Someone Better

Alguém Melhor


Hannah andava pelas ruas de sua cidade, os longos cabelos ruivos esvoaçando as suas costas. O rosto estava molhado de lágrimas, havia acabado de terminar com Natalie. Doeu mais do que ela imaginava.

“—Prazer, sou Natalie.

—Prazer, sou Hannah.”

Ah! Que dor ela sentia. Se fosse um dia normal, ela e Natalie estariam no pula-pula, rindo, observando as estrelas ou se beijando. Mas não era.

“—Vê aquela estrela, Han?

—Sim. O que tem ela?

—Você brilha mais.”

Por que tão difícil? Por que tão doloroso? Hannah se perguntava. Deveria ser mais fácil. Já havia terminado com tantos garotos... “É diferente” uma voz em sua cabeça insistia. “Com eles, não era amor”.

“—Eu te amo, Hannah.

—Também te amo, Natalie.

Ela sorriu. Como Hannah amava aquele sorriso.”

Correu em direção ao píer. Ela e Natalie costumavam ir lá. Sentou-se na borda, tirou os sapatos e molhou os pés na água gelada do rio.

“—Natalie, olhe!

—O que?

—Aquela parte da água... É a mais bonita.

Apontou para o reflexo de Natalie, que sorriu e deitou a cabeça no ombro de Hannah.”

Fazia apenas meia hora desde o término, mas para Hannah pareciam semanas. Já sentia falta dos braços de Natalie ao redor de seu corpo.

“—Me abrace, Natalie.

—Tudo bem, Hannah.

E a ruiva sentiu o calor familiar que aqueles braços lhe transmitiam”

Ela já não aguentava mais tantas memórias. Sabia que nunca sentiria por Kasey, Neung, Blake ou qualquer outro menino o que sentia por Natalie, não chegaria nem perto, e isso era frustrante.

“—Por que você simplesmente não assume que estamos juntas?

—Não estou preparada, Natalie.

—Então por que não para de sair com tantos meninos?”

Sentia falta de como seu nome soava tão bonito quando era pronunciado por Natalie, nenhum menino jamais falaria ele tão bem.

“—Fale meu nome.

—O que?

—Só fale meu nome!

—Hannah.“

Sentia falta de sua risada tão divertida e despreocupada, e lhe dava vontade de chorar por saber que nenhum menino jamais teria uma risada tão bonita.

“—Toc toc

—Quem é?

—É o Eto.

—Que Eto?

—Tudo bem, não falo mais nada.

Natalie riu da piada boba, e Hannah se sentiu feliz apenas por conseguir faze-la sorrir.”

Considerou seriamente pular no rio aos seus pés e se afogar, mas desistiu ao lembrar de quantas vezes Natalie já havia salvo ela.

“—Hannah, não entre nesse quarto!

—Por quê? Qual o problema?

—Você tem apenas 13 anos, não pode perder a virginidade.”

Hannah se sentia tão sozinha, tão vazia. Algo faltava dentro de si. Havia se passado apenas uma hora, mas pareciam meses. Doía apenas de pensar que nunca mais dançariam juntas.

“—Dance comigo, Hannah.

—O que? Aqui, no meio da festa?

—Qual o problema? Amigas também dançam juntas.”

Sentia o coração pesar ao lembrar que jamais iria enganar homens que passavam na rua para dar bebida para elas beberem juntas.

“—Hannah, seu cabelo parece fogo.

A ruiva riu.

—Natalie, você está bêbada”

Não aguentava mais as lembranças ruins que aquele píer lhe trazia. Então levantou-se e calçou os sapatos. Enxugou as lágrimas, ciente de que o rímel e delineador haviam escorrido pelo rosto, deixando dois rastros negros por sua bela face. Respirou fundo e saiu andando pelas ruas, a cabeça baixa. Quantas vezes não havia andado por aquelas mesmas ruas com Natalie?

“—Hannah! Não pise na rachadura da calçada!

—O que? Por quê?

—Dá má sorte!

—Não acredito que você acredita nisso!

Natalie fez um bico que Hannah teve vontade de beijar, mas não o fez por estarem em público.”

Andou em direção a uma lanchonete no final da rua. Ela e Natalie costumavam ir lá.

“—Idiota! Por que você melou meu nariz de ketchup?

Natalie apenas riu.”

Foi até o banheiro do local. “Estou péssima”, constatou ao se olhar no espelho. Maquiagem borrada, cabelos bagunçados, nariz e olhos inchados e vermelhos de quem havia chorado. Suspirou. Havia muita coisa a se fazer. Lavou o rosto e retocou o rímel e o delineador com perfeição. Penteou os cabelos até que estivessem lindos e sedosos como sempre. Escondeu a áurea triste que emanava de si com um de seus sorrisos radiantes e saiu do banheiro.

