Sobrevivente
Capítulo 7
Sara estava entediada em casa, a espera de Grissom. Vestia pijamas, tomava sorvete e assistia um filme quando ele chegou.
—-Bom dia, querida. Como passou a noite? Dormiu?
Ele se dirigiu a ela com um beijo.
—-Eu trabalho a noite, Gil. Difícil dormir. --Ela sorriu. --Como foi no lab?
Ele deu de ombros e se sentou ao lado dela
—-Ecklie?
—-Ele quer nos separar. --Grissom disse. --Eu acho que vou mudar para o turno do dia.
—-Não, Gil. Eu não posso fazer isso com a equipe.
Os dois se encararam por alguns segundos.
—-Talvez seja bom para mim essa mudança… A luz do dia e tudo mais. --Ela parecia deprimida.
—-Vamos esperar o que a xerife vai falar.
Sara concordou com a cabeça e se aninhou no peito dele. Grissom afagou seus cabelos e propôs:
—-O pessoal combinou de ir à um kartódromo. Trabalhamos em um caso peculiar hoje. --Ele explicou. --O que acha de encontrarmos com eles para um almoço?
Num pulo, ela se levantou mais animada:
—-Vou me arrumar!
O entomologista sorriu enquanto Sara ia tomar um banho. Ele lia o jornal quando seu telefone tocou.
—-Grissom.
—-Oi. --Uma voz feminina ecoou do outro lado. --Como você está?
—-Heather! --Ele se aprumou. --Acompanhando os noticiários?
—-Li sobre a Sara. Pensei em ligar antes, mas achei que precisassem de espaço. Como estão?
—-Ela ainda está bem machucada, e eu não digo pelo braço fraturado ou pelos hematomas. --Ele suspirou.
—-Imagino a dor que ela teve de suportar.
—-Eu quase a perdi. --Ele sussurrou.
—-Ela é uma mulher forte e inteligente. Mas vai precisar de tempo para lidar com isso. -—Ela deu uma pausa. --Como você está?
—-Sem saber exatamente como lidar com a situação. --Confessou. --Não sei como acabar com o sofrimento dela.
—-Somente ela vai poder acabar com isso, Grissom. Você precisa assumir o relacionamento e dar espaço à ela. Ela não pode mais se preocupar em ser a parte dominante, em decidir tudo, em suportar tudo. --Heather falava devagar e Grissom ouvia com atenção.—-Às vezes, o submisso precisa assumir o controle.
Ele se mexeu desconfortável na poltrona e suspirou.
—-Temos um relacionamento sem dominante ou submisso, Heather.
—-Você sabe que está errado. Sara precisa de um porto seguro e é sua responsabilidade assumir esse papel. Ela está sofrendo emocionalmente e fisicamente; imagino que no laboratório vocês devem estar sendo atacados… Ela está passando por uma turbulência emocional bem mais forte que você, Grissom.
—-Não está sendo fácil. Aparentemente, minha vida pessoal é mais interessante do que ela ter sido sequestrada.
—-Ninguém vai te questionar diretamente. Ela é quem receberá toda essa carga. Ela é quem está dormindo com Gil Grissom, o supervisor reservado. As pessoas vão querer saber sobre você e ela é o meio.
—-Isso não é justo com ela. --Grissom se irritava.
—-Seja um porto seguro, exercite seu lado dominante e resolva as situações até ela estar pronta novamente…
Nesse momento, Sara chegou à sala e se sentou ao lado dele, pronta para sair.
—-Você vai conseguir, Grissom. Se precisar de alguma coisa, sabe onde me encontrar. Estimo melhoras à Sara.
—-Obrigada, Heather. --Ele disse naturalmente e viu o sorriso de Sara murchar ao seu lado. --Até mais.
Ele desligou seu telefone e olhou a namorada, que o encarava com uma sobrancelha arqueada.
—-Heather viu os noticiários e ligou para perguntar sobre você e estimar melhoras. --Sua voz era firme. --Não ligou antes em respeito ao momento.
—-Agradeço. --Sara disse seca.
O entomologista não se abalou. Levantou-se e lhe estendeu a mão.
—-Vamos?
