Sonhadora

Capítulo 11- P.O.V Fernanda- Culpa...


–Filha... onde você está ? eu estou preocupada, você sumiu.

–Mãe... eu estou ocupada.

–Fernanda não interessa, eu quero você aqui em casa em 10 minutos.- Nessa hora sua voz era de preocupação.

–Mas mãe!

–Não discuta, eu sei que está com raiva porque vamos nos mudar, mas eu tenho que te dizer uma coisa.

–Argh... tudo bem já estou indo.

–Filha espera,

–O que foi?

–Eu te amo- Porque ela estava fazendo isso comigo? poxa eu não quero viajar... queria tanto ficar aqui, mas por um lado ela não tinha culpa.

–Tudo bem mãe já estou indo, beijos.

–Beijos filha

Desligo o telefone e vou embora, ela tinha razão precisávamos conversar.Vou andando até em casa mas antes assim que vejo a luz da cafeteria acesa resolvo entrar para comprar um milk shake.

–Por favor, me vê um milk shake de ovo maltine?

–Tudo bem, são R$ : 5,99

Pego meu milk shake e vou tomando durante o caminho, não era longe, apenas 5 minutos de caminhada mas pareceu uma eternidade.Vários pensamentos começaram a rondar na minha cabeça e só pararam quando sinto alguém cutucar o meu ombro.

–Oi - digo ao olhar para um garota de cabelos castanhos, ela era bem bonita, seus olhos eram castanhos mas eram um pouco tristes.

–Você pode me dizer as horas?

–Claro... são 3: 30

–Ah obrigado- ela se vira para ir embora mas eu a chamo.

–Espera... você está triste?

–Ela balança a cabeça dizendo que sim.

–Qual é o seu nome?

–Alice e o seu?

–O meu é Fernanda, você quer sentar ali na pracinha? se quiser pode desabafar quem sabe eu não te ajudo.

_ O que ? - ela pergunta surpresa. - você quer mesmo conversar comigo?

–Sim... porque?

–É que eu nunca tive uma amiga.

–Nossa, sério?

–Sim... você tem quantos anos?

–13 e você?

–12.

–Mas então Alice vamos?

–Claro- ela dá um sorriso e eu a puxo até a pracinha, ela estava vazia, eu não me cansava de ir ali, havia um enorme gramado, que os garotos jogavam futebol, além de banquinhos, vamos até um que estava vazio e nos sentamos. Mas antes envio uma mensagem para minha mãe para avisar.

–Então porque você está triste?

–É uma longa história... e acho que não posso contar.

_Me conta... talvez eu possa ajudar. - Ela pensa um pouco resolvendo se contaria ou não, mas por fim ela resolveu dizer.

–Quando eu tinha 4 anos ... eu fui adotada por um casal, no início eles eram ótimos pais, eu até os amava mas eles começaram a ficar distantes, eu não conseguia entender até que me contaram que o meu pai estava doente... ele está com problemas no coração e para ele não morrer- nessa hora sua voz falha.- E para ele não morrer minha mãe vai doar o meu para ele.

–O que? - não pude conter a cara de espanto, aquilo não poderia ser verdade, dou um leve sorriso para ela.

–Isso é brincadeira não é?

–Infelizmente não- ela diz desviando o olhar.

–Espera... sua mãe vai te matar? para seu pai viver?

–Pelo menos é isso que ela disse.

–Não Alice, você não pode deixar isso... você tem que denunciar- digo levantando do banco- eles precisam ser internados, devem ser loucos.

–Espera, não Fernanda- ela diz puxando o meu braço- Você não pode contar, por favor prometa que não vai dizer nada a ninguém.- Depois de um tempo acabo concordando em não dizer nada.

–Mas agora eu tenho que ir, minha mãe está esperando.

–Tudo bem, tchau Fernanda, foi legal te conhecer.- Pego o número dela e vou embora, ainda meio sem acreditar se aquilo era verdade ou não.

–Mãe cheguei! - Digo enquanto subo as escadas, minha gata sobe no meu colo e começo a acaricia-la.

–Pois é Savanah, acho que você também não quer se mudar não é?-Ela começa a miar.

–Alice...

–Estou aqui em cima.

–Desce aqui, tenho que falar com você.

–Já vou- coloco minha gatinha em cima da minha cama e desço.

–O que foi? - digo ainda na escada.

–Você está com fome?- Digo que sim com a cabeça.

–Tem lasanha no forno.- Vou correndo e pego a lasanha, sento na mesa e começo a comer, minha mãe fica apenas me olhando e me analisando.

–O que foi? - pergunto depois de um tempo.

–Vamos ter que antecipar e iremos viajar amanhã.

–Viajar amanhã? - na mesma hora me engasgo com o suco.

–Filha... seu pai tem que ir, e o David já concordou.

–Tudo bem mãe, eu vou lá arrumar as minhas malas.

–Espera- ela me puxa e me abraça. Foi bom abraça-la e nessa hora percebo que o que eu precisava era disso, um simples abraço.

–Você está bem? - Penso um pouco e resolvo contar a história de Alice, talvez ela pudesse ajudar.

–Isso é verdade Fernanda ? Aceno a cabeça que sim. Na mesma hora ela sai correndo e pega o telefone.

–Espera... o que vai fazer?

–Vou denunciar para a polícia.

–O que ? Não mãe, você não pode fazer isso.

