Sophia

O Encontro


Sophia não poderia estar mais feliz que o grupo de amigos havia voltado ao normal. No dia seguinte, procurou Viktor para desculpar-se pelo incidente, certa de que ele não se repetiria mais uma vez.

“Georgie e Sean já se entenderam”, ela explicava a ele, enquanto andavam a caminho das estufas. “Ela pediu desculpas pela cena que fez na biblioteca.”

Ele deu os ombros. “Non tem prroblema. Ela é sua amiga.”

Sophia abriu um sorriso e pegou a mão dele. Sabia que ele tinha todo o direito de ficar aborrecido; ela mesma, na situação contrária, provavelmente ficaria. Mas, mesmo assim, ele continuava sendo complacente com todos os contratempos dela. Realmente os julgamos mal, pensou, ao se lembrar de como costumavam o tomar como sério e carrancudo.

“Bom, de qualquer jeito, desculpa nunca poder te ver de verdade, só na biblioteca. Se bem que você pode culpar o Snape também, não me oponho”, disse, lembrando-se do rolo de pergaminho que precisava escrever sobre antídotos para o dia seguinte.

“Non é ton ruim. A biblioteca daqui tem muitos livrros bons, podem me ajudarr no Torrneio.”

“Certo”, Sophia concordou, sem entender tão bem. “Hã, desculpa se estou me intrometendo, mas, no fim de semana que eu te chamei para ir a Hogsmeade, eu vi você pular no lago - aquilo era treinar para o Torneio?”

Ele franziu a testa. “Ah, hã… Sim.”

“Não precisa explicar”, ela apressou-se em informar. “Só fiquei um pouco confusa.”

Viktor assentiu levemente e ficou em silêncio por um tempo, antes de falar: “Sinto muito non terr ido a Hogsmeade com focê. Gostarria de terr ido.”

“Ah”, exclamou Sophia. “Não era nada disso. Não teve problema você não ir. Quero dizer, é claro que teria gostado que fosse, mas não fiquei brava. De qualquer jeito, ainda há várias visitas programadas para o ano.”

Chegaram à estufa 3, onde alguns alunos já se amontoavam em frente à porta, e, ao perceber os olhares dos colegas - principalmente garotas -, Sophia soltou a mão de Viktor.

“Quando é a prróxima?”

Sophia virou-se para ele. “O quê?”

“A prróxima visita.”

“Ah! É… daqui a três semanas, no sábado.”

“No Dia dos Namorrados?”

O coração de Sophia começou a bater muito rápido. “Não”, respondeu, “o Dia dos Namorados é na sexta.”

Ele acenou com a cabeça.

“Você, hã, vai querer ir…?” Perguntou Sophia, insegura. “No sábado, digo.”

Viktor fez que sim ao mesmo tempo que a Prof. Sprout apareceu, abrindo a porta e chamando os alunos para dentro. Sophia soltou um “Combinado” e sorriu, antes de entrar e se juntar aos amigos. Ao se aproximar da mesa que os quatro costumavam dividir, Georgie a avistou e já perguntou:

“Falou com Krum?”

“O quê?” Sophia disse, despertando de seus pensamentos. “Ah, sim. Ele foi bem compreensivo.”

“Que bom!” A amiga comemorou. “Ele é bem legal, não é?”

Sophia concordou, ao mesmo tempo que Sean interveio com um “Ei!”, fazendo Georgie rir e girar os olhos. Sophia sorriu ao ver o casal restaurado. Ao encontrar o olhar de Rogério, entretanto, percebeu que o sorriso que o amigo retribuiu tinha um quê de tristeza.

Durante os dias que seguiram, Sophia não conseguia parar de pensar no encontro que se aproximava. Não entendia exatamente por que estava tão ansiosa, afinal, não seria muito diferente de qualquer uma das tardes que ela e Viktor passavam juntos em Hogwarts. A relevância estava, muito provavelmente, na carga simbólica, pois esta seria a primeira vez que realmente sairiam como um casal (não considerava o Baile de Inverno, pois na época ainda não estavam juntos).

