Quem visse, realmente enxergasse o fundo da alma daquela mulher que mordia a tampa da caneta e vagava seu olhar firme pelas paredes de vidro da sala de reuniões do arranha céu do escritório de um de seus clientes mais ricos perceberia que ela não estava realmente ali. Veria que a Regina que ditava ordens e humilhava aqueles que se colocavam em seu caminho pelo simples prazer de se fazer superior para enaltecer um ego que nem seu era estava prestes a ser extinta.

E isso era um perigo. O meio em que ela vivia ela precisava estar sempre alerta. Durante os últimos anos ganhou a confiança de sua mãe demonstrando a cada dia ser um pouco mais parecida com ela. Na ambição e nos sentimentos. A vida de Regina era atuar. Não que ela fosse a mesma menina que foi enganada aos 16 anos. Seu dote artístico não era tão bom assim. Mas ela também não era a cópia piorada de Cora. Não. Ela odiava a mãe.

A morena se lembrou de que precisava atuar quando percebeu que sua atenção era chamada pelo que parece não pela primeira vez. Assumiu sua face arrogante e desinteressada de sempre assim que seu futuro sogro fez alguma piada sem graça sobre ela estar distraída pelos detalhes do casamento que se aproximava e a isso se seguiram vários outros comentários tão impertinentes e machistas quanto o primeiro, mesmo a maioria do quorum daquela reunião sendo formado por mulheres que deram risinhos que não eram nem um pouco de alegria.

Regina até tentou ficar realmente irritada pelo fato do rumo da conversa ter virado nem que seja por apenas dois segundos para sua vida pessoal antes de voltar para negócios, mas ficou realmente surpresa quando não conseguiu que seu cérebro mantivesse esse foco por muito tempo. Seus neurônios insistiam em ir e voltar em cenas de um garotinho sorridente na cama de um hospital e as peripécias que ambos faziam para que tivessem seus poucos minutinhos em paz.

No ultimo mês Henry e Regina haviam se tornado amigos inseparáveis, daqueles que trocam confidências sem nem se quer dizer uma só palavra. A morena confidenciara ao menino que na adolescência fora namorada de Emma e que algo de muito ruim havia acontecido e que elas tinham se separado. E que durante muito tempo ficou com muita raiva de Swan e que isso tinha feito ela se tornar uma pessoa muito ruim.

—E você agora é uma pessoa boa de novo? – Ele perguntara com sua vozinha infantil. Regina levou um tempo considerando essa pergunta antes de respondê-la. – Eu não sei Henry. Talvez eu esteja melhorando. – Ela disse sendo sincera. – Eu quero melhorar. – completou sorrindo pra ele de forma triste. O menino pegou as mãos da mulher colocando entre as dele. – Eu acho você uma pessoa boa. Minha mãe pode não achar. Mas os adultos não podem estar certos sempre não é mesmo?

Regina e Henry bolaram pequenos planos para se encontrarem sem interrupções. O menino jurou descobrir o que fez sua mãe sentir tanta raiva de Regina e por outro lado a morena queria muito descobrir o que acontecera já que o menino lhe garantira que a mãe e a tia nunca foram namoradas. Não que Regina, acostumada com grandes falastrões a vida e no trabalho, fosse acreditar cem por cento na palavra de um menino que idolatrava a mãe que era a mulher que ela mais odiava. A mais linda que já tinha visto, mas que mais odiava.

A morena se disfarçava várias vezes de personagens quando não conseguia fazer com que Mary Margareth saísse da sala ou subornava Ariel para que lhe conseguisse uns minutos sozinha com a criança entre um exame e outro.

Em suas conversas com o pequeno Regina descobriu que Emma estava trabalhando em um bar após ter sido demitida do jornal, por isso o garoto sempre passava as noite com a avó, esporadicamente o avô vinha do sítio ou se não era Ruby quem ficava ali depois do expediente do jornal. Nesses dias Regina se quer aparecia pelo hospital. Aquela mulher possuía um radar supersônico que encontrava a morena aonde quer que ela estivesse e lhe lançava olhares mortais que se pudessem matar, Regina provavelmente já teria virado pó. Não teria sobrado um pedacinho sequer de Mills para enterrar.

A morena percebeu que Henry nunca falava do pai e ela não fazia muita questão de perguntar. Sempre que esse assunto lhe vinha na cabeça parecia que algo pesava em seu estômago e lhe impedia de fazer essa pergunta. Regina nunca fora supersticiosa, religiosa ou qualquer outra coisa do tipo, mas havia sinais que nem ela gostava de ignorar.

