma grande amiga.

Amiga? —Foi só isso que Naomi conseguiu captar. Aisaka sorriu de canto à canto.

—É claro. —Foi a vez de Sandy se intrometer, se aproximando de Naomi e colocando a mão sobre o ombro da mesma. —Acho que até a Emiko te considera uma amiga, sabia? Ela parecia sorrir o tempo todo, inclusive quando desmaiou.

—Foi muito legal jogar com vocês. —Natasha falou, se aproximando, um pouco envergonhada.

—O mesmo, só gostaria de ter visto a capitã de vocês jogar. —Kaori falou fazendo bico. No final, sua estratégia dara certo, mas ela ainda estava curiosa.

—Quem sabe na próxima, né? —Sandy coçou a cabeça envergonhada.

—Então vai ter próxima? —Taiga perguntou voltando a sua personalidade de antes, com um sorriso empolgado.

—Claro. Estaremos torcendo para vocês ganharem do time do Noboro e nos encontrarmos no futebol fronteira. —Sandy falou sorrindo e todas as outras jogadoras, de ambos os times, começaram a conversar.

****

—Alguém me belisca, por favor? —Pediu Atsuya ainda cético ao que acontecera. Hiroto deu um sorriso travesso, planejando se vingar sobre mais cedo. —EU TAVA BRINCANDO! —O ruivo deu de ombros, voltando a se sentar calmamente na cadeira emburrado.

—Elas defenderam! Defenderam! —Exclamou Fubuki animado, feliz pelas garotas. —Vamos parabenizá-las, o que acham?

—Da próxima, o que acha de vestir uma roupa de líder de torcida? Faz mais o seu tipo. —Provocou Fideo, fazendo Fubuki começar a lhe dirigir ofensas.

Na próxima, lembre de deixar esses dois separados. —Corrigiu Atsuya e Hiroto ao seu lado, concordou.

—Eu tô indo. —Fideo avisou, se levantando. Todos o encararam confusos, afinal, aquela era a casa dele.

P.O.V. of Emiko Ominae

Quando meus olhos se abriram, me vi dentro de um quarto de hospital. Tentei levantar, mas senti minha mão e todo o meu corpo doer, me fazendo —infelizmente, —deitar de novo. Meu braço estava engessado, notei ao olhá-lo. Suspirei, virando a cabeça para a direita e encarando meu despertador. 10 da noite, li mentalmente. Eu tinha dormido por tanto tempo assim?

De repente, me senti um pouco curiosa. O que será que tinha acontecido depois que eu havia desmaiado? Será que as meninas estavam felizes? Mas isso nem importava tanto. Eu tinha conseguido! Eu tinha conseguido defender o chute da Naomi!

Depois disso, ela nem parecia mais tão assustadora e eu nem estava mais tão irritada com o jeito convencido dela. Afinal, eu não estava agindo da mesma forma? Ri sozinha, respirando fundo. Encarei minha mão, vacilando por alguns instantes, por quanto tempo eu ficaria daquele jeito?

Como se o destino lesse minha mente, a porta do meu quarto foi aberta com toda a força me fazendo dar um pulo de susto:

—Boa noite para a melhor goleira do mundo! —Cantarolou Stéfanni, carregando um pacote que cheirava extremamente bem. Já falei que é super estranho, como a Stéfanni muda de personalidade quando está jogando?

E não estava só ela, exceto os meninos, estavam todo o time lá dentro. Nem preciso dizer que ficou meio apertado, não é?

—Você já deveria estar de pé faz tempo. —reclamou Yumi.

—Vocês não deveriam estar em casa? —Retruquei.

—Sim, mas não iríamos te deixar sozinha aqui, né? A gente te deve uma. —Taiga respondeu, sorrindo gentilmente.

—Então, o que estamos esperando? —Yuuna indagou e Stéfanni jogou o pacote no meu colo, me fazendo gritar por estar muito quente. —Podemos rabiscar o seu gesso?

—Que infantil. —Falei, mostrando a língua. —Ninguém pensari...

—Escrever nos gessos? —Taiga me cortou com os olhos brilhando e achei melhor nem terminar a frase, soltando um longo suspiro.

Pov of Aisaka Taiga

Conversamos bastante —e a Emiko me deixou rabiscar seu gesso. Continuamos assim até que cada uma começou a dizer o quanto estava cansada —claro, havíamos enfrentado às Muteki— e então, decidimos ir para a casa. Inclusive Emiko, que só tinha que engessar o braço.

Eu não sabia por quê, mas aquela foi a melhor noite da minha vida. Eu nem pensei. Assim que deitei minha cabeça no travesseiro, apaguei. E só fui acordar no dia seguinte, com o despertador.

E nossa. Por que o despertador tem que ficar tão longe? Comecei a tateá-lo, com a cara amassada no travesseiro e me surpreendi ao ver que ele ficava cada vez mais longe, até que não achei apoio para o meu corpo e só então percebi o que havia feito, tarde demais... Caí de nariz no chão.

Eu só esperava que esse dia fosse um pouco mais calmo para que eu pudesse me recuperar. E acho que eu não era a única à pensar dessa forma.

*x*

— Namorar? Rejeitar? Yuuna? — Foi só o que consegui processar em meio à confusão de vozes do refeitório. As pessoas pareciam bem animadas hoje e bem fofoqueiras também. Era como se tivéssemos uma enxurrada de notícias todos os dias, e possivelmente Hiroto já havia contado para todos sobre ontem. E ele tinha contado mesmo, pelo menos foi o que a Shine havia dito.

