Acordei com falta de ar. Havia alguma em meu rosto. E minha boca. E meu nariz. Azul.

Afastei o cabelo da garota de meu rosto e, ainda sonolento, comecei a procurar pelo relógio que ficava na mesa ao lado da cama. Não achei. Olhei para a cama. Winter estava deitada com seu rosto praticamente enterrado em meu peitoral, com seu cabelo agora jogado ao seu lado, me abraçando.

— Tommy? — Ela perguntou sonolenta, sem abrir os olhos.

— O quê? — Perguntei, tão sonolento quanto.

— Quanto tempo você acha que dormimos? — Ela começou a lentamente abrir os olhos

— Não faço a menor ideia. — Voltei a procurar o relógio, mesmo estando com muito sono para pensar que acharia ele naquela bagunça toda.

— Eu acho que foram uns dez minutos. — Ela se sentou devagar, esfregando um dos olhos com as costas da mão enquanto segurava o cobertor com a outra, se cobrindo.

Quando encontrei o relógio ele marcava 13:53, significando que eu estava quase atrasado, assim como Winter. Me levantei apressado e fui até meu guarda-roupas. Peguei a roupa que parecia mais adequada para dar uma aula e quando voltei a olhar para Winter ela não tinha movido mais que os olhos.

— Tem certeza que não quer ficar? Depois você repõe suas aulas…

— O Mike me mata se eu faltar… — Menti. Eu na verdade estava com medo de Suzi e Summer.

— Depois de tudo o que aconteceu ontem? Duvido. Já a Summer…

— Não tem nada a ver com ela, é que o Mike pode não ser a pessoa mais esperta do mundo, mas ele sabe somar 1+1, e não vai ser nada legal se ele decidir virar um professor de matemática. — Eu ainda não tinha realmente parado pra pensar em nada, mas chegando tão atrasados, teria problema com nossas gêmeas e com o Mike.

— É, você realmente exagerou um pouco… — Ela revelou uma mancha roxa em seu pescoço, que logo voltou a cobrir com seu cabelo, que agora estava mais para ciano que para azul safira.

— Falando nisso, também preciso esconder esse aqui. — Cobri um dos lados do meu pescoço com a mão. — E o que houve com seu cabelo? Eu tenho certeza que ele era mais azul até… você sabe...

— Sei lá, deve ser só impressão… — Ela disse, trazendo uma ponta de seu cabelo à frente de seus olhos. — Bom, eu estava pensando em cortar mesmo.

Saí do quarto e encontrei os dois copos e a garrafa sentados obedientemente sobre a mesa da sala. Sorri relembrando o começo da noite, e levei tudo até a cozinha, onde guardei a garrafa na geladeira e os copos na pia.

— O que tem pra comer? — Ela apareceu vestindo uma camisa social e uma calça bem folgadas, o cabelo preso e um par de óculos.

— Não temos tempo para isso. — Meus olhos se encontraram com os seus, estranhamente inocentes, e ficamos parados em silêncio, enquanto o resto da noite anterior voltava em minha mente.

— Seu braço… — Tentei esquecer e quebrar o gelo. — Ainda dói?

— Não, ele só coça um pouco. — Ela baixou a cabeça e saiu da cozinha, indo em direção à porta da frente.

Aparentemente, teria sido melhor não falar.

Olhei o relógio de novo: 14:02. Estávamos atrasados.

— Vamos. — Ela me chamou.

Peguei a chave e fui até a porta. Saímos e tranquei a casa enquanto ela chamava um táxi.

Acabamos os dois dormindo no caminho, porém, como a viagem era curta, nosso descanso não durou muito. Saímos lentamente do carro, ainda afetados pelo sono, e eu paguei.

Quando entramos, o lugar estava vazio. Muito vazio. Os alunos faziam uma falta enorme no lugar.

O hall da escola era enorme, com bancos por vários cantos, um balcão de entregas, dois corredores, um de cada lado, e a enorme escadaria, com uma porta atrás da base e mais uma elevação que a dividia em duas lá em cima, apenas pela estética.

