Sonhadora

Capítulo 19- Tristezas, Más Noticias, Afliçoes...


Após respirar fundo, entro naquele lugar inóspito. Eu nunca pensei que teria que entrar em um lugar daqueles. O ar gélido passou pela minha pele me fazendo ficar arrepiada .Encolho os meus braços tentando me manter aquecida.

–Você esta bem Fernanda?- Balanço levemente minha cabeça afirmando, mesmo que não fosse verdade.

Passamos por um estreito corredor branco que me trazia recordações que eu não gostava de relembrar. Após alguns segundos que me pareceram eternidade entramos em uma ampla sala muito clareada, o que ofusca um pouco a minha visão. Tenho a súbita sensaçao que vou desmaiar assim que entro naquele lugar. Por mais que eu adorasse medicina e gostasse de cuidar dos ferimentos das pessoas, era muito diferente do que vê-las mortas. O cheiro também não ajudava muito e muitas vezes me perguntei o quão amiga eu era de Alice para ter aceitado entrar naquele lugar, que ate então eu jurava a mim mesma só entrar quando eu já tivesse morrido. Minha cabeça começa a girar e sou obrigada a me segurar em Lucas. Eu sabia que estava sendo fresca , e fraca mas era mais forte que eu.

–Fernanda o que você esta sentindo?

–Eu... – não consigo terminar a frase, a minha visão fica escura então eu desmaio.

Não sei se eu realmente desmaiei e se sim, quanto tempo se passou. Eu não senti nada, apenas apaguei. Tive uma leve alucinação mas que eu esqueci assim que abri os olhos devagar . A minha visão ainda estava embaçada mas mesmo assim me assusto ao ver um Richard sentado meio nervoso, pois mexia as mãos sem parar.

–O que vocce... esta fazendo aqui? –Tento balbuciar algumas palavras, mas só o que consigo fazer é gaguejar. Fecho os olhos e os abro novamente lentamente. Me levanto da cadeira e agora eu já estava recuperada. Fico um tempo olhando paro os dois que estavam me fitando. Começo a corar, nunca me dei bem sendo o centro das atenções e ainda me pergunto como Alice conseguiu fazer aquela peça. Afasto meus pensamentos e tento focar nos dois. Mais alguns segundos se passam em um silencio constrangedor sem que ninguém respondesse a minha pergunta anterior então decidi faze-la novamente.

–O que esta fazendo aqui Richard?

–O efeito do remédio dele também acabou então contei tudo o que aconteceu- diz Lucas

–Oh tudo bem, mas quanto tempo fiquei apagada?

–Acho que cinco minutos no Maximo

–Oh Meu Deus! E quanto a Alice?

Na mesma hora que termino a frase foi como se o nome Alice fosse um fósforo que acabara de acender uma bomba. Os olhos de ambos os garotos se arregalam e então percebo que essa parte não havia sido resolvida

–Algum voluntario a algum ideia?

–Um silencio toma lugar do Necroterio. Um arrepio percorre a minha espinha ao relembrar que ainda estava naquele local. Olho para Richard e seus olhos estavam marejados, talvez pelo medo de perde-la.

–Eu tenho uma ideia.

Me assusto ao ouvir a voz de Lucas.

–Pode ser arriscada mas...

–Tudo bem- eu e Richard dizemos em coro.

–Eu faço o que for preciso para salva-la- diz Richard

Saímos do Necrotério, o que me fez ficar um pouco menos tensa. Seguimos todo o caminho em silencio ate a recepçao onde teríamos noticias de Alice.

Assim que chegamos na recepção minha respiração estava ofegante. Mais um coisa adicionada a minha lista do que eu não era boa era exercícios físicos. Tento recuperar o fôlego, minhas bochechas estavam queimando por causa da agitação e também da tensão

–Por favor, eu queria saber noticias da paciente Alice.

–Ah sim, ela chegou aqui já tem 40 minutos. Ela esta nesse exato momento na mesa de cirurgia- A enfermeira diz dando um sorriso. Não pude conter a minha cara de espanto. Estava tudo perdido. Alice iria morrer em alguns segundos. Eu era a culpada.

