Sorts: A alma perdida

Percebi que juntos somos mais fortes


Trevor e Amber treinaram durante o resto do dia. Amber aprendeu rápido vários golpes e antes de dormir quis falar com Edward sobre os Sorts, aprender um pouco mais.

Na manhã seguinte, Jeremy desceu as escadas até a cozinha, onde todos tomavam café da manhã.

— Garoto - disse ele a Trevor -, eu sei que disse que vocês iriam embora assim que ela melhorasse, mas... Mas essa luta envolve minha família agora. Não quero proteger você. Apenas quero que Carolin saia da Governança para sempre.

— Tudo bem, sr. Towerkey - respondeu o garoto, enquanto Camilla sorria compassivamente para os irmãos.

— Agora - continuou Jeremey -, contatei os pais de vocês. O serviço mágico de mensagens dos sorcières é tipo o Whatsapp: você pode ver se a mensagem enviada foi visualizada.

— Certo - disse Amber. - Mas e aí?

— Um problema - continuou Camilla. - A mensagem foi "visualizada", porém, não respondida. Conhecemos os seus pais o suficiente para saber que eles não iriam simplesmente visualizar aquela mensagem.

— Então... - murmurou Trevor. - Por que eles não responderiam?

— Se me permitem - pronunciou-se Edward -, uma rápida conclusão é que não foram eles quem viram a mensagem. Cada família possui uma caixa com teclado que recebe e envia as mensagens. O que me leva a pensar...

— ... Que alguém roubou a caixa - concluiu Amber.

Amber e Trevor se entreolharam, engolindo em seco. Quem roubaria essa caixa? Com que propósito? Parecia que a mente dos dois, conjuntamente, pensava nessas e em várias outras perguntas.

Repentinamente, Amber foi puxada para trás, derrubando a cadeira da mesa e batendo na parede. Ninguém pôde dizer o que a puxou naquele momento, mas a garota sim.

Inconsciente, ela viu uma mulher usando um vestido cor de vinho de veludo e ajeitando os longos cabelos castanhos. Estavam em uma sala vermelha, mobilhada com um espelho, uma cômoda de mogno e uma porta estranha que não possuía maçaneta.

— Olá, Amber - disse a mulher. - Você está tão crescida... Mas não deveria.

— Você... Você é Carolin? - murmurou a garota, assustada.

— Culpada - disse Carolin. - Mas, Amber...Você deveria ter morrido há 17 anos mesmo, então... Não vou me sentir culpada disso!

Ao terminar a frase, Carolin puxou uma faca da manga do vestido e avançou na direção de Amber. A garota olhou para os lados, procurando uma arma, mas, de repente, sumiu e reapareceu no lugar onde a tia estava antes.

— Como você... - começou Carolin, mas Amber sorriu, sentindo seus músculos despertando, e usou seu poder recém-descoberto de novo, sumindo e reaparecendo bem na frente de Carolin.

Ela empurrou Carolin com as mãos bem espalmadas e reapareceu atrás dela, chutando-a na coluna, levando a Duquesa C. a parar do outro lado da sala.

— Sua aberração— sibilou Carolin, ofegando sofregamente enquanto se apoiava na cômoda. - Eu vou te encontrar pessoalmente, assim como fiz com seus pais, e acabar com você.

Carolin abriu um sorriso extremamente sádico, puxou uma alavanca ao lado de onde ela foi parar e revelou os pais de Amber desmaiados em um outro quarto imundo, com a cama suja e o chão empoeirado. E o pior: com marcas de sangue nas paredes.

A garota gritou de pânico, virou as costas e correu para fora de onde estava.

Acordou. Camilla e Trevor estavam praticamente voando em cima da cama em que ela se encontrava agora.

— T-Trevor - ela sussurrou -, nosso pais... estão com Carolin. Em grande perigo.

Trevor subitamente se alarmou.

— Onde? - questionou ele, a pulsação acelerando.

Amber juntou as sobrancelhas em uma expressão de dor, tentando se lembrar do lugar que viu antes de acordar.

— Inglaterra - declarou. - Ela... disse que quer acabar comigo. Trevor, se eu tiver que morrer para salvar você e nosso pais...

— Você não vai - afirmou Camilla. - Descanse. Edward fez uma pasta anestésica mágica para curar o corte na sua cabeça, mas o resto é com você.

Trevor saiu do quarto muito confuso. Antes de toda essa situação começar, os pais deram a desculpa de voltar para a Inglaterra por causa das universidades em que estudaram, mas agora... Seria algo a ver com tudo isso? Estavam demorando tanto a voltar por causa da Carolin?

— Ei - disse Edward. - Mamãe me disse o que aconteceu com Amber. Preciso que você saiba de algo: a Governança não está do nosso lado. Seus pais estavam na Inglaterra tentando provar que Amber não merecia a condenação e que não foram eles que roubaram a Pedra.

— E eu acredito neles - afirmou Trevor.

— Eu sei. Mas Carolin é nossa líder. Ela é cruel. Aqui nos EUA, o líder odiado do país é o Trump; para nós é Carolin. Se revoltar contra ela significa perder suas habilidades, sua família e ser exilado. Nós não a apoiamos secretamente.

Trevor imaginou uma lâmpada se acender em sua mente.

— Vocês não devem ser os únicos a se revoltarem contra ela secretamente - pensou alto. - Se encontrássemos mais famílias que sabem da história e não a apoiam...

— Só as famílias que fazem parte da Governança poderiam ajudar - disse Edward.

— Então vamos à Inglaterra encontrá-las - disse a voz de Jeremy, vinda do fim do corredor em que os meninos estavam. - Não, não somos os únicos que querem tirar essa víbora do poder. Sim, odeio sua família, garoto, mas sua irmã me ensinou sobre feminismo, e percebi que juntos somos mais fortes.

Trevor sorriu espontaneamente e deu um tapinha no braço de Jeremy, entrando no quarto para falar a notícia a irmã.

— No fundo - murmurou Edward - você sabe que está fazendo o certo. Por nós, pelos sorcières. Por esses dois Shadowchild.

E saiu de braços cruzados.

— Vamos partir quando você se sentir melhor - falou Trevor para Amber. - Edward disse que provavelmente amanhã.

Amber assentiu. Era um alívio saber que os pais estavam vivos e tentaram lutar por eles. Mas era amedrontador saber que estavam com a Duquesa C., que assumia essa identidade e ninguém da Governança a punia por suas crueldades.

— Vamos deter essa louca, Trevor Barns - declarou.

— E com você viva e junto dos nossos pais - ele falou. - Como uma família, Amber Wayne.

E então, ouviu-se um estrondo vindo da porta de entrada no andar de baixo.