Quando Winter e eu terminamos de subir a escada, ela me prende contra aquela elevação, onde estaríamos um pouco mais escondidos, e foi aproximando seu rosto do meu.

— Já que provavelmente não nos veremos tão cedo hoje. — Ela disse, enquanto se aproximava.

— Que bonitinho… — Ouvi alguém acima de nós. — Ah, o amor adolescente… — Mike pulou por cima da cerca da plataforma, caindo entre nós dois.

— O-oi, Mikhael… — Gaguejei, nervoso.

— Diretor Mikhael, como vai? — Winter estava ainda mais nervosa.

— Nossa, o que tá acontecendo com vocês? Parecem tão assustados…

— Deve ser só impressão sua, diretor…

— Ei, relaxe Winter, eu… bom, eu não aceito nem aprovo isso, mas não é como se meu relacionamento com Bia fosse muito diferente… quer dizer, ninguém sabe de nada além de vocês dois, Mathias, Suzi e Summer, mas tirando isso…

— Acho que eu já entendi…

— Ao contrário de vocês, que toda a escola está especulando depois daquele seu — Ele se direcionou a mim — showzinho no hospital. E, bem, além de se exporem assim, vocês se atrasaram bastante, então acho que isso só deixa tudo bem mais complicado.

— Desculpa, eu juro que não vai acontecer de novo, é que... — Tentei me justificar, mas ele me interrompeu:

— Eu sei muito bem o que aconteceu. — Ele tinha um olhar extremamente sério em seu rosto. — Será que podemos conversar, os três, na minha sala?

A sala que Mike tinha ganhado como substituto de Locke era impressionantemente limpa. E branca. E organizada.

— De quem você roubou isso mesmo? — Perguntei, estranhando aquilo.

— Na verdade, você quem me deu depois de matar o antigo dono, então eu não roubei de ninguém.

— Tecnicamente. — Soltei sem querer.

— Sério isso? — Ele disse, após um tempo de silêncio. — Vamos voltar a esse assunto da montanha?

Ri. Ele lembrou.

— Não, não, eu falei sem querer. Juro.

Ele sentou em uma cadeira atrás de sua mesa, e eu e Winter sentamos do outro lado.

— O que é o “assunto da montanha”? — Winter perguntou, provavelmente tentando quebrar a tensão.

— Ah, nem queira saber. — Disse, e Mike tremeu. Deve ter lembrado dos detalhes. — Isso não é o tipo de história para se contar em um dia como esses. Eu ainda não sei como alguém pode ser tão descuidado… — Murmurei.

— Tá, será que podemos sair desse assunto!? — Mike perguntou, um pouco exaltado.

— Sim, por favor. E como vai a Bia?

— Eu já tenho um assunto em mente, Thomas. — Ele disse, e Winter pareceu um pouco desconfortável, já que ambos sabíamos qual era o tema. — Então… ontem, nós não pudemos realmente esclarecer o que está acontecendo entre vocês dois, por causa da… cê sabe…

— Sim, eu sei. Aliás, eu e Winter passamos a madrugada inteira discutindo isso, então já sabemos o que é… — Olhei para ela e travei. Por que isso estava acontecendo comigo!?

— Ah, é mesmo? E então, o que é isso? — Silêncio. Meus olhos estavam presos nos de Winter, mas não por causa da pergunta.

Pela primeira vez na vida, tinha que admitir: Deus fez um ótimo trabalho. Quer dizer, como alguém tão maravilhosa poderia existir? Estávamos os dois morrendo de sono, e mesmo assim, seus olhos… apenas uma rápida olhada, e eu me senti purificado e, ao mesmo tempo, preso àqueles lindos olhos, grandes e brilhantes, dando a ela uma aparência tão inocente, contrastando inteiramente com a “verdadeira” Winter. Era tão estranho pensar nisso…

Não! O que está acontecendo comigo? Esse não sou eu…

— Olá? Vocês estão vivos? — Mike perguntou, me livrando daquele meu “eu”.

