Sophia

Novas Perspectivas


No dia seguinte, Sophia desceu com Georgie, as duas ansiosas para descobrir o desenrolar da confusão dos campeões. Quando chegaram ao Salão para tomar café, perceberam que a mesa da Lufa-Lufa cochichava entre si, enquanto a da Grifinória parecia muito animada.

“Vamos mais para o canto…” disse Sophia, ao ver Fleur Delacour com uma expressão nada amigável na mesa da Corvinal.

Sentaram ao lado de umas meninas do quinto ano. Georgie, que era mais amiga de Cho Chang, por estarem ambas no time de quadribol, perguntou se ela sabia o que aconteceria.

“Falaram que vão deixar o Harry competir, sim”, a garota respondeu. “Aparentemente ninguém está muito feliz com isso, tirando o pessoal da Grifinória.”

“É”, concordou sua amiga Marietta. “O Karkaroff não falou com ninguém durante o café. E ainda ficou com uma cara bem emburrada olhando pra Dumbledore.”

Sophia concordou com a cabeça, mordendo uma torrada. “Era de se esperar.” Olhou para a mesa da Sonserina, onde os alunos de Durmstrang geralmente se sentavam, procurando por Viktor Krum. Encontrou-o num canto, com a mesma expressão carrancuda de sempre, comendo seu café quieto. Bom, não diz muita coisa, pensou Sophia, ele parece que está sempre zangado.

“É uma irresponsabilidade, isso sim”, comentou Georgie. “Deixar um garoto de quatorze anos competir, depois de falarem que o Torneio voltara a acontecer porque agora está mais seguro. Era de se esperar que tivessem aprendido com a ‘alta taxa de mortalidade’ dos anteriores”.

“Bom, Potter que se meteu nisso, então agora tem que arcar com as consequências, não é?” disse Marietta.

Sophia e Georgie se entreolharam, franzindo as testas, e Cho encarou a amiga. “Não sabemos se ele realmente se inscreveu, Marietta.”

Marietta virou os olhos, bufando, mas não disse nada. Era aparente que as duas já haviam tido essa discussão antes. Sophia e Georgie terminaram de comer depressa e se dirigiram para os jardins. O dia não estava muito bonito, e fazia frio, então as duas caminharam para se aquecerem.

“Como estão indo as aulas de Hagrid?” perguntou Sophia, ao passarem pela cabana do professor.

“Bem!” respondeu Georgie. “Surpreendentemente. Ou talvez por sorte. Ouvi dizer que ele está fazendo o quarto ano criar uns bichos chamados explosivins, nem sei direito o que são, mas parecem perigosos. O Goldstein me mostrou uma queimadura feia no braço.”

“Explosivins?” repetiu Sophia. “Nunca ouvi falar… Não estão em Animais Fantásticos, estão?”

“Nem sei. Imagino que nem sejam legais, do jeito que Hagrid é.”

Sophia assentiu. Hagrid era entusiástico até demais sobre criaturas mágicas, e normalmente não percebia o perigo de algumas delas. Tinham até o levado para Azkaban (erroneamente) quando a Câmara Secreta fora aberta, dois anos atrás. Sophia não duvidava que o professor criaria monstros mortíferos como passatempo.

As meninas continuaram passeando pelos jardins. Georgie cutucou a amiga, de repente, e disse: “Olha lá.”

Harry Potter e Hermione Granger saíam do corujal, conversando baixinho.

“Ah, coitado. Vão implicar com ele, tenho certeza”, disse Sophia, lembrando-se do tom de Marietta Edgecombe. “Lembra no quarto ano, quando todo mundo achava que ele estava por trás de todos aqueles ataques? A melhor amiga dele teve que ser petrificada para calarem a boca.”

Georgie assentiu. “Mas tenho certeza de que, em pouco tempo, vão até torcer para ele, depois que as tarefas começarem. As pessoas esquecem rápido.”

“Espero que bem rápido”, respondeu. Potter não parecia muito feliz.

Duas semanas se passaram, e com certeza ninguém esquecera. Potter continuava sendo ignorado e por vezes hostilizado nos corredores; a maioria parecia achar que ele estava desesperado por mais atenção e fama. Passados alguns dias, surgiram até distintivos que exaltavam Cedrico e humilhavam Potter: geralmente dizia “Apoie CEDRICO DIGGORY - o VERDADEIRO campeão de Hogwarts”, mas, se apertado, mudava para “POTTER FEDE”. Georgie confiscava-os sempre que podia, sob vaias dos alunos.

