Will tinha conseguido o fim de semana todo de folga no hospital. Era verão, e Maeve vivia dizendo que queria ir à praia. Não era o programa favorito de Nico, mas eles combinaram de visitar Piper e Jason no litoral.

Por sorte, não precisavam pegar um avião nem enfrentar a estrada. Maeve ainda não sabia o suficiente de geografia para entender a verdadeira distância até a Califórnia e, de qualquer jeito, ela tinha uma vaga ideia do motivo pelo qual às vezes “pegavam atalhos” para chegar a lugares um pouco distantes. Ela apenas sentia uma espécie de frio na barriga e um vento estranho no rosto e de repente estava num lugar completamente diferente.

Assim Maeve não se assustou quando os três, de mãos dadas, pisaram na sombra de casa e surgiram na sombra de um carvalho ao lado de uma casa avarandada de telhado verde bem perto do mar. A menina só ficou de queixo caído com a vista.

— Vocês chegaram! – Jason vinha descendo a escada da varanda com um enorme sorriso, os óculos brilhando com a luz do sol.

Nico achava engraçado o jeito como, mesmo depois de tantos anos, Jason sempre hesitava antes de abraçá-lo. Quando estava com boa vontade, Nico dava o primeiro passo, como foi o caso naquele dia. Jason e Will se cumprimentaram com batidinhas no ombro antes que Jason se agachasse para falar com Maeve:

— Olá, Maeve! Você ainda lembra de mim? A última vez que a vi faz quase um ano...

— Eu lembro de você. Você faz aquele truque com as pipas no vento.

Jason riu.

— Essa foi a melhor definição que já deram de mim. Será... que posso ganhar um abraço?

Ele pareceu realmente ter ganhado um prêmio quando Maeve se adiantou para os braços que ele abrira.

— Opa, também quero abraços!

Piper veio ao encontro deles, mas depois de abraçá-la, Maeve quis saber:

— Você matou um passarinho?

Ela parecia triste com a visão das penas avermelhadas que caíam sobre um dos ombros de Piper. A pergunta fez todos rirem.

— Não, meu bem... Juro que não matei nenhum passarinho.

— E vocês moram mesmo na praia?

Ao ouvir que sim, Maeve ficou admirada.

— Que legal!

— É, Mae, exceto que o natal por aqui não tem neve – Nico achou que era uma boa hora para explicar, ignorando o olhar de “desnecessário!” que Will lhe lançou.

Não tem? E como vocês fazem?

— Com o tempo nos acostumamos. Não se pode ter tudo - disse Jason, com um exagerado ar de resignação.

— Bom... Na falta de neve, nós temos sorvete! – disse Piper. – O que acham de pegarmos um balde de chocolate com pedaços de biscoito antes de irmos para a praia?

Maeve adorou a ideia. Dois filhos do casal os acompanharam. Nico não sabia como Jason e Piper aguentavam aquela casa tão cheia de crianças. Eram quantas mesmo? Cinco? Seis? Ele tinha perdido a conta.

Os dois dias se passaram entre o mar, castelos de areia e piqueniques. Maeve estava apaixonada pelas tranças que Piper fazia em seu cabelo e pelas pipas em formato de borboleta que Jason fazia dançar no céu, controlando o vento.

Na noite do segundo dia, os amigos insistiram que Nico e Will saíssem para jantar sozinhos enquanto eles tomavam conta de Maeve.

Nico diria que a noite estava sendo agradável até a banda no restaurante começar a cantar You Are The Sun, You Are The Rain e Will insistir que eles levantassem para dançar. Nico levantou só porque as outras pessoas estavam começando a olhar, mas fez questão de dizer que odiava Will.

Depois eles caminharam de mãos dadas pelo píer e pelo caminho de volta. Ainda estavam de mãos dadas quando chegaram à passagem que levava à casa de Jason e Piper. Eles viram Piper sentada com Maeve e o filho mais novo na varanda. Os três sorriam juntos.

Foi vendo Piper e Maeve juntas e se dando tão bem que uma velha questão de repente voltou à cabeça de Nico, e ele perguntou a Will em voz baixa:

— Você acha que ela sente muita falta? De ter uma mãe.

Will demorou uns segundos para responder. Pareceu realmente considerar a questão, até chegar a uma conclusão:

— Acho que ela está bem – ele disse simplesmente.

— Papais!

Maeve tinha reparado nos dois chegando. Ela correu ao encontro deles. Will a carregou, tascando vários beijos pelo seu rosto.

— Você se comportou direitinho?

— Sim. Estamos brincando de fazer coisas bonitas com as conchas que pegamos na praia. Eu fiz presentes para vocês.

Maeve estendeu dois colares de conchas que carregava. Eles inclinaram a cabeça para que ela os colocasse no pescoço de cada um, exaltando a beleza dos presentes e agradecendo com mais beijos.

— Podemos ir até o mar mais uma vez antes de voltar para casa? – Maeve perguntou.

— Mas é de noite... – disse Nico.

— Qual o problema? De dia você reclama do sol – Will retrucou, rindo.

— Arr, vocês dois nunca se cansam, não é?

— Não vamos dar ouvidos ao papai ranzinza, Maeve. Eu com certeza quero me despedir do mar!

Will já tinha colocado Maeve no chão e tirava os sapatos.

— Vamos correndo?... Um, dois, três... e já!

Ele saiu levando Maeve por um mão.

— Ei, aonde vocês dois pensam que vão sem mim?

Nico correu para se juntar a eles e pegou a outra mão de Maeve. Ao chegar no mar, eles brincaram com a água prateada pela luz da lua até ficarem totalmente ensopados e, por fim, se jogarem na areia tendo acessos de riso.