Queria conversar sobre isso toda a hora, mas não se atrevia a discutir o assunto na frente de Rogério, pois sabia que o amigo ficaria triste - Fleur tinha oficialmente parado de falar com ele. No entanto, o tema acabou surgindo espontaneamente em uma noite em que os quatro amigos discutiam o Torneio na Sala Comunal.

“Queria saber como vai ser a próxima tarefa”, reclamava Sean. “Parece que faz tanto tempo desde a primeira.”

“Parece”, ecoou Rogério.

“Acho que vai ser relacionada a alguma criatura mágica”, opinou Sophia. “Quero dizer, o último Torneio antes desse, nem sei quantos anos atrás, acabou porque o basilisco que os campeões tinham que capturar acabou se rebelando e atacou os juízes.”

“Um basilisco?” perguntou Georgie. “Não pode ser, pode? São ilegais!”

Sophia deu os ombros. “Talvez tenham virado ilegais por causa disso.”

“Mas será que era um basilisco mesmo? Quero dizer, eles são enormes, não são exatamente capturáveis”, apontou Rogério. “Sem falar que seriam um perigo para os espectadores e juízes também.”

“Faz sentido”, concordou Sophia. “Devo ter me enganado, porque faz tempo que li sobre o Torneio.” Pensou em consultar o livro, mas lembrou que havia deixado Hogwarts: Uma História na casa dos pais.

“Se fosse um basilisco, Potter teria uma vantagem. Quero dizer, primeiro que ele já matou um, quando tinha doze - eu repito - doze anos! E ele ainda é um ofidioglota! Poderia mandar o basilisco atacar os outros, e daí ninguém teria chance, mesmo o Krum seria destroçado!” Sean expôs, animado, e depois acrescentou, olhando para Sophia: “Respeitosamente.”

Sophia girou os olhos.

“Mas isso que você falou é interessante, Soph”, disse Georgie. “Porque a dinâmica de capturar um animal é diferente. Na primeira tarefa, do dragão, cada um teve que enfrentar o seu individualmente. Nessa que você falou, os campeões estavam competindo diretamente entre si.”

“Isso.” Sophia acenava com a cabeça. “A primeira tarefa foi muito focada na execução. Como salto com vara, por exemplo, em que cada um realiza o salto de uma vez e depois os juízes dão nota. Mas poderia ser algo como corrida, em que as pessoas competem ao mesmo tempo e têm o mesmo objetivo, mas todos conseguem alcançá-lo uma hora ou outra. Ou algo como quadribol, onde eles competem pela mesma única coisa - no caso, o pomo - e o que conta é o resultado, não a execução. Tanto que Potter capturou o pomo com a boca em seu primeiro jogo e mesmo assim a Grifinória venceu.”

Os olhos de Georgie estavam muito abertos e ela concordava intensamente, enquanto os dois meninos pareciam ainda meio perdidos.

“Salto com vara?” disse Sean. “Que diabos é isso?”

Georgie então começou a explicar como salto com vara funcionava, o que Sean parecia achar ridículo. Sophia não falou nada, pois, afinal, salto com vara não era exatamente um dos esportes trouxas mais divertidos de assistir.

“Bom”, concluiu Sean, “Espero que a segunda tarefa seja algo mais excitante que salto com vara. Krum não falou nada, falou?”

“Eu já disse que não quero me intrometer”, respondeu Sophia. “Mas o que eu sei é que ele pulando no meio do Lago naquele dia era realmente ele treinando.”

“Deve ter algo a ver com nado”, imaginou Georgie. “Por que mais ele entraria naquela água gelada do Lago no meio de janeiro?”

“Porque ele não pode entrar no banheiro dos monitores”, riu Rogério, e Georgie o acompanhou, batendo na palma de sua mão.

“Isso dá uma certa vantagem a Cedrico, não dá?” perguntou Sophia, desconfiada, lembrando-se dos relatos dos amigos sobre a banheira do tamanho de uma piscina e com um trampolim.