Cedrico estava sempre sendo assediado quando Sophia o via. De vez em quando, conseguia conversar com o garoto antes ou depois de alguma aula, mas não por muito tempo. Ele continuava educado como sempre, então ela decidiu concluir que ele não deveria simpatizar com os distintivos - Sophia sabia que não havia como controlar todos.

Numa sexta-feira, Sophia se encontrava na biblioteca, pois não tinha aula à tarde. No entanto, copiava vorazmente um capítulo de um livro em um pergaminho. Geralmente fazia as tarefas no mesmo dia em que eram passadas, para não deixar acumular, mas naquela semana lhe foram passados tantos deveres que ela ainda se encontrava escrevendo um trabalho de Herbologia da aula de quarta.

Fred e Jorge Weasley estavam perto, encostados em uma prateleira e discutindo em cochichos, apontando para um livro. Eles pularam, assustados, ao ouvir o apito do aparelho que Sophia usava. Aproximaram-se, curiosos.

“Tarde, Laurie! O que seria este notável objeto que soa como o belo canto de um espírito agourento?” disse Jorge.

Ele apontava para sua pasta. Ela era grossa, com aproximadamente 10 centímetros de lombada, para que até os maiores livros coubessem nela. Sophia apertou a trava da pasta, abrindo-a, o que fez o barulho (que estava longe de ser um grito agourento, parecia mais uma sineta de escola) parar.

“Ah, desculpa”, disse ela. “Esqueci-me de colocar no modo silencioso. É a minha pasta de pesquisa.”

Eles a encaravam confusos. “E por que a sua pasta de pesquisa grita ocasionalmente?” perguntou Fred.

“Bom, vejam só.” Sophia abriu a pasta, e tirou de dentro o livro ‘Como Cuidar de seu Pântano’. Ele agora tinha uma seção de páginas coloridas de amarelo berrante. Sophia abriu na primeira, que dizia ‘Capítulo 7: Proteção e Cuidados contra Tentáculos Assassinos’. “Eu costumava perder muito tempo procurando uma coisa específica e pequena nos livros. Então enfeiticei essa pasta para procurar termos precisos por mim. Ela colore temporariamente o capítulo que contém o conteúdo que estava procurando.” E apontou para o livro, cujas páginas voltaram à cor normal.

“Brilhante…” comentou Fred, excitado. “Você nunca pensou em fazer mais?”

“Ah…” ela pensou. “Na verdade, não. Meus amigos pegam emprestado de vez em quando.”

“E quanto tempo a pasta demora para encontrar o termo?” perguntou Jorge.

“Depende do tamanho do livro. Eu diria que é uma média de um minuto a cada cem páginas.” E acrescentou mais baixo: “É meio devagar, ainda estou tentando deixá-la mais rápida.”

Os dois se olhavam, animados.

“É genial!” Jorge exclamou. “Você não acha que outras pessoas poderiam ter bom uso de uma pasta assim também?”

Antes que Sophia pudesse responder, entretanto, a sineta tocou, anunciando o fim do primeiro período da tarde, e a menina se levantou. “Ah, sinto muito”, desculpou-se, arrumando o material e colocando-o dentro da bolsa, “combinei com Georgie e Sean de fazermos a tarefa de Transfiguração juntos, depois da aula de Trato das Criaturas Mágicas deles.”

“Ah, ok”, disse Fred. “Vemos você por aí.”

Sophia se despediu e guardou o livro de volta em uma prateleira no fundo da biblioteca. Enquanto saía, viu Cedrico examinando alguns livros em uma mesa. Ele levantou a cabeça quando ela passou, e os dois sorriram em um cumprimento silencioso.

Caminhou até o saguão de entrada, para ver se encontrava os amigos voltando dos jardins, mas não havia ninguém ali. Começou, então, a andar em direção à Sala Comunal da Corvinal quando se deparou com Ludo Bagman, conversando com uma garota do segundo ou terceiro ano da Lufa-Lufa, que parecia desconfortável. Quando Bagman a viu, exclamou:

“Ah, alô! Com licença, você por acaso viu Cedrico Diggory? Aparentemente não está em nenhuma aula, e esta garota aqui diz que ele não se encontra na Sala Comunal.”

Sophia, pega de surpresa, disse: “Ah, eu, hã… Sim, vi ele na Biblioteca.”

Bagman sorriu, satisfeito. “Você poderia chamá-lo? Precisamos finalizar alguns preparatórios para o Torneio…” Sophia concordou com a cabeça. “Ótimo, obrigado! Faça o favor de trazê-lo até esta sala…” Bagman apontou para uma sala de aula, e Sophia conseguiu espiar por uma abertura da porta e ver um homem segurando uma grande máquina fotográfica. “Você está dispensada, obrigado”, disse para a menina da Lufa-Lufa, que desapareceu em passos apressados.