Sara e Grissom foram os últimos a chegar no kartódromo. Com o incentivo da morena, o entomologista se rendeu e foi correr com os colegas. Quando terminaram a corrida, os CSIs foram ao encontro dela na arquibancada.
—-Hei, Sara! Como está? --Nick foi o primeiro a abraçá-la.
—-Estamos sentindo sua falta. --Warrick admitiu.
—-Estou cada vez melhor. --Ela sorriu. --Mas estou faminta!
—-Tem uma lanchonete aqui do lado. O que vocês acham? --Catherine sugeriu.
Os peritos concordaram e foram juntos até a lanchonete. No caminho, não conseguiam disfarçar os olhares curiosos em direção ao casal. Grissom, notando o desconforto de Sara, segurou firmemente sua mão e arrancou um sorriso dela e de Greg.
Já acomodados e com os pedidos feitos, um breve silêncio se instalou. Eles olhavam de Sara para Grissom, esperando que eles iniciassem a conversa.
—-Vocês podem parar de nos olhar e perguntar de uma vez. --Sara disse simplesmente.
Os CSIs ficaram sem jeito, mas Catherine não se conteve:
—-Há quanto tempo estão juntos?
Os dois se entreolharam. Aquela pergunta sempre gerava certa confusão.
—-Aqui em Vegas há dois anos. Mas nos envolvemos em São Francisco. --Sara respondeu.
—-Quando iam nos contar? --Warrick quis saber.
Greg, Nick, Brass e Doc apenas os observavam. Grissom abriu a boca para responder, incerto, quando Sara tomou a palavra:
—-Algum dia. Vocês sabem o que o Ecklie quer fazer com a gente… Estamos quebrando algumas regras ridículas do laboratório.
—-Me sinto um péssimo CSI com isso. --Nick brincou.
—-Nós não esperávamos um comentário do Grissom, mas de você… --Catherine disse, apontando para Sara.
—-Você era anti relacionamentos! --Nick complementou.
Sara se mexeu incomodada. “As vezes o submisso precisa assumir o papel de dominante”, Grissom lembrou das palavras de Heather, respirou fundo e disse:
—-Sara não falaria nada para ninguém, pois nós tínhamos um acordo. Não seria benéfico para nenhum de nós dois se alguém descobrisse. --Seu tom era sério. --Não só pelo Ecklie, mas por todos. Um relacionamento é algo muito sério e deve ser cultivado sem interferências ou expectativas. Sara e eu estávamos iniciando uma vida a dois e precisávamos de espaço.
Todos se calaram para ouvi-lo, e foi Catherine quem se pronunciou primeiro:
—-E não precisam agora? Por que você nos contou?
—-Sara estava nas mãos de uma assassina por minha culpa. Vocês precisavam saber o motivo para resolvermos o caso. --Grissom falava naturalmente. --Nós tivemos um começo difícil, mas hoje temos um relacionamento maduro e estável. Ainda assim, acho que discrição é essencial.
Os CSIs se entreolharam. Sara se sentia aliviada com Grissom tomando o controle da situação, pois pensava que teria que encarar aquelas perguntas sozinha. Porém, o clima estava se tornando muito sério, então ela resolveu descontrair:
—-Mas isso não impede que vocês saibam que o boato de que o Gil dormia com uma tarântula ao lado da cama era verdade, mas eu expulsei o bichinho do quarto.
Os CSIs riram descontraídos. Grissom arqueou uma sobrancelha e respondeu no mesmo tom:
—-E o boato de que a Sara cozinha muito mal é verdade!
A morena o olhou indignada e lhe deu um tapa com o braço bom, arrancando mais risos dos amigos.
—-Vocês já falaram com o Ecklie e a Xerife? --Brass perguntou.
Os dois negaram com a cabeça.
—-Vocês achariam estranho trabalharmos juntos agora? --Sara perguntou baixinho.
—-Contanto que não fiquem se beijando na nossa frente, acho que podemos lidar. --Greg brincou. --Hodges vai começar a te respeitar.
Sara riu alto, acompanhada dos amigos. Grissom displicentemente a abraçou pela cintura, tranquilo, e o gesto não passou despercebido.
—-Vocês fazem bem um para o outro. --Catherine comentou. --Espero que eles encontrem um jeito. Somos melhores quando estamos juntos.
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