“Talvez”, disse Rogério, dando os ombros. “Mas vai que ele ainda não conseguiu decifrar o ovo. Afinal, como é que Krum chegou à conclusão de que o grito significa água?”

Sophia fez uma careta e sacudiu a cabeça negativamente.

“Pois é”, o amigo continuou. “Mas eu é que não vou ficar vigiando o banheiro dos monitores.”

“Sophia pode ficar vigiando o lago”, sugeriu Sean. “Com certeza ela vai ver algo que gosta…”

Sophia abriu a boca em O e jogou uma almofada no amigo.

“Ei!” ele protestou, quando ela não parou de atirar outras almofadas e demais objetos pequenos que estavam por perto. “Eu só estava falando a verdade! Semana que vem temos mais uma visita a Hogsmeade, Soph, será que ele vai estar lá de calções de novo…?”

Sophia então atingiu o menino com o Feitiço das Pernas Bambas. Ele mal teve tempo de ver Sophia lançando o feitiço, muito menos de sacar a própria varinha para se defender, e imediatamente suas pernas começaram a dançar descontroladamente.

“EI! MONITORES!” ele clamou, mas Rogério e Georgie estavam muito ocupados rindo às suas custas.

Atrapalhadamente, Sean conseguiu alcançar a varinha em seu bolso traseiro e lançar um próprio contrafeitiço em si mesmo. Ajeitou as vestes e voltou para seu lugar no sofá, ignorando um grupo de meninas que davam risadinhas.

“Desculpa, Sean”, disse Sophia, ainda com um sorriso no rosto.

“É, sei”, ele resmungou. “Estou pressentindo um favoritismo aqui.”

Olhou para a namorada, que estava com os olhos brilhando. Georgie acalmou-se e tentou abraçá-lo, mas Sean afastou-se, dizendo: “Nem vem, duas caras.” No fim, depois da menina ficar lhe cutucando, ele acabou aceitando e deixando-a aninhar-se em seus braços.

“De qualquer jeito, Soph, você chamou Viktor para ir a Hogsmeade com a gente ou ele vai treinar novamente?” perguntou Georgie.

“Ah”, fez Sophia, mudando de posição em sua poltrona. “Chamei. Mas, hã… Acho que vamos só nós dois.”

Georgie fez uma cara engraçada e endireitou o corpo. “Vocês vão em um encontro? Ah! É claro! É Dia dos Namorados!”

Antes que Sophia pudesse corrigir a amiga, ela já estava guinchando e comemorando. Sean conseguiu aquietar a menina o suficiente para falar:

“O Dia dos Namorados é na sexta.”

Georgie parou, confusa. “É? Ah, é verdade.” Soou decepcionada, enquanto Sean semicerrava os olhos, parecendo levemente ofendido.

“Vocês dois não vão comemorar?” perguntou Sophia.

“Ah, bem”, Sean atrapalhou-se e involuntariamente olhou para Rogério, desviando o olhar logo em seguida. “Acho que não, vamos nos Três Vassouras como sempre. Aquela Madame Puddifoot é meio brega…”

“Eu gosto de lá!” contestou Georgie. “E não pense que eu não lembro que você já foi lá com a Patrícia Stimpson…” O namorado virou-se para ela e lhe deu um olhar significativo, e por sorte Georgie entendeu. “Mas acho que justamente por isso não devíamos ir lá. Vamos, hã, criar memórias novas”, ela continuou, nem um pouco convincente.

“Não se preocupem comigo”, Rogério disse subitamente. “Combinei com o Grant de praticarmos alguns lances no campo.”

Os três ficaram perplexos.

“Só você e Grant?” perguntou Georgie timidamente.

“Sim. Stretton talvez vá, mas não tem certeza.”

“Certo.”

Decidiram silenciosa e unanimemente não tocar mais no assunto e então continuaram a conversa sobre o Torneio, tentando adivinhar quais seriam as possíveis tarefas e quem poderia ser o campeão (ou campeã) no final. Sophia decidiu não se pronunciar, dizendo estar indecisa, mas por dentro sabia a verdade. Embora gostasse de Cedrico e simpatizasse com Potter, e embora quisesse apoiar a escola que tanto adorava, sabia que, no fundo, só tinha espaço para um campeão, e este era Viktor.

