Star Wars- Coração Rebelde

Segredos obscuros -parte 02


A reduzida frota rebelde pousou no planeta Crait. Num antigo reduto rebelde desativado. Sob as ordens de Leia, as naves danificadas começaram a receber reparos, os feridos foram direcionados às enfermarias improvisadas e os armamentos recarregados, além do combustível para os caças e o cruzador Raddus.

Os comandantes restantes reuniram-se ao redor de uma mesa holográfica para analisar os pontos fortes e fracos da nova base em Crait e as possíveis de fuga. Poe Dameron havia acordado e junto a Finn, foi atrás da General Organa.

Ela sorriu ao vê-lo se aproximando e esperou. Ele fechou o cenho:

—Não venha com esse sorriso doce, General! Rey está nas mãos da Primeira Ordem e nós estamos vulneráveis!

Leia tocou-lhe o braço:

—Eu sei tudo isso, Poe, mas a escolha de se entregar à Primeira Ordem por nós foi dela. Rey tem algo a descobrir por si mesma e eu não poderia impedi-la de fazer isso. Só podemos rezar para que ela consiga fugir de lá o quanto ante e se junte a nós.

Finn baixa o olhar, pesaroso:

—Ela está com medo e confusa...

—Eu também senti isso, Finn. Mas eu confio nela... Talvez nossa amiga prevaleça onde nós falhamos.

Anos luz dali, num ponto remoto da galáxia, Rey foi levada novamente à presença de Snoke e sentada numa cadeira a poucos metros do trono do vilão. Ele analisava as feições da jovem ali, silenciosa e apreensiva, e sorriu:

—Admirável seu espírito de combate, criança... O golpe do sabre de luz foi um movimento audacioso. Pena que não surtiu efeito comigo como pode observar...

Rey olhou o líder supremo e o local onde parte do ombro e o braço haviam sido decepados. De alguma forma estava intacto, como tivesse sido grudado de volta ao lugar. Ela respirou fundo e falou entredentes:

—O que é você?

—Uma pergunta interessante... Eu posso começar por muitos pontos, mas não quero fazer rodeios. Tive um mestre e muitos pupilos, mas nenhum deles me ofereceu aquilo que busco na Força... Equilíbrio absoluto. Sith ou Jedi tem suas emoções muito voláteis ou muito neutras, nunca um meio termo. Quero entender como a Força opera em você, Rey... Nesse momento somos inimigos, mas eu não odeio você, também estou em busca de conhecimento...

Rey vira o rosto:

—Fizemos um acordo... Você ainda não me disse o que...

—Seu passado! Ah, sim! Como eu poderia me esquecer disso, não? Vejamos...

De seu trono, Snoke gesticula e imagens surgem na mente de Rey. Ela vislumbra o templo Jedi em Coruscant, vê a morte dos Jedi e seus pupilos por um homem que se tornaria Darth Vader e por trás de suas ações, o homem cujo nome seria temido e odiado em toda a galáxia:_Sheev Palpatine, O imperador Sith, Darth Sidious.

A deformada figura parecia olhar diretamente para Rey e ela agitou-se na cadeira, mas Snoke não a libertou da terrível visão:

—Não tema, jovem... O que vê é apenas o eco dessa criatura. Darth Sidious foi pupilo de um Sith lendário, Darth Plagueis e com ele aprendeu muito sobre o lado sombrio da Força e de como usá-la para alcançar a imortalidade... Ou o que pode ser entendido como extensão da vida. Manipulação das forças da escuridão, misticismo antigo e toda a sorte de tecnologia foram experimentadas por Plagueis e por seu pupilo, que o sucedeu após trair sua confiança e matá-lo. Da posse desses conhecimentos, Sidious iniciou sua própria jornada para a imortalidade e cresceu no lado negro da Força, se alimentando dela e sendo devorado por ela. Mas tamanho poder tem seu preço...

Rey vê uma estranha e gigantesca sala, iluminada por uma doentia luz esverdeada, onde dezenas de cilindros e tanques ocupavam cada canto e parede, acoplados a maquinários complexos e supervisionados por estranhos seres vestidos de preto, olhos brilhantes e rostos alienígenas.

Dentro dos cilindros, corpos humanos completos ou em formação boiavam num líquido turvo e viscoso, algo que fez Rey sentir nojo e medo, mas Snoke sentia certo contentamento em mostrar tudo aquilo à jovem rebelde:

—Cada um desses corpos era desprovido de alma ou consciência. São cascas vazias, mantidas vivas para que seu dono se apossasse delas... Clones de Darth Sidious para que ele pudesse continuar vivo, indefinidamente. Porém o lado sombrio cobra um preço alto por seu poder e esses corpos clonados não duram muito tempo. A escuridão os consome e algum tempo depois começam a se degenerar. Darth Sidious não podia se arriscar neles e precisava de uma solução definitiva para esse impasse em seus planos. Então um de seus cientistas de confiança ofereceu uma opção diferente que poderia resolver o problema da morte celular acelerada...

