Sorts: A alma perdida

Trevor arrasta Edward pelo Texas


— Ela é o que? - perguntou Trevor, engasgando.

— Sua família. - Edward parou de mexer o caldeirão. - Você não sabia? Está no livro.

Edward pegou o livro da mão de Trevor e o abriu na página da árvore dos Shadowchild. Franzindo o cenho ao ver o nome ocultado, pegou o livro dele.

— É de lei que todo sorcier tenha um Livro de Sorts em casa - disse o vizinho, folheando as páginas de seu livro. - Esse não pertence à Julliane. - Ele abriu na primeira página, estava escrito Ravena e Josh Shadowchild. - Era dos seus pais. Provavelmente deram à Julliane, para que você não encontrasse isto.

Trevor respirou fundo e expirou três vezes. Sua cabeça girava de informação, e, às vezes, ele achava que estava delirando ou que tudo era uma grande mentira. Juntou todas as forças para fazer a seguinte pergunta:

— Por que todos vocês se esforçaram por 17 anos para esconder isso de mim?

— Não só de você - respondeu Edward. - De Amber também. - Ele abriu sua página da família Shadowchild e apontou para o nome de Trevor. - Esse é você, óbvio. Sua família é de uma origem muito poderosa. Seriam os Lightwood, se isso fosse "Os Instrumentos Mortais", de tão poderosos, mas preferiram agir como a mãe da Clary e se esconder das nossas origens. Por uma boa razão. - Apontou para outra linha ligada ao nome dos pais de Trevor. - Amber Lane Shadowchild.

Trevor teve tempo de procurar uma cadeira e se jogar nela antes de começar a ficar tonto.

— Amber é... minha irmã? - concluiu debilmente.

— Sim. E ela é amaldiçoada. O nome dela vem da pedra mais apreciada e poderosa do nosso mundo. Alguém, algum recalcado com a família de vocês, a roubou de nossa Governança, que é o nosso governo, autoexplicativo, e deu aos seus pais como presente pelo nascimento de vocês dois. A Governança achou que seus pais a roubaram e condenaram a sua irmã. Você teve sorte de estar com a sua tia no quarto quando enviados da Governança invadiram a sala, condenando somente sua irmã.

Trevor perdeu o fôlego. Ele tinha uma irmã? Por anos ele pediu um irmão aos pais, e eles sempre negaram. Agora sua irmã estava desaparecida e ele precisava resgatá-la.

— Elas está no país - falou Edward, olhando o caldeirão. - Um lugar com... muita areia e coiotes... e música country.

Texas.

— Você tem que ir comigo - implorou Trevor.

— Nem a pau - Edward disse.

— Por favor, eu não sabia de nada dessas coisas até essa noite. Você espera que eu salve o mundo e minha irmã sem saber nem qual é o meu real sobrenome?

Edward suspirou. O garoto tinha razão. Podia treiná-lo no caminho até lá. O mandou juntar comida em uma mochila e dinheiro em outra. Enquanto isso, Edward pegava vários artefatos mágicos: uma adaga coberta de escrituras sagradas dos Sorts, uma varinha com o símbolo de sua família - uma torre -, frascos com pós e líquidos coloridos e seu Livro dos Sorts.

— Tudo pronto - Trevor falou, reaparecendo na porta.

— Garoto, a primeira coisa que deve saber é que vamos até Texas através de uma fenda no espaço-tempo. Seria como abrir um Portal e "aparatar" ao mesmo tempo. Tudo vai acelerar quando eu estalar os dedos, por isso, agarre meu braço.

Trevor fez o que ele mandou e fechou os olhos. E então, sentiu uma fisgada no estômago e abriu um pouco os olhos. Tudo parecia correr ao redor deles, tão rápido que Trevor se sentiu enjoado.

Subitamente, eles pararam. Trevor virou para o lado e vomitou. Quando acabou, percebeu que estavam no meio do deserto.

— Por que estamos no deserto? - perguntou ele. - Devemos esperar o Danny DeVito aparecer com o One Direction e lutadores de sumô?

— Engraçadinho - disse Edward. - Embora fosse um estimulante e tanto ver o Liam Payne na minha frente agora - ele falou mais baixo. - Muito bem, Shadowchild. Seu treinamento começa agora. Todas as famílias têm habilidades; a minha é abrir meios para o conhecimento e obter a diplomacia. A sua é a defesa nas batalhas. Vamos ver o que seus ancestrais te deram. Feche os olhos, concentre-se. Tente imaginar sua aura.