O dia 15 de fevereiro finalmente chegou. O tempo já estava começando a melhorar - já não nevava nem chovia mais, ainda que fizesse frio. Assim, as aulas de Aparatação continuaram sendo ministradas nos jardins, e a manhã estava ensolarada quando Sophia e seus amigos foram finalmente dispensados por Twycross, o professor do Ministério.

Rogério se despediu do grupo, alegrando-se por causa do clima - muito propício para seu treino de quadribol -, e voltou para o castelo. Sean e Georgie acompanharam Sophia até o navio de Durmstrang, na frente do qual Viktor já a esperava. Eles se cumprimentaram com largos sorrisos nos rostos e começaram a caminhar em direção ao povoado.

“Como foi a aula de Aparratação?” ele perguntou.

“Ah, ótimo!” Sophia exclamou, contente. “Consegui aparatar certinho pela primeira vez!”

Ele franziu a testa. “Focê já non tinha conseguido?”

“Não, da outra vez eu me estrunchei. Foi só uma unha da mão, mas mesmo assim.”

Viktor sorriu. “Eu disse que focê ia melhorrar com o tempo.”

“Sim, você estava certo”, Sophia concordou, retribuindo o sorriso. Apesar de que os gêmeos Weasley conseguiram aparatar já na terceira aula, pensou, mas afastou a observação, lembrando a si mesma que progresso é progresso, conforme a mãe sempre repetia.

Chegaram a Hogsmeade e passearam um pouco pelas lojas. Sophia voltou à Dedosdemel, pois os feijõezinhos encantados para mudar a cor dos cabelos estavam vendendo feito água. Passaram na loja de esportes, onde Viktor ficou lhe ensinando o que eram e para que serviam alguns dos produtos dispostos - Sophia não fazia ideia, por exemplo, que existia um cortador específico para ramos tortos de uma vassoura. Achou um pouco exagerado, pelo menos em sua visão de leiga, mas não disse nada, pois Viktor falava com tanto entusiasmo que era até comovente.

Passado um tempo, entretanto, cansaram-se de perambular pelo vilarejo e decidiram parar para comer ou beber algo.

“A Casa de Chá da Madame Puddifoot é logo ali”, apontou Sophia. “Eu só fui lá uma vez, imagino que hoje esteja mais cheio…”

Os dois se encaminharam em direção ao pequeno estabelecimento. Sophia abriu a porta, que tilintou anunciando sua chegada. No entanto, o cenário que encontrou estava mais para uma grande e confusa bagunça rosa. Para começar, laços e mais laços enfeitavam toda a loja - desde as cadeiras estofadas, as toalhas de mesa de renda, as janelas embaçadas e até mesmo os papéis de parede já cheios de estampa. Além disso, como se não bastasse que o cômodo já era abarrotado pelas mesas e cadeiras, havia querubins dourados flutuando por cima dos casais e jogando confete em cima de suas cabeças e bebidas. E, para completar, todos os adolescentes presentes pareciam não se importar o suficiente com o fato de estarem em público para demonstrar seu afeto.

A Madame Puddifoot apareceu em sua frente.

“Mesa para dois, querida?”

“Hã”, Sophia fez, ainda processando toda a informação a sua frente. Virou-se para Viktor e percebeu que ele tinha a expressão carrancuda de volta. “Acho que entramos no lugar errado, obrigada.”

Deu um sorriso amarelo para a mulher e afastou-se de costas. Quando girou o corpo, já novamente na rua, deu de cara com Cedrico e Cho.

“Oi”, eles cumprimentaram risonhamente.

“Oi”, Sophia respondeu, ainda atordoada, e Viktor acenou com a cabeça.

Deixaram o casal passar e começaram a caminhar para longe, mas ainda a tempo de ouvir Cho exclamar: “Ah, que bonitinha a decoração!”. Sophia fez uma careta, sem entender como alguém possivelmente poderia gostar de toda aquela bagunça.

