Narrado por Regina

Sentei na minha cama completamente desorientada. Tenho absoluta certeza que essa pulseira trançada era a de Emma. Coloquei uma ao lado da outra, eram idênticas. A minha cortada com tesoura, a outra aparentemente foi arrebentada. O que aquilo estava fazendo ali? Pelo estado em que se encontrava podia ter anos que estava lá. Podia ter seis, quase sete anos facilmente.

Calma Regina. Comecei a dizer para mim como um mantra enquanto andava de um lado para o outro dentro do meu quarto tentando pensar numa forma coerente para ela estar ali, mas não existia outra forma, a única situação plausível para que isso acontecesse seria com Emma tendo estado lá, mas eu sabia que ela não estivera. Eu fiquei esperando.

Sabendo que não adiantaria nada ficar me fazendo perguntas sem repostas ajeitei minha roupa e meus cabelos e parti rumo a saída não antes de guardar tudo dentro da caixa novamente e levá-la comigo. Inclusive com a blusa de malha cinza. De alguma forma me sentia mais forte com ela. Iria para empresa promover uma campanha de doação de medula para Henry e iria descobrir de uma vez por todas o que estava acontecendo. Sobre Emma e sobre Zelena.

Chamei o motorista que já estava de prontidão. Não estava com cabeça para aguentar o transito caótico e antes de atravessarmos de vez o portão tive uma ideia brilhante e me repreendi por não ter pensado nisso antes.

—Para o carro. – Pedi e rapidamente fui atendida. Antes mesmo de o carro parar completamente saltei correndo em direção a portaria.

—Bom dia Dona Regina. Em que posso ajudá-la? – Me perguntou educadamente o porteiro e eu nem sabia o nome dele.

—Bom dia. Eu não sei seu nome e me desculpe por isso. – disse em um fôlego só e vi quando os olhos do homem se arregalaram para o meu pedido de desculpas, quis rir desesperadamente disso, mas eu não tinha tempo. – há quanto tempo trabalha aqui?

—Dez anos senhorita. – ele disse tomando fôlego para falar mais, porém eu não deixei.

—Você sabe se essa garota veio aqui alguma vez há mais ou menos uns seis anos? – mostrou a foto de Emma a ele sem se importar com o fato dela estar na foto também, e pra piorar na cacunda da outra.

—O que eu ia dizer é que na portaria só tem três anos. Eu trabalhava no jardim antes. – suspirei frustrada – Senhor João se lembraria porque ele lembra até os cachorros que passam na frente desse portão, mas ele está de folga hoje. – Já ia esbravejar quando ele veio com a solução e eu quis abraçar ele, mas me contive – Se a senhora souber mais ou menos o dia eu posso procurar as gravações. – eu quis praticamente chorar.

—Vocês guardam isso? – Perguntei praticamente sem voz.

—Claro senhorita. Tem pouco mais de um ano que transferimos todos os VHS’s e Cd’s para HD que estão ali separados por ano.

Sem conter minha euforia lhe passei o dia, mês e ano. Pedi que fizesse da semana inteira e começasse desde cedo até depois das onze da noite e lhe de meu cartão com meu email para que me passasse o vídeo assim que o encontrasse. O rapaz assentiu e vi ele levantar da cadeira assim que o carro atravessou o portão.

Narrado pela Autora

Regina chegou à empresa com um considerável atraso e com pouca paciência para fingir qualquer coisa. Sua cabeça fervilhava com ideias e possibilidades. Fervilhava com a possibilidade de Swan ter ido a sua casa. Seus saltos ecoavam pelo assoalho de granito de maneira rápida e ritmada e todos já pressentiam que ela não estava para brincadeira.

—Sid – parou na mesa do seu estagiário já que não via a secretária em lugar algum – convoque uma reunião para daqui a meia hora com todos os funcionários no auditório. Não quero atrasos.

—Sim senhorita. Sua mãe já chegou e disse que queria falar imediatamente com você. – ele tremeu - Alguma coisa sobre detalhes do casamento. – O rapaz era um mero estagiário e aprendeu em primeiro lugar que falar desse casamento para sua patroa era como acender um barril de pólvora e ele já estava preparado para o estouro que ira vir.

—Se minha mãe perguntar por mim, diga que eu morri, que eu desapareci, que eu não cheguei. Use sua imaginação. Eu não quero vê-la, falar com ela ou qualquer coisa do tipo. – deu as ordens calmamente deixando o rapaz de olhos arregalados e completamente confuso. Aquele não era um dia comum. - Alias, o mesmo se aplica para Gold e seu filho.

