Spotted: Behind the Gossip

Capítulo 15- Leighton Meester must fight!


Em cena...

Serena: Olha só, parece até uma subchefe de cozinha...
Blair: Estou de bom humor. Acontece! Às vezes porque tomo remedinho, ou então porque meu pai vem me visitar.
Serena: Mas, na maioria das vezes, porque as coisas vão bem no amor. Você e o Nate voltaram?
Blair: Depois de a Gossip Girl ter publicado aquela foto dele?
Serena: Acho que isso é um "não". O que o Chuck vai fazer hoje?
Blair: Porque está perguntando pra mim?
Serena: É porque vocês são amigos. E, Blair, você sabe que pode me contar tudo, eu não sou do tipo que julga as pessoas.
Blair: Não tem porquê.
Serena: Blair, eu vi você e o Chuck.
Blair: Eu nem sei onde estava com a cabeça. Quer dizer... transar uma vez com ele ainda vai, mas duas?
Serena: Espera aí, você transou com ele?
Blair: Shhhh.
Serena: Eca, Blair.
Blair: Olha quem tá me julgando.
Serena: Não é isso, eu estava achando que você queria esperar. Pensei que você quisesse fazer tudo especial.
Blair: Ah, o Nate agora é o príncipe e eu sou a vadia?
Serena: Não me diga que você transou com o Chuck por vingança.
Blair: Bem, te garanto que não foi pelo cheiro dele. Além do mais, nada fere mais do que transar com o melhor amigo, não é, S?
Serena: Que maneira de provar.
Blair: Aprendi com a mestra.
Serena: Se você está transando com o Chuck, eu diria que a aluna superou a mestra.
Blair: Você está com ciúmes por não ter conseguido ficar com ele primeiro? Pelo menos sobrou um nessa cidade.

— Muito bem, meninas. Já estão prontas para os takes. — Disse o Mark Piznarski, diretor do novo episódio, estendendo um script encadernado que estava em uma das mãos. Ele aparentava cansaço, bem como os produtores e escritores. Refazer um episódio para disfarçar a ausência de Ed do dia para a noite não deve ter sido fácil.

Blake e eu sorrimos e agradecemos. Em seguida, voltamos a nos sentar para esperar o próximo grupo.

— Graças a Deus! Será que agora podemos fazer uma pausa? — Taylor protestou com uma voz manhosa, quase afundando na cadeira de madeira em que estava sentada.

Todos explodiram em risadas, pois ela parecia ter falado por todos ali presente.

— Claro! 20 minutos e voltamos com a Kelly, o Matthew e a Susan. — Mark voltou a responder e todos suspiraram aliviados.

Estávamos passando e repassando os textos há horas, sem parar. E, àquela altura, todos já estavam um pouco estressados. Com exceção de mim, claro.

Depois de Ed ter ido embora, recebi uma mensagem de Phillip que, por um minuto me fez repensar tudo que já estava acertado com Ed. Mas eu cheguei à conclusão de que ele não iria mais atrapalhar minha vida, não enquanto eu tivesse alguém que lutasse por mim e realmente se importava com meus sentimentos. Mordi o lábio inferior e sorri ao lembrar da forma como havia começado aquele dia. Sentia como se nada pudesse nos atrapalhar naquele momento. Nada além da regra de Josh que, àquela altura, não era mais um problema tão grande. Além disso, entre Ed eu não havia nada tão grande como um relacionamento, apenas estávamos curtindo o momento e ninguém precisava ficar sabendo. Talvez eu estivesse mesmo precisando de um pouco de emoção positiva.

Toda aquela reflexão me fez sentir uma pontinha de saudade dele.
Muita saudade, para falar a verdade.

Eu não quero
precisar do seu amor
Eu apenas quero
me afundar no seu amor
E isso me mata quando você está longe
(Maroon 5, Sugar)

***

— Posso saber o motivo de você estar tão feliz e bem humorada hoje? — Blake perguntou, sentando-se na cadeira ao lado da minha, com um sorriso intrigado. Ela poderia detectar um segredo a raios de distância.

— Hoje é o dia oficial do fim do drama, não sabia? — Sorri para ela, já ciente de que ela não se convenceria, enquanto massageava os pés que ainda estavam doloridos da gravação da noite anterior.