Se não deu certo, apague e recomece. Esqueça o que ficou. Esqueça a culpa. A falta de plano. Esqueça a dúvida. O que foi quase engano. Apague e recomece. É sempre hora de mudar, de virar a página e se reinventar. Mesmo que doa, aprender não é um processo à toa.

Fernanda Mello


Respiro fundo e vou ao encontro dos garotos que me olhavam esperançosos, mas assim que fui contando o que a recepcionista disse o olhar de esperança se tornou de dor e tristeza. As palavras que eu acabara de dizer ficou ecoando em minha mente, fazendo uma lagrima escorrer. Ela esta na mesa de cirurgia e provavelmente daqui a alguns minutos estará morta. E eu sou a culpada.


Lucas me abraça, o calor dos seus braços me fez sentir protegida. Apoio minha cabeça em seu peito e posso ouvir seu coração bater acelerado.

–Fernanda, você não e a culpada. A sua ideia tinha tudo para dar certo, a culpada e aquela mulher.

–Voce acha mesmo? – digo quase como um sussurro

–Claro que sim Fernanda- ele diz enxugando as minhas lagrimas e dando um leve beijo em minha testa.

Dou um leve sorriso, confesso que estava me sentindo menos culpada, mas mesmo assim aquele pensamento ainda não saia da minha cabeça. Richard estava sentado no sofá de espera, fomos ao seu encontro. Seu estado dava do. Ele estava chorando muito e seus olhos já estavam inchados. Vou ate o seu lado e me ajoelho.

–Richard, não fica assim, vem! – digo- o puxando o obrigando a se levantar.

–Ela..ela morreu? –ele diz soluçando

Não digo nada, apenas balanço a cabeça afirmando. Seus olhos começam a lacrimejar e ele volta a chorar, ele realmente estava muito triste e aquela tristeza estava me contagiando. Sento ao seu lado e sinto uma lagrima florescer em um dos meus olhos.

–Vamos tomar um café e pensar em o que fazer- Lucas sugere vendo o quanto estávamos tristes. Ambos concordamos sem fazer nenhum protesto.

Pov Alice

"Não sei perder minha vida"
Não sei qual a minha culpa mas, peço perdão.
A luz do farol revelou-os tão rapidamente que não puderam ver.
Peço perdão por não ser uma "estrela" ou o "mar"ou por não ser alegre
mas coisa que se dá.
Peço perdão por não saber me dá nem a mim mesma,
para me dar desse modo a minha vida se fosse preciso
mas, peço de novo perdão
não sei perder minha vida.

Clarice Lispector


Abro os olhos, mas não consigo respirar. Uma falta de ar consome o meu corpo e tento ao Maximo me manter consciente. Me assusto pois mesmo com os olhos abertos eu não enxergava nada alem do breu total. Foi nessa hora que todas as lembranças vieram a tona.


Com as maos tremendo tento esticar os braços e consigo fazer o ar entrar. Fico aliviada e meus pulmões agradecem. Foi então que eu percebi que estava no hospital. Provavelmente acharam que eu estava morta e me colocaram enrolada nessa lençol. Me descubro e percebo que eu estava deitada em uma maca. O que será que aconteceu? Cade a Fernanda, Richard e o Lucas? Sou obrigada a afastar meus pensamentos quando ouço a porta se abrir. Fecho os olhos e me cubro novamente, ninguém poderia saber que estava acordada.

–Entao doutor tudo pronto para o transplante?

Não e possível, aquela voz, eu reconhecia. O que minha mãe estava fazendo aqui?

–Claro, iremos leva-la imediatamente a sala de cirurgia. O seu marido já esta recebendo os devidos cuidados.

–Isso e muito bom, finalmente meu marido ira receber um coração.

–O que? – Tapo a minha boca, na mesma hora que deixo um grito ecoar da minha boca. Percebo que eles ouviram pois na mesma hora param de falar e ouço passos em minha direçao.

Burra Burra Burra! O que fui fazer? Eu estava perdida, respiro fundo e prendo a respiração. Na mesma hora alguém levanta o lençol e sinto um frio percorrer a minha espinha.