“Uau”, comentou Sophia. “Eu com certeza não esperava por aquilo.”

Viktor concordou com a cabeça. “Ecstava tudo pem confuso.”

“Quero dizer, eu imaginava que teria alguma decoração por causa do Dia dos Namorados, que foi ontem, mas isso? A Madame Puddifoot poderia aprender algo com o movimento minimalista.”

Viktor não respondeu, e Sophia se perguntou se deveria explicar o que era o movimento. Antes que pudesse chegar a alguma decisão, entretanto, ele perguntou: “Focê disse que já tinha ido lá antes?”

“Ah, sim. Mas não foi nessa época do ano, então não tinha todas essas decorações.” E acrescentou rapidamente: “Foi dois anos atrás, também.”

Ele assentiu, e Sophia rezou para que ele não perguntasse com quem tinha ido. Felizmente, ele não insistiu no assunto. Dirigiram-se, então, ao Três Vassouras, que só não havia sido sua primeira opção porque estava sempre lotado e cheio de pessoas de Hogwarts, que poderiam ficar comentando, sem contar, é claro, Rita Skeeter, que também frequentava o local. No entanto, talvez fosse preferível se camuflarem na multidão de um pub a serem identificados em uma casa de chá apertada com casais.

Entraram no bar e pegaram as bebidas no balcão. Naturalmente, tiveram que vasculhar o local a fim de encontrarem uma mesa, mas por sorte conseguiram uma em um canto mais afastado. Sophia não viu Sean e Georgie em local algum e indagou onde eles poderiam ter ido, visto que também não estavam na Madame Puddifoot.

“Aqui é movimentado”, comentou Viktor ao sentarem.

“Sim”, Sophia concordou. “Mas é melhor que a Madame Puddifoot. E a única outra opção é o Cabeça de Javali, que tem umas pessoas meio suspeitas. E ainda falam para você levar o próprio copo.” Ela franziu a testa. Certamente Sean e Georgie não iriam lá.

Viktor tomou um gole do seu vinho de sabugueiro. “Isso é pom. Focê quer um pouco?”

“Ah, não, obrigada”, disse Sophia, olhando para os lados. “Acho melhor não. A maioria dos professores vêm aqui.”

Ele juntou as sobrancelhas, confuso. “Focê non tem dezessete?”

“Não”, respondeu. “Não por pelo menos mais cinco dias.”

“Ah”, ele fez. “Achei que tinha. Seus amigos já têm, non têm?”

“Sim.”

“E focê bebeu uísque de fogo no Baile, non bebeu?”

“Sim, mas, hã… Ninguém estava olhando.”

Ele riu e Sophia levantou os ombros, dando um sorriso apologético.

“De qualquer jeito, por que você está bebendo vinho?” ela perguntou, mudando de assunto, e bebericou de sua cerveja amanteigada.

“É uma trradição na Bulgária. 14 de feverreirro também é o dia do São Trifon Zarezan, isto é, Dia do Vinho. E como non pude beberr ontem…”

Sophia deu uma risadinha. “Que divertido! Então, se você não tiver um namorado ou namorada, pode só ficar bebendo vinho o dia inteiro!”

“Basicamente. Emborra meus pais também passem o dia bebendo, só que juntos.”

Eles riram. “É, meus pais provavelmente fariam a mesma coisa se soubessem”, disse Sophia.

Um grupo de estudantes de Beauxbatons passou pela mesa onde estavam sentados. Dentre eles, Jules, que cumprimentou Sophia educadamente, e Fleur, que sorriu para Viktor e fez uma expressão indefinida quando a percebeu. Provavelmente receosa de encontrar Rogério, pensou Sophia.

Fleur e os colegas sentaram em uma mesa a pouca distância dos dois. A garota, ao acomodar-se, despiu o pesado casaco que usava.

“Não está tão frio assim”, murmurou Sophia, observando-a.

“O quê?”

