Sophia

Desfechos e Introduções


Quando acordou na manhã seguinte, Sophia demorou a levantar. Ficou deitada, encarando o teto, lembrando-se da noite anterior e sentindo-se a pessoa mais sortuda do mundo. Mal conseguia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo de verdade. A Sophia de alguns meses atrás, que passara as férias preocupada com o resultado dos N.O.M.s, nunca teria imaginado que presenciaria um Torneio Tribruxo, conheceria estudantes estrangeiros e um astro internacional de quadribol, e ainda atenderia um Baile em Hogwarts (um Baile, em Hogwarts!).

Sem falar na mudança dentro de seu próprio grupo de amigos. Georgie e Sean namorando, depois de tanto tempo sendo melhores amigos, parecia surreal. E ainda havia Rogério, que sempre fora popular e sem dificuldades em sua vida amorosa, e que agora estava à mercê dos encantos de uma francesa que não ligava muito para ele.

Incrível como quanta coisa pode mudar em tão pouco tempo, pensou.

Continuou deitada, esperando alguém acordar, mas as meninas não pareciam que iam se levantar tão cedo, então decidiu descer para a Sala Comunal. No entanto, também não encontrou nenhum amigo lá. Sentou-se em um sofá e começou a ler um livro, mas não conseguia se concentrar o suficiente para passar do primeiro parágrafo - seus pensamentos voltavam à noite anterior, em como Viktor havia segurado sua mão, em como dançaram nos braços um do outro, no momento que compartilharam nos jardins…

“Soph!”

Sophia pulou em um sobressalto, derrubando o livro no chão.

“Interrompi algum pensamento profundo?” perguntou Sean, com um sorriso divertido.

Ela girou os olhos e pegou o livro. “O Rogério ainda não acordou?”

“Não, está babando e roncando em sua cama. Imagino o que Fleur iria dizer de seu par se o visse agora.” Os dois riram. “Afinal, a Georgie também não levantou?”

Sophia balançou a cabeça. “Até estranhei, ela geralmente acorda antes de mim. Vocês não extrapolaram ontem à noite, né?”

“Eu?” Sean fingiu indignação. “Imagina! Sou um adulto de comportamento exemplar. E, depois, não fui eu quem não conseguiu passar pela porta e ficou discutindo com a águia ontem à noite, foi? Pelo menos não acampei para fora da Sala Comunal.”

Sophia tacou uma almofada no amigo, que se desviou, rindo. Ele se sentou do seu lado e ficaram conversando até que Rogério apareceu, parecendo um pouco cansado mas com certeza muito contente. Quando Georgie finalmente desceu, com cara de sono, o estômago de Sophia já estivera reclamando fazia tanto tempo que ela imediatamente pulou do sofá e se encaminhou para fora da Sala.

Ao chegarem ao Salão, perceberam que ele estava meio vazio, apesar de já serem quase dez horas.

“Devíamos voltar a dormir e depois pegar algo na cozinha”, bocejou Georgie.

“Já estamos aqui, Georgie, vamos”, respondeu Rogério, que escaneava o Salão, ansioso.

Sophia entendia exatamente o que o amigo estava sentindo. Também estava nervosa em antecipação de como seria o reencontro com Viktor depois da noite anterior. No entanto, ele não parecia estar em nenhum lugar à vista.

“Ah!”, ouviu Rogério exclamar de seu lado. Acompanhou o olhar do menino e localizou Fleur, reluzente como sempre, em um canto afastado da mesa da Corvinal. Em um gesto de solidariedade, os três acompanharam Rogério e se sentaram perto da francesa.

Comeram em silêncio, enquanto Fleur e Rogério retomavam a intimidade de algumas horas atrás. Sophia a toda hora passava os olhos de um lado do Salão para o outro, sem sucesso. Finalmente, os três se levantaram, deixando Rogério, e saíram.

“Não sou obrigada a ficar ouvindo Fleur e ainda ter dor de cabeça”, resmungou Georgie enquanto andavam.

Sean abraçou a namorada, sorrindo. “Acho que o Rogério prefere ficar sozinho com ela, de qualquer jeito. Você quer passar na Ala Hospitalar?”

“Ah, não. Madame Pomfrey iria me bater por ir por um motivo desses.”

Subiram em direção à Torre da Corvinal. Ao virarem em um dos corredores, entretanto, encontraram Viktor.

“Viktor!” exclamou Sophia, surpresa. Sean e Georgie cumprimentaram o búlgaro com um sorriso e gesticularam discretamente que iriam continuar o caminho.