Sophia voltou pelo mesmo caminho. Ao chegar à biblioteca, avistou Cedrico no mesmo lugar de antes, na mesma posição. Fred e George não se encontravam mais à vista.

“Cedrico?”, chamou, fazendo o garoto, que estava concentrado em sua leitura, levantar a cabeça em um susto. “Ludo Bagman mandou te chamar. Algum preparativo para o Torneio…”

“Ah, claro”, ele disse, levantando-se imediatamente.

Os dois foram juntos para a sala.

“Vi um homem com uma câmera fotográfica”, comentou Sophia no caminho.

“Ah”, ele soltou, instintivamente passando as mãos pelos cabelos, e os dois riram.

“Ansioso para a primeira tarefa?”

Cedrico assentiu. “É ruim não saber o que enfrentar… Estava agora procurando umas azarações para praticar, mas são bem gerais.”

“Bom”, Sophia tentou encorajá-lo, ao se aproximarem da sala de aula, “Tenho certeza que vai se sair bem.”

Cedrico sorriu, agradecendo, e entrou. Sophia ouviu Bagman cumprimentá-lo em um tom alto e amigável, e se virou para sair. No movimento, entretanto, quase trombou com uma figura grande. Olhou para cima e viu que era Viktor Krum. Ele a encarava sério, e Sophia, intimidada, disse “Foi mal” e saiu, segurando-se para não correr.

Chegou à Sala Comunal e viu Sean e Georgie conversando, em meio a risadas, em uma mesa no canto. Não quis interromper os dois, que pareciam estar apreciando muito a companhia um do outro, então começou a atravessar a Sala silenciosamente, mas logo Georgie a avistou e a chamou. Sophia cumprimentou-os como se não tivesse percebido que estavam ali e puxou uma cadeira.

“Por que demorou?” perguntou Georgie, sorrindo. “Tive que aguentar o Sean aqui estragando os próprios cabelos.”

Sophia, que agora via o amigo de frente, percebeu que havia uma grande falha em seus cabelos normalmente espessos.

“A calvície me cai bem, não acha?” ele riu, e as amigas logo o acompanharam.

“Eu ia pedir para você tentar consertar, Soph, mas estou começando a concordar com Sean. Ele finalmente parece um adulto responsável. Acho que Dumbledore até o nomearia Monitor-Chefe se o visse assim”, disse Georgie, tentando ficar séria.

Os dois amigos continuaram a brincar, mas a cabeça de Sophia ainda repetia o quase-encontrão que tivera com Viktor Krum.

No sábado, Sophia e seus amigos descansavam à beira do lago, debaixo da árvore de sempre. A tarde estava ensolarada, embora o tempo estivesse esfriando cada vez mais - já estavam no meio de novembro. Sean e Rogério jogavam xadrez bruxo, e Georgie observava, opinando frequentemente. Sophia lia o Livro Padrão de Feitiços, 6a série, enquanto praticava. Fazia peixes dourados voarem da ponta de sua varinha e, em seguida, lançava bolhas de água no ar, englobando-os. As bolhas flutuavam até o lago, onde estouravam, e os peixes caíam seguros.

Passadas algumas horas, Sean reclamou de fome, e os quatro se levantaram em direção ao castelo. No caminho, eles se depararam com Fred e Jorge. Os dois os cumprimentaram alegres e então disseram:

“Importa-se de andar com a gente um pouco, Sophia?”

“Ok”, respondeu Sophia, e deixou os amigos, que a olhavam, confusos.

Sophia e os gêmeos caminharam na direção oposta. Viu Viktor Krum a uma distância, e procurou posicionar-se através de George, para que ele não a visse.

“Então, o negócio é o seguinte”, começou Fred. “Jorge e eu pretendemos começar uma loja de logros.”

“Uma loja de logros?” repetiu Sophia.

“Sim. Como a Zonko’s, sabe?” ele respondeu, e a menina assentiu.

“Bom, e enquanto ainda estamos tentando conseguir o dinheiro para abri-la”, disse Jorge. “Já desenvolvemos alguns produtos e estaremos vendendo muito em breve.”

“É claro que ainda estamos testando para ver se são seguros”, completou Fred.

Os dois pararam de andar e se sentaram em um banco. Fred pegou sua mochila e retirou uma pequena maleta. Ele pegou um docinho e o apresentou, com uma expressão orgulhosa:

“Cremes de canário!” Sophia o pegou, examinando atentamente. “Não coma, a não ser que queira sair voando e soltando penas por aí!”

