Sou um ser invisivel, o retorno.

Pô, mãe, assim a senhora acaba comigo...


Ensaio 1

— Isso não está certo — pensou Barbosa, enquanto lê o PADD em que está o cerimonial de desembarque da Voyager, mais uma vez vai ter que tomar uma iniciativa duvidosa. Ele tem que achar o tenente Ayala, que está substituindo o Sr.Tuvok como chefe de segurança, pois este foi transferido para uma nave Vulcana para chegar em sua casa o mais rápido possível por algum motivo misterioso.

Bob se esquiva dos tripulantes foliões, que estão festejando primeiramente no refeitório depois em todos o holodecks que estão funcionando. Para a comemoração do retorno ao lar, apenas uma tripulação esqueleto está trabalhando.

Ele encontra o Tenente Ayala, conversando com Noah Lessing e Paris no corredor.

— Tenente, o senhor pode me dá um momento por favor?

Paris levantou a taça de champanhe e falou..

— Vamos, Bob, é uma festa. O porquê da formalidade? Relaxa um pouco, estamos em casa.

— Terei tempo para festejar depois, agora tenho que conversar com tenente Ayala. Acho que está havendo uma falha de segurança, senhor.

— Fale Bob, mas por favor é uma festa deixe as formalidades pra lá…pode falar aqui?

Barbosa olhou em volta, e percebeu que todos que estavam ali amavam a capitã, de um jeito ou de outro.

— Tudo bem. — Ele respirou um pouco, tentando se manter calmo. — Olhe o cerimonial de desembarque, você não acha que a capitã ficará muito exposta? Não é porque estamos na terra que devemos baixar a guarda, afinal ela pode ter inimigos que não concordam com que ela fez — ele disse mostrando todos na roda de conversa, um ex-presidiário, um-ex terrorista maqui, um ex-genocida do Equinox, e ele um oficial da frota.

— Mas foi o comandante que fez o cerimonial e a ordem da desembarque, mudar isso pode ser um problema.

— Só fale para ele que acha melhor que ela, ao invés de desembarcar sozinha, seja escoltada por um oficial de segurança. A guerra provou que a Terra não é tão segura assim…

Paris olhou para Barbosa e deu um sorriso maldoso.

— Quando o gato sai os ratos fazem a festa…

Ayala sorriu e entendeu o que Paris estava falando olhou para Barbosa, e disse:

— E você quer escoltar a capitã?.

Barbosa viu que foi pego na sua artimanha, e deixou entornar o caldo de vez.

— Quer saber? Quero sim...não podemos nos descuidar só porque estamos na Terra.

— Detesto falar isso, mas tenho que concordar com o Barbosa. Não está certo que a capitã desembarque sozinha pode ser perigoso — disse Noah.

— Bem eu sou o responsável pela segurança por aqui, melhor ter zelo excessivo do que ser negligente; vamos fazer.

Barbosa agradeceu e saiu em direção a festa visivelmente aliviado, Noah resolveu acompanhá-lo. Ayala tomou mais um gole de sua bebida e desabafou:

— Não queria falar nada na frente do Barbosa, mas eu estava pensando a mesma coisa, eu acho estranho o Chefe ficar tão distraído com um romance a ponto de negligenciar seu trabalho.

— Fala sério Greg! Estamos falando de Sete que homem não ia se distrair com uma mulher como ela?.

— Quer saber Tom, se minha mulher não estivesse lá embaixo com meus filhos, eu que estaria do lado da capitã. Se eu apenas soubesse que o Chefe não a queria mais…

— Pelo jeito, Bob não tem os mesmos escrúpulos que você. Sabia que desde Quarra ele pratica Brazilian Jiu-Jitsu, todas as quartas feiras, junto com a capitã?

— Que ele pratica eu sei. Mas você está enganado, as quartas feiras a capitã tem seu jantar semanal, com o Comandante

— Antes de Quarra, talvez, mas depois. Eu mesmo ouvi o comandante recusando o convite da capitã, acho que o Bob aproveitou a oportunidade, já que Chakotay saiu de cena.

— Quer saber — disse Greg pegando outra bebida de alguém com uma bandeja.- Admiro a ousadia do rapaz, desejo-lhe sorte.

