Grissom e Sara chegaram em casa antes do anoitecer. A morena precisava de apoio para andar e se movimentar mas, segundo o médico, as dores passariam em breve. O entomologista estava sendo o mais atencioso possível: acomodou-a na cama deles, preparou sua comida preferida para o jantar e ficou o tempo todo ao lado dela.

Sara, por outro lado, se sentia estranha. Estava confusa emocionalmente. Feliz por estar em casa, mas com as emoções à flor da pele. Sentia medo, raiva, angústia e alívio. Eram muitos sentimentos para serem administrados ao mesmo tempo. Por isso, mantinha-se em silêncio e sorria para os agrados do namorado.

—-Querida, você precisa de alguma coisa?

Eles já haviam tomado banho e estavam deitados e prontos para dormir.

—-Obrigada, Gil. Estou bem.

Ele sorriu ternamente pra ela e lhe deu um casto beijo nos lábios. Era o primeiro desde que ela fora resgatada. O toque macio trouxe conforto para ele e segurança para ela. Ainda um pouco desconfortável por causa do gesso, Sara logo dormiu, enquanto Grissom ficou lendo ao seu lado e pageando seu sono.

Mas a tranquilidade durou pouco.

Absorto em seu livro, Grissom não percebeu que Sara estava ficando agitada em seu sono. Mas quando ela começou a se mexer, ele parou para olhá-la.

—-Não! Não! Você o matou! Mãe! Mãe!! --Ela murmurava e suava frio.

—-Sara, querida… --Gil tentou acordá-la.

Sara tremia sob o edredom, seus olhos estavam apertados e sua voz saía rouca.

—-Não! Gil.. Gil… GIL!

Um grito agonizante saiu de sua garganta e ela enfim acordou.

—-Sara, querida… Foi só um pesadelo. --Grissom tentou acalmá-la.

Ela arfava e suava. Tentou se levantar e não conseguiu. Grissom a ajudou assustado e ficou olhando-a, sem saber o que dizer.

—-Eu… eu… --Sara começou com a voz embargada. --Me desculpa, eu…

A morena desatou a chorar, deixando Grissom muito preocupado.

—-Sara, foi só um pesadelo. --Ele a abraçou, enquanto ela chorava de soluçar. --Não vai acontecer mais nada com você. Eu não vou deixar.

Ela nada respondia, só chorava.

—-Honey, tente se acalmar. --Ele se afastou e a olhou nos olhos. --Você está segura.

Ele pegou um pouco de água ao lado da cama e entregou à ela. Sara bebeu devagar, tentando se acalmar.

Grissom nunca havia visto a morena daquele jeito e não sabia bem o que fazer. Voltou a abraçá-la e aconchegou-a em seus braços.

—-Estou aqui com você, honey. Nunca mais vou deixar nada acontecer com você.

Ela soluçou nos braços dele até pegar no sono novamente. Grissom tardou a dormir e a cada movimento dela durante a noite o fazia acordar.



De manhã, Grissom preparava o café quando Sara foi até a cozinha. Seu semblante estava carregado e as olheiras profundas.

—Bom dia! Estou fazendo panquecas.

—Bom dia. - Sara respondeu sem emoção.

Grissom parou o que fazia para observá-la por um momento. Sara não o encarava. Ele sabia que ela precisava de ajuda, mas que também precisava de um tempo. Optou pelo segundo e voltou sua atenção para o fogão.

—Pensei de passarmos o dia juntos. Podemos ver algum filme. -Ele sