Um vento forte fustiga as encostas rochosas da ilha dos antigos jedi. Luke Skywalker se afasta devagar, atraindo a atenção dos Cavaleiros de Ren, Trudgen, Kuruk e Ap’Lek, restando Vicrul, Cardo e Ushar contra Kylo Ren.

Os Cavaleiros atacam primeiro e com suas armas letais, atingem sem piedade os sabres de luz. Moldados em terríveis batalhas sob o domínio de Snoke, os seis guerreiros nada temiam e, sensíveis à Força, mas não usuários dela, eram violentos e cruéis em seus ataques.

Luke lutava com maestria e agilidade apesar da idade avançada, algo que surpreendeu Kylo. Este por sua vez, era tão violento quanto seus ex-subordinados e dada a sua atual condição mental, cada ataque seu era brutal. Derrubou Cardo e cortou-lhe o peito, para em seguida estrangular Ushar, erguendo-o do chão.

Vicrul era exímio atirador e mirou Ren com sua arma enquanto este dominava os outros dois guerreiros. O mestre jedi percebeu aquilo e arremessou uma pedra com a força mental na direção do cavaleiro, desarmando-o. A ação não passou despercebida por Kylo, que avançou contra Vicrul e prensou-o contra a parede da caverna, esmagando seu corpo contra a rocha:

—Quero o motivo da sua traição!

Luke derrubava os dois guerreiros e ainda lutava com o terceiro, quando ouviu seu sobrinho questionar o cavaleiro. Vicrul mirava o Comandante da Primeira Ordem através de seu elmo escuro:

—Nossa lealdade é apenas com o Líder Supremo Snoke! Você não é mais o favorito dele!

Kylo se enfurece ainda mais:

—O que ele pretende?

O poder de Ren quebrava a resistência do temível cavaleiro. Sua vontade era forte, mas pouco podia contra a fúria do pupilo de Snoke:

—O mestre Snoke... Fará da prisioneira Rey sua nova aprendiz...

Os olhos de Kylo se estreitam e Vicrul sente sua armadura esmagar seu corpo, penetrar sua pele e músculos, levando-o a uma morte dolorosa e agonizante. Deixando o corpo do adversário cair ao chão, Kylo voltou-se para o último guerreiro de pé, Kuruk, que enfrentava o jedi.

Ergueu-o e arremessou contra o teto para depois mandá-lo ao chão com toda a força. Ferido, mas ainda vivo, Kuruk riu e falou:

—vida longa ao Líder Supremo... Seus inimigos serão esmagados!

Com um último gesto de fúria, Kylo Ren ergue o guerreiro e o lança para fora da caverna, rumo às rochas à beira mar, metros abaixo da entrada. Kylo murmura:

—Você também, seu idiota...

Então resta um estranho silêncio após a luta e Kylo está parado, imóvel, junto à entrada da caverna, absorvido em pensamentos revoltos que são sentidos por Luke. O velho mestre percebeu que precisava ser cuidadoso. Seu sobrinho e aprendiz era uma bomba-relógio:

—Essa luta lembrou-me a primeira vez que lutamos juntos. Você ainda era um menino, mas já possuía um espírito combativo e isso me encheu de orgulho e temor...

Kylo não se vira:

—Sempre teve medo de mim, velho...

Luke suspirou:

—Eu temia aquilo que desconhecia. Meu maior erro foi não ter aprendido a lidar com sua natureza...

—Minha natureza?

Luke avaliou o sabre inativo em suas mãos:

—Sim. Eu estava enganado. Jedis eram proibidos de sentir raiva, paixão, medo ou qualquer sentimento que os tirasse de sua concentração, de seu equilíbrio. Eu queria ser como os antigos jedi, então me privei de muitos sentimentos para alcançar o que Obi-Wan e Yoda eram. Tentei passar isso pra você, mas falhei como um mestre por desconhecer que até a Força evolui com seu usuário...

Kylo ouviu tudo aquilo e sentiu uma estranha emoção. Luke abandonou o sabre no chão e aproximou-se:

—Eu não fui o mestre adequado pra você. Talvez se eu tivesse recusado, você ainda estaria ao lado de seus pais... Meu orgulho me fez te perder para o maldito Snoke. Eu... Peço perdão, Ben...

Kylo olha o homem ali à sua mercê e ergue o sabre de luz. Seu desejo era partir Luke em dois e jogar o corpo no mar abaixo deles. Então imagens de sua infância ao lado do tio vieram à mente.

Sua admiração e a tentativa de ser como ele, encheram Bem Solo de tristeza. O jovem baixou o sabre e falou:

—Não vale a pena matá-lo, Skywalker... Está tão consumido pela culpa que pune a si mesmo. Vê-lo assim é mais satisfatório. A morte é boa demais para você.