Regina dirigiu-se a sua sala e sentou-se em sua mesa para planejar a reunião que aconteceria dali a pouco. Oferecia um dia de folga a cada funcionário e mais um bônus no fim do mês para quem fosse ao hospital se inscrever como doador de medula. Redigiu um email para seus clientes parceiros prometendo um jogo de Marketing para as empresas que aderissem à campanha. Além de contatar o próprio setor de marketing da empresa para lançar a campanha.

Checando o relógio e constatando que ainda tinha um bocado de tempo Regina começou a fazer uma pesquisa sobre um assunto que a incomodava desde sábado. Abriu o navegador e digitou o nome de Emma no site de buscas. Entre um monte de informações irrelevantes, redes sociais inativas, alguns textos em jornais da NYU e inclusive a reportagem sobre a festa beneficente no New York Times, nada lhe chamou particularmente a atenção. Sem querer perder tempo salvou vários artigos para ler depois quando achou o que queria, uma pequena reportagem sobre o estupro de Swan. Baixou esse também. Travou a tela do seu Laptop e dirigiu-se ao auditório que para sua surpresa encontrava-se totalmente lotado

—Senhores boa tarde. – Disse adentrando a sala e tomando a frente. – Devem estar se perguntando o porquê dessa reunião em cima da hora. Não vou enrolar vocês sei que todos têm muitos compromissos. Estou aqui hoje para fazer um pedido. Existe uma criança no General Hospital que precisa de doadores de medula, assim como centenas de milhares de pessoas também precisam. Parece estranho para vocês esse pedido vindo de mim. Sei que minha fama me precede, mas peço que esqueçam que sou eu quem vos pede e lembrem apenas das vidas que podem ser salvas com um ato de generosidade. Quem for doar ainda terá um dia a mais de folga a ser previamente programado e solicitado pelo colaborador além de receber um bônus extra no fim do mês, obrigada. Estão dispensados.

Regina era Regina. Regina era a Evil Queen e devia, ao menos momentaneamente, honrar seu posto. Ao terminar sua fala, saiu do pequeno auditório deixando todos perplexos para trás. Voltou para sua sala, para seus artigos e pôs-se a ler um a um com tanta concentração que não percebeu a forma furiosa de sua mãe adentrando seu recinto várias horas depois.

—O que esta acontecendo Regina? – a mulher esbravejou fazendo a mulher pular de susto em sua cadeira – Que reunião foi essa que você não me avisou? Que história é essa de campanha de doação de medula? Você virou o quê, Madre Tereza de Calcutá agora? – Cora despejava uma enxurrada de perguntas para Regina tentando manter a principal razão de sua fúria longe de sua mente para que a filha não entendesse sua real motivação.

—Nossa, eu nem sabia que pudesse conhecer alguém além do seu umbigo. Quem dirá Madre Tereza de Calcutá. – a morena já esperava por essa reação da mãe, já estava preparada para isso, e queria irrita-la o máximo que pudesse, porque ao contrário do que diziam por aí, monstros irritados era sim previsíveis. Você podia sempre esperar o pior deles.

—Eu não estou para brincadeiras Regina. O que foi isso? Eu quero que cancele agora. Essa empresa é minha. – A velha história do “essa empresa é minha” e vou te mandar embora e você ficará sem emprego. E pela primeira vez, Regina realmente torcia para que ela o fizesse – você tem que me pedir essas coisas. – Controle. Sempre o controle. Aí estava o problema, Cora não pode não ter o controle da situação.

—Cancelo mamãe. Sem problema algum. Vou adorar assistir de camarote a repercussão que isso vai dar na mídia. Império Mills cancela campanha de doação de medula. Vai ficar bonito. – Regina disparou contra a mãe com a máscara despreocupada de sempre – Eu vi isso como uma forma de limpar nosso nome depois que você e Gold resolveram manchar a honra dessa empresa naquele escândalo de corrupção. – Cora arregalou os olhos – É mamãe, eu sei como nossas ações despencaram depois disso. Eu só estou tentando salvar o que vocês quase conseguiram jogar na lama, a empresa, o nome e o trabalho do meu pai. – o semblante sisudo de Cora foi aos poucos dando lugar a um pânico contido. A mulher não costumava ser contestada tão diretamente assim, principalmente por Regina. – Posso cancelar mamãe? – A mulher mais nova tirou o telefone do gancho como se fosse mesmo fazer.

