Sos, presente!

Come and dance with me


KILE

Estava posicionado na lateral do salão de festas há 15 minutos com Osten, Kaden e tio Maxon, enquanto Ahren esperava ao lado das altíssimas portas de madeira.

Eu podia sentir minhas mãos tremendo e tinha quase certeza de que estava suando frio, cada segundo passado era um motivo para aumentar minha aflição, não só pela valsa com a Eadlyn, mas também pelo presente, em breve, a festa acabaria e eu colocaria o resto do meu plano em ação.

- Ei, Kile! – disse Osten puxando o mais discretamente que podia a manga do meu terno. –Tudo bem? Você está meio branco...

Ri baixinho numa tentativa (falha) de disfarçar meu nervosismo.

- Ela está demorando muito.

Osten franziu as sobrancelhas e olhou para o seu relógio, ligeiramente grande para seu pulso infantil, provavelmente era mais uma coisa que Ahren tinha perdido para ele numa aposta.

- Ela está só 5 minutos atrasada!

- Jura?

Em resposta, ele estendeu o pulso para que eu mesmo pudesse checar o horário e constatar que, de fato, Eadlyn só estava atrasada 5 minutos.

- Nervoso? – disse em Osten tentando conter uma risada diante de minha cara de perplexidade.

Passei uma das mãos pelo cabelo e suspirei, deixando a tensão aparecer por poucos segundos.

- Um pouco...

Ele abriu a boca para responder, mas, antes que falasse alguma coisa, os instrumentos de sopro entoaram a marcha da família real, era a deixa para o início da valsa.

Então, as enormes portas duplas do salão abriram-se, e eu tive que fazer um certo esforço para lembrar-me de respirar, Eadlyn estava simplesmente deslumbrante, não teria conseguido desviar meu olhar dela se quisesse e eu não queria.

Ahren tomou-a pela mão e a conduziu até o centro do salão para que valsassem, a marcha real cessou e uma melodia clássica e leve a substitiu, essa era a deixa para os gêmeos começarem a valsar.

Eu mal conseguia ouvir a música de tão alto que meu coração batia, Eadlyn estava linda, usava um vestido dourado longo com renda e todo bordado, cada giro que ela dava era como se ela própria fosse toda feita de luz; seus lindos cabelos castanhos estavam parcialmente soltos, ornamentados apenas pela bela e delicada coroa que eu sabia ser a sua favorita; porém, sua joia mais bonita naquela noite era o seu sorriso. Singelo, bonito, misterioso e arrebatador.

Uma leve pausa da banda e uma onda de aplausos trouxeram-me novamente à realidade, tio Maxon e tia Meri dirigiram-se aos gêmeos e novamente valsaram, os quatro rodopiaram pelo salão em perfeita sincronia, fazendo passos complexos parecerem simples e trocando algumas vezes de par para que o casal real também dançasse entre si.

A música mudou novamente e Kaden aproximou-se de Eadlyn, tirando-a dos braços do pai que se voltou para dançar com sua esposa. Usualmente, Ahren chamaria sua tia May para dança, mas, para surpresa de todos e contentamento eterno da minha irmã, ele estendeu sua mão para Josie, fazendo-a enrubescer antes de aceitar o convite para dançar.

Agora, três casais dançavam pelo salão e Osten era a única pessoa além de mim que esperava para dançar.

- Osten, - sussurrei – por que Ahren chamou Josie para valsar?

- Espere e olhe, - ele respondeu no mesmo tom e olhou para mim antes de continuar – foi ideia minha.

Olhei para frente e vi Ahren rodopiar Josie para perto de Kaden e Eadlyn, fazendo com que eles trocassem de par, Ahren agora dançava novamente com Eadlyn, que se segurava para não rir, e Kaden dançava com Josie, ambos surpresos e com as bochechas coradas de vergonha.

Então, novamente a música foi trocada, Kaden e Josie, assim como tia Meri e tio Maxon, sentaram-se, Osten sussurrou-me um “boa sorte” antes de correr até Eadlyn e tirá-las das mãos de Ahren que dessa vez seguiu o protocolo e convidou madame May para dançar.

Enquanto isso, eu ficava cada vez mais tenso e nervoso, tinha sido ensinado a dançar pouco depois de ter aprendido a andar, mas mesmo assim sentia como se fosse errar cada passo e estragar a valsa, cada nota da música parecia ser a última e cada passo dos casais fazia meu coração falhar uma batida.

Até que a música, de fato, acabou, era minha vez. Andei até Eadlyn o mais descontraído que pude – o que não era muito, considerando meu nervosismo – e fiz uma reverência, Eadlyn também fez um leve cumprimento com a cabeça e sorriu.

- Só um segundo. – sussurrou ela.

Ela virou-se para Ahren e impediu que ele saísse da pista de dança, depois, ignorando a confusão e a vergonha de seu irmão, andou em passos rápidos até a mesa da família francesa e estendeu a mão para a Camile, o gesto imitava um convite para dançar, mas tecnicamente não era permitido que alguém além do dançarino fizesse isso, mas mesmo assim Camile pôs a própria mão em cima da de Eadlyn, que a conduziu até Ahren.

Eadlyn não disse nada, apenas voltou a minha frente, uniu nossas mãos e delicadamente tocou um de meus ombros, avisando discretamente a banda de que poderiam começar a tocar.

Levei a outra mão até sua cintura fina e a pressionei um pouco mais do que o recomendado, trazendo-a para mais perto de mim.

- Você está linda.

- Obrigada. Neena esforçou-se bastante hoje.

- Tenho certeza que ela não teve muito trabalho.

Suas bochechas adquiriram um leve tom rosado e ela desviou o olhar, visivelmente pega de surpresa.

Kile, um. Eadlyn, zero.

- Obrigada. – ela repetiu, sorrindo. – Quase não vi você hoje...

- Acho que posso resolver isso.

- Como assim?

- Que tal compensar minha ausência com um encontro depois da festa? Ainda não entreguei seu presente.

- Mas o colar... – disse ela franzindo as sobrancelhas e involuntariamente olhando para o pescoço, fazendo-me notar pela primeira vez que ela estava usando a chave.

- Isso é só uma parte do presente, lembra do que eu disse quando dei o colar?

- Você fez a maior descoberta da sua vida dizendo que chaves abrem portas. – disse com a voz pingando de sarcasmo.

Kile, um. Eadlyn, um.

- Eu também disse que achava que você abriria muitas portas em breve.

- O que quis dizer com isso?

Como se tivesse sido programado, a banda parou de tocar, nossa valsa tinha acabado e o barulho dos aplausos encobriram parte da minha voz.

- Depois da festa, vou te levar para abrir uma porta, passo no seu quarto.

Dei um leve beijo em sua bochecha e me afastei, seus olhos praticamente brilhavam de ansiedade, mas, por ora, a pista de dança se enchia e todos queriam um pouquinho da minha princesa.