Apesar de essa aproximação ter sido gratificante para Mills tinha algo que ela não podia ignorar. O tempo que Henry permanecia no hospital. O menino já estava ali por dois meses ininterruptos. Ela não precisava ser médica para saber que o quadro dele estava piorando. Os círculos roxos em volta de seus olhos. A quantidade dobrada de remédio que constava em seu soro. A sonolência que diminuía em quase pela metade o tempo que estavam passando juntos os últimos dias. Ele não estava bem.

O barulho do ar condicionado dava ao quarto um clima bem deprimente. Se juntasse o pingar constante do soro e a respiração um pouco irregular fazia qualquer um arrancar os cabelos. Imagina ouvir isso todos os dias enquanto você olha um ser tão pequeno e frágil em cima de uma cama sem poder fazer nada.

Regina sabia que estava sendo inconsequente. Estava aparecendo todos os dias naquela semana. Mas Henry mal conversou com ela por esses dias. Por duas vezes viu quando Emma saiu para trabalhar. O rosto inchado e o olhar perdido e teve que conter o impulso de correr atrás dela e abraça-la. E por mais que uma parte do seu cérebro ainda ficasse insistindo em uma vingança contra a loira Regina não conseguia imaginar a dor que ela estava sentindo e nem por um segundo acreditar que Swan fosse merecedora dela. Nem àquele pequeno.

O menino dormia. Seu peito subia e descia. Sua avó estava na lanchonete ela sabia e iria aproveitar esses instantes para ficar com ele. Segurou sua mãozinha e acariciou seus dedinhos. Estavam gelados. Cobriu seu corpo com o cobertor azul um pouco surrado do Star Wars. A morena podia apostar que a criança era forçada pela mãe a gostar de coisas nerds e a usar as coisas que ela mesmo usava. Regina riu com o pensamento. Deve ter rido um pouco alto porque o menino virou lentamente e sussurrou baixinho.

—Regina.

—Xiii. – Ela sussurrou de volta. – Volte a dormir pequeno. – Ele obedeceu virando para o lado novamente. O que a morena não estava esperando é que teria mais alguém naquele quarto para ouvir aquele sussurro tão calmo, tão sereno, porém tão revelador.

—Regina? – A morena enrijeceu o corpo sobressaltada ao ouvir seu nome ser pronunciado por uma voz que ela passou a conhecer muito bem. Aliás, nem precisaria ouvir seu nome ser sussurrado. A dona dessa voz a reconheceria com ou sem nome sussurrado.

Regina sentiu todo seu interior congelar gradualmente. Aquele frio que começa lá na base da cabeça e você sente lentamente chegando à sola do pé. Agradeceu por estar sentada, se não teria dado um pulo digno de cinema. Ajeitou a postura ereta e virou-se lentamente na direção da voz sem deixar transparecer seu horror por ter sido pega no flagra por ninguém mais ninguém menos que Ruby Luccas.

—O que você pensa que está fazendo? – A morena de cabelos longos avançou em direção a Mills que achou realmente que a mulher partiria para a agressão bem ali, dentro de um quarto de hospital, mas ela desviou de Regina em direção à cama de Henry checando o menino por debaixo do cobertor, na cama, nos aparelhos, no soro pendurado como um cão farejando a ração escondida. – O que você fez?

—Do que você está falando? – Regina que já se encontrava de pé e um pouco mais afastada da fúria da amiga de Emma segurava sua bolsa, o mais novo modelo da Prada, como se a peça pudesse lhe dar algum tipo de proteção. – Eu não fiz nada.

—Claro que fez. Você é como um demônio, uma assombração, uma coisa ruim, um espírito do mal. Distribui destruição onde passa. O que você fez com ele? – sua voz aumentava a cada palavra. O dedo apontado para Regina era ameaçador. A morena recuou mais dois passos batendo em algo.

—Mas o que esta acontecendo aqui? – Era Mary Margareth que tinha voltado da lanchonete. Pronto o circo estava armado. Regina fechou os olhos suspirando desanimada. – Ruby, o que você está fazendo? Por que está apontando o dedo para ela assim? – a mãe de Emma segurava os braços de Regina de forma protetora e a morena por um momento se sentiu segura, mas tentou espantar esse sentimento porque ela sabia que estava prestes a acabar.

—Tia, sai de perto dessa mulher. – Ruby vociferou.