— Sim, é que… como eu disse, nós passamos a noite inteira conversando…

— Como se isso fosse um problema pra você — Ele então se direcionou a Winter — É meio raro ver ele dormindo de noite, mas normalmente quando dorme… da última vez eu tive que…

— A montanha, Mike! — Interrompi-o.

Winter apenas me olhou, confusa. Ela não estava muito falatória hoje…

— Enfim, nós decidimos que… o que nós temos é sério, sim. — Disse com firmeza.

— Bem, eu honestamente não sei como reagir a isso. — Ele disse, após alguns segundos de silêncio.

— O que você quer dizer?

— Os outros professores me questionaram sobre isso. Eles viram o que aconteceu no hospital, e… bem, hoje quando cheguei, Miriam e Andy me perguntaram sobre isso, e eu disse que ia falar com vocês… acontece que eu esperava que vocês ainda não tivessem resolvido, assim vocês passariam a aula toda discutindo e eu daria um jeito de ou separá-los, — Nesse momento olhei para Winter, e a vi tremer um pouco. — ou garantir que vocês se evitariam, ao menos aqui.

— Mas… — Winter começou, e calou-se.

— De qualquer forma, se vocês pretendem assumir isso como sério, vamos ter alguns…

— Opa, opa, espera aí, calma. — Interrompi-o. — “assumir”? Quem falou em assumir? Você pretende assumir alguma coisa, Winter?

— Até parece, isso só ia dar problemas.

— Mas… você não disse que era algo sério?

— Mas eu não disse que ia espalhar isso por aí, vamos manter isso entre nós, que nem você e a Bia.

Silêncio.

Durante um bom tempo, Mike ficou nos olhando como se fosse algo super difícil de entender, até que por fim disse:

— Bom, já que é assim, acho que podemos encerrar por aqui. — Eu me levantei pra sair, mas ele me impediu: — Aonde você pensa que vai?

— Sair? Já esclarecemos isso, então agora vou dar minha aula.

— Não, não vai. Eu disse a eles que ia manter vocês aqui até estar tudo resolvido, e chutei mais ou menos uma hora... Se vocês sairem assim em vinte minutos, vai ser, no mínimo, estranho.

— Então nós só vamos ficar aqui por quarenta minutos sem fazer nada, enquanto ela e meus alunos perdem aula ?

— Você não tem aula nesse horário, e não faria mal Winter faltar uma única aula no ano.

— Tá, mas o que vamos fazer durante esses quarenta minutos?

— Ah, essa eu sei! — Mike disse, animado como uma criança com um brinquedo novo. Isso ia ser bom. — Quem quer ouvir histórias antigas e constrangedoras sobre o Thomas!? — Ele disse, e Winter acabou também se animando com a ideia. Até pouco, era como se ela estivesse com medo de Mike, mas agora ela estava tão alegre… Ela sorria de um jeito tão bonito…

Deus, quero que saiba que acertou em cheio quando fez essa garota.

O que há de errado comigo?

De qualquer forma, o importante é que aqueles foram os quarenta minutos mais longos da minha vida.

Os três assuntos principais foram: minha rixa com o André (o garoto que me espancou no primeiro dia de aula no terceiro ano) e “todas as vezes que ele me salvou”; Nossas apostas e brigas um com o outro; e os foras que eu levei (todos eles cumprindo nossas apostas).

Além disso, enquanto eu pensava em uma forma de acabar cada assunto, acabei percebendo: as pessoas iriam perguntar porque eu estava com Winter naquele dia, então precisávamos combinar uma história. Quando terminamos de montar a história, decidimos que tínhamos que contar a Bia, Suzi e Summer o mais rápido possível.