Luke pestaneja e vê Kylo Ren guardar sua arma na cintura. Ambos deixam o antigo templo e seguem na direção da nave dos Cavaleiros de Ren. O velho mestre jedi se aproxima cauteloso:

—Ben... Volte comigo! Vou me reunir à sua mãe contra a Primeira Ordem! Ela espera por você.

Kylo balança a cabeça em negativa:

—Não sou mais Kylo Ren, mas também não sou Ben Solo há muito tempo. Diga-lhe apenas que seu filho sente muito por ela e por Han...

Ao dizer isso, Ben Solo deixa cair por terra as luvas, a pesada capa e a túnica, ficando apenas com uma blusa, calças e botas. Ele segue até a nave dos Cavaleiros de Ren e dá partida, desaparecendo nos céus de Ahch-To.

Os olhos de Luke se enchem de lágrimas e a sensação de pesar parecia esmagar seu peito. O momento não era de lamentar, mas agir e assim, voltou sua atenção para o caça, cujo motor fazia um som mais agradável, aumentando as chances de decolagem daquela velha nave.

Tão logo estivesse ao lado da irmã, o mestre jedi daria um jeito de trazer o sobrinho de volta para casa.

Rey acordou em sua cela e permaneceu deitada. Seu corpo inteiro doía e ela não tinha ânimo para erguer-se da cama e lutar contra Snoke. Talvez a recusa de Luke em treiná-la derivava-se do que ele percebeu nela. Quem ela realmente era.

Ela riu sem humor algum:

—De uma “ninguém” à “filha” de Lorde Snoke! Que salto evolutivo...

Seu riso morreu e seus olhos se encheram de lágrimas:

—E agora? O que isso significa?

Sentiu-se totalmente sozinha. A força e certeza de suas ações até ali pareceram se esvair e já não pensava com clareza qual seria o próximo passo a tomar. Fechou os olhos e respirou fundo. Luke a ensinara meditação, acalmando a confusão de pensamentos que sempre a tomavam. Estendeu o braço esquerdo e mentalizou Ahch-To. Ela precisava saber.

Demorou um pouco, mas Rey viu a escadaria de pedras e o antigo templo jedi escavado na rocha. Ela sentiu energias conflitantes ali. Houve luta violenta e mortes, seu corpo tremeu e o coração bateu com força. Quem teria morrido?

Vasculhou mais fundo e vislumbrou seis corpos boiando no mar junto às rochas. Os Cavaleiros de Ren haviam encontrado seu fim, mas Kylo Ren não estava entre eles. Nem sinal do aprendiz de Snoke e menos ainda de Luke Skywalker.

Ela respirou novamente e sua mente flutuou até o buraco na rocha, à caverna onde a Força era escuridão. Viu seu rosto novamente refletido na parede de rocha polida como um espelho e em seguida, a imagem do Lorde Supremo atrás dela, tocando seus ombros de modo paternal. Ela sentiu frio e murmurou:

—Eu não sou como você!

A imagem do vilão sorriu para ela, mas nada disse. Rey repetiu para si mesma:

—Eu não sou como você.

Quando abriu os olhos e olhou ao redor, estava de volta à cela da nave Mega Destructor. Sentou-se na cama e moveu-se para levantar, quando se sentiu estranha. Havia uma energia suave, sutil, pairando ao redor dela, tentando fazer contato. Rey olhou em todas as direções, apreensiva:

—Quem... Está aí?

Então Rey piscou e a parede da cela pareceu desmanchar, mostrando à jovem um imenso galpão, empoeirado e cheio de peças velhas e enferrujadas. Viu uma caixa de metal e diante dela, sentada, estava uma jovem pouco mais velha que ela, entretida em arrancar parafusos de um aparelho obsoleto e sujo de graxa. A moça usava luvas grossas, tinha as roupas encardidas e surradas, um tipo de tecido cobrindo a cabeça como um turbante e o rosto sério, concentrada na atividade que fazia.

Rey levantou-se da cama e a jovem da visão imitou-a, completamente surpresa e assustada ao ver Rey surgindo do nada à sua frente:

—O que...

Então a conexão entre elas foi quebrada e a única coisa que Rey tinha à sua frente era a parede impecavelmente branca da cela. Em Crait, Shae abandonou as ferramentas e correu à sala de comando.

Entrou ofegante e esbaforida, assustando todos ali presentes, principalmente Leia:

—Shae? Sente-bem?

—Acho que vi um fantasma... Ou coisa parecida!

—Fantasma?

—Uma garota. O ar... Parece ter se aberto na minha frente e eu a vi, em outro lugar, um tipo de cela, semelhante a que fiquei presa quando estava sob o poder da Primeira Ordem. Não sei o que...

Leia fechou os olhos:

—Descreva a moça pra mim...