—Faça como quiser Regina. – Cora disse se sentando na frente da filha demonstrando pouco caso. – Temos coisas mais importantes a resolver, como os detalhes do seu casamento. - Regina nunca saberia responder o porquê exato do seu surto de gargalhadas. Se foi a troca tão abrupta de assunto, se foi a mãe jogar a toalha tão facilmente. Se foi o fato de contestar sua matriarca tão diretamente pela primeira vez na vida e dar certo. Ela não saberia dizer, a única coisa que sabia é que ela estava só começando. Talvez por tudo isso junto, riu. Riu como se sua vida dependesse disso. As gargalhadas ecoavam por sua sala e cada vez que ela olhava para a face embasbacada de sua mãe outra onda de riso vinha.

—Ai meu Deus. – os risos iam diminuindo aos poucos e a morena enxugava as lágrimas do rosto. – Você fez algum curso de piadas pra hoje mamãe?

—Não estou te entendendo Regina. – A mais velha realmente não estava seguindo a linha de pensamento da filha.

—Se a senhora acha que eu vou me casar com Neal a senhora está vivendo uma grande ilusão mamãe. Eu jamais me uniria a um homem tão baixo e sujo quanto ele.

—Neal é o melhor partido dessa cidade. – Esbravejou. Ela tinha que fazer a filha recobrar o juízo. Ela precisava desse casamento para continuar com o poder que possuía. Henry não havia deixado nada da empresa pra ela que só poderia comandar até Regina e Zelena atingirem a maioridade e com a ajuda de Gold, que era o representante legal da Mills, e o único erro que o marido cometeu na vida, confiar nesse homem, ela permanecia com esse poder nas mãos em virtude do testamento falso. O casamento de seus filhos era a melhor barganha do mundo, a garantia de ambos no controle.

—Pois case a senhora com ele. – Retrucou Regina. – Eu não me casarei com Neal, quer a senhora goste ou não.

—Olha o respeito com sua mãe menina. Você vai casar com ele sim, está marcado desde antes de você se quer saber como retrucar alguém. – Cora disse furiosa. Em seus pensamentos completou, por bem ou por mal.

—Então me obrigue. – dizendo isso a morena fechou seu notebook, não correria o risco da mãe investigar o que andava fazendo, e ela sabia que era exatamente isso que iria fazer assim que virasse as costas. Desplugou o computador dos fios e saiu com ele debaixo dos braços. Já era mais de cinco horas da tarde e iria para um hotel se precisasse ter um pouco de paz. Mas antes passaria em casa, não no flat no Upper East Side, sua casa, a casa na qual cresceu. Foi à primeira coisa que sua mãe aceitou de bom grado da filha, sair daquela casa, tinha algo ali que poderia ajudar Regina e ela sabia. Marchava pelo corredor resoluta em seu objetivo e fingiu não notar quando sua secretária a chamava aos berros de algum lugar.

Regina foi tão incisiva e certa na sua ordem que seu motorista não ousou contestar. A morena pegou o carro e partiu para as ruas e Nova York, ela tinha pressa, a vida tinha pressa. Sua mãe estava começando a ficar preocupada e se houvesse algo que esconder ela esconderia mais ainda. A mulher sabia onde tinha que ir.

—Nena. – Regina fritou assim que colocou os pés no saguão da mansão. – Nena. – A senhora a encontrou na sala com uma cara bem assustada.

—O que foi menina? O que aconteceu?

—Quero a chave do escritório de papai. - a mulher arregalou os olhos – Agora.

—Mas senhorita, sua mãe proibiu qualquer pessoa de entrar lá. Se eu te der essa chave ela pode me despedir.

—Eu não deixarei ela fazer isso, e se fizer a senhora não ficará desamparada. Acontece que se eu não tiver essa chave agora eu vou arrombar aquela porta e aí sim essa casa virá abaixo assim que Cora cegar. – a cara de espanto da mulher era tão grande que chegava a ser engraçada, mas Regina não podia perder tempo. – A c h a v e. – Disse com toda autoridade que usava com seus subordinados no escritório ou com seus adversários em uma audiência. O tom era infalível.