— Leighton, você deve estar me zoando. — Ela disse, encostando-se na cadeira e esticou as pernas para apoiá-las em uma outra que estava a sua frente. — Você saiu daqui ontem como se estivesse em uma das novelas mexicanas que a minha mãe assiste e agora aparece como se estivesse no carnaval do Brasil? Já te disse que você tem um caso sério de bipolaridade? — Ela disse sem esboçar um sorriso, dando a entender que estava realmente séria.

— Sério? Sempre quis ser a Thalia. E quanto ao Brasil, eu não sei sambar. — Uni os lábios em um sorriso irônico.

— Thalia? — Ela inclinou a cabeça e lançou-me um olhar sério — Para de enrolar, Leigh.

— Você que começou a comparação. — Ri em tom alto e ela não pode se conter.

— O que você quer saber? Eu tenho de ficar mal humorada o tempo todo?

— Claro que não! — Ela uniu os lábios e sorriu levemente. — Só quero saber como você ficou depois de tudo. Não consegui te ligar ontem, o Penn e eu não estamos numa boa, não sei o que houve com ele... — Ela baixou os olhos e observou a si mesma bater os dedos das mãos. Certamente, estava aflita com essa situação deles.

— Mas, o que houve com ele? Parecia tão feliz... — Toquei seu ombro, na tentativa de confortá-la

— Eu também não entendo. — Ela piscou várias vezes, ainda olhando para baixo. Ela realmente gostava do Penn, pois uma mulher imponente como ela, conseguiria qualquer outro cara em pouco tempo. Acredito que ela conseguia observar o quanto Penn elevava seu espírito por ser uma pessoa boa e carinhosa com ela. — Mas, depois eu te conto com calma... — Ela levantou a cabeça novamente e sorriu com carinho. — Vamos falar de você porque eu perguntei primeiro.

— Pergunte... — ordenei, antes que eu perdesse a coragem de contar tudo.

— Eu vi o Chace dando sua chave de coração pro Ed. Ele foi a sua casa? — Ela perguntou de uma vez e girou a cabeça rapidamente para me fitar enquanto eu tentava arquitetar uma resposta.

— Foi. — Falei sem rodeios, se ela tinha provas, eu não ia conseguir esconder.

— E o que aconteceu? Vocês ficaram de novo? — Ela projetou no rosto uma feição de que não havia se agradado muito de saber e eu fiquei um tanto intrigada.

— Não foi por falta de vontade... — Mordi os lábios, olhando para o vazio, como se eu pudesse visualizar, por um minuto, os flashes daquela noite. — Mas nós tivemos uma conversa franca depois de tudo. Fico feliz em dizer que está tudo esclarecido entre nós.

— Até sobre aquela pedrinha no seu sapato? — Ela fez menção à Jessica com a cabeça e eu tentei disfarçar a vontade de cair na gargalhada.

— Parece que sim. Contando parece até mentira, mas ele não dormiu na casa dela, ele só foi buscar a carteira pela manhã que ficou na bolsa dela. Além disso, aquela história da foto de domingo era mesmo verdade. Eu achei que ele tivesse ido tomar café com ela depois de passarmos a noite juntos, mas não. Foi um grande mal-entendido. Infelizmente, não consegui fazer com que se afastassem, mas, pelo menos, conseguimos esclarecer muitas coisas. — Finalizei com um sorriso enorme no rosto, mas Blake não parecia estar feliz com aquela história. O que era muito estranho, considerando o fato de que ela adorava o Ed e adorava enxergar o melhor nas pessoas.

Sem dizer nada, ela encarou Jessica, que conversava animadamente com Chace e Penn ao mesmo tempo, com uma expressão bastante irritada.

— Lembra quando você disse que eu tinha de tomar cuidado com ela perto do Penn? — Ela disse enquanto apertava as teclas do celular afoitamente, estava digitando algo com muita pressa. E eu tentei fazer a relação da pergunta com aquela ação.

— Lembro... você acha que ela está tentando dar em cima dele também? — Abri a boca em formato de "o", completamente em choque pela possibilidade.