Sophia largou sua bolsa no chão e sentou-se no banco. Os gêmeos passaram a apresentar os diversos produtos que tinham, todos muito engenhosos, ela percebeu. Alguns eram simplesmente engraçados, enquanto outros eram muito úteis - embora sua utilidade geralmente estivesse relacionada a faltar a aulas.

“Enfim”, concluiu Jorge, quando terminaram de mostrar tudo. “Vimos sua pasta de pesquisa e achamos muito fascinante.”

“E pensamos se não gostaria de virar uma colaboradora. Soubemos que conseguiu passar para o nível N.I.E.M. de Poções”, Fred deu uma assobiada. “E percebemos que é muito boa em Transfiguração e Feitiços, o que nos ajudaria muito.”

Sophia levantou as sobrancelhas, surpresa.

“Uau”, foi a única coisa que ela disse por um tempo. “Obrigada, de verdade. Achei bem legal, acho que poderia… Talvez…”

Fred abriu um sorriso. “Não precisa se decidir agora.”

“Qualquer coisa, nos procure”, disse Jorge, piscando. “Aqui, fique com o creme.”

Os dois se despediram e foram embora. Sophia ficou um tempo sentada, olhando para o doce em sua mão. Os gêmeos não estavam em quase nenhuma de suas classes, e Sophia concluiu que eles não tivessem obtido muitos N.O.M.s. No entanto, ao ver os produtos que criaram, não pode deixar de ficar muito impressionada com o que eles faziam - ou pelo menos prometiam fazer -; era tudo magia bem avançada. Eles provavelmente investiam a maior parte do seu tempo em coisas como essas, externas às aulas, e Sophia reparou que eles eram mais parecidos com ela do que imaginava.

Percebeu, então, que já escurecia, então levantou-se e começou a andar de volta ao castelo. Estava perdida em seus pensamentos quando sentiu uma mão bater em seu ombro.

Era Viktor Krum.

“Focê esqueceu isto.” Segurava sua bolsa.

“Ah…” Sophia, perplexa, pegou a bolsa de suas mãos. “Obrigada.”

Ele fez um gesto com a cabeça, sério.

“Hã…” ela tentou falar. Clareou a garganta e disse: “Você vai jantar?”

Ele a encarou por um segundo, e Sophia se arrependeu com todas as suas forças de ter falado. Para sua surpresa, no entanto, ele concordou com a cabeça, e os dois começaram a andar juntos pelo jardim. Caminharam em silêncio. Sophia percebeu que estava na situação mais estranha em que já tinha se colocado. Pensou por muito tempo se deveria puxar assunto, mas a postura de Krum ainda era intimidante, então ficou quieta.

Adentraram o Salão Principal. Sophia, já saturada da caminhada embaraçosa, correu para a mesa da Corvinal, ao encontro de seus amigos. Reparou que Georgie a observava.

“O que foi isso?” a amiga perguntou, em voz baixa, para que os meninos não a ouvissem, deixando Sophia muito grata. “Por que você estava andando com Viktor Krum?”

Sophia expirou lentamente. “Eu tinha esquecido minha bolsa perto do lago e ele a trouxe pra mim. E daí, por algum motivo, perguntei se ele ia jantar, e acabamos vindo juntos. Foi muito estranho, não falamos mais nada…”

Georgie ainda a olhava, espantada. “Bom”, ela finalmente disse. “Nunca nem tinha o visto falar qualquer coisa, então estou surpresa.”

Sophia concordou. “Eu também. Ontem mesmo eu quase trombei com ele, quando Bagman me pediu para levar Cedrico para uma sessão de fotos ou algo assim. Do jeito que ele me olhou, pensei que tivesse me odiado instantaneamente.” Passou uma mão nos cabelos. “Por isso foi mais estranho ainda. Que ele andou comigo para o castelo. Pensei que ia se virar e ir embora.”

“Ah”, Georgie disse, pensativa. “Quem sabe não julgamos ele mal? A minha mãe sempre reclama, sabe, que as pessoas acham que ela está brava toda hora, sendo que é só a cara dela.”

“Faz sentindo”, ponderou Sophia.

“De qualquer jeito, prefiro alguém sério e quieto à Fleur.” Georgie se virou para a loura, que começara a conversar, novamente, com Rogério.

Sophia deu um sorriso enquanto Georgie retomava uma discussão com Sean. Ainda estava muito atordoada com o que acontecera.