–E agora? Como é que fica? - Diego perguntou.

–Espera. - Roberta disse tapando a boca de Diego. - Você ouviu uns gritos vindos da sua casa?

–Não, por que?

–Sei lá, parecia que tinha gente gritando ainda, mas esquece.

–Roberta... Eu to meio mal por sair de casa. - Diego disse passando as mãos pela cintura dela e deitando a cabeça no seu ombro.

–Me polpe Diego! Era o melhor que você podia fazer.

–Não pelos meus pais, pela Maria sabe?

–Ahh.

–Você não tem noção não... Eu cresci aprendendo que era para tratar mal os empregados. Eu nunca agradecia por nada, gritava o tempo todo, dizia que ela era um lixo. Mas era assim com todos os empregados, só que com ela, sei lá, era diferente.

–Diferente por que? - Roberta perguntou enquanto eles caminhavam abraçados na rua.

–Vários motivos. Primeiro que o meu pai nunca deixou ela chegar perto de mim. Segundo que eu sempre achei muito estranho, ela fica lá nos feriados, sempre, sempre, sempre, não tem família, e é tão nova. Terceiro, é isso, ela é muito nova, como é que ela começa a trabalhar com 14 anos lá, e fica sendo escrava até hoje? E por último, dá para ver que meu pai chantegeia ela com alguma coisa, você viu...

–É...

–Tem alguma coisa que a prende na minha casa.

–É meu amor, mas esquece isso, talvez não seja nada, é melhor nem ficar pensando.

–E a vida da gente daqui para frente?

–O seu pai vai ficar colocando o dinheiro na sua conta né? - Diego assentiu. - Então tá de boa, durante a semana você fica no colégio, como já era antes. Nos fins de semana também como já era, e quando eu for para casa, você vai comigo. E tem a casa do Tomás também, mas é melhor ficar na minha.

–Que merda! Eu to sem casa para nada... Eu vou morar contigo?

–É, que merda por que?

–Porque... Porque é. Eu não tenho casa para nada, eu me sinto tão solto.

–Isso é ótimo! - Ela pegou na "aliança" no dedo dele. -Agora somos praticamente casados sem casamento.

–Minha linda. - Ele disse dando um selinho. - Se eu não tivesse aqui contigo, eu juro que eu não sei... Eu ainda seria aquele menino sabe? Eu ainda iria tratar todo mundo mal, ser aquele egocêntrico que eu era. Minha amizade com Mia não teria voltado. Eu ainda estaria naquela casa, porque essa, pode acreditar, foi a primeira vez que eu tive coragem de enfrentar meu pai.

–Eu já entendiii! - Ela disse tapando a boca de Diego com um beijo. - Mas a gente tem que conversar uma coisa hoje.

–O que?

–Mas não ri, ok? Por favor!

–Claro que não, o que foi?

–Lá no colégio eu conto.

–É bom ou ruim?

–Eu acho que você vai gostar.