Shae informou as características da visão e a General Organa juntou as mãos frente ao rosto:

—Oh, céus! É Rey! Ela está viva. Parecia ferida?

—Não... Apenas assustada, como eu fiquei! É dela que falam todo o tempo? Porque ela está presa lá?

—É uma longa história, querida. Rey é uma valiosa aliada e uma amiga. Ela se ofereceu pra resgatar meu filho, Ben, das mãos do Lorde supremo.

Shae pondera sobre a informação:

—Oh! Mas se ela está presa, como vai conseguir fazer isso?

—Ela vai precisar de toda a ajuda possível. Precisamos nos restabelecer e juntar forças. Estamos em menor número e nossa frota sofreu baixas consideráveis. É hora de chamar por ajuda de antigos aliados.

Shae olha ao redor. Os rostos de todos os oficiais que auxiliavam Leia estavam mergulhados em dor pela perda de entes queridos e amigos de luta. O clima era de desalento silencioso e a jovem falou, por fim:

—General... Talvez meu grupo possa prestar alguma ajuda à Resistência...

—Seu grupo?

—Sim! Um movimento para a liberdade das galáxias. Eles... Não aceitam ser comandados pelo que chamam de Força. Nosso líder criou um mecanismo que impede a ação da Força sobre nossas mentes. Antes desse mecanismo ter sido retirado de mim, Kylo Ren não conseguiu ler minha mente ou me influenciar...

—Conte-nos mais sobre seus amigos, Shae.

Em poucas palavras, a jovem narra a trajetória do movimento “Galáxia livre” e de como foram separados após um desastroso encontro com a Primeira Ordem, que os havia confundido com os rebeldes. Ela ainda alimentava esperanças em relação ao grupo que escapou do ataque e que poderiam ser de alguma ajuda contra a Primeira Ordem.

Todos ali ouviram a narrativa de Shae e ao fim dela, Poe Dameron exclamou:

—Aí está! Isso pode ser uma carta na manga!

Leia se volta para o piloto e comandante:

—O que tem em mente, Poe?

—Se esse pessoal não pode ser rastreado pela Força, poderiam ser os olhos e ouvidos da Resistência em locais que nossos espiões já não podem mais agir! Só resta saber onde encontrá-los e se vão querer colaborar conosco.

A general concorda, mas se volta para Shae:

—Você tem ideia de onde possam estar agora?

—Não. Mas tínhamos um código... Um tipo de mensagem que poderia ser enviada em caso de urgência. Isso poderia nos reunir de novo.

Poe se adianta:

—Já foi usado por vocês? Funcionou?

—Não houve tempo... Se eles ainda estiverem vivos, eu poderia tentar contatá-los.

Leia toca o ombro da jovem:

—Podemos tentar. Se conseguir convencê-los a nos ajudar, eu serei eternamente grata. E vou recompensá-los por isso.

Shae concorda e, sob os olhares de todos ali na sala de comando, assume o lugar do analista de comunicações. Ela avalia os painéis e digita alguns códigos na tela de cristal. Em seguida coloca o headset e ajusta o volume do microfone. Aciona a primeira chave e escolhe uma sequência de linhas de transmissão. Pigarreia e fala com voz pausada e firme:

—Encontre-me debaixo das estrelas onde as garras do monstro não me alcançam. Minha criança ouça a minha voz. Quando eu contar até 10, desperte de uma vez... 1 2 3 4 5 6 7 8 9 0. Meu coração sempre estará com você.

Shae recebe uma anotação de Leia com as coordenadas de Crait e lê com atenção:

—10 84 45 99 13 02... Meu coração estará sempre com você...

Então a jovem se cala e todos a olham, apreensivos, até Poe quebrar o silêncio:

—É isso? E agora? Esperamos?

Ela enxuga o suor da testa com as costas da mão. Era visível sua tensão:

—Meu treinamento me informou que essa mensagem passa pelos canais de transmissão mais antigos em vários pontos da galáxia. Qualquer um que interceptar pode crer se tratar de um pai saudoso falando a um filho ou filha. O texto passa integralmente, mas o código numérico interrompe a comunicação como uma falha de sinal e somente quem conhece o código e possui equipamento adequado, vai descobrir nossas coordenadas.

Leia sorri:

—Engenhoso! Pode funcionar, mas agora é momento de contatar nossos aliados de causa. Temos que reunir toda a ajuda possível. Ao trabalho, senhores!

A equipe retoma seus lugares e Shae retorna a função que fazia antes. Em sua mente, tinha dúvidas que a mensagem fosse respondida, mas seu coração torcia para que sim.

Enquanto isso, Rey estava sentada em sua cela, quando um guarda abriu a porta e por ela, passou General Hux. O homem sorriu para ela:

—A ilustre desconhecida Rey entre nós... O Lorde supremo me informou de sua atitude altruísta, mas posso lhe garantir que seu sacrifício será em vão. É só uma questão de tempo até encontrarmos o rastro da escória rebelde e transformá-la em sucata e carne queimada...

