Sombras Ao Vento

Especial 4: O homem da máscara


Especial 4: O homem da máscara

Capítulo escrito em especial para Luciara e IzaHyuuga19. Espero que gostem meninas...

Aproximadamente 50 anos antes...

O barulho da tempestade soava do lado de fora da humilde residência em um dos bairros pobres de Tókio. Relâmpagos soavam ensurdecedores, raios cortavam o céu iluminando-o de fora a fora, a chuva caia torrencialmente e batia pesada sobre o frágil teto da casa. A pouca iluminação tornava o ambiente ainda mais fantasmagórico e as velas que substituíam a inexistente energia elétrica bruxuleavam no único candelabro da sala.

Um sofá surrado estava encostado na parece e ocupava quase todo o espaço do pequeno cômodo, uma pequena mesa de centro de madeira desgastada possuía o candelabro que iluminava precariamente o lugar. Um pequeno menino moreno se encontrava encolhido na penumbra do canto norte do cômodo encarando amedrontado com olhos vidrados na fonte de luz do aposento: A chama da vela.

A cada trovão, ele se encolhia ainda mais e a cada raio suas pálpebras cobriam firmemente os orbes negros que brilhavam refletindo todo seu terror e solidão que sentia naquele momento.

O barulho de ranger de uma velha porta soou, por um momento os olhos se focaram e a cabeça virou em direção a entrada da sala, mas foi apenas por um mísero momento.

O barulho de passos por um momento podia ser ouvido pelo local. A madeira do piso de carvalho rangia por causa de passos pesados e molhados que pressionava-os suavemente para baixo. O barulho ficava gradativamente mais alto a medida que a pessoa que andava se aproximava do menino. Ele praticamente não se mexia. Sua postura continuava a mesma. Seus olhos... ainda fitavam o vazio.

Um suspiro pode ser ouvido quando a mulher parou na soleira da porta e encarou o menino carinhosamente.

—Obito... querido...? —A mulher chamou doce e suavemente.

O menino não se mexeu.

A mulher se aproximou hesitante, seus passos eram duvidosos e seu olhar trazia pena, compaixão, apreensão, medo... vergonha.

—Eu sinto muito, meu amor! —Ela sussurrou quando finalmente o alcançou e se ajoelhou prostrada na sua frente.

—Está chovendo! —Ele disse simplesmente ainda olhando pra frente inexpressivamente como se pudesse ainda ver a chama que bruxuleava atrás da mulher.

Ela envolveu os braços ao redor dele e o menino pode sentir os cabelos lisos, macios e sedosos cair em cascata por sobre seu ombro e ele permaneceu da mesma forma. Sua postura só se quebrou quando sentiu um pequena, quente e molhada gota cair por sobre o seu ombro esmirrado. Ele de repente passou os pequenos braços ao redor da mulher delicada e sussurrou conformado.

—Não chore mamãe... Ele nunca virá! Ele não quer saber de mim, nunca quis e nunca irá! —Ele terminou sentindo a dor de sua mãe sendo expressada em lágrimas espessas e copiosas.

Ela se culpava. Não por ter tido um filho, mas por ter se deixado levar pelo crápula que a dera o presente mais maravilhoso do mundo. Ela se culpava por ter deixado Uchiha Madara ser o pai do seu filho.

5 anos depois...

Era um dia calmo e ensolarado, pássaros soavam e cantavam felizes, mas um moreno de aproximadamente 13 anos chorava sobre um túmulo recém fechado. Ainda podia-se ver a terra remexida e as gramíneas que lutavam para nascer.

Lágrimas vertiam num ritmo constante dos olhos do menino que estava ajoelhado sobre o túmulo. Com os olhos fixos na lápide onde estava escrito:

Amina Koteru

Amada e dedicada mãe e amiga.

1945-1979

—Venha Obito! Ela já se foi não adianta chorar. Isso não vai trazê-la de volta. Nada trará! Então vamos logo que eu tenho muito o que fazer ainda. Sabe quanto dinheiro provavelmente perdi por essa sua infantilidade em querer ver o túmulo de um morto? —Madara falava entediado, sem nenhuma solidariedade pelo próprio filho que chorava pela perda de alguém querido.