Quando (finalmente) acabou o tempo, nós fomos sair da sala e Mike nos deu um último aviso:

— É melhor vocês começarem a se evitar um pouco, especialmente perto da Miriam e do Andy. Eles foram os primeiros a perguntar sobre vocês quando eu cheguei, suspeito que eles vão prestar mais atenção que os outros. Eu também não gosto de pensar nessa hipótese, mas talvez… talvez Miriam esteja querendo algo com Thomas também. Quanto a Andy… ele é o que mais me preocupa, pois se os motivos dele forem os mesmos da Miriam, devemos torcer que o Thomas seja encantador o suficiente pra ele, ou vamos ter um grande problema. — Ele então disse algo mais baixo, que tive um pouco de dificuldade de ouvir, mas consegui: — Dois professores gostando de uma mesma aluna… sinceramente...

Fechei a porta atrás de nós e observei os professores trocando de sala.

Eu entendi o que Mike quis dizer. Eu nunca prestei muita atenção, mas Miriam sempre me olhou de um jeito… diferente… não era como o olhar de Winter, mas já me peguei flertando com ela uma ou duas vezes, mesmo sem intenção.

— Thomas? — A garota em minha frente agora usava um longo vestido amarelo e um par de óculos. Era o mesmo vestido do primeiro dia… ela fica tão fofa nele… — Então… nós não vamos nos ver até o final do dia…

— É… uma pena… — Concordei, realmente triste.

— É melhor você tomar cuidado com essa Miriam, ouviu bem? — Ela disse, em tom de brincadeira.

— Sim, senhora. — Respondi no mesmo tom. Eu não queria passar o resto do dia sem ver ela…

Então, fiz uma coisa que não sei se surpreendeu mais ela ou Mike: aproveitei que os corredores estavam vazios e dei o beijo que Mike impediu mais cedo.

Agarrei-a firmemente e, para não arriscar que alguém saísse de sala e nos visse, abri a porta pro escritório de Mike, trazendo ela para dentro comigo e a colocando contra a porta assim que se fechou.

— Ei, o que vocês pensam que estão fazendo!? — Ele gritou ao fundo, mas eu não liguei. Estava muito distraído para ligar. Muito ocupado. Ocupado com aquele beijo apaixonado daquela garota que tanto mexia com minha cabeça.

Infelizmente, aquilo não durou muito. Mike logo nos separou e colocou um pouco de ordem na minha cabeça. Além disso, eu a partir de hoje teria uma aula a menos na turma dos oito estrelas.

Quando ele acabou o sermão, nos acompanhou até a turma de Winter e depois me levou até a sala dos professores e à sala em que teria aula agora, dos quatro estrelas.

Quatro estrelas. Era a turma mais fraca aceita na escola. Eu já podia até imaginar como seria…

— Só mais uma coisa — Mike disse antes de abrir a porta, e tirou um pequeno dispositivo do bolso, encostou o dedo nele e em seguida na mancha roxa em meu pescoço. — Isso tem me incomodado desde que vocês entraram na minha sala. Você realmente pretendia passar o resto do dia sem esconder?

— Eu já tinha até me esquecido disso… — coloquei minha mão por cima quando ele tirou o dedo, finalmente entendendo que aquilo era um filtro de percepção. O sono ainda estava me afetando.

— Te vejo por aí. — Ele guardou o filtro no bolso e se virou.

— Ei, Mike… — Chamei, e ele me olhou por cima dos ombros. — Obrigado. — Ele não respondeu, mas pude perceber um leve sorriso irônico.

Por fim, abri a porta para a sala atrás de mim, e só então me veio a dúvida:

“Por que Mike anda com aquele filtro por aí?”

Não importa, eu agora tenho que dar minha aula.

Foi uma aula longa e tediosa. Talvez não para os alunos, mas eu não conseguia para de pensar em tudo que estava acontecendo naquele momento: Winter, Suzi, Mike… era como se eu estivesse reconstruindo laços, o que era estranho, já que o único com quem eu já tinha laços formados era Mike, e nós agora estávamos nos re-aproximando, mas Suzi e Winter… elas são praticamente desconhecidas, e mesmo assim, já somos tão próximos… talvez Suzi tenha algo a ver com Lyn, minha irmã adotiva, mas não o suficiente. E também, quanto a Winter… tudo que ela me fazia sentir… eu estava tão diferente… só de pensar nela, corei o suficiente para um aluno notar enquanto estava de costas. O que eu fiz pra merecer toda essa felicidade repentina? E se tudo isso for apenas para eu voltar a confiar nas pessoas e então ser traído de novo? E se for apenas a história se repetindo?