Jenny suspirou pela décima vez e me olhou com os olhos cheios de impaciência. Vendo que seria impossível para ela contar, Stéfanni se levantou mexendo as mãos constantemente:

— Taiga, o que ela quer dizer é que bem, o NAMORADO DA YUUNA TERMINOU COM ELA, ouviu agora? —Pulei para trás em uma velocidade enorme assustada com a violência de Stéfanni e Jenny que estava ao seu lado começou a dar vários pulos irritada.

— Não é algo banal para você ficar gritando para toda a escola, okay? — Falou preocupada.

— A Yuuna tinha namorado? — Eu realmente não tinha entendido essa parte. Quer dizer, a Yuuna nunca falou isso para nós, nem nada. Eu nunca soube disso.

— Não é esse o problema. — Choramingou Shine, levando a mão à testa.

— Capitã, você acha que todas somos como você que só liga para futebol? Temos interesses românticos também! — Emiko disse, parecendo ofendida enquanto balançava o seu gesso sem parar.

— Sinceramente... Eu não achava isso não, eu tinha certeza. —Falei baixinho e houve um suspiro em conjunto de todas as garotas ali.

— Mas bom, isso não é a questão. — Jenny se intrometeu, batendo palmas. Por que ela fez isso? Eu não sei. — A questão é que a Yuuna gostava de verdade daquele cara e agora ela está arrasada, tanto que faltou a escola hoje. E eu estou realmente preocupada.

Me senti um pouco mal por isso. Jenny era a melhor amiga da Yuuna antes mesmo dela entrar para o time e lá estava eu preocupada porque minha companheira de time não tinha o futebol como total e única prioridade. Não que eu estivesse errada, mas...

—Okay, okay, eu realmente entendi agora. —Tentei amenizar a situação, recebendo diversos olhares aliviados à minha volta. Me senti novamente no jardim de infância. — Então, o idiota do namorado da Yuuna rejeitou ela? Tipo...

— Isso, isso! — Yumi me interrompeu como se tivesse medo que eu falasse alguma bobagem. Seus olhos começaram a queimar de empolgação e ela socou uma mão na outra. — Por que nós simplesmente não armamos para ele? Tipo... Vamos até a casa dele e enchemos a frente da casa dele de papel higiênico!

— Mas seríamos presas! —Falei de imediato.

— Ainda com esse medo, depois de tudo que aprontou? —Rebateu Yumi e fiz bico, vendo que ela mesmo tinha razão. Eu não era tal santa à ponto de merecer o título de 'cidadã exemplo', ainda mais pelas últimas semanas.

— Mas eu já pensei nisso! — Argumentou Jenny batendo as mãos nas pernas, desistente. — Mas como eu disse, ela gosta dele ainda. Pelo menos é o que parece já que ela não quer que eu faça nada contra ele. Mesmo que eu queira torcer seu pescoço, torturá-lo...

—Foi coisa da minha cabeça ou eu senti uma aura maligna crescendo? — Indagou Kaori engolindo em seco e Jenny se acalmou, se jogando de bruços no banco. Ela se encostou pensativa na cadeira e todas nós a olhamos esperando uma resposta. Afinal, ela era a nossa estrategista. Ao notar nosso olhar, ela corou e arqueou as sobrancelhas dizendo. —Que foi, gente? Meu cérebro só funciona para coisas teóricas. Romance é algo que...

— Você não entende nada, certo?

— Cer... Mas quem foi que falou isso? —Kaori ia concordar, mas seus olhos se enfureceram ao ver que estava falando. Não vou falar o nome, porque eu realmente não lembro, mas era o chato de cabelo azul que parecia gostar de irritar a Kaori. Tsurugi, pelo menos é o que lembro. — O que você está fazendo aqui?

— Ah, apenas fazendo aquilo. — Me senti mais fora do assunto do que o normal e fiquei um pouco feliz ao ver que as meninas não entendiam nada também. Talvez fosse algo que só os dois sabiam. Ele deu uma piscadela para Kaori, se virando. — É isso, te vejo depois, Akie.

Silêncio.

Silêncio.

Um grande e estranho... Silêncio.

— Alguém fala alguma coisa, pelo amor de Deus?! — Stéfanni pareceu captar meus pensamentos e imediatamente se manifestou fazendo todas se olharem com os olhos brilhando de curiosidade. — Hey, Kaori, vocês são bem íntimos, não é?

Kaori corou de um jeito que eu nunca vira e começou a balançar os braços, nervosa:

— NADA A VER, eu e o Kyosuke... somos só... Colegas.

— Colegas que se chamam pelo o primeiro nome? — Provocou Stéfanni novamente com um sorriso singelo em seus lábios.

— Não estamos fugindo do assunto principal? — Perguntei confusa. Mas confusa ainda porque não entendia do que elas falavam.

— Pior... O que vamos fazer sobre a Yuuna? — Shine perguntou novamente curiosa. Kaori me lançou um olhar agradecido e eu apenas sorri sem graças porque não sabia realmente porque ela estava me agradecendo.

— Podíamos tentar fazer algo para animar ela! —Sugeriu Maya pensativa, dando um breve sorriso.

— Isso, ótima ideia! Como o quê? Não podemos chegar simplesmente na casa dela e dizer que vai ficar tudo bem, não é? — Jenny ponderou, com a mão sobre o queixo.

— Que tal... Uma festa do pijama? —Sugeriu Emiko repentinamente. Tão repentinamente que eu quase tive torcicolo quando virei a cabeça para olhar em sua direção. Festa de pijama? Isso era realmente novo para mim.