—Que isso Ruby. Que modos são esses? – Perguntou a mais velha assustada – Por que está falando assim com a moça? – Sua calma era mesclada na confusão o que tornava a mãe de Swan aparentemente muito mais nova do que ela realente era, e Regina reconheceu ali cada traço que uma vez Emma descrevera de sua matriarca.

—Você sabe quem ela é tia?

—Ela é voluntaria no hospital. – Disse Mary apontando o obvio como se o escândalo de Ruby não fizesse o menor sentido. – Sempre que ela pode passa por aqui e conta histórias para Henry. Ele adora.

—Ela vem aqui sempre? – O horror tomava a face de Ruby em uma careta bizarra. – A Emma sabe disso?

—Baixe esse tom Ruby. Ele esta dormindo. – Apontou para a cama aonde o menino ressoava baixinho alheio a todo reboliço que acontecia ao seu redor – E sim, ela vem. O que tem isso? – As duas conversavam como se a outra morena não estivesse ali. Regina não ousava se mexer. Queria aproveitar ao máximo seus últimos momentos naquele lugar que se tornara seu refúgio nas últimas semanas. Seu pequeno lugar de conforto. O único lugar que ela podia ser a melhor Regina que outrora ela já fora.

—Ela é a Regina. – Disse entre dentes enfatizando cada sílaba do no nome da outra a olhando com tremendo desprezo.

—Eu sei o nome dela.

—Não tia. Aparentemente a senhora não sabe. – Mary Margareth ia contestar, mas a garota não deixou. – Ela é a Regina. Regina Mills.

Por um instante fez-se silencio absoluto naquele lugar. Algo como se o tempo tivesse parado e somente aquele sobrenome ficasse ecoando num silencio que parecia gritar ‘eu sei o que vocês fizeram no verão passado’.

—Mills? – Gaguejou a mãe de Swan virando lentamente para a mulher que estava parada ao seu lado como uma estátua. Algumas horas depois, quando estiver em seu apartamento com metade de seus objetos de luxo estilhaçados no chão num acesso de fúria Regina se perguntará por que não colocou aquela petulante da Ruby em seu devido lugar. Porque ficou tão quebrada com o olhar decepcionado de Mary Margareth. Porque não jogou na cara daquelas mulheres que foi Swan quem lhe deixara plantada depois de lhe mostrar o que era ser feliz, lhe oferecer a mão e lhe abandonar. Então ela se arrependeria de ter hesitado naquele segundo quando Henry após ela contar que ninguém gostava dela na empresa e que todos tem medo dela disse “Regina não se preocupe eu gosto de você com todo meu coração”. Mas só depois. Agora ela mal conseguia respirar. – Aquela Mills? – Olhou nos olhos de Regina como se precisasse de uma confirmação que não veio por parte da morena

—Sim tia. A própria. Em carne, osso e maldade.

—Por favor Ruby. – Repreendeu-a.

—Por favor? Por favor? Eu sei que só há bondade no seu coração tia, mas pelo amor de Deus você lembra o que essa garota fez, você lembra o que Emma passou, o que passamos. Olha o que ela ainda faz.

—Ruby!

—Tia!

Regina olhava de uma para outra sem reação. O que Swan fez com ela a amargurou profundamente, mas o ódio que Ruby exalava por ela era uma coisa que Regina não conseguia nem imaginar de onde vinha. Olhou para a mulher mais velha e viu ali várias emoções passarem em seu rosto. Dor e angustia tomaram conta de suas orbes negras. Mas também havia dúvida. Mary Margareth teve sua própria cota de Regina Mills. Havia dúvida em seu olhar e a mulher mais nova se apegou a isso como a criancinha que se agarra a mão dos pais para atravessar a rua. Mas não foi o suficiente.

—Essa mulher tem que sair daqui! – A teimosia de Ruby era como um muro de arrimo. Intransponível e praticamente impossível de derrubar.

—Ruby isso ainda é um quarto de hospital. Ainda há uma criança aqui lutando pela vida. Criança essa que é meu neto e seu sobrinho. Criança que adora as visitas dessa mulher que você está mandando embora. – Mary a repreendeu com veemência.

—Quando Emma descobrir...