“Oi. Estava prrocurrando focê. Non te vi no café.”

“Ah, sim. Bom, meus amigos acordaram tarde, fiquei esperando eles para descer.”

Viktor assentiu. Encorajada pela fala dele, em que ele revelara não só tê-la procurado no café, mas de ter ido atrás dela pelo castelo, Sophia disse: “Você quer dar uma volta?”

Ele concordou, e então se encaminharam pelos corredores, sem destino em mente.

“Você foi até a Torre da Corvinal?” perguntou Sophia, curiosa.

“Não. Pensei em irr, mas lembrrei que focê falou que alunos de outrras casas non podiam entrrar, enton eu prrovavelmente também non poderria.”

“Bom, até eu não consegui entrar ontem.” Ao ver a expressão confusa de Viktor, ela explicou: “A Sala Comunal da Corvinal é guardada por uma águia na porta. Você - e, no caso, qualquer um - pode entrar se responder uma pergunta corretamente. Se errar, tem que esperar outra pessoa acertar. Ontem, quando voltei, respondi com escárnio e a águia não gostou.”

Ele franziu a testa. “Parrece cansativo.”

“Ah, não é tão ruim assim. Quero dizer, às vezes você acaba de sair da Sala e percebe que esqueceu alguma coisa, e daí dá preguiça de voltar. Mas no geral é tranquilo, sabe, porque não existe uma só resposta certa, e a águia vai ouvir seus argumentos e pode até ceder.”

Continuaram caminhando pelo castelo, até que chegaram ao saguão de entrada.

“Ei, você já viu a Casa de Barcos?” Viktor balançou a cabeça negativamente. “É logo por ali.”

Desceram até chegar ao ancoradouro. Estava vazio, como Sophia havia previsto.

“As pessoas não vêm muito aqui. Não tem muito o que fazer, também. De atividade rotineira, é só a chegada de barco dos alunos do primeiro ano. E, é claro, a partida dos formandos no final do sétimo ano.” Estremeceu ao pensar no quão perto isto estava.

“É mais bonito do que o de Durrmstrang, mas menorr”, comentou Viktor.

“Bom, vocês têm um navio gigante, também”, riu Sophia.

Ele retribuiu o sorriso e sentou na beirada do chão que dava para a água. “Aqui é bem calmo.”

Sophia sentou-se ao seu lado. “Eu gosto daqui. Às vezes eu venho para ficar sozinha”, riu. “É difícil ter muita privacidade em um castelo cheio de adolescentes.”

“Ah, sim”, ele concordou. “Durrmstrang é ainda menorr, enton parrece que tem semprre gente em todos os lugares. É pom sairr de vista de vez em quando.”

Sophia sorriu. Se ela já tinha ficado incomodada com os olhares que recebera só por estar com Viktor, não conseguia imaginar como devia ser para ele, sendo um astro internacional de futebol e, ao mesmo tempo, um estudante comum. Não tão comum, pensou. Ele é um dos campeões do Torneio.

“É estranho…” começou Sophia, “Pensar que você é um atleta profissional. Quero dizer, as pessoas sempre estão falando sobre isso, mas eu acho difícil de imaginar… Não-” apressou a corrigir “- que você não pareça impressionante nem nada, mas acho que é porque eu nunca vi esse lado seu.”

Assim que terminou o pequeno monólogo, Sophia se arrependeu. Por que fora falar aquilo? Poderia muito bem ter ficado quieta e se guardado para si.

Antes que Viktor pudesse responder, ela interveio: “Hã, desculpa. Isso foi idiota. Não posso ficar muito confortável com alguém que já começo a falar besteira.” Corou e desviou o olhar.

Ele continuou quieto por um tempo, o que fez Sophia se sentir ainda pior sobre ter aberto a boca. No entanto, ele a surpreendeu:

"Eu também me sinto muito conforrtável com focê. Nunca me senti assim com nenhuma garrota antes.” O coração de Sophia pulou um batimento. “E acho que é justamente porrque você non me vê como um jogadorr de quadrribol, mas me vê como eu mesmo.”

Sophia, sem saber o que dizer, deu-lhe um beijo. Seu coração agora batia muito forte, de um modo que chegava até a doer em seu peito.

Mais tarde, quando voltou à Sala Comunal e contou a história a Georgie, porque sentia-se confusa e precisava de algum conselho, a amiga disse: “Honestamente, Soph, acho que você devia parar de duvidar de si mesma. Não peça desculpas por dizer o que sente. Pelo que você está falando, ele realmente gosta de você.”