De uma coisa eu tenho certeza: se tudo isso for apenas para alguém me trair de novo… não sei se vou sobreviver dessa vez.

Três aulas depois, começou o intervalo dos alunos. Eu precisava vê-la, mas já tinha perdido três dias de pesquisa… mas, quem sabe elas não estão juntas? E também não ia parecer suspeito, já que eu e Suzi íamos à biblioteca todo dia há quase uma semana. Se me encontrasse com Winter no caminho, seria como uma coincidência…

Estava tão distraído com esse pensamento que acabei não notando quando Miriam se sentou na minha frente e todos os professores se afastaram, indo para um canto da sala dos professores.

— Em que você está pensando? — Ela disse, me tirando de meus pensamentos.

— N-não é nada… — Disse, sem saber o que responder. Não podia dizer que estava pensando em Winter, especialmente pra ela.

Quando ela foi responder, eu entendi o que estava acontecendo: lembrei de quando ainda era um simples humano, muitos alunos faziam isso quando iam se declarar. Esses professores voltaram à quinta série?

— Pois eu aposto que adivinho em quê. — Ela disse.

— Nah… acho difícil.

— Soube que o diretor chamou você e uma aluna na sala dele… — Ela olhava para sua mão, que brincava com um pequeno pedaço de papel rabiscado. — O que houve lá?

— Ah, nada demais… ele só queria saber sobre o que aconteceu no hospital. — Disse. Por que ela está enrolando tanto? Segundo Mike, ela e Andy, professor de sobrevivência no mundo humano (ou algo do tipo), foram os primeiros a perguntar sobre isso, então devem saber o que houve.

— Um outro rumor diz que você e o diretor já eram próximos antes de começarem aqui…

— Bem, esse é um jeito de dizer...

— E ele não estava lá no hospital?

— Ele estava, mas… sei lá, ele deve ter aproveitado a multidão para ir embora. — Disse, e me lembrei que não sabia como eles todos tinham escapado de lá. Tinha que lembrar de perguntar depois, Winter podia ter morrido por estarmos sozinhos.

— Belo amigo, hein? — Ela disse em um tom irônico — Mas e quanto à garota? Quem era ela?

“O que é isso, prova surpresa?”

— Winter? É uma amiga de mi… — Quase deixei escapar. Não era pra ela saber sobre eu e Suzi. — Amiga de Suzi, que é amiga de uma parente do diretor.

Ela demorou um ou dois segundos para processar aquela informação, e então fez mais uma pergunta:

— E por que ela, uma desconhecida pra você, ficou, e seu “amigo próximo” não?

— Na verdade, minha relação com Mike é meio… complicada… a gente está meio que se re-aproximando… — Tentei desviar da pergunta, mas não consegui:

— Ah… mas mesmo assim, por que ela ficou?

— Bom, com certeza não foi por que ela quis. Eu encontrei ela na saída, como refém dos Mages. Não sei como, mas eles descobriram que ela também era uma bruxa. No final, ela acabou servindo de saco de pancadas pra um ou dois deles enquanto eu matava os outros, então ela acabou ajudando.

— E o que você acha dela?

“Ótimo. Quer saber? Vou me jogar em cima de um outro grupo de Mages, deve ser melhor.”

Fiquei uns bons cinco minutos calado, pensando muito bem no que dizer, até finalmente dizer:

— Eu não sei, eu… ela parece ser uma boa garota, bonitinha… mas não sei, ela é muito nova, muito fraca.

