— Não, por favor! – Winter implora. – Eu estou com muita dor de cabeça.

— Isso se chama ressaca. – Eu então a puxo da cama. – Ninguém mandou você beber de mais ontem à noite. – Eu a acompanho até o banheiro. – Agora tome um banho e troque de roupa que eu te levo para a escola – Eu então vou para o quarto e começo a me arrumar.

— Tudo bem. – Ela concorda. – Ei! – Ela grita depois de alguns minutos de silêncio.

— O quê? – Pergunto.

— Como você é professor tendo quase a mesma idade que eu?

— Bom... Acontece que eu era muito poderoso e não fui aceito naquela escola, daí o Mikhael começou a me ensinar magia e quando ele assumiu a escola eu virei professor substituto.

— Interessante. – Ouvi o som do chuveiro parar. – E como vocês dois se conheceram?

— Nós estudávamos na mesma escola para humanos, mas por ser um ano mais novo e muito reservado, acabei nunca falando com ele. – Pude notar que ela saiu do banheiro. – Daí eu avancei um ano, fiquei na mesma turma que ele, ele me ajudou e viemos parar aqui.

— Ah. – Ela parecia decepcionada com a história.

— O que, não gostou?

— Esperava mais magia nessa história de amor.

— É, mas eu nunca fui de romances então...

— Então acho que passar um tempo comigo vai ser bom. – Saí do quarto e a encontrei completamente vestida. – Posso te ensinar uma coisinha ou outra... – Ela veio em minha direção.

— Como você se vestiu tão rápido? – Foi minha reação imediata.

— O que, você queria me ver nua? – Ela perguntou, fazendo uma expressão de espanto e eu então me toquei o quanto agi como um pervertido. – Deus, você devia ter se visto. – Ela riu. – Ficou tão vermelho tão rápido...

— É, bom, meu plano foi descoberto... – Brinquei.

— Parece que sou esperta demais para você. – Ela me lançou um olhar brincalhão.

— Mas então... – Comecei assim que saímos da casa e nos dirigimos ao carro. – Como você descobriu ser uma bruxa? – Abri a porta para ela

— Ora, que cavalheiro da sua parte... – Ela entrou e fechei a porta, me dirigindo até o outro lado. – Bom... Sabe o tal "Milagre de Madri?" Pois é, bom, eu estava lá quando aconteceu, e então decidi vir pra cá. Depois disso conheci o diretor Locke e uma coisa levou a outra.

— Posso contar um segredo que só eu e Mikhael sabemos?

— Por que não? Juro que não espalho.

— Não foi milagre.

—O quê? – Ela tentou entender ao que eu me referia.

—Todos sobreviverem àquela explosão, não foi milagre. – Eu então faço uma breve pausa. – O que aconteceu foi que eu e Mikhael estávamos um pouco irritados um com o outro, e ele pensou que fosse uma boa ideia salvar aquela cidade me jogando na bomba minutos antes dela explodir, para assim, eu absorver todo o impacto.

—Sério? – Ela pergunta surpresa, e eu confirmo com a cabeça. – Se isso é um pouco irritados, eu não quero saber o que aconteceria se vocês brigassem pra valer.

—Ah, nem queira. – Ela ri. – Até hoje minha mão queima

—Espera, o que? – Ela começa a rir mais alto.

—Chegamos! – Grito animadamente enquanto estacionava em frente à pequena porta de ferro que dava acesso ao apartamento de Sherlock e, protegido contra humanos, a maior escola de magia que já existiu, criada pelos meus avôs. Nós saímos do carro e atravessamos a porta, dando de cara com o enorme saguão principal e Suzi e Summer nos esperando irritadas.

—Onde vocês estavam? – Summer pergunta.

—Bom, vocês desocuparam a casa. – Winter pousa seu braço por cima de meus ombros e eu vejo Suzi corar.

—Bom, eu estava brincando. – Suzi, ainda avermelhada briga com nós dois – Eu não achei que vocês realmente... – Eu então dou um beijo discreto na bochecha de Winter.

—Ei! – Summer briga comigo. – Fique longe do rosto da minha Irmã! – Ela então puxa Winter para perto de si e a abraça como se não a visse a meses.

—Relaxa, é só brincadeira, na verdade sua irmã bebeu de mais e não queria acordar.

—A culpa não é minha se nós dois parecemos ter apenas dezesseis. – Winter diz se soltando do abraço da irmã e voltando para o meu lado. – Mas hoje você vai pegar sua carteira e provar para o recepcionista do motel que nós temos mais de dezoito.

—Eu adoraria... – Brinco.

—Mas você tem coisas importantes para fazer com sua irmã. – Ela completa. – Tudo bem, eu entendo. Afinal de contas... – Ela vai para o lado da irmã e empurra Suzi para o meu. – Somos nós e vocês nos mesmo time, não é? – O sinal para a primeira aula toca.

— O primeiro horário dos oito estrelas era com Mark Weston. – Suzi me olha discretamente me avisando que eu não ia me livrar dela e de Summer tão cedo.