“—Shhh, você era boa de mais para ele, Han. Não chore,

—V-você tem razão. Vou me recompor.”

Sentou-se em uma mesa e um garçom novo foi atendê-la. Hannah não pode deixar de notar o quanto ele era bonito, com cabelos pretos e rebeldes, lindos olhos azuis e uma barba por fazer. Por instinto, a ruiva colocou um sorriso sedutor nos lábios. “Carter. Nome bonito.” Pensou Hannah, ao ler o crachá do rapaz.

—Uma porção de fritas e uma Coca Diet, por favor.

Falou, a voz rouca e sedutora. O garçom sorriu e saiu para atender seu pedido, deixando a garota imersa em pensamentos de quantas vezes já magoara Natalie com garotos tão bonitos quanto Carter.

“—Por que você faz questão de me chamar para conhece-los? Parece que você quer que eu sofra!

—Eu não quero isso. Só quero saber que, se acontecer algo, você vai estar aqui para me proteger.”

Pensou em quantas vezes desmarcou compromissos com a garota apenas porque um de seus namorados queria sair com ela naquele dia.

“—O que? Por quê?

—Kasey, ele...

—ARGH! Kasey isso, Kasey aquilo... Você não se cansa dele?“

Em quantas vezes Natalie esperou, quantas vezes Natalie insistiu nela, no seu amor.

“—Por que você ainda não desistiu de nós?

—Porque eu quero saber, Natalie, se você já desistiu de mim.

—Não. E nunca vou.”

Sua comida chegou, e ela apenas balbuciou um obrigada, mas lembrou de que o garçom era bonito a tempo de lhe dar um sorriso e uma piscadela. Logo se arrependeu, lembrando de quantas vezes brigara com Natalie por esse motivo.

Hannah! Você não cansa? Não basta ter dois namorados?

—Natalie, você não entende.

—Tem razão. Eu não entendo.”

Sentiu os olhos marejarem novamente, mas piscou para afastar as lágrimas. Não iria chorar de novo. Suspirou enquanto levava mais uma batatinha frita a boca, pensando que, por mais lágrimas que derramasse naquele dia, nunca chegaria na metade das lágrimas que Natalie derramou no período em que ambas estavam juntas.

“—Natalie? Você está chorando? Por quê?

—N-nada.

—Ninguém chora por nada. Me diga.

―V-você não e-entenderia.”

Hannah deu um longo gole em sua Coca, que a essa altura já estava misturada com a vodca que trazia na bolsa, e comeu mais uma batata. Sentia falta de Natalie, isso era fato. Mas todos sabiam... Não podiam continuar. Ou podiam? As dúvidas a atormentavam

“—Ei, Natalie, vamos ao banheiro?

Olhou sugestivamente para a garota, que arregalou os olhos.

—Mas estamos em uma festa, Hannah. É contra seus princípios.

—Vou abrir uma exceção.

E elas foram ao banheiro, que acabou por ter um trágico fim.”

A ruiva acabou sua comida e foi pagar. Deu a mulher do caixa uma nota de US$20,00 e pegou o troco, ainda imersa em pensamentos, desta vez sobre o que acontecera apenas algumas horas atrás, embora, para ela, parecessem anos.

“—Oi, Natalie.

—Han? O que houve? Por que está tão séria?

Ela suspirou.

—Precisamos conversar.”

Enquanto guardava seu dinheiro, percebeu que o garçom que a havia atendido estava terminando de se arrumar para ir embora. Se assustou ao constatar que já havia anoitecido. Fazia quase um dia desde o término, e isso doía mais do que deveria.

“—O-o que?

—Natalie... Não torne mais difícil do que já é.

—Não deve ser nada difícil para você que tem sempre um menino correndo atrás.”

Hannah passou pela porta da lanchonete e, como quem não quer nada, se escorou na parede externa do estabelecimento. Minutos depois, Carter, o garçom, saiu de seu local de trabalho vestindo uma calça jeans, uma camisa branca e uma jaqueta de couro. Sorriu para ele, que retribuiu. Mas sua cabeça estava longe do corpo.

“—Me deixe explicar.

—Não tem nada que você tenha que explicar. Saia daqui.

—Sim, Natalie. Eu tenho o que explicar.”

Ela queria ter obedecido Natalie. Pouparia muitas lágrimas derramadas da parte de ambas.

“—Natalie, por favor, não chore.

—Não chore? Como você me pede para não chorar quando está terminando comigo?”

Hannah sempre achou que Natalie merecia alguém melhor. E, para ela, isso só se reforçou quando, naquela noite, ela não foi para casa, e sim para a casa do garçom.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.