— Não, Leigh... — Ela apertou o botão grande e uma mensagem foi enviada — Porque só agora eu descobri o quanto ela é uma víbora! — Ela exclamou em alto e bom tom sem se preocupar com quem estava ao redor.

Eu estreitei os olhos e encarei-a, preocupada com aquela reação. Depois de resolver as coisas com Ed, não estava mais me preocupando tanto com as coisas que a Jessica fazia ou deixava de fazer.

— O que está acontecendo com você? — Questionei com os olhos arregalados e quando ela abriu a boca para dizer, Taylor passou por nós e sentou-se na cadeira ao lado de Blake com o notebook no colo. Aquilo só poderia significar uma coisa...

— Tenho novidades! — Ela falou com tranquilidade, enquanto olhava com concentração para a tela do computador.

— Finalmente! Eu estava prestes a dar com a língua nos dentes sem nenhuma prova. — Blake disse, enquanto passava o braço por cima da cadeira de Taylor, inclinando-se para poder acompanhar a notícia.

— Prova? — Levantei-me — O que está acontecendo aqui? Perdi algum capítulo? — Cruzei os braços de frente para as duas, que se entreolharam com cumplicidade.

— Você perdeu o meu capítulo na história. — Blake falou projetando um sorriso perigoso na face.

— Que história? — Franzi o cenho, certa de que estavam fazendo um teste com a minha paciência.

— A sua! — Ela falou, ignorando minha expressão que cada vez se mostrava mais intrigada. — Vai, Taylor, contra pra ela. — Ordenou sem desfazer o sorriso maldoso.

— Com prazer! — Taylor acomodou-se na cadeira e começou a discursar — Leighton, você foi vítima de uma armação. A foto que saiu do Ed com a Jessica não teve a data alterada por erro de fonte revista, eles foram pagos para alterar os dados e fazer parecer que realmente aconteceu na segunda e que foi um encontro. Parece que a pessoa tinha tudo arquitetado para destruir qualquer possibilidade entre vocês.

— E quem poderia fazer isso? — Eu questionei, um pouco assustada.

— A própria Jessica.

— Que puta! — Exclamei, sentindo o sangue esquentar dentro de mim. Como se não bastasse estar se fazendo de coitadinha para o Ed, descobri que ela estava manipulando as situações na mídia para me afastar dele.

—Parece que a ideia era separar vocês ou fazer você desistir — Taylor falou enquanto a observava de longe.

— Pois ela está redondamente enganada. Agora eu quero isso mais do que nunca. Nem que seja pelo prazer de vê-la humilhada como eu fiquei.

— Então, você acha mesmo que ela pode ter feito isso? — Blake perguntou, calmamente, colocando-se de pé e pousando uma mão sobre o meu ombro.

— É lógico! Ela nunca perderia a chance de se autopromover. Mas sempre por meios sujos, como ela. Que baixa! — Eu disse e girei o corpo para encará-la. — Mas isso não vai ficar assim... — Completei, sentindo em meu corpo uma agitação estranha e um desejo de vingança.

— O que você vai fazer, amiga? — Blake falou quando eu comecei a me mover em direção a grupo em que Jessica estava.

— Vem, Blake. — Me virei para falar e continuei a caminhar em seguida.

— Olá, desculpe se atrapalho o papo — Eu disse para Penn e Chace, cortando qualquer coisa insignificante que Jessica estava dizendo. Seja lá o que fosse. — Como vai, Penn? — Cumprimentei-o com dois beijos nas bochechas.

— Ótimo. — Ele disse com um meio sorriso e abraçou Blake que estava entre nós.

— Minha princesa, você nunca atrapalha. — Chace disse com um sorriso tão sincero que ressaltou suas covinhas no rosto.

— Mas, não é nada demais! — Passei a mão no bolso e tirei a chave que estava com o chaveiro felpudo para fora. — Quero devolver a sua chave.

— Foi bem utilizada? — Ele ergueu uma sobrancelha e sorriu com sagacidade.

— Você não sabe o quanto. — Ergui uma sobrancelha e projetei um meio sorriso. — E, à propósito, estou te devendo uma.