—Emma não saberá de nada porque eu não vou falar nem você. Está proibida. Minha filha já tem muito com que se preocupar. O filho dela está no hospital há dois meses ininterruptos. Ela perdeu o emprego dos sonhos da vida dela. – Ruby fuzilou Regina com o olhar – Ela não precisa disso agora. Em respeito ao Henry. – Virando-se para Mills completou – E é em respeito a ele que eu te agradeço por suas visitas, mas te peço, por favor, não volte. Não pense nem um segundo que eu ache que você queria prejudicá-lo de alguma forma, eu vi o que fez aqui, mas eu sou a mãe da Emma e eu não posso ignorar tudo que aconteceu na vida dela depois que ela te conheceu.

Narrado por Regina

As palavras da mãe de Emma entraram por meus ouvidos e bagunçaram todos os meus sentidos. Eu sabia que cada palavra que a mulher disse era sincera. Não era demagogia ou pura balela. Aquela era a verdadeira natureza dela. Mary Margareth enxergava as pessoas com os olhos do coração. Clichê? Sim. Fazia eu me sentir meio enjoada? Sim. Mas era real.

Eu sabia também que o ódio de Ruby era genuíno. Eu conhecia aquele olhar. Por seis anos seguidos eu dormia e acordava com ele, para onde eu refletisse, ódio era praticamente tudo que eu via. Apesar de devastada, esse momento aqui agora me fez perceber uma coisa, algo de muito ruim aconteceu lá atrás. Algo que Emma e toda sua família acham que eu fui a responsável. Algo que eu tenho que descobrir o que é.

—Por favor. – Mary Margareth disse novamente e eu somente assenti. Aprumei meu corpo e olhei mais uma vez para o menino adormecido antes de me virar para sair.

—Só uma coisa, - voltei – Se por acaso ele perguntar por que não estou vindo diga a ele que quando venho ele está dormindo. Pode fazer isso?

—Posso. – respondeu a senhora não deixando a amiga de Swan abrir a boca.

—Ah, se precisar de algo – peguei um cartão dentro da minha bolsa – não hesite em me ligar. – estendi a mão na direção da mulher que rapidamente pegou o cartão assentindo.

Sem demora saí do quarto e por puro reflexo consegui ver Ruby tentando retirar o cartão da mão de Mary que rapidamente o guardou no bolso dianteiro da calça que vestia. Sorri para mim mesma. Aquela mulher era um doce, mas acho que não era contrariada muitas vezes e eu gostei disso. Apesar de tudo ela tirou suas próprias conclusões sobre mim.

Eu não sei dizer por quanto tempo caminhei antes de ligar para o motorista vir me buscar em um lugar que mal sabia explicar onde era. Toda aquela cena do hospital passava e repassava na minha mente como a reprise de um filme que a cada hora ficava pior. Eu tinha provas de que Emma que deveria ter ido me encontrar aquele dia tinha ficado com Ruby. Mas toda aquela família me odiava como se eu fosse a mais nova edição da peste negra. Não me espantaria se no dia das bruxas fizessem um boneco meu para bater até dizer chega.

Até o momento que meu motorista me achou eu passei do estado catatônico para um estado de fúria cega. Quem eram aquelas pessoas para fazer o que estavam fazendo comigo? Eu sofri horrores a minha vida inteira e quando eu vi uma luz no fim do túnel alguém foi lá e fechou o túnel com concreto. Swan fechou o túnel. O mesmo túnel que ela abriu.

Rodeada com os cacos dos vasos chineses de mamãe me permiti chorar ao perceber que eu não poderia mais conversar com aquela criança que tinha tornado os meus dias cheios stress em dias suportáveis. Cora Mills não recebeu bem a noticia que sua porcelana importada tinha virado sucata, mas uma das vantagens de ter me tornado a Evil Queen, é que nem mesmo ela se atrevia a me questionar o porquê.

Duas semanas se passaram no mais terrível tédio após o dia do hospital. Eu não descobrira nada de diferente que possa ter acontecido há seis anos. Ariel tem me evitado com mais veemência que o normal e tudo corria para eu me tornar a mesma de sempre. Aliás, cada dia que passava eu estava mas determinada a esquecer Emma e Henry por toda a minha vida. E foi numa tarde de sábado, depois do ensaio do casamento que obviamente eu esqueci, quando eu achava que meu dia não podia piorar que meu telefone tocou. Pensei em fingir que não vi, mas algo me impediu.

—Mills.

—Regina? – A voz do outro lado disse sem nenhuma classe, mas numa tristeza palpável.

—Regina Mills, pois não? – Olhei para o relógio. Eram quatro da tarde. Quem seria a essa hora? De uma sábado? Deixei meu corpo cair na minha cama, queria me fundir a ela e desaparecer do planeta.

