Enquanto Emma apertava Regina fortemente contra si a morena soluçava agarrada a sua blusa. A loira podia sentir o coração da mulher martelando em seu peito enquanto passava uma mão suavemente por seus cabelos e seus lábios permaneciam colados ao topo de sua cabeça. Hora beijava seus cabelos, hora cantarolava uma canção que lhe vinha a mente, hora somente inspirava o aroma que exalava das macias madeixas morenas.

Num futuro, jamais saberiam dizer com exatidão quanto tempo teriam permanecido nessa posição, uma hora, um dia ou uma vida. Fato é que Swan não soltou Regina enquanto seu peito não relaxou e sua respiração se acalmou, enquanto os soluços desenfreados se tornaram mais raros até transformarem-se em um leve fungar, as lágrimas há muito secas. Ainda assim ambas continuaram embaladas em seu abraço reconfortante enquanto o mundo parecia voltar ao lugar. Provavelmente havia sido algum tempo depois disso, que parecia curto demais para o gosto de ambas.

Emma afastou Regina sem nunca deixar de tocá-la e lentamente virou o rosto da mulher para si. Com uma das mãos afastou as mechas que haviam colado em seu rosto enquanto estava pressionada no peito da loira. Os olhos ainda vermelhos e inchados miravam a loira com uma timidez que não parecia ser característica da mulher que uma vez fora chamada de Evil Queen. Mas essa não era mais quem ela era. E ali, parada no centro daquela sala destruída, tendo Swan acariciando e limpando gentilmente seus lábios borrados, Regina era apenas uma garota que estava juntando os cacos do seu coração.

A loira afastou o olhar daquela mulher diante de si apenas por um instante para avaliar o local, porém tudo poderia ficar em segundo plano ao se voltar para Regina novamente. Os cílios ainda úmidos e os olhos refletindo uma vulnerabilidade que Swan sabia que a morena não compartilhava com muitos. Muita coisa precisava ser dita, mas isso também poderia esperar. Então Emma fez a única coisa que achou correta naquele momento, enlaçou a cintura da morena no intuito de beijá-la, mas Mills fora mais rápida levando ambas as mãos ao rosto da loira e colando suas bocas num beijo há muito desejado.

Não houve qualquer estranhamento no encontro dos lábios. Não precisou daqueles instantes de reconhecimento até entrar na dança que ambas já conheciam. Não, era como se aqueles caminhos estivessem gravados no manuscrito da alma e bastou apenas um contato para o corpo relembrar o que já era de longe conhecido.

Regina pressionava com firmeza em Swan como se por qualquer suspiro esse instante pudesse acabar. E então lentamente começaram um roçar de leve um no outro, pequenas sugadas em lábios superiores e inferiores, o gesto trazia tanto carinho que ambas estremeceram e Emma apertou mais ainda a morena contra si encontrando uma de suas mãos com aquela que pousava em sua bochecha a apertando de leve.

Regina gemeu sob o toque de Emma que rapidamente cortou o contato dos lábios fazendo a morena soltar um gemido frustrado e apresentar um biquinho digno de pena. Swan sorriu para a cara que a mulher fazia depositando um selinho naqueles lábios carnudos e levemente inchados antes de tomar a mão da outra entre as suas e constatar o ferimento causado pela taça quebrada.

—Regina, o que aconteceu com sua mão? Precisamos cuidar disso. – A mão da morena estava cortada e com sangue seco grudado na palma e já começando a inchar em diversos pontos.

—Acredite, a taça ficou bem pior do que minha mão. – Emma olhou zangada para a morena que riu.

—Ficou engraçadinha agora?

—Ué, você comprou a patente de Miss Piadista Exclusiva? – A morena retrucou e ambas caíram na gargalhada. Emma puxou Regina para si de novo num abraço meio de lado enquanto ainda segurava sua mão machucada.

—Precisamos limpar isso daqui e ver se precisa de pontos. - Emma beijou os cabelos da morena enquanto a levava em direção ao sofá. – Você tem algum kit de primeiros socorros?

—Eu não faço ideia. – Regina confessou envergonhada permitindo ser acomodada por Emma na parte mais limpa do sofá.

—Onde eu poderia começar a procurar? – Emma perguntou olhando para os lados meio perdida.