–Mas eu vou fazer.- Começo a chorar, eu sei era estranho chorar por isso mas nessa hora pensei em Alice, sabendo que iria morrer e eu não sabia se o que minha mãe estava fazendo iria ajuda-la. Assim que ela termina de falar no telefone corro até ela.

–O que disseram?

–Estão mandando uma viatura para lá. - Nessa hora meu coração dispara... será que vão conseguir ajuda-la? Subo até meu quarto e tento ocupar minha mente, arrumo minhas malas e as da Savanah, pego meu ipod e fico ouvindo música.

Quando já são 7:40 eu não aguentava de ansiedade então resolvo ligar para Alice, eu não sabia o que iria falar mas queria saber se a polícia foi realmente lá. Pego o papel com o número e começo a digitar, coloco o telefone no ouvido. Fica chamando mas ninguém atende, sem desistir tento ligar várias vezes mas foi em vão, quando passa alguns minutos eu desisto deito na cama. Sem perceber Acabo adormecendo.

Sinto uma luz no meu olho e abro-os devagar, minha mãe estava na minha frente e tinha acabado de abrir a janela.

–Que horas tem? - pergunto me levantando.

–São nove e meia.

–Você tem alguma notícia? A polícia foi na casa da Alice?

–Calma Fernanda, são muitas perguntas... eu ainda não sei, ninguém avisou nada. - Nessa hora fico um pouco decepcionada, levanto correndo e vou ao banheiro, tomo um banho rápido, visto um short com uma regata, faço um rabo de cavalo simples e desço para tomar café.

–Mãe posso ir na pracinha? quero me despedir daqui.

Ela dá um leve sorriso. - Claro filha, mas não demore, nosso voo é 5 e meia.

–Tudo bem tchau.

Pego meu celular e saio, eu sentiria falta daquele lugar. Passo na biblioteca e devolvo os livros que eu havia emprestado.

–Não vai levar nenhum livro Fernanda?

–Hoje não - digo meia triste- Eu estou me mudando.

–Ah, para onde você vai?

–Para o Canadá.–Tchau Lidi

–Espera... eu tenho uma coisa para você Fernanda.

_O que? - ela vai até uma das estantes e volta com um pequeno livro de capa azul.

– Que livro é esse?

–Isso não é um livro, é um diário- Ela diz colocando o caderno na minha mão- Quero que fique com isso.

Fico um pouco olhando para o diário, ele possuía um pequeno cadeado na ponta.

–Obrigada- digo sorrindo.

–Você gostou?

–Claro, adorei.

–Fico feliz... vou sentir sua falta.

–E também,–Adeus Lidi.

–Adeus.

Saio da biblioteca e vou caminhando em direção a pracinha, sento em um dos bancos e começo a escrever na primeira folha do meu diários.


Querido diário( eu sei que é infantil escrever assim mas eu sou novata em escrever )


hoje eu vou me mudar, meu pai recebeu um proposta de trabalho para o Canadá e eu sou obrigada a isso. Eu poderia ficar aqui reclamando, de como minha vida era horrível e que era muito injusto mas ontem eu descobri que não tenho o que reclamar... eu conheci uma menina, o nome dela é Alice, bom ela vai morrer, depois de ouvir a história da vida dela eu meio que me conformei de me mudar, mas mesmo assim estou aqui na pracinha me despedindo, sempre gostei de ficar aqui vendo as crianças brincando.

Eu ganhei esse diário hoje, da Lidi, ela é a bibliotecária da escola e ela me conhece muito bem, afinal desde que moro aqui eu não saio de lá . Acho que

Na mesma hora que estava escrevendo sou interrompida quando ouço barulho de choro, olho para o lado e não pude acreditar.

–Alice?

Assim que me vê ela se assusta.

–O que aconteceu com você? - pergunto chocada.

Ela estava irreconhecível, seu olho estava roxo e inchado de tanto chorar, seu rosto estava todo vermelho e machucado. Suas mãos estavam todas arranhadas e comecei a chorar só de vê-la naquele estado.

–Satisfeita? - ela pergunta chorando. O Policial foi lá em casa, minha mãe inventou uma desculpa e eles acreditaram como sempre. Porque você fez isso Fernanda? Eu te pedi para não contar... eu confiei em você.

_Me desculpa- digo chorando mais ainda, sento ao seu lado, mas não conseguia olhar muitos para seus rosto. - Eu pensei que podia te ajudar.

–Pelo contrário, está vendo o meu estado? Foi a minha mãe que me bateu.- Nessa hora ela também começa a chorar.

–Eu não sei o que dizer...

–Não precisa dizer nada, por sua causa minha vida está pior, além de me espancar eles me trocaram de quarto... agora meu quarto é no porão.

–Alice... Meu Deus eu realmente não sei o que dizer... se quiser a minha ajuda eu posso...

–Não Fernanda você já ajudou o bastante, agora me faz um favor? - ela diz soluçando.

–Nunca mais fala comigo.

–Espera Alice... - Foi tarde demais, ela se levanta correndo e vai embora. Fico um tempo sentada, realmente era tudo culpa minha.

Depois de um tempo resolvo ir para casa, não digo uma palavra, como minha mãe estava ocupada com a mudança ela nem percebeu, fico trancada no quarto com a Savanah chorando. Quando já era 4:00 horas minha mãe entra no quarto.

–Filha está na hora de irmos.