Rey respirava rápido e agitava-se na cadeira. O rumo daquela conversa a estava apavorando, mas Snoke se deleitava com seu desespero e estava longe de interromper as torturantes visões do terrível líder do antigo Império Galáctico:

—O Senado era um ambiente frequentado por Palpatine com liberdade e muita influência. Ele sabia muito bem esconder sua natureza maligna de todos, até mesmo dos arrogantes Jedi. Quando tomou o poder de tudo, não havia nenhum inimigo capaz de impedi-lo de seguir com seus planos. Então ele escolheu cobaias humanas para suas experiências de inseminação, gerando corpos saudáveis e estáveis para o que pretendia.

Rey viu imagens de dezenas de mulheres jovens, ventres volumosos e rostos sem expressão, como se suas vontades tivessem sido sublimadas. Snoke levantou-se do trono e seguiu até a rebelde. Andando ao redor dela, devagar, ele continuou:

—Somente os aliados mais próximos de Darth Sidious sabiam que seu corpo original havia definhado décadas atrás e o que restava dele era sua essência maligna ocupando corpos clonados. Quando a primeira criança nascida de uma mulher humana, inseminada com células do Imperador, alcançou a idade adequada, ele efetuou a troca. Sim... Ele mantinha os nascidos em animação suspensa em tanques que aceleravam o crescimento e apesar do processo ser demorado e requerer uma tecnologia muito avançada, o resultado foi o esperado...

Rey exclamou e tentou se levantar da cadeira, mas a vontade de Snoke a mantinha presa ali:

—O que... Você quis dizer com troca? O que ele...

—Um sai para que outro entre... A consciência de Darth Sidious suplantava à da cobaia e assim ele fez, ganhando uma nova existência bem maior que a de seus clones cultivados.

Rey fechou os olhos com força e respirou fundo, tentando se acalmar. O que Snoke lhe narrava era surreal, mas ainda estava longe de ser uma resposta que ele ofereceu inicialmente. Ele sabia que ela temia o que viria em seguida e sorriu:

—Então Sidious preparou um novo corpo para habitar e quando ele estava crescido o suficiente, apresentou um problema congênito... Um aleijão impediu o Imperador de tomar a cobaia e ele se viu obrigado a esperar pela próxima “colheita”. Nesse meio tempo, a cobaia imperfeita foi descartada, mas não morta. Sensível à Força, ela buscou seu próprio caminho e aprendeu sobre o lado negro, habitando planetas inóspitos para a maioria dos seres, lidando com todo o tipo de gente pela galáxia e pelas zonas desconhecidas, onde encontrou terreno fértil para seus planos de poder... Muitos ciclos se passaram desde que a cobaia foi abandonada à própria sorte e quando se tornou forte, voltou a Darth Sidious e reivindicou seu lugar ao lado dele como aprendiz...

Rey o encara:

—Você...

—Sim. Eu estive ao lado de Sidious, não como seu pupilo, mas como um valioso colaborador de seus planos. Ao contrário de Darth Vader, que obedecia cegamente às ordens do Imperador, eu comungava com ele o conhecimento adquirido sobre a escuridão e a imortalidade. Eu era uma extensão da sua vontade e não podia ser ignorado, mas ele preferiu me manter oculto do conhecimento de seus subordinados e comandantes de confiança, enquanto me usava para acessar as áreas desconhecidas da galáxia e estender seu império, investindo em armamento, escravos, aliados mercenários e postos avançados.

Rey balança a cabeça:

—Chega! Liberte-me! Eu não quero saber de mais nada sobre...

—Espere, jovem rebelde... Seu momento se aproxima. Posso adiantar que os Skywalker tem grande participação nos eventos que vieram a me beneficiar... Eu não tinha interesse em continuar dividindo com Sidious o conhecimento sobre a extensão de vida. Ele não me via como outra coisa além de um pedaço de carne deformado que servia para seus propósitos conforme fosse conveniente. Então esperei pelos eventos seguintes, pois eu senti através da Força que o comando do Imperador estava dividido internamente, quando seu mais fiel aprendiz decidiu traí-lo ao descobrir que Luke Skywalker era seu filho... Então a Estrela da Morte foi atacada, Vader voltou-se contra Sidious e matou seu corpo, jogando-o no reator. O que Vader não sabia é que a consciência de Palpatine estava a caminho do novo corpo, preparado por mim, conforme as ordens que eu tinha previamente. Tudo estava pronto para que Sidious retornasse à vida tão logo ele incorporasse sua mente à cobaia inconsciente no esconderijo em que me mantinha, mas eu tinha outros planos. Quando o processo se iniciou, eu vi a minha oportunidade. A transição de energia era o momento mais delicado da transferência e eu esperei até o segundo em que as duas mentes estivessem ocupando aquele corpo ao mesmo tempo. Antes que a alma da cobaia fosse expulsa, eu a atravessei com uma lança bem no coração e em seguida decapitei-a. Matei a ambos, extinguindo sua existência, impedindo Sidious de escapar, pois de alguma forma ainda estava conectado à vida de seu clone, morrendo com ele.