—É Mary Margareth. – Fiquei de pé na mesma hora. Senti meu coração bater fora do peito.

—Senhora Mary aconteceu algo? – Perguntei com a voz mais fraca do que gostaria. Me plano de ignorar aquela família escorrendo pelo ralo mais uma vez.

—É Henry. Ele não está bem. Ele... – A mulher irrompeu em lágrimas do outro lado e eu esperei – desculpe-me eu só precisava conversar com alguém.

—Tudo bem. – eu disse sem jeito, mas senti que não era isso que ela quis dizer. Ela queria me avisar só não ia dizer que estava fazendo isso.

—desculpe por incomodar Regina, você deve ser uma mulher muito ocupada. Tchau. – eu mal ouvi Mary desligar o telefone e nem sei se eu respondi, mas quando dei por mim enfrentava o transito caótico de Nova York rumo ao hospital.

Narrado pela Autora

Mary voltou para o saguão onde sua filha era amparada por seu marido. Seu outro filho e a esposa estavam sentados do outro lado dela. Ruby, Dot, Belle, Ana e Elsa estavam abaixadas tentando todas juntas passar apoio à amiga. A matriarca sentia um aperto no peito. Não sabia se tinha feito o certo avisando a Regina da situação de Henry, mas agora já estava feito. Algo dentro de seu coração de mãe dizia que esse não era o fim de Henry, que Regina poderia de uma forma que ninguém mais previu, contra todas as probabilidades ajudar.

Todos que estavam ali já tinham feito o teste e ninguém era compatível com Henry. Seu neto precisava da doação de medula com tanta urgência que havia passado na frente na fila de doação. Uma confusão foi ouvida pelo corredor seguida por várias vozes discutindo com veemência e um furação ruivo adentrou a sala de espera com seu mini tornado a tira colo.

—Cadê tia Emma? – Era Robin que se enfiou no meio de todas aquelas mulheres para se jogar no colo da loira que a abraçou de imediato. – Não chora tia. Eu vou te da um beijo e essa dor vai passar tá. – a garotinha espremeu um beijo na bochecha da mais velha e se aninhou em seu colo fazendo Swan a apertá-la contra si.

—Obrigada meu amor tenho certeza que agora vai passar mesmo.

—Bex que tumulto era esse no corredor? – Perguntou um David se levantando para dar espaço à ruiva.

—Imagina que eles queriam me proibir de entrar aqui com Robin? Esse pessoal não me conhece mesmo. Robin chutou a canela do enfermeiro e veio correndo. – todos riram e a menina sorriu orgulhosa.

—Mas e o bar? – Perguntou Emma. – Hoje é sábado.

—Você acha mesmo que eu estou preocupada com algum bar Emma? Meus amigos precisam de mim. Estou onde eu deveria estar. – A loira agradeceu com o olhar. – E o pequeno? Alguma evolução?

—Não. Ele está na UTI. – a voz da loira falhou – Os médicos o passaram na frente na lista de medula, mas é uma corrida contra o tempo e medula compatível é quase uma raridade. Eu não sei mais o que fazer. Eu sinto que falhei em todos os sentidos. Como se eu fosse responsável por isso. – terminou de dizer caindo em um choro soluçado que ninguém ali conseguiu segurar as próprias lágrimas.

Os saltos ecoava pelo corredor estéril mostrando toda a impaciência da mulher que os usava. Regina estava arrependida de não ter ao menos trocado de roupa. Ainda usava o vestido do ensaio tendo tempo só de soltar os cabelos para não parecer ter vindo direto de um baile de debutantes dos anos 80.

À medida que avançava seu coração batia mais forte contra seu peito. E se a mãe de Emma quisesse somente conversar mesmo? E se ela tivesse compreendido tudo errado? Ela soube que estava quase chegando quando ouviu a voz de Swan dizendo com um sofrimento explícito ‘os médicos o passaram na frente na lista de medula, mas é uma corrida contra o tempo e medula compatível é quase uma raridade. Eu não sei mais o que fazer. Eu sinto que falhei em todos os sentidos. Como se eu fosse responsável por isso.’

Regina parou seu caminhar. Naquele instante não existia passado. Não existia quem fez quem sofrer. Era uma mãe em total desespero por seu filho. Respirou profundamente tomando coragem e adentrou a sala de espera, mas respirada profunda nenhuma poderia prepará-la para o que viria a seguir, nem naqueles instantes nem nos dias viriam a seguir.