— Você e o Ed me devem essa, mas vou abrir uma excessão por serem meus amigos. Te ver sorrindo já faz tudo valer à pena, pequena. — Ele retrucou, expondo minha intimidade sem nenhum receio. Eu não me incomodei, afinal, Penn e Taylor saberiam de alguma forma. A única pessoa que não tinha nehuma relação com a minha vida era a Jessica, mas ela era quem mais precisava ouvir e era a quem eu mais queria atngir.

— Você é um grande irmão, Chace. — Sorri em gratidão e ele retribuiu com um abraço apertado.

— Galera, falando em Ed... cade ele? — Blake perguntou, erguendo os olhos para ver se encontraria ele ao redor.

— Ele não vem nesta semana. — Falei com os olhos baixos.

— Por quê? — Penn questionou e todos os olhos se voltaram para mim.

— Pergunte à Leighton! — Jessica intrometeu-se, falando com os braços cruzados e lançando-me um olhar desafiador — Afinal, ele foi expulso da gravação por causa dela.

Todos ficaram boquiabertos no exato momento que ela proferiu aquelas palavras. Principalmente eu. Em seguida, começaram a se questionar com perguntas como: "Ele saiu da série?" "O que ele fez?" "O que a Leighton fez?" "Que diabos está acontecendo aqui?" [...], enquanto entreolhavam-se intrigados.

Entre raiva e ressentimento, o pior foi saber que Ed havia contado sobre o ocorrido com ela.

— Eu fiz o quê? — Gritei, sem me importar com o que os demais achariam.

— Leighton, não aja como quem não sabe do que eu estou falando. E é bom que todos saibam que vocês se pegaram no camarim e você deixou ele assumir a culpa sozinho. Agora ele foi penalizado com um episódio. O que pode ser considerado um fator de sorte, porque ele poderia ter sido demitido.

— Quem é você para falar o que aconteceu entre nós, garota? Ele quis assumir a culpa, ele quis me proteger. — Cerrei os punhos e os lábios, competamente enfurecida, me contendo para não enfiar aquela enorme argola dourada, que ela carregava na orelha, guela abaixo.

—Calma, Leigh... — Chace disse com a voz branda, segurando meu ombro.

— Como eu posso ficar calma? Você está escutando o que essa vadia está dizendo? — Virei o corpo na direção dele e comprimi ainda mais os lábios.

— Para com esse teatrinho de boa moça, Leighton. — Ela disse calmamente, com um sorriso sarcástico estampado no rosto. — Está na hora de todos verem o quanto você é egoísta e só pensa no que é bom pra você mesma.

— Egoísta? — soltei uma risada sarcástica e cruzei os braços. — Você quer mesmo falar sobre egoísmo? Então, como devemos chamar a uma pessoa que paga para uma revista alterar a data de uma foto só para atrapalhar a vida dos outros e sair como vítima?

— Do que você está falando? — Ela disse com os olhos semicerrados, encarando-me com destreza.

— Ainda tem coragem de ser sínica. — Arfei — Tenho provas de que você pagou para a revista alterar as datas na coluna Spotted, para parecer que você estava sendo vitimizada.

— Chame isso como quiser, Leighton. Mas aquilo não foi nem a metade do que você merece.

— Pelo quê? Que mal eu te fiz? — Falei, sentindo-me ferida pelas lembranças do passado e pelo orgulho. Segurei as lágrimas com toda a força, odiaria dar o braço a torcer naquele momento.

— Corta! — Ela bateu as palmas das mãos como uma claquete — Sua atuação não me convence, Leighton. Até porque você nunca foi uma boa atriz!

— Sua piranha oportunista! — Me movi depressa e acertei-a com um tapa no rosto tão forte, que fez a palma da minha mão arder.

— Sua maluca! Prefiro ser piranha a ser corna como você. — Ela disse, ainda com a mão sobre a bochecha avermelhada.

—Você vai ver quem é maluca! Você nunca aceitou perder, agora está querendo me atingir para massagear o seu ego ferido. Comigo não, queridinha! — Falei, completamente alterada e fora de mim.
Em seguida, parti para cima dela, atacando-a pelo cabelo, enquanto ela tentava revidar da mesma forma. Trocamos alguns tapas desajeitados, bofetadas e puxões de cabelos. Despejei toda a minha raiva de e a revolta por toda aquela semana. Precisava atacá-la de alguma forma. Jessica precisava saber o quanto eu a desprezava naquele momento.