—Talvez naqueles armários por ali, eu realmente não sei, nunca precisei disso. – A loira assentiu e começou a abrir os diversos armários. Em sua maioria estavam vazios e Swan começou a se perguntar para que existiam tantos se ao menos eram usados. Se Emma ficara impressionada com o Hall da entrada, ela não possuía palavras para descrever o lado de dentro. Mesmo que meio destruído era tudo muito impressionante e era só a parte de baixo, Emma não queria pensar em como seriam os quartos. Focando em sua missão tentou esquecer que jamais poderia proporcionar aquilo a Regina. No entanto sua procura foi em vão e ela teve que mudar sua estratégia, pois curativos estavam fora de questão.

Emma voltou à sala com uma bacia com água e um pano que ela julgou estar limpo o suficiente, na área de serviço havia achado um vidro de álcool e o levou junto. Acomodando o recipiente em seu colo pegou a mão de Regina e mergulhou lá dentro.

—Pode arder um pouco, pois coloquei bastante álcool na água, ok? – disse suavemente tomando a mão da morena e mergulhando na baça sem dar tempo da outra pensar. Regina gemeu e tentou puxar sua mão de volta, mas foi impedida por Emma que segurou firmemente a mão da morena dentro da bacia.

—Você disse que ia arder um pouquinho. Está ardendo demais. – Choramingou ainda tentando tirar a mão do recipiente.

—Eu preciso desinfetar esse machucado Regina e não tem remédio nenhum aqui. Esse álcool vai ter que ajudar. Aguenta firme só um pouquinho. – O tom de Emma era tão doce e preocupado que Regina esqueceu a dor que sentia na mão e sorrindo relaxou deixando a outra passar os dedos por entra a sua palma retirando o sangue que já havia grudado ali. A morena percebia que Emma executava a tarefa com maestria e se perguntava quantas vezes fora a médica particular dos ferimentos de um menino com muita energia para gastar.

—Qual o meu diagnóstico doutora? – Regina perguntou depois de um tempo quebrando o silencio confortável que passeava entre elas.

—Acho que você sobrevive por mais essa noite. – Swan respondeu secando a mão da morena com delicadeza. – Dói quando eu aperto assim? – começou a apertar alguns pontos específicos, principalmente aqueles que apresentavam um pequeno inchaço.

—Um leve incômodo.

—Eu acho que não ficou nenhum caco de vidro dentro dos cortes, mas seria bom passar algum antisséptico e observar. – pela primeira vez a loira havia soltado a mão de Regina e o vazio foi rapidamente sentido na pele morena. Swan recolheu a bacia e o pano e levou novamente para a cozinha voltando logo em seguida. – Não quer ir ao hospital para eles olharem sua mão com mais atenção? Eu não pude fazer muita coisa.

—Mas você não fez tudo que podia. – Regina retrucou sorrindo para a cara de confusão de Emma – faltou aquele beijo que sara qualquer machucado. – a loira riu de leve para a mulher a sua frente como se ela fosse uma menina travessa e lentamente pegou a mão machucada entra as suas e a levou aos lábios num toque gentil e demorado deixando um lastro de emoção por todo corpo da morena.

Regina encolheu suas pernas junto ao peito e aconchegou-se no ombro esquerdo de Swan sendo acolhida pelo abraço protetor da loira, suas mãos estavam confortavelmente entrelaçadas, e a morena puxava um fio do suéter da outra enquanto organizava seus pensamentos.

—Acho que finalmente consegui encerrar um ciclo terrível em minha vida. – Emma aguardou em silêncio dando o espaço que Regina precisava para abrir seu coração. – Eu conversei com Ariel.

—E como foi? – A loira perguntou quando viu que Regina precisava de um incentivo para continuar falando.

—No fim, foi melhor do que esperava.

—O que quer dizer?

—Eu achei que ficaria muito mal, que guardaria um rancor terrível, mas eu só me sinto... leve. Triste sim, mas em paz. E grande parte disso eu devo a sua mãe.

—Como assim? O que minha mãe fez?