— Bebamos a isso!

Ensaio 2

Barbosa arrumou o cachecol, que parecia inútil, as últimas semanas no calor nordestino o havia desacostumado ao frio de São Francisco.

Na mão esquerda um pacote, que ele devia entregar pessoalmente a capitã. A mãe de Barbosa, uma talentosa bióloga marinha, tinha aprendido com sua avó a arte ancestral de fazer renda nordestina. Era como uma terapia, durante meses ela se dedicou a fazer esse vestido.



Naquele dia pela manhã.

— Mãe, como vou dizer isso a um almirante? Que a senhora fez uma promessa a uma deusa do mar e ela que tem que pagar? Você quer acabar com minha carreira e com o pouco de respeito que ela tem por mim?

— Pelo menos tente meu filho. Se ela é a metade da mulher que você me falou nas cartas, vai entender os desejos de uma mãe doente de saudades. Eu preciso disso para seguir em frente, preciso cumprir minha promessa.

Barbosa olhou para mãe, uma cientista renomada mas que desde a morte de seu irmão na guerra está num poço de dor e escuridão. Ele não acha que conseguiria convencer a almirante mas, sua mãe tem que pelo menos saber que ele tentou.

— Se ela não tiver em nenhuma festa de réveillon, leve-a a praia de Pirambúzios...é muito importante pra mim meu filho.

Ele balançou a cabeça em desgosto. Mas, pelo menos, agora ele tinha uma desculpa para vê-la. Pelo que averiguou, a mãe da capitã foi para Marte com sua outra filha, depois do Natal, e Janeway ficou na terra. Ela recusou o convite da família Paris e da família Hansen, onde Chakotay e Sete estavam, ela iria ficar sozinha?

Não se dependesse dele, tinha uma promessa a cumprir.

Ainda no meio do caminho ele a viu, caminhando voltando para casa. Ele a chamou e teve a impressão que viu lágrimas, que ela rapidamente limpou com a manga do casaco.

— Ah! Capitã. — Ele se aprumou em posição de sentido - Quer dizer Almirante, desculpe a ousadia, mas, teria um momento? Preciso muito de sua ajuda.

Um novo brilho se formou nos olhos de Janeway, pois ela sempre estaria disposta a ajudar um dos seus tripulantes, e isso faria ela esquecer por um tempo os próprios problemas.

— Tenente Barbosa, a vontade, mas você não devia estar com sua família? Um vento gelado passou de repente e ele tremeu, ela ficou com pena. — Vamos entrar, não devemos ficar conversando aqui no frio,

Entraram e ela se serviu de uma xícara quente de café e ofereceu outra para Barbosa. Ela saboreou o líquido amargo com tanta sensualidade que, por um segundo, Barbosa esquecera o porquê estava ali, será que ela tinha idéia o quanto isso alimentava a fantasia de alguns tripulantes?

Ela fez um sinal para ele continuar, com impaciência.

— É minha mãe, Doutora Vargas, ela me mandou lhe dar isso. E me fez prometer que iria te levar a nossa festa de Réveillon.

A capitã abriu o pacote e viu com espanto o lindo vestido branco de renda.

— Obrigada pelo presente, não quero ser indelicada, mas prefiro ficar aqui mesmo. Tenho muito trabalho atrasado.

— Eu imaginei, mas esse vestido tem uma história, que a senhora tem que saber. — Ele respirou, pedindo força a um deus que ele nem acreditava e continuou. — Eu sou filho do primeiro casamento de minha mãe, ela se divorciou e casou-se com um sociólogo, o professor Vargas, eles me deram dois irmãos a Clara e Eduardo. Clara sempre foi a princesinha do papai, acabou se tornando professora, mas eu e Eduardo, nós éramos muito unidos. No ano que me formei ele entrou na academia, ambos orgulhosos de fazer parte das fileiras da frota estelar. — Os olhos de Barbosa começaram a brilhar e uma lágrima caiu sem ele perceber. Ela colocou a xícara na mesa se ajoelhou em frente ao rapaz , segurou-lhe as mãos e fez um sinal o encorajando a continuar.