Essa com certeza é uma das maiores mentiras que já conteiEla pode não ser nenhuma Mary da vida, mas duvido que seja fraca, apenas… lhe falta experiência. E bonitinha? Santo Deus, acho que nunca vi uma pessoa tão bonita em toda a minha vida. Quanto a boa garota… bem, posso dizer com certeza que ela não é.”

O sinal indicando o fim do intervalo dos alunos tocou, e fiquei decepcionado por nem ao menos ter tido a chance de “acidentalmente” encontrar Winter. Por outro lado, todo aquele questionário finalmente teria um fim.

Miriam se levantou quase que automaticamente, provavelmente por hábito, e foi pegar os livros para sua próxima aula, assim como outros três professores.

Minha próxima aula era apenas em duas horas, então nem me preocupei.

Andy entrou na sala, se desculpando pelo atraso. Disse que estava conversando com uma aluna, e depois fez como os outros professores que teriam uma aula agora.

Pouco depois que aqueles professores saíram, me surgiu uma dúvida: e se a aluna com quem Andy estava falando era Winter? Será que ela passou por um questionário parecido que aquele? Eu tenho que saber.

Fui andando até a sala dos oito estrelas, enquanto pensava em uma forma de falar com Winter sem que parecesse suspeito.

Infelizmente, os corredores não eram longos o suficiente.

Por sorte, encontrei Mike no caminho. Ele estava subindo as escadas para sua sala, e eu fui atrás dele. Expliquei pra ele a situação, e ele pareceu um pouco irritado:

— Você tem certeza disso, Thomas? Se for isso mesmo, vamos precisar de provas, ou as pessoas vão começar a estranhar.

— É exatamente por isso que eu quero falar com ela.

— Tudo bem, espere aqui. — Ele disse, me empurrando contra uma parede com uma mão e abrindo a porta com a outra. — Winter, podemos conversar um minutinho?

Em pouco tempo, a garota estava do lado de fora da sala, e Mike fechou a porta. Ela parecia curiosa…

— O que foi que houve?

— Winter, em algum momento o Andy apareceu pra falar com você?

— Sim, por quê?

Nós explicamos toda a situação pra ela, e ela disse que ele também tinha feito umas perguntas a ela e que ela respondeu seguindo nossa história. Mike disse mais uma vez que teríamos que nos cuidar, e tivemos que concordar que não poderíamos mais nos ver tão frequentemente, e seria bom sempre termos um pretexto pra isso. Decidimos todos os detalhes e Winter voltou para a sala, mas não sem antes fazer uma última observação:

— Pelo menos falta só uma semana até a formatura…

Fiquei na sala de Mike, conversando com ele, até minha próxima aula. O resto do dia foi normal, e no final eu voltei com Suzi pra casa. Conversamos sobre como seria depois que elas se formassem. Chegando em casa, me lembrei do papel que Miriam me deu, e finalmente o li:

Hoje saio uma hora mais cedo, que tal sairmos pra beber algo?

—M

Tinha também um número de telefone, mas não dei muita atenção. Entrei no meu quarto, e Suzi me chamou. Fui até ela, que estava em seu quarto, e ela apontou para um terno em sua cama, com um bilhete em cima:

— Alguém esteve aqui.

Era outro bilhete para mim, mas dessa vez era mais elaborado:

Thomas,

Sei sobre o que está acontecendo, e sei que só vai piorar. Nos próximos dias, vão acontecer coisas com as quais você pode não conseguir lidar, mas saiba que sempre vai haver alguém disposto a te ajudar. Tome cuidado, e proteja a garota como eu não consegui proteger a minha.

Ah, decidi também te dar um pequeno descanso e consegui adiar seu encontro com o ministro. Vocês não conseguiriam chegar lá do mesmo jeito…

De qualquer forma, boa sorte. Te vejo por aí, garoto.

—P

— De quem você acha que é isso? — Ela perguntou.

— Não faço a menor ideia… — Menti. A letra, a forma de falar, e na assinatura apenas um “P”. Só podia ser uma pessoa.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.