—SE NÃO QUERIA VIR VÁ EMBORA! EU NÃO QUERO SABER DE VOCÊ. VOCÊ NUNCA ESTEVE COMIGO QUANDO EU PRECISEI DE VOCÊ E AGORA A ÚNICA PESSOA QUE EU TINHA ME DEIXOU! ELA SE FOI! A MINHA MÃE SE FOI, E VOCÊ SE QUER DEMONSTRA QUALQUER TIPO DE RESPEITO PELO SEU TÚMULO! VOCÊ É UM... —O menino gritava para o homem com lágrimas vertendo ainda mais de seus olhos, ele mal conseguia ver o que tinha a sua frente. E ele não se importava com isso, a dor da perda era muito grande. Seu coração estava vazio.

—Um monstro? Um crápula? Um demônio? Chame-me do que quiser que isso não vai mudar a realidade de que ela morreu e eu sou a única coisa que você tem. E eu não irei tolerar se você continuar a se comportar dessa maneira! Agora vamos embora, não quero mais desperdiçar o meu tempo. —Madara retrucou calmamente andando em direção ao menino e agarrando seu pulso puxando-o para o carro que os esperava no final do gramado. O menino só chorava e se permitia ser puxado pelo homem que ainda considerava seu pai. Ainda...!

___________________________________________________________

—Pronto! É aqui! —Madara parou na frente de uma porta. Segurando o pulso de seu filho bastardo.

O menino o encarou hesitante.

Madara abriu a porta e uma menina de cabelos vermelhos e olhos azuis escuros apareceu na porta.

—Sim? —Ela atendeu suavemente.

Madara colocou um sorriso quente nos lábios e olhou suavemente para menina. Obito não acreditou quando viu a maneira como seu pai falava com a menina que aparentava uns cinco anos de idade.

—Ohayo Kushina-chan! Sua mãe está? —Perguntou carinhosamente

—Sim! —Ela respondeu e entrou dando espaço para os dois entrarem. —MAMÃE! TIO MADARA CHEGOU! —A pequena ruiva gritou.

—Mande-o entrar, Kushina! —Uma voz doce ecoou ao longe, mas também parecia gritar.

—JÁ MANDEI! —Ela respondeu.

—PARE DE GRITAR ENTÃO! —A voz soava mais próxima.

—MAS VOCÊ TAMBÉM ESTÁ GRITANDO! —A menina respondeu inconformada.

—PORQUE EU SOU SUA MÃE E EU POSSO! —A mulher respondeu. Ela era alta e tinha os mesmos cabelos de Kushina. Um vermelho vivo e exuberante. Seus olhos eram amendoados e expressivos. A menina era muitíssimo parecida com ela o que mudava era o formato do rosto, a mulher tinha o rosto mais fino, e os olhos que tinham cor diferentes.

Mãe e filha se fitavam raivosamente. Uma onde de tensão quase podia ser vista no ar, enquanto as duas ruivas de temperamento forte encarava uma a outra.

Madara pigarreou chamando atenção das duas mulheres. Elas viraram a face ainda com um olhar maligno esboçado.

—Kemi... —Madara pronunciou parecendo estar constrangido. Obito se surpreendia a cada minuto que passava. “Onde estava o homem frio e sem sentimentos?”

—Ah! Oi Madara! Me desculpe... Eu e a Kushina somos assim mesmo. Esse é o menino que você pediu para que eu cuidasse? —A mulher perguntou curiosa e bondosa olhando para o menino.

—Sim! Mas você lembra das condições? Eu irei lhe pagar uma pequena soma mensal e garantirei um lugar pra Kushina nos estúdios assim que ela terminar a escola. Em troca... —Ele se interrompeu propositalmente.

—Eu cuido do menino do seu jeito, sem contar a ninguém, sem perguntas. —Ela completou com a cara amarrada.

Acontece que Uzumaki Kemi estava passando por dificuldades financeiras desde que abandonou a casa dos pais e se casou com amor da sua vida, um rapaz pobre e “sem futuro” que não era aprovado por sua família rica e esnobe, e seu ‘amigo’ havia lhe oferecido uma chance de reestruturar sua vida financeira.

Madara assentiu com um sorriso de contentamento esboçado no rosto.

Mais um ano se passou.

—Porque você vai embora Obito? —Kushina perguntou curiosa, enquanto lágrimas se formavam no rosto do amigo.

—Porque? Você se pergunta porque? —O menino questionou com desdém. —Kushina... Você tem a vida perfeita! Não precisa de nada! Minha mãe não me amava o suficiente para ficar comigo, o homem que acha tem direito de se dirigir como meu pai não tem o mínimo interesse em mim, minha madrasta me odeia, você... Eu não tenho amigo, não tenho parente, sou um empecilho na vida da sua família. Ninguém me quer por perto. Eu apenas vou embora!