Tremula a mulher retirou o molho de chaves que guardava no bolso, apontando uma em especifico e entregando a Regina. Depois que seu pai morreu, sua mãe havia proibido a entrada de qualquer um no escritório dele alegando que era um “santuário” que ela queria preservar. A morena ainda lembrava-se dos castigos que sofrera quando um dia tentou entrar.

Abriu a porta do lugar com o coração batendo em todas as partes do seu corpo, devia fazer uns dez anos que não entrava ali. Tudo parecia estar no mesmo lugar e ainda assim nada parecia ser igual. A sensação era de falsidade, não estava certo. Nada deveria estar assim. Trancou a porta atrás de si e caminhou pelo lugar lentamente.

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Em outro lugar, longe da mansão o coração de outra pessoa batia apressadamente.

O dia não tinha muita importância para Emma, a não ser quando ele virava. Cada dia que Henry passava no hospital sem um transplante era um dia a menos a seu favor. Seu filho estava morrendo e ela estava sentada assistindo. Dia após dia.

Dentre tantas horas passadas da mesma forma, mesmo aquelas passadas no leito após seu desmaio, a agitação diferente daquela segunda era algo que não dava para passar despercebido.

—Mãe, o que é toda essa gente que passa por aqui hoje? – perguntara mais cedo na hora do almoço.

—Eu não sei minha filha. – Mary disse realmente impressionada.

—Srta Swan, - um enfermeiro a chamara – um minuto?

—Sim? – Ema arqueou as sobrancelhas, o enfermeiro vinha com duas pessoas a tiracolo.

—Esses são o Sra e a Sra DelVale. Donos da transportadora DelVale. – o rapaz apresentou as duas pessoas e ela simplesmente assentiu sem compreender como aquilo poderia ser do seu interesse.

—Nós gostaríamos de dizer senhorita, que esperamos que seu filho fique bem. Estamos torcendo para que eu ou meu marido possamos ser compatível com ele, ou que algum dos nossos funcionários. – A mulher disse com compaixão que não parecia falsa. – Fechamos a empresa no almoço para que todos pudessem vir, e pedimos aos motoristas que fizessem os testes nas cidades que estão no momento.

—Obrigada. – disse a menina fracamente. Seus olhos arregalados em choque não passaram despercebidos pelos outros.

—Regina Mills mandou a campanha hoje cedo, e eu tenho filhos senhorita, não posso imaginar o que está passando.

—Obrigada. Mesmo. – Mary encontrou a voz para responder por sua filha. Os empresários foram embora e depois deles, diversas outras pessoas procuraram Emma desejando que Henry pudesse logo encontrar um doador e citando a empresa Mills.

—Mãe, eu não estou entendendo nada. – A loira disse para sua matriarca.

—Regina disse que ia ajudar filha. Ela está ajudando. – Mary respondeu simplesmente.

—O que não entendo é porque ela está fazendo isso. – Rebateu Emma.

—E isso realmente importa agora?

—Mãe, o noivo dela é o homem que me estuprou. Agora entendi porque o processo não foi pra frente. Com uma comitiva de advogados.

—Mais uma vez, isso não importa agora minha filha. Só a saúde de Henry. Alem do mais, ela não me parecia muito feliz com esse noivo dela. – Emma somente revirou os olhos para as alegações de Mary se perguntando em que ponto da vida ela passou a defender Regina.

Não foi muito depois dessa conversa que o médico de Henry chamou as duas mulheres em sua sala para uma conversa. Emma parecia que ia desmaiar. Será que Henry tinha piorado? Será que seu filho não tinha mais tempo? As lágrimas começaram a descer sem ela ao menos perceber.

—Nós queríamos ter conversado com a pessoa antes, mas não conseguimos falar com ela. Depois de diversos testes nós encontramos uma pessoa que tem uma grande chance de compatibilidade com Henry. – Emma ouvia essas palavras atentamente e sentiu seu coração bater fora de qualquer compasso considerado saudável.

Narrado por Regina

O escritório de papai me trazia tantas recordações boas. Das horas que passava aqui quando a escola nos liberava só para ficar perto dele. Quantas vezes desenhei nesse chão enquanto ele trabalhava.

Apesar de Cora jurar que não entra aqui posso ver pequenas mudanças por todo cômodo. Sutis, mas estão lá. Seja um quadro mais pro lado, um livro que ficava em outro lugar, ou um porta retrato que tenha sumido. Olhos despercebidos jamais iriam reparar.