Rey estava exausta. O turbilhão de imagens ia e vinha como ondas e ela já não resistia:

—Desde então...

Snoke parou frente a ela:

—Desde então eu estendo minha existência pelo mesmo princípio, já que, como pode ver, meu corpo sofre danos muito mais rápido que uma pessoa comum. Como eu disse antes, o lado negro corrói a matéria, ainda que aumente meu poder... Mas você se pergunta onde sua história se encontra na que acabei de narrar para você, não é?

Ela fecha os olhos e baixa a cabeça:

—Quero voltar para minha cela... Por favor...

Snoke sorri:

—Há 20 anos, uma das minhas prisioneiras, em quem fiz o processo de inseminação, conseguiu fugir. Ela carregava no ventre uma célula fertilizada que se tornaria um embrião perfeito. Meu embrião...

O vilão se cala e permanece olhando Rey. A garota ergue os olhos e fala com raiva:

—É mentira! Mentira sua! Está tentando me dominar usando esse absurdo argumento de que sou...

Mas o líder supremo está sério:

—Vasculhe sua mente, jovem... Analise sua essência e diga que estou mentindo. Desde que Kylo Ren a trouxe à bordo da nave da Primeira Ordem, eu senti sua presença cada vez mais forte e familiar para mim. Você possui um poder além de seu entendimento para alguém que nunca teve contato com a Força. Seu isolamento em Jakku manteve sua natureza dormente, mas a Força despertou em você quando Ren a confrontou no interrogatório. Uma fagulha e tudo se acendeu... Estou mentindo?

Com toda força de vontade, Rey luta e se levanta da cadeira. O pânico pressiona seu peito e ela murmura:

—S-sinto... Falta de ar...

—Controle-se! Aceite a verdade!

A jovem toca o peito e puxa o ar com força pelas narinas. Sua mente fervilha de imagens e sensações e ela sente que pode desmaiar. Então Rey se recorda da voz feminina e suave que falou com ela antes de deixá-la em Jakku. Rey ergue o rosto febril e molhado de suor:

—Onde está...

—Sua mãe? Nunca foi encontrada... Talvez morta em algum planeta distante ou até vendida como escrava em algum mercado na orla exterior. Nunca me incomodei em procurar por ela, pois acreditei que não sobreviveria fora do cativeiro. Um erro que de certa forma veio a se tornar algo interessante.

Lágrimas queimaram o rosto da garota:

—Q-qual era o nome dela?

—Kabi Jahzara.

Rey cai ajoelhada e chora em silêncio. O líder da Primeira Ordem espera para desferir o último golpe na psique da jovem rebelde:

— Muito bem, Rey Jahzara... Agora que sabe sobre suas origens, é o momento de assumir seu lugar ao meu lado. Sua herança não pode ser negada e, juntos, faremos da Primeira Ordem uma força imbatível. Una-se a mim... Filha.

Rey ergue o rosto vermelho e seus olhos brilham de fúria. Ela grita:

—NUNCA VOU ME UNIR A VOCÊ, MONSTRO! JAMAIS VOU SER O QUE VOCÊ QUER!

Snoke sorri, mas seu sorriso é um esgar de ódio e maldade:

—Pense bem, Rey... Você só tem duas opções agora que está sob meu poder. Una-se a mim e seja meu braço direito ou seja uma casca vazia como todas as outras cobaias que usei.

O terror daquelas palavras veio seguido das imagens de possessões de Snoke. Rey caiu ao chão, desmaiando pelo esforço de lutar contra aquelas terríveis visões. Ele permaneceu em silêncio enquanto observava a garota ser carregada de volta à cela, inconsciente. Então acionou o comunicador do trono e falou com o General Hux:

—General... Quero saber os passos de Kylo Ren rumo a Ahch-To.

—Estão entrando na atmosfera do planeta, meu senhor.

—Ótimo.

Em Ahch-To, Luke estava parado junto ao caça X-wing. Havia sentido todo o desespero de Rey e lamentou não poder consolar sua alma aflita naquele momento. Também sentiu, próxima,a mente atribulada de Kylo Ren e olhou para o céu, suspirando:

—Oh, Leia... Lamento, irmã! Acho que ainda vou demorar um pouco mais...

Continua...