Will e Nico sentaram-se de frente um para o outro no Café.

— Não devíamos ter deixado essa droga de exercício para a última hora... – Will comentava, tirando o material de poesia moderna da mochila.

— É só Charles Baudelaire. É fácil.

— Ohh, desculpe senhor mestre do simbolismo francês.

— Boa tarde – A garçonete tinha chegado à mesa deles e oferecia um largo sorriso especialmente para Will.

Will sorriu de volta em reconhecimento.

— Ah, olá Davies.

— Me chame de Millie, afinal somos parceiros – Ela deu uma piscadela. Seu sorriso parecia ter saído de uma propaganda de pasta dental ou de batom. - Já sabe o que vai pedir?

— Um expresso de chocolate com...

— Deixa eu adivinhar. Caramelo na cobertura?

Will deu uma risada.

— Certo, mas essa foi muito fácil.

— Eu vou querer café preto – Nico declarou de cara fechada, antes que ela perguntasse. – Bem forte.

Ela assentiu, com o sorriso agora meio amarelo e se afastou.

— Que história é essa? – perguntou Will. - Você odeia café preto.

— Eu gosto de café preto. Café preto é intimidante.

— Ha... – Will abriu o livro que tinha colocado sobre a mesa e leu: – “É a morte que consola e que nos faz viver!”... Tudo bem, o que Charlie estava sugerindo com isso?

Ele levantou os olhos para Nico, que olhava em outra direção.

— Essa garota é uma das novatas da escola?

— Sim. Ela está na turma especial de economia doméstica. Lembra que semana passada eu contei que tinha meio que discutido com minha dupla, insistindo em colocar caramelo na torta de chocolate?

Antes de Nico responder, Millie estava de volta.

— Aqui está – ela depositou as xícaras de cada um. – Dose extra de caramelo para você.

Nico queria saber se não tinha uma lei proibindo uma garçonete de piscar para os clientes.

— Obrigado, Millie.

— É... Ela deve estar louca para discutir com você mais um pouco – Nico disse, seco, assim que ela se afastou novamente.

Will suspirou.

— Você sabe que não tem motivo para sentir ciúme, não é?

— Não seja idiota. Eu não estou com ciúme... – Nico retrucou, adicionando um cubo de açúcar atrás do outro no café. - Por acaso, essa Millie sabe sobre... sobre... nós?

— Não sei... Talvez tenha ouvido falar na escola.

— Hmpf, acho que não, pela cara de satisfação dela...

Will supôs que Nico a estava vendo por cima de seu ombro. Ele esticou a mão e, repousou-a sobre a mão do namorado em cima da mesa, em seguida ergueu-se ligeiramente sobre um cotovelo para aproximar seu rosto.

— O que...

Quando Nico virou para ele, os lábios de Will o pegaram de surpresa por uns segundos.

— Will! – Nico exclamou quando o beijo acabou, o rosto muito corado, olhando ao redor apreensivo, como se achasse que alguém iria repreendê-los.

Will apenas sorriu e disse:

— Isso resolve a cara de satisfação da garçonete? Agora podemos cuidar do dever de casa?