O discurso foi frio e sem sentimentos em contraste das palavras que pareciam carregar uma dor infinda.

—Mas... Você não é um empecilho. Não vá! —A menina implorou com lágrimas no rosto.

—Eu sou sim, Kushina. E não chore. Daqui a algum tempo você vai se quer se lembrar de mim! Adeus! —As últimas palavras que foram proferidas antes do jovem moreno sair pela porta, soavam como um sussurro distante. Doce e infeliz. Era um sussurro de dor, de desalento. Um sussurro de alguém sem mais esperança.

15 anos depois...

Obito havia ‘morrido’ a treze anos, quem nascera em seu lugar era Tobi. Kushina nem mais se lembrava do menino que passara um ano em sua casa. “Afinal porque lembraria? Era apenas um fantasma impertinente dentro daquela casa.” Seu ‘pai’... Ainda mantinha ‘contato’ com o ‘filho’ e da ultima vez o convencera a se encontrar com ele.

Tobi, no seu tempo na rua descobrira os ‘prazeres’ da vida e tinha ‘encontrado seu lugar’. Havia feito um nome e ganhado respeito. Havia herdado uma coisa de boa do pai: O talento para o jogo. E ele era um jogador e tanto. Jamais havia perdido na rua, o que fazia com que sua reputação aumentasse.

O moreno já esperava impaciente a chagada daquele que fora tão tenaz em encontra-lo e já duvidava se iria aceitar a brincadeirinha de mau gosto. Adoraria por seus homens atrás do homem que fora responsável pela ruina da sua vida. Finalmente o idiota chegara!

O homem andava sorridente em direção ao outro com um sorriso macabro nos lábios. Seus olhos diziam que ele sabia de algo que não dividiria com qualquer um. O egoísmo brilhava em sua face demonstrando toda a crueldade mal contida em seu olhar.

Parando frente a frente os dois homens se encaravam ameaçadoramente. A tensão era quase tangível e o ódio parecia sair de seus corpos em ondas que se chocavam frente a frente provocando um duelo de vontades.

O mais velho abriu ainda mais o sorriso antes de falar.

—Eu tenho algo pra você, mas preciso de sua ajuda. Eu descobri uma forma de me vingar do Sarutobi e conquistar ainda mais dinheiro do que aquele velho pode sonhar em ter, você está dentro? —Perguntou altivo e esnobe.

O homem o encarou de cima abaixo antes de responder.

—De quanto dinheiro estamos falando?

—Muito. Muito mais do que você se quer sonharia em ter. —Ele respondeu presunçosamente. Conhecendo bem a ganância do outro homem e tendo certeza que ele aceitaria.

—E caso eu aceite, o que seria isso?

—Um Chip. Nós ainda não temos como abrir isso, mas daqui á algum tempo eu conheço alguém que conseguiria. —Ele respondeu rapidamente sorrindo maliciosamente ao notar a concordância do outro homem.

—Isso não muda o meu ódio por você... —Ele respondeu acompanhando o sorriso malicioso do primeiro homem.

O acordo estava feito.

—E então? Qual é o plano? —Perguntou com um olhar de gato para seu progenitor.

—Primeiro precisamos do dinheiro do meu sócio. Você vai ter que se aproximar da menina e conseguir a confiança dela. Com o dinheiro e a tecnologia em mãos. O mundo será nosso! —Madara respondeu com um brilho de vitória subindo na face! —Toma! Isso será útil!

Madara retirou um objeto de sua roupa e entregou a Obito. Esse pegou curioso e ao aproximar o objeto de seus olhos identificou o que era. Era uma máscara.

Ali mesmo Tobi definitivamente surgiu. Não mais como gangster, mas agora como um renomado empresário que nunca mostraria sua face.

Cinco anos se passaram ao lado da ruiva...

—Tobi... Eu estou cansada! Não aguento mais, meu amigo!

—Como assim Kushina? —O homem perguntou preocupado. Nada poderia dar de errado. Ele dependia daquela mulher para seus planos darem certo.

—Eu finalmente me encontrei e decidi que isso...não é o que eu quero. Assim que terminar esse filme, eu irei sair do mundo do entretenimento. —Anunciou a ruiva se levantando e se retirando da sala.