No momento em que estávamos completamente descabeladas, desarrumadas e exaustas daquela luta corporal bizarra, Chace interferiu, me segurando pelos dois braços, como se fosse colocar uma algema neles. Do outro lado, Penn tentou segurá-la apenas com uma mão.

— Me solta, Chace! — Gritei e arfei com tanta força que uma mecha de cabelo que estava no meu rosto levantou.

— Não vou soltar, Leighton. Você perdeu a noção?

— Ele está certo, Leigh — Blake surgiu na minha frente e afagou meu rosto, numa tentativa de fazer eu me acalmar. — Se você fizer isso, vai dar a razão pra ela. — Ela finalizou e, em seguida, pareceu um pouco desconsertada ao olhar para Chace.

— Ela não perdeu a noção, só está mostrando quem realmente é. Não se assustem. — Jessica disse tranquilamente quando finalmente conseguiu soltar-se da mão de Penn. Aposto que ele nem fez força para segurar.

— Você vai me ver perder a noção de verdade quando eu encostar a minha mão na sua cara!!! — Gritei e fiz força para frente, tentando me livrar de Chace, mas ele era muito maior e mais forte do que eu. Seria impossível.

— Jessica, fica quieta você também! — Blake falou com tom de irritação.

— Ei, ei, ei, que gritaria é essa? Lá do escritório está dando pra ouvir tudo. — Josh apareceu falando em tom alto, enquanto se aproximava com uma prancheta na mão.

— Não é nada, Josh. — Blake disse em tom calmo, para tentar disfarçar o clima de tensão. Ninguém ousou abrir a boca para questionar. Chace me soltou para confirmar a história, mas ele sacou tudo ao olhar para mim. Eu estava com o rosto ruborizado, cabelos bagunçados havia algumas gotas de suor brotando na testa. Jessica também estava descabelada e sem uma das argolas na orelha. Eram as provas de que ele precisava para solucionar o mistério.

— Pera aí, vocês estavam brigando? — Ele falou com uma pontinha de desapontamento na voz. — E você, dona Leighton, no meio da confusão de novo?

— Ela que incitou. — Disparei, sem medo de parecer infantil. Eu já estava bastante encrencada.

— Eu não quero saber quem começou e quem terminou. Eu quero as duas na minha sala agora para resolverem a questão como adultas. Caso contrário, a gente fecha a temporada sem vocês. — Ele estendeu o braço, indicando o caminho que eu já conhecia bem.

Revirei os olhos e obedeci, caminhando com o queixo erguido à frente de Jessica e ela me seguiu com uma expressão contrariada.

O começo daquela conversa não foi muito pacífico. Porém, a discussão foi um pouco menos acalorada graças à intervenção de Josh que precisou nos advertir como se estivéssemos no jardim de infância.

— Quem vai me explicar o que está acontecendo aqui? — Josh disse, tentando manter-se calmo.

— Aconteceu que essa vaca...

— Pera lá... Meça suas palavras quando estiver se referindo a si mesma. — Jessica interrompeu, erguendo as mãos em defesa própria.

— Então quer dizer que eu sou a vaca?