No último dia das férias de inverno, Sophia encontrava-se no corujal enviando uma carta aos pais. Escrevera agradecendo-lhes pelo presente de Natal (que estivera usando todos os dias desde então) e também contou sobre o Baile - embora, é claro, não em muitos detalhes. Já tinha despachado uma das corujas de Hogwarts e estava saindo quando percebeu uma menina do primeiro ano da Grifinória, no outro canto da torre, parecendo perdida.

“Você precisa de ajuda?” perguntou, gentilmente.

“Hã, eu… Sim”, ela admitiu, parecendo meio envergonhada. “Minha coruja está fora entregando uma carta, e eu preciso enviar outra. Me falaram pra usar uma das de Hogwarts, mas não sei bem como…” E olhou para as corujas e depois para a carta em sua mão.

Sophia sorriu. Lembrava como era ser caloura, ainda mais nascida trouxa. Ajudou a menina a enviar sua carta e então desceram, separando-se a caminho de suas respectivas Torres.

Ao entrar na Sala Comunal, encontrou um grande alvoroço entre os alunos do seu ano.

“Soph!” exclamou Rogério, ao vê-la. “Vão começar as aulas de Aparatação!”

“O quê?”

“Ali, no quadro!”

Sophia se aproximou do quadro e percebeu um enorme aviso que dizia: “Se você tem dezessete anos, ou vai completá-los até 31 de agosto, inclusive, poderá se inscrever em um curso de Aparatação de doze aulas semanais com um instrutor do Ministério da Magia. Se quiser participar, assine abaixo, por favor. Custo: 12 galeões.

“Finalmente!” comemorou Sophia, que, desde que soubera da existência de Aparatação, aos onze anos de idade, não via a hora de aprender. Assinou o nome na lista e foi se juntar aos amigos.

“… vomitei um monte, até sujei um tapete importado da minha avó, e ela acabou descobrindo”, dizia Sean.

“Do quê vocês estão falando?” perguntou Sophia.

“Sean já fez aparatação acompanhada”, explicou Georgie.

“Sério?”

“É, com o meu avô. Tinha acabado o Pó de Flu de casa e ele ficou com preguiça de comprar mais, então me levou quando a minha avó estava fora. Ela descobriu porque passei mal depois e ficou muito brava, ainda mais porque eu tinha só oito anos na época.”

Rogério riu, mas Sophia levantou as sobrancelhas. “Mas não é perigoso? Já ouvi dizer que tem gente que acaba se estrunchando, e dependendo podem até morrer!”

“Acho que depende mais de quem está aparatando”, respondeu Rogério.

Os quatro continuaram então a discutir animadamente sobre como seriam as aulas.

“Onde será que vão ser? Não podem ser no castelo, ninguém pode aparatar nos terrenos de Hogwarts”, refletiu Georgie.

“Acho que Hogsmeade”, sugeriu Rogério. “Se não me engano, foi o que meus pais falaram. Ou, pelo menos, é em um lugar comercial, porque minha mãe me disse que, quando reprovou pela primeira vez no teste, foi parar em um restaurante.”

“As pessoas reprovam muito?” perguntou Sophia, preocupada.

Ele deu os ombros. “Depende. Meu pai passou de primeira, mas a minha mãe teve que fazer o teste três vezes.”

“Três vezes?” repetiu Georgie. “Não fica muito caro?”

“Bom, acho que doze galeões é o preço das aulas, não do exame em si.”

“Sim, mas se você reprovar provavelmente vai querer fazer mais algumas aulas”, argumentou Georgie, e o amigo concordou.

“Tem um amigo do meu avô que disse que reprovou doze vezes”, disse Sean.

“Doze vezes?” exclamaram Sophia e Georgie, desacreditadas.

Sean riu e concordou com a cabeça.

“Mas que adianta refazer o teste doze vezes? Não seria mais fácil só viajar pela rede de Flu sempre?” indagou Georgie.

“Ah, mas não é tão prático quanto aparatar! Imagina, poder aparecer em qualquer lugar que quiser? Ah, eu nunca mais andaria de metrô na minha vida!” disse Sophia, com os olhos brilhando.

“Sem falar que não existem tantas lareiras assim conectadas à rede”, acrescentou Rogério.

Georgie bufou.

“Ah, qual é, Georgie! Nós poderíamos viajar para qualquer lugar aparatando! Você não disse que queria conhecer Lulworth?” disse Sean, cutucando a namorada, e ela pareceu mais animada sobre a perspectiva de viajarem juntos.

Influenciada pelo amigo, Sophia se perguntou se conseguiria aparatar para o exterior, especificamente para os Balcãs...