—No pequeno período que a acompanhei naquela loja ela me deu dicas valiosas sobre a vida. – Emma deu um muxoxo incentivando a outra a continuar – Bem, eu não saberia replicar tudo, até porque ela fala bastante – ambas riram – mas basicamente ela me disse que a vida estava me dando um novo recomeço e para recomeços precisamos retirar tudo o que não se encaixa em nós. Jogar fora o que não nos completa pode até doer por um momento, mas é necessário e a recompensa é algo que inexplicável. Ela não estava errada.

—Ela tem seus momentos. – Emma disse carinhosamente. – então Ariel é um capítulo encerrado?

—Sim. – Disse resignada.

—Considerando que ela fez parte de sua historia, não acha que um dia irá perdoá-la?

—Talvez. Mas não quer dizer que eu a queira em minha vida. – Regina cruzou os braços.

—Não precisa ficar emburrada miss estressadinha. Só quero que veja todas as possibilidades. O mundo dá voltas. Olhe para nós duas. – Regina aquiesceu e descruzou os braços dando a mão a Emma de novo que a beijou com delicadeza.

—O que foi, eu te machuquei? – Emma perguntou preocupada ainda segurando a mão de Regina que somente acenou de forma negativa mordendo o lábio inferior contendo o choro.

—Só estou me perguntando se isso é mesmo real. Você e eu. – Emma cutucou Regina com o dedo indicador em seu lado, em seu rosto.

—Você me parece bem real. – Disse – E eu – começou a se cutucar – pareço real também. Acho que nós duas somos reais. – Completou abrindo um sorriso brilhante que fez a morena gargalhar. - Mas se ainda não está satisfeita posso te mostrar de outra forma. – Emma soltou a mão machucada de Regina para enlaçar sua cintura e com a outra trouxe o rosto da morena até o seu unindo seus lábios em um beijo de tirar o fôlego. Seu lábio reivindicava os lábios carnudos para si no passo que Mills os entregava de boa vontade. – Eu sou de verdade Regina – disse entre um fôlego e outro – e eu estou aqui – a beijou novamente com ardor que chegava a doer em ambas. – Mas eu preciso dizer – foi parando o beijo lentamente enquanto tentava recobrar a respiração e criar a coragem para abrir os olhos e falar – Eu não sou mais uma adolescente apesar da pouca idade. Eu mal tenho um emprego – mordeu seu lábio superior se maldizendo por deixar transparecer seu constrangimento – eu talvez nunca possa te dar isso aqui – ela olhou ao redor fazendo Regina acompanhar seu olhar – E eu não quero uma aventura, um caso. Mesmo lá atrás eu queria uma vida com você Regina. Você também já é uma mulher adulta e eu preciso que saiba disso tudo. Você tem todo o direito de escolher e por mais que vá – respirou fundo – e por mais que vá me doer muito ter que deixar partir eu vou respeitar se essa for sua decisão. Eu sou real, e se você quiser terá a mim e ao Henry e eu te prometo que jamais se sentirá sozinha novamente porque minha pequena família é tudo o que eu tenho para te oferecer.

Regina estava paralisada diante da declaração de Emma. Ela via o peito da mulher subir e descer e imaginava que o seu deveria estar da mesma forma. Ela imaginava o quanto havia lhe custado dizer essas palavras. O quanto havia lhe custado abrir seu coração novamente e o mais importante, lhe entregar Henry.

—Eu, bem... – Emma recomeçara a falar diante do silencio da morena – eu sei que é muita coisa para você pensar, eu não deveria ter jogado tudo isso em cima de você assim, eu vim aqui para te ajudar e...- A loira silenciou quando Regina colocou a mão em seus lábios para que se calasse. Seu olhar grave demonstrava o esforço que estava fazendo para manter a compostura.

—Eu te amo com tudo o que eu tenho aqui. – colocou a mão de Emma em seu coração – E o que importam paredes de concreto quando você está me entregando o que tem de mais precioso? Seu amor e seu filho.

—Regina – a voz de Emma tremia ligeiramente – pense bem no que vai dizer, uma hora nossas diferenç... – A loira não terminou de falar porque Mills a calou com um beijo suave .

—Você entrou aqui hoje perguntando se tinha chegado a tempo de salvar alguma coisa. – tirou uma mecha loira teimosa do rosto da outra que somente acenou – Pois bem – Regina sussurrou olhando em volta para o apartamento destruído - Você me salvou.