— Se o Louboutin serviu... — Ela disse com as sobrancelhas arqueadas

— Você tá vendo, Josh? Ela me provoca, depois faz parecer que eu comecei tudo. Foi sempre assim, desde a escola. Não sei como eu aguentei ser sua amiga por tanto tempo. — Respirei fundo, aliviada começar a ver com clareza como começou aquilo tudo. Jessica não se pronunciou no primeiro momento. Então, continuei a falar, sentindo as lágrimas ameaçarem meu orgulho. — Eu sempre estive lá por você, Jessica. Sempre coloquei a mão no fogo por você e, no fim, eu sempre era a culpada. "Leighton, você não ensaiou comigo", "você não imprimiu as nossas falas", "você está me atrapalhando", "não passei no teste, culpa sua, você não me ajudou", "tirei F na prova de matemática, a Leighton não me passou as respostas"... Porra, eu tinha uma vida também! Eu tinha minha carreira, eu queria fazer meus próprios testes, queria ganhar meus próprios papeis. Quantas vezes eu perdi a hora ajudando você, repassando falas, fazendo os seus lembretes e até limpando o seu armário... Você sempre se achou a Cher e eu nunca me importei em ser a Stacey, ser sua amiga bastava. — Fiz menção ao nosso filme favorito na época, numa tentativa de resgatar todas as memórias possíveis daquela época. — Mas parece que a amiga era apenas eu. E você ainda tem coragem de me chamar de egoísta... — Interrompi a minha fala, pois já sentia-me aliviada por dizer algo que suprimi por tanto tempo. Nunca havia pensado em dizer aquelas coisas daquela forma porque, se eu fiz tudo aquilo, foi por vontade própria. Mas me magoava demais saber que, mesmo depois de tudo, ela ainda achava que eu estava errada em falhar com compromissos que eram de responsabilidade dela. Eu apenas havia começado a pensar mais em mim e a lutar pelo meu lugar ao sol.

Naquele momento, eu consegui compreender o motivo de ela ter abandonado nossa amizade no dia em que eu mais precisei dela.

— Acho que vocês precisam resolver esse problema a sós. Vou dizer que podem continuar sem vocês por enquanto. Por favor, não se matem. — Josh disse com um sorriso no rosto. Parecia estar satisfeito com a minha confissão, enquanto eu queria sair correndo dali.

— Leigh, eu realmente não sabia que você se sentia dessa forma. — Ela disse, consternada, com uma mão próxima ao coração e os olhos umedecidos.

— Claro que você não tinha como saber. Você sempre estava preocupada com suas próprias questões. Não enxergava um palmo diante do seu nariz. E pensar que eu me sentia culpada. Perdia horas pensando no que poderia ter feito para nossa amizade acabar, mesmo depois de você ter me deixado sozinha naquele dia.

— Eu queria ter feito algo. Eu juro que queria.

— Então por que não fez? Por que não atendeu o telefone quando eu liguei ou... — Respirei fundo. Aquele assunto trazia memórias que me deixavam completamente sem ar.

— Eu achei que vocês poderiam se resolver sozinhos. Vocês sempre brigavam e sempre se resolviam. Eu não quis mais me meter desde que... — Ela parou de falar por um momento e encarou o vazio com uma expressão assustada.

— Desde que...? — Encarei-a com uma expressão intrigada. Aquela reação foi um tanto inesperada.

— Desde que ele te traiu e mesmo assim você voltou com ele. Você ignorou minha ajuda, o que mais eu poderia fazer? — Ela estendeu as mãos.

— Não se tratava disso, Jessica. Você sabia que não era mais apenas brigas, ele me ameaçava. — Ignorei todos os princípios e deixei as lágrimas escaparem. Aquilo era demais pra mim.

— Ah, claro, "Leighton, se você não ficar comigo, vai se arrepender". Ele falava da boca pra fora. — Ela cruzou os braços e balançou a cabeça para os lados. Era como no passado, ela tentando me convencer de que meus problemas não passavam de surtos dramáticos.

— Não! — Falei em tom alto — Para, Jessica. Eu não aguento mais isso. — Passei as duas mãos pelos cabelos recém lavados e pressionei os olhos com força.

— E ele fez algo com você? Você está viva, saudável e seguindo em frente. — Ela ergueu uma sobrancelha e caminhou em direção à janela.

— Jessica, eu quase morri naquele dia. Você não tem noção do que eu passei... — Balancei a cabeça com os olhos semicerrados.

— Drama de novo. — Ela revirou os olhos — Deixe-me adivinhar, ele pegou...

— Ele me violentou, Jessica. — Eu a interrompi, lançando toda a verdade ao vento e colocando a chorar copiosamente. Não aguentava mais ser atacada daquela forma. Ela parou de falar e seus lábios se comprimiram, numa tentativa de esboçar qualquer reação. Guardava aquele segredo comigo há muito tempo e não queria que a primeira pessoa a saber fosse ela nem queria que fosse daquela forma, mas eu não tive escolha.