Rey analisa Hux e retruca:

—A General Organa é uma experiente guerreira. Tenho certeza que ela rebaterá com igual força, cada investida da Primeira Ordem...

—Ah! Retórica de perdedores...

—É o que veremos, General Hux... Não gaste seu tempo comigo. Preocupe-se em se manter no comando junto a Snoke... Sabe que Kylo Ren tem mais a oferecer que você.

Hux sorri:

—Nesse momento, Ren deve estar servindo como comida de peixes em algum buraco aquático de Ahch-To junto de Luke Skywalker. Ele tornou-se um peso morto e descartável para o Lorde Supremo agora que temos você.

Rey se levanta da cama:

—O quê? Como assim?

O general se vira para sair:

— Os Cavaleiros de Ren receberam ordens de Snoke para executarem a ambos. Como pode ver, os planos do Lorde não incluem o filho rebelde de Leia Organa e Han Solo. Sua fraqueza não interessa à Primeira Ordem... Resta saber se você sofre do mesmo mal que ele.

Hux deixa a cela e a porta se fecha. Rey recebe aquela notícia como uma bofetada. Se a visão que teve mostrou os Cavaleiros de Ren mortos, onde estavam Luke e Ben?

Pouco mais tarde, Rey recebeu vestimentas limpas e austeras ao estilo da tripulação da nave. Levada à presença de Snoke, ela analisou o ambiente ao redor. Ele sorri ao vê-la observar o local:

—Pensando em fugir ou em como tentar me matar novamente?

Ela o confronta:

—Você matou Kylo Ren... Não era seu mais promissor aprendiz?

—Oh... Kylo estava se tornando rebelde. Ele veio a mim em sua juventude por causa de problemas familiares. Tudo o que ele queria era a atenção de alguém com autoridade. Uma criança carente ele era... Poderoso, sem dúvida, mas instável e inconstante em suas decisões.

—E o que eu sou?

Snoke se inclina para frente:

—Independente. Moldada na dureza de sobreviver a um planeta árido e inóspito, você não tem as amarras emocionais que Ben Solo tinha. Se fez sozinha e ao descobrir a Força, tornou-se ainda mais forte. Quero oferecer um posto de comando em minha nave e na Primeira Ordem. Você tem potencial e quero que o desenvolva... Seus poderes não precisam ser usados levianamente. Pense no que pode criar! Aonde pode chegar!

—E se eu recusar?

Snoke suspira:

—Tivemos essa conversa. Seria sábio considerar a opção que ofereço. Sou parte de você, temos uma ligação e você sabe disso. Seu poder vem do que herdou de mim que a criou e nada vai mudar essa condição, nem o que somos agora...

Rey baixou o olhar. Focava seus pensamentos em imagens aleatórias da nave, do planeta Jakku, evitando pensar em Leia e seus amigos, nos corpos dos Cavaleiros de Ren, mortos em Ahch-To. Sabia que se quisesse, Snoke saberia tudo através dela apenas lendo seus pensamentos. Se ela permitisse isso, tudo estaria perdido para a Resistência. Precisava ganhar tempo e manter o foco.

Por fim, abraçou os ombros:

—Eu... Estou com medo.

Snoke sorri:

—Eu sei, criança. Mas quero que confie em mim. Vou treinar você e torná-la ainda mais poderosa na Força. Verá que tenho grandes planos para você...

Ela suspira. A sorte estava lançada. Ergue o olhar para o Líder Supremo:

—Eu aceito ser treinada por você.

—Excelente!

Um soldado é acionado para levá-la a um aposento apropriado para a tripulação. Rey recebe uma pulseira de metal sinalizadora. O soldado informa que Snoke saberia de cada passo dela na nave, assim como Hux e Rey caçoa:

—Essa coisa explode se eu tentar fugir?

—Não explode, mas pode te eletrocutar. Você não vai morrer, mas vai sentir muita dor...

Ela fecha semblante e o soldado deixa o aposento. Rey avalia o ambiente e suspira:

—Confortável...

Se deita na cama macia e pensa:

—Agora mais do que nunca, preciso estar focada. Preciso... Esquecer Leia e a Aliança. Não posso prejudicá-los ainda mais.

Encolhendo-se na cama, Rey fecha os olhos e murmura um nome:

—Kabi Jahzara...

Ela sorri e pensa que essa mulher precisou de muita coragem para fugir, grávida, e depois deixá-la a salvo longe da Primeira Ordem. Em seu coração, Rey decidiu que descobriria o paradeiro de sua mãe. E usaria a Primeira Ordem nessa busca.

Continua...

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.