—Tudo bem, vão subindo que eu já chego lá.

—Certo. – Winter vem em direção e me dá um beijo na bochecha. Depois de todos terem subido e ficar só, eu dou uma boa olhada ao redor.

—Eu não sei quem você é, mas eu sei que você está aí. – Sem sair do lugar digo para quem quer que estivesse me observando escondido no porão onde Mikhael tinha sido colocado quando Locke o raptou. – Quando você achar que já chega, sinta-se livre para sair e me dizer o motivo de estar me espionando desde o ataque. Talvez eu te perdoe. – Eu então subo as escadas e vou à sala dos professores, que, coincidentemente estava vazia. Eu rapidamente peguei os livros e me dirigi à sala dos oito estrelas.

—Bom dia, Thomas. – Winter diz ao me ver entrar.

—Aqui é senhor Ender. – Digo.

—Bom dia, senhor Ender! – Suzi diz.

—E pra você é Thomas. – Digo, apontando para Suzi.

Algum tempo depois.

—Thomas! – Mike entra desesperado na sala de aula.

—Ah, olá... – Começo

—Não temos tempo. – Ele me interrompe. - Venha aqui fora, rápido! – Ele ordena.

—Tudo bem. – Eu saio normalmente da sala acompanhados de todos os alunos.

Ao sair, me deparo com um homem alto, cabelo e olhos castanhos claros, uma franja curta, rosto arredondado, terno marrom e uma gravata borboleta vermelha flutuando à frente.

— O que você está fazendo aqui? – Pergunto, tendo apenas o silêncio como resposta. – Muito bem, parece que não foi tempo suficiente. Todos vocês, pra dentro, agora. – Ordeno, e logo em seguida todos os alunos que estavam fora de suas salas entram. – Os professores também! – Me dirijo à Mikhael – Saia com todos os alunos e professores da escola.

—Tudo bem! – Ele concorda. – Tirem seus alunos de sala e saiam pela porta dos fundos! – Ela corre pelo corredor ordenando a todos os professores.

—Agora... Que tal irmos para um local mais calmo enquanto aqui ainda está bagunçado? – O homem concorda com a cabeça.

Depois de algum tempo chegamos ao refeitório da escola, que estava vazio por motivos de evacuação.

—Muito bem... – Eu começo depois de alguns minutos de silêncio. – Vamos começar por nomes. Meu nome é Thomas Ender. – Ele reagiu de uma maneira estranha ao meu nome.

—Você pode me chamar de Professor. – Ele responde com uma voz séria.

—Mas esse não é seu nome. – Retruco. – Esse é seu título.

—Não. – Ele responde, mais uma vez com sua voz séria. – Há muito tempo atrás eu parei de usar meu nome verdadeiro. Era muito doloroso ouvi-lo, mesmo depois e me aposentar, toda vez que alguém queria falar comigo. Eu me lembrava.

—Quanto tempo? – Pergunto, um pouco interessado no homem.

—Doze mil e seiscentos e setenta e oito anos. – Ele reponde sem nem ao menos pensar.

—Impossível. A criação ocorreu há apenas trezentos e trinta e dois anos, é impossível você já ser tão velho. – Retruco

—Eu disse que foi há mais de um milhão de anos, não disse se era no passado ou no futuro, nem se era no de alguém específico. – Ele rebate minha afirmação, sem perder o rosto calmo de sempre.

—Muito bem... Era você que estava me observando? – Pergunto, me referindo à pessoa me seguindo desde quando eu, Mikhael, Bia e Suzi fomos atacados em uma colina escura o suficiente para não vermos quem ou o que estava nos atacando.

—Exato. – Ele confirma minha suspeita.

—E por quê?

—Por que vocês tinham uma pista, e iam vir atrás de mim. Eu quero que vocês parem.

—Por quê? – Perguntei. Mas dessa vez, não recebi uma resposta de uma voz calma como sempre. Dessa vez o homem partiu para a ofensiva e me atacou com uma espada prateada.

—Diga-me, Thomas... Ender – Ele se esforçou para dizer meu nome – quantos anos você tem agora?

—Cento e noventa e três. – Digo, me levantando e puxando minha espada.

—Muito bem. – Ele guarda a espada. – Então acho que não tem problema. – Ele junta as mãos e uma pequena esfera amarela aparece entre elas. Ele começa a separar a mãos e a pequena bolinha começa a se expandir. Antes que eu pudesse notar qualquer outra coisa, o home disparou a bola em forma de rajada em minha direção, destruindo boa parte da escola. Por sorte eu consegui me proteger, mas mesmo assim eu não aguentava mais. Minhas pernas cederam e eu caí no chão. Eu percebi que o homem estava se aproximando de mim, e eu logo imaginei que ele estava vindo dar o golpe de misericórdia com sua espada

—Quando você conseguir se levantar eu quero que você se junte a Mikhael, Bia, Mathias, Suzi, Charlie, Winter e Summer e que vocês vão atrás de mim. E quando vocês me encontrarem, eu espero que você não me desaponte e acabe com isso de uma vez. – Ele então vai embora.