O moreno ficou olhando para o lugar onde Kushina desapareceu por uns momentos. Assim que teve certeza de que ela não voltaria, pegou o seu celular.

Um número foi discado rapidamente e depois de dois toques a pessoa atendeu.

—Parece que teremos um contratempo nos nossos planos. Ela vai sair do estúdio. O trabalho está completo? —A voz de Obito soava mecânica, automática.

—O Sarutobi está fora do jogo. O que vai fazer com a garota? —A voz respondia retórica, parecia que os dois homens não tinham sentimentos.

—Eu pretendo dar uma oportunidade pra ela, não quero mata-la! —Ele respondeu rapidamente. Com receio da morte da ruiva.

Um suspiro era audível pelo outro lado da linha.

—Já falei com você que esse seu amor por ela não vai leva-lo a lugar algum. Quantas vezes ela te dispensou? Mate-a! Já consegui espalhar os boatos de que estão juntos. E aproposito... Soube que ela se apaixonou e não vai demorar para conquista-lo. —O homem respondeu ironicamente. Sabia que havia tocado no ponto fraco do filho. Seu medo de ser trocado.

Um silêncio se prolongou. Obito parecia perdido em pensamentos com a raiva escapando de cada poro de sua pele.

—Eu cuido dela não se preocupe! —Ele respondeu antes de desligar sem se preocupar em se despedir.

Do outro lado, Madara mantinha um sorriso maléfico no rosto.

Obito discou mais uma vez no telefone e esperou mais um tempo pra sua chamada ser atendida.

—Alô...! —A voz soou entediada.

O moreno respirou fundo antes de dizer de uma única vez:

—Tenho trabalho pra você! Preciso que cuide de uma pessoa pra mim!... Assassine Uzumaki Kushina!

Sete anos após o desaparecimento de Kushina...

—Então é você... Você sabe muito sabia? —Obito circulava a mulher de longos cabelos azulados com uma pistola prata na mão direita, arrastando suavemente o cano da arma pelo rosto e cabelo dela enquanto falava.

A mulher nada disse. Apenas olhava para frente determinada.

Ele suspirou risonho.

—Pena que não vai viver mais do que isso. Agora me diga... Onde escondeu as provas? —Ele agora parara de frente para a mulher.

Hyuuga Tomoe tinha o rosto completamente irreconhecível. Estava tão inchado e tinha tanto sangue, que alguns fios já estavam grudados na testa com o sangue seco. Seus olhos mal se mantinham abertos e uma outra ferida estava aberta no seu pescoço. Parecia ter sido feita com uma faca, mas de alguma forma a pessoa que a pressionou teve todo o cuidado para não acertar nenhuma veia ou artéria durante seu corte.

A morena cuspiu no homem. Saliva e sangue se misturavam na mancha que se formou na face morena. Ele sorriu ainda mais divertido.

—Acho que vou ter que dar mais alguns cuidados no seu rosto bonito. Aproposito, não achamos nada na sua casa segura. Acredito que Himura Ainara nem é seu nome! Então me diga... Quem é você? —Obito se divertia enquanto substituía a pistola por um alicate hidráulico.

A morena se manteve firme.

_________________________________________________________

Uma poça de sangue se formara no chão onde a cadeira com a mulher estava.

Obito já havia a torturado de todas as formas possíveis e mesmo assim ela não falara nada. Absolutamente nada. Ele já estava cansado e estressado e sua paciência já havia se esgotado a muito tempo.

—Anda logo sua puta! DIGA ONDE ESTÁ! —Ele perdeu a paciência. Dando mais um soco no rosto da mulher, ele a encarou raivosamente.

Tomoe já estava a beira da inconsciência. Sabia que não aguentaria mais continuar viva. O sentimento de dever cumprido oprimia seu ser. Ela fora forte para proteger sua família. Eles estavam em segurança e ela tinha fé que sua filha colocaria aquele crápula na cadeia. Ela agora poderia morrer em paz.

Com um sorriso de vitória, ela disse suas últimas palavras, as únicas que proferira naquele lugar. A voz rouca da sede, dos ferimentos, da dor, não a incomodou, seu último prazer seria cumprido.

—Vá pro inferno! —Ela sussurrou com uma risada grasnada.

Num ato de puro ódio, Tobi pegou a pistola prateada e encostando na cabeça dela, atirou sem dó nem piedade.

Aquele era o fim de Himura Ainara. Mas o começo para a justiça de Hyuuga Tomoe!