— Vargas, como o povo o chamava, serviu durante a Guerra do Domínio. Ele Foi designado para AR-558, um planeta que a Aliança da Federação havia capturado do Dominion, deviam proteger a matriz de comunicação do planeta.

Ele começou a chorar agora descaradamente, ela sentou-se ao lado dele colocou os braços em volta de seus ombros, quando conseguiu se acalmar um pouco continuou.

— Eles ficaram 5 meses lutando contra os Jem’Hadares, chegaram em 150 e nem 10 voltaram, ele morreu em ação defendendo a matriz. Isso foi em 75, minha mãe tinha um filho no QD que ela nem sabia que iria ver de novo e uma caixa com medalhas para enterrar no lugar de seu filho, que morreu em ação.

Janeway nem percebeu que estava chorando, a Guerra foi brutal, quase todas as famílias da Terra tinham um conhecido ou parente que morreu ou foi prejudicado por essa guerra.

Barbosa respirou fundo e continuou.

— Sei que pode parecer bobagem, mas minha mãe é apaixonada pelo mar e é devota de Iemanjá. Ela achou que o fato do capitão da Voyager ser uma mulher era um sinal, então foi até o mar e fez uma promessa de fazer esse vestido para minha capitã. Pois para ela você era como Iemanjá protegendo os pescadores, marinheiros e cientistas marinho, afinal você tinha um navio. E quando eu voltasse em segurança, a capitã vestida com esse vestido ofertaria flores a Iemanjá no réveillon.

O rosto de Janeway ficou pálido, ela não sabia o que fazer com tudo isso, não ousou falar nada e ele continuou.

— Eu expliquei para ela que a senhora é uma almirante, uma cientista, que não acredita nessas bobagens espirituais primitivas. Nunca um cara como eu ia conseguir fazer uma mulher, de linhagem nobre, um almirante da frota condecorado pular sete ondas e ficar jogando flores ao mar. Se ela estava com problemas para sair do luto, que procurasse um conselheiro, mas ela insistiu, ela não está bem, só por essa história dá para notar que ela está alucinando.

— Tudo que tenho que fazer para ajudar sua mãe a seguir em frente após a morte de seu irmão é me vestir com esse vestido branco, ir descalça até a praia e jogar flores ao mar, pulando sete ondas?

Barbosa deu um pulo do sofá, ajeitou a roupa e disse:

— Ridículo, eu só não sei como encarar minha mãe. Até amanhã eu invento uma desculpa…

Ela levantou junto, pegou o pacote de sua mão e correu em direção ao quarto, saindo em minutos toda de branco, naquele lindo vestido de renda.

— Fuso horário? Quatro horas de diferença, não é isso?

— Sim, ainda temos tempo. Mas, senhora vai fazer esse sacrifício, por minha mãe?

Ela sorriu de um jeito que ele ainda não tinha visto.

— Consolar o coração de uma mãe que perdeu o filho na guerra, é uma honra.

Ele ficou chocado, estava tão feliz que perdeu a noção das linhas, aparências e convenções e a abraçou, e continuou agradecendo. De repente estava beijando suas mãos. Janeway assistia tudo emocionada e incapaz de dizer algo que poderia quebrar tal felicidade, era refrescante depois de tanta tristeza, incertezas e solidão ter alguém assim tão honestamente feliz. Mas, de repente ele apertou seus lábios nos dela e lembrou da Almirante, ela não se afastou, ele continuou o beijo por alguns minutos se afastando e olhando para o chão.

— Desculpe, eu... eu. Olha eu não vou me desculpar quero te beijar a anos, mas acho que de repente me aproveitei, não fique brava por favor! Eu vou me comportar. — Ele levantou a cabeça e olhando a capitã, não viu sinal de raiva ou ofensa em seus olhos, só algo que parecia diversão, e tomando a coragem que ultimamente estava lhe sobrando completou, — A não ser que meu capitão queira que eu não me comporte… — Ele a abraçou de novo, e nos seus braços ela falou

— É admirável você se arriscar por sua mãe, tão fofo. -- E desta vez ela que o beijou.



http://memory-alpha.wikia.com/wiki/Vargas

assista esse episódio e conheça o irmão do Barbosa

( DS9 : " The Siege of AR-558 ") temporada 7 X episodio 8 tem no netflix,

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.