“Ah, nada.” Ela ajeitou sua postura e encarou Viktor. “É só que os alunos de Beauxbatons parecem que ainda não se acostumaram com o clima, sendo que aqui não é tão mais frio que a França.”

“Com cerrteza non. Aqui é pem agrradável.”

Sophia semicerrou os olhos. “Ok, eu não diria que é ‘bem agradável’, mas vocês de Durmstrang não sentem frio como o resto do mundo.”

Ele sorriu e balançou a cabeça levemente.

“Ei, é verdade!” ela insistiu, rindo. “Quero dizer, nunca vi ninguém de Hogwarts pular no meio do Lago em pleno inverno.”

“Eu prrecisava”, ele disse, dando os ombros.

“Bom, existe um banheiro em Hogwarts que tem uma banheira do tamanho de uma piscina. Ele é teoricamente só para monitores, mas, como ainda insistem em usar senhas como sistema de segurança, qualquer um pode entrar.”

Viktor pareceu momentaneamente tentado, mas logo pareceu sacudir o pensamento para fora. “Non é necessárrio.”

Sophia assentiu. Considerou, por um momento, assinalar o fato de que Cedrico era monitor, mas acho melhor deixar quieto.

“Porr que monitorres têm um banheirro separrado, afinal?” perguntou Viktor.

Sophia tomou um gole da cerveja amanteigada. “Acho que é para compensar as atividades deles. Sabe, guiar os calouros pelo castelo, ensinar como a escola funciona, patrulhar os alunos e ficar sempre de olho, essas coisas.”

“Focê non quis serr monitorra?”

“Não exatamente. Quero dizer, eu não faço questão de fazer tudo isso; a única coisa que me faria ter vontade é o banheiro, mas eu consigo viver sem. De qualquer jeito, você não se inscreve nem nada, é escolhido por Dumbledore. E, no caso, eu não era a melhor aluna da minha casa no meu ano.”

Viktor pareceu pensativo. “Mas focê estuda bastante.”

“É, agora sim. Mas até o quarto ano, depois do qual os monitores são escolhidos, eu não me esforçava muito para as aulas. O currículo era repleto de magia sem muita utilidade prática, como transformar uma chaleira em um jabuti, por exemplo. Então eu aprendia outros feitiços, por conta, e acabava indo mal nos exames. Sem falar que os monitores não são só escolhidos por desempenho acadêmico: Elena West é a aluna com as melhores notas do meu ano e mesmo assim não foi nomeada, porque é bem tímida.”

Viktor fez um “Ah” e bebeu mais de seu vinho, provavelmente absorvendo a enxurrada que informação que Sophia havia despejado nele.

Foi um falatório muito longo, percebeu Sophia, e terminou sua própria bebida em silêncio.

Continuaram no Três Vassouras por mais duas rodadas de cerveja amanteigada, até que, satisfeitos, saíram e voltaram a explorar Hogsmeade. Passaram na Casa dos Gritos, Sophia explicando as histórias que ouvira sobre o local, e Viktor lhe contou sobre uma torre proibida e supostamente também assombrada que havia em Durmstrang.

Já escurecia quando finalmente puderam dar por terminada a extensa e minuciosa visita ao povoado. Conseguiram conhecer todas as lojas e espaços abertos ao público, alguns no qual Sophia não entrara desde sua primeira vez lá, no terceiro ano. Voltaram, então, a Hogwarts.

Viktor a acompanhou ao castelo, uma vez que já era hora da janta. Antes de entrarem no Salão, entretanto, ele parou e a puxou para um canto.

“Eu tive um dia muito pom hoje.”

Sophia sorriu, aproximando seu rosto do dele. “Eu também.” Beijou-o, como se agradecendo pelo tempo que passaram juntos.

Separaram-se quando ouviram passos se aproximando; recompuseram a postura e voltaram a andar em direção ao Salão. Ao chegarem, foram cada um para suas respectivas mesas. Sophia encontrou os amigos em tão bom humor quanto o dela, e os quatro passaram o resto da noite conversando mais animadamente do que tinham nas últimas semanas.