"Pelo menos, ninguém mais escutou." — Pensei comigo mesma.

Mas eu estava enganada.

— Você foi o que? — Blake disse, invadindo a sala, completamente em choque.

— Você quer que eu diga de novo? — Falei e saí da sala correndo, não suportaria ter que encarar aquela vergonha duas vezes.

— Eu vou falar com ela. — Jessica disparou.

— Você não vai a lugar nenhum. — Blake gritou — Você não é amiga dela.

Ela correu para me alcançar, mas eu já havia me escondido no primeiro cantinho que encontrei, atrás de uma enorme arara barrotada de roupas, dentro da sala de figurinos. Seria impossível me encontrar lá, se não fossem o barulho dos meus soluços contínuos provocados pelas lágrimas incessantes.

— Hey, Leigh. Você está aí... — Blake disse, parecendo um pouco ofegante por me procurar.

— Me deixa sozinha, Bla. — Falei, esfregando os olhos com força.

— Tente me obrigar. — Ela disse com tom firme e sentou-se ao meu lado, naquele chão gelado.

Eu não respondi ou tentei impedir. Sentia-me fraca.

— Leigh... — Ela respirou fundo e continuou — Eu não sei o que falar para você. — Ela olhou para o alto, tentando procurar as palavras certas — Eu só... Leigh, ela sabia que ele te maltratava?

— Eu dizia, mas não dava detalhes, porque ela agia com ironia. — Dei de ombros e baixei os olhos.

— Como você conseguia ser amiga de uma pessoa assim? — Ela disparou.

— Ela não foi sempre assim. Tudo mudou depois de um tempo e eu já estava apegada demais para notar ou questionar.

— Leigh, foi a primeira vez que aconteceu isso? — Ela falou em tom baixo, quase como se sussurrasse.

— Não.

— Leigh, eu... — Sua voz parecia trêmula.

— Eu não quero falar sobre isso. — Falei com firmeza na voz.

— Leigh, sei que não nos conhecemos há tanto tempo, mas tivesse a chance de te ajudar ou mudar seu passado, eu juro que faria algo. Eu não quero mais te ver chorando desse jeito. Tem de haver uma maneira de tirar essa nuvem cinza da sua vida.

— A nuvem já se instalou, Bla. Parece que eu fui escolhida pra isso. Não posso me apegar a nada ou ninguém que as coisas sempre saem do controle de alguma forma e eu acabo arruinando tudo. — As minhas últimas palavras saíram um pouco embargadas por conta das lágrimas. Ao dizer aquilo, apenas a imagem de Ed veio à minha cabeça.

— Não, Leigh. Não pense assim. — Ela girou o corpo e puxou-me para um abraço — Você é uma guerreira! — Apoiei a cabeça sobre os ombros dela, nunca tinha sido acolhida assim por alguém. — Você tem vivido com isso até hoje. Você se esforçou, deu a volta por cima e agora está aqui. Você é capaz de muito mais.

— Mas às vezes sinto que não sou capaz de amar, de ter um relacionamento saudável, porque sempre acho que o fim vai ser o mesmo. — Soltei o ar pela boca, pois as vias nasais estavam congestionadas.

— Se você encontrar o cara certo, não vai, não. — Ela disse com um sorriso animado no rosto — Na verdade, acho que você já encontrou, só não percebeu ainda.

— Se você estiver falando do Ed, pode parar por aí. — Levantei a cabeça rapidamente e falei de uma vez.

— Leigh, você precisa parar de negar seus sentimentos. O que há de mal? Sentir algo por alguém é tão natural quanto espirrar no frio. Você sente vontade, sabe que vai acontecer, segura firme para evitar o transtorno, mas é inevitável, acontece. E quando você vê, já está em paz, sentindo um belo de um alívio. — Ela fechou os olhos e sorriu.

— Você está brincando comigo, não é? — Sorri pela primeira vez em minutos que mais pareciam uma eternidade.

— Claro que não, Leigh. Para e pensa... O Ed é um cara legal, embora tenha pisado na bola ontem, mas agora já sei que não foi culpa dele.

— O que ele fez? — Minha voz saiu aguda e meus batimentos se aceleraram.