Trevor juntou as mãos, fechou os olhos enquanto respirava fundo. Então Edward acertou Trevor na cabeça.

— Ai! - Trevor protestou. - O que foi isso, cara?

Edward revirou os olhos.

— Você precisa se concentrar mais! Tente de novo.

Ele repetiu os gestos, tentando imaginar sua aura, de cor azul, e a viu emanar de maneira suave de seu corpo. Edward o atacou de novo e, mais uma vez acertou a cabeça de Trevor.

— Que legal encontrar minha irmã em perigo com um galo na cabeça - reclamou Trevor.

— Se você não tivesse seu poder engessado, não ficaria com um galo - rebateu Edward.

Os dois tentaram "descongelar" a habilidade de Trevor até amanhecer completamente, quando o sol começou a queimar a pele de ambos.

— Vamos sair do meio do deserto e procurar um hotel - sugeriu Edward.

— Finalmente, achei que não ouviria essa frase - murmurou Trevor.

Edward o olhou de esguelha.

Estavam quase chegando em uma cidade, nenhum dos dois ainda sabia o nome. Entraram em um bar e sentaram em uma mesa. Uma garçonete ruiva chegou, anotou os pedidos de "um café da manhã completo" e se retirou.

Enquanto esperavam os pedidos, Trevor notou dois homens enormes e cobertos de palavras em uma língua que ele não conseguiu identificar.

— Edward - ele chamou o companheiro -, aqueles caras. Eles são do nosso mundo?

Edward começou a se virar tediosamente na direção que Trevor apontava e arregalou os olhos ao olhar para os homens.

— Corra! - berrou para Trevor, bem quando os homens começaram a vir na direção deles.

Demorou um longo segundo para Trevor processar que os homens não estavam do lado deles. E então ele saltou do banco e correu para fora do restaurante, seguindo Edward. Este lançava encantamentos de sua varinha, acertando um dos homens.

O outro, porém, desviou do ataque e deu um salto, lançando-se sobre Edward. Trevor congelou e pegou a mochila de Edward. Usando tudo que aprendeu jogando "Assasin's Creed", Trevor correu na direção da parede do estabelecimento em que estavam, saltando e usando-a de impulso para pular em cima do homem, a fim de o empurrar para o lado.

Trevor, quando atingiu o homem, não estava mais controlando seu corpo nem sua mente. Socou o homem com o punho esquerdo e o cara cambaleou para trás, dando ao garoto tempo para ajudar Edward a se levantar.

Agradecido, Edward deu um tapinha no ombro de Trevor e se apoiou nos joelhos. Ao fazer isso, viu um papel caído no chão. Quando começou a se abaixar mais para pegar a folha, o cara do mal viu, se levantou e começou a correr para atacar Edward.

Ele entregou a folha a Trevor, que a guardou na mochila. Edward fechou os olhos, respirou fundo. Abriu os olhos e encarou o homem que planejava o atacar.

- Você não quer nos atacar - disse ele, atravessando a cabeça do homem com as palavras. - Você vai me dizer para quem trabalha e o que quer conosco. Sempre pacífico.

— Duquesa C. - respondeu o homem. - Ela me mandou para matar vocês.

Por quê?

— Ela disse que o garoto não pode chegar até a irmã. - E apontou para Trevor.

— Você vai se esquecer que a Duquesa C. existe e vai embora do Texas. Recomeçar sua vida em... Los Angeles - ordenou Edward em voz alta.

O homem deu meia volta e entrou em um Jeep, acelerando e obscurecendo a vista dos meninos com a areia.

— Cara, você foi demais! - elogiou Trevor.

— E você. - Edward sorriu. - Ainda precisa melhorar sua defesa, mas aquilo... foi sua habilidade em ação. Cadê o papel?

Trevor o entregou a Edward.

Galpão 7701, Austin.

— Estamos em San Antonio - disse Trevor, ao ver um carro passar com a placa do lugar escrito. - Pode nos teletransportar, seja lá o que for aquilo, para lá?

Edward não respondeu. Ele não podia. Usou demais sua habilidade e estava exausto.

— Vamos, cara. - Trevor passou o braço na cintura do colega e pôs o de Edward sobre os seus ombros. - Vamos procurar um hotel.