Sento em sua mesa e giro a cadeira um pouco lembrando de quando sentava aqui e rodopiava na grande cadeira de couro, hoje ela é quase pequena pra mim. Me pergunto se minha mãe esconderia algo real de valor aqui. Abri uma gaveta decidida a achar qualquer coisa que me provasse que Zelena não estava mentindo para mim. Na primeira não havia nada demais. Papeis velhos. Na segunda achei vários desenhos meus e de minha irmã. Sorri olhado para cada um deles. Assim fiz com a terceira já desanimada e desejando ir para qualquer outro lugar quando vi que não tinha nada e tentei puxar a quarta, uma menorzinha que nunca ficava nada, me surpreendendo por estar trancada.

Confusa abaixei para checar e não vi a tranca de imediato, ela estava por debaixo da mesa, entre um detalhe e outro da madeira. Essa gaveta nunca havia ficado trancada, aliás nunca houve trinco. Senti meu coração parar alguns segundos. Tentei puxar com toda a minha força, mas ela não cedeu. Depois testei todas as chaves de Nane duas vezes sabendo que essa chave nunca estaria ali.

Frustrada comecei a olhar em todos os vasos, mínimos bibelôs ou entre os livros. Aquela gaveta tinha algo de importante nela e eu precisava saber o que era. Num lampejo que até me deixou tonta uma imagem veio na minha cabeça. Meu pai tinha um cofre nesse escritório e um dia, há muito tempo, tinha me mostrado onde era e falado a senha. Ruivamorena. Como meus dois amores, dissera. Corri até a estante e abri a portinha de baixo. Por trás de tanto papel estava ali no móvel em algum lugar, era só apertar. Comecei tateando toda a parede e nada.

Senti o pânico me dominando, será que minha mãe fechara? Pulei pra outra estante e não precisei de muito. No terceiro empurrão a parede cedeu fazendo a madeira vir para a frente me deixando puxá-la revelando a porta de metal por trás. O sangue zumbia nas minha orelhas, digitei a senha, mas nada aconteceu. Ela mudara. Testei o aniversario de papai, o meu ou de mamãe e nada. Eu tinha mais uma chance ou o alarme dispararia. Sentei no chão com as costas encostadas a porta fechada pensando desanimada quando uma ideia louca passou por minha mente. O aniversario de Zelena.

Apertei as teclas com os dedos tremendo e fechei os olhos quando terminei prendendo a respiração. Mas ao invés do alarme ouvi o clique da porta se abrindo. Dentro do cofre tinha muito dinheiro tampando ele todo. Mas não me intimidei com aquilo, movi os bolinhos de um a um revelando a parte de trás. Mantendo a formação dos montes para depois só colocar no lugar. Atrás dos montes não tinha nada de interessante. Papéis e mais papéis sem valor algum, mas nada de chave. Frustrada comecei a colocar os papeis de novo quando minha mão bateu em algo irregular na parte de cima do cofre que não dava para ver de uma posição normal.

Deitei no chão e vi, colado no teto do cofre estava uma chave de prata. Arranquei a chave dali e corri para a gaveta. Ela entrou sem dificuldades. Parei por alguns segundos antes de finalmente tomar coagem de abrir aquilo. A gaveta estava cheia. Alguns contratos de Cora que prefiro não imaginar porque estão aqui. Passei papel por papel já começando a ficar cansada.

Um processo antigo me chamou a atenção. Eram poucas folhas, mas os peguei em minha mão. Comecei a ler e percebi que era uma sentença. Meu pai havia adotado Zelena. Chocada passei os papeis e encontrei a primeira certidão dela e vi só o nome de minha mãe e um papel autenticado dela abrindo mão do pátrio poder. Ela deu Zelena para adoção. Senti meus olhos turvarem ao ler esses papeis. Minha mãe tinha dado minha irmã para adoção. Fotografei cada um.

Zelena não havia mentido para mim. Ela realmente não era filha de Henry. Ainda chocada comecei a guardar os papeis, as mãos tremulas acabaram bagunçando alguns que ainda ficaram lá. Um envelope me chamou a atenção. Puxei-o de baixo da pilha. O envelope era de uma empresa que eu não conhecia, mas podia ver que continha fotografias ali dentro. Do lado de fora estava escrito em letras garrafais a palavra, originais. O nome que constava na entrega era do namorado de Ariel. Curiosa abri o envelope, a cola nem funcionava direito mais, assim que virei na mesa senti meu coração parar de vez.