— Calma, não foi nada. Eu que acabei confundindo a história toda. — Ela desviou o olhar, buscando algo que eu não soube identificar. Parecia estar omitindo algum detalhe, mas eu não quis indagar. Não aguentaria mais um soco no estômago ou uma ducha de fortes emoções. — Enfim, Leigh, você precisa expressar o que sente antes que ele desista também. Ele gosta de você e todo mundo sabe, agora você precisa mostrar para ele que você também quer.

— Mas eu...

— Ou você quer vê-lo com a Jessica? Quando você soltar a corda, ela vai pegar antes mesmo de cair no chão.

— De onde saiu tanta metáfora? — Uni as sobrancelhas, um pouco intrigada com a escolha de palavras dela para aquela conversa. Mas eu tinha que reconhecer que estava funcionando.

— A vida ensina, Leigh. Coloca uma coisinha na sua cabeça. Você não pode se deixar levar por circunstâncias ou palavras de outras pessoas. Você precisa pensar no que é melhor para você. Sempre você, acima de tudo e todos.

Balancei a cabeça em afirmação, mas, por dentro, eu sabia que não adiantaria ouvir aquilo. Mesmo que eu escolhesse ter algo com o Ed ou mesmo que eu deixasse meus sentimentos escaparem, nós nunca estaríamos completos por muitos motivos. E a felicidade dela com Penn era um deles.

— Eu acho que não consigo. — Abaixei a cabeça e mirei meus próprios pés.

— Claro que consegue. — Ela disse com uma animação evidente na voz e levantou-se em apenas um pulo. — Vem, Leigh.

— Pra onde vamos?

— Enfrentar isso juntas. — Ela disse com um sorriso doce, enquanto estendia a mão para mim.

Sorri em resposta e agradeci por dentro. De repente, a vida não era tão dura assim. De repente, se eu decidisse enfrentar meus medos, poderia encontrar o que estava faltando em minha vida: o amor. E esse amor eu sabia que poderia encontrar nos pequenos gestos de pessoas que me cercavam e que gostavam mesmo de mim. Tudo que eu precisava fazer era abrir os meus olhos.

E lutar.

***

No dia seguinte, tivemos um dia intenso de gravação. Em pleno domingo. Apesar do desgaste de trabalhar no final de semana, estávamos nos divertindo bastante ao encenar um flashback de um ano atrás. Toda a produção foi extremamente caprichosa e Mercy fez um trabalho esplêndido ao me fazer parecer uma garotinha de 15 anos com uma belíssima maquiagem. Não que eu precisasse de muito.

As gravações internas aconteceram no Main, mais precisamente na casa da minha personagem. Protagonizaríamos cenas divertidas, de carinho e amizade. Alguns mais que os outros, mas ainda assim, haveria. Chace e Blake fariam uma cena bastante divertida. Na cena, Serena estava completamente bêbada, enquanto Nate seria incumbido de cuidar dela e ajudar com o banho e a recuperação. Seria fofo, se não fosse o evidente clima que estava rolando entre os dois. Na série.

Depois de trocar algumas palavras com Margaret Colin, a atriz que fazia a minha mãe na série, caminhei para o outro cenário. Blake e Chace já estavam lá preparando-se para gravarmos a próxima cena. Caminhei devagar e escutei uma conversa que se assemelhava a uma discussão, então parei por um minuto para decidir se interferiria ou sairia de lá.

— Chace, não importa! Você não tem que ficar me mandando mensagens desse tipo. E se o Penn ver uma coisa dessas? Ele vai descobrir tudo...

— Se ele descobrir, dane-se. Quem não valoriza, perde.

Acho que o Chace inventou essa frase.

— E você é o cara que vai me valorizar, quando sabemos que eu sou apenas sua conquista da semana? Me poupe, Chace.

— Conquista da semana? Blake, olha pra você. Você não é e nunca será uma mera distração. Nós nos conhecemos há muito tempo e...

— E o que, Chace?

— Pensei que pudesse rolar de novo.

— Você só pode ter ficado louco. Nós não vamos transar de novo.

— Vocês trasaram? — Gritei, empurrando a porta com força, sem conter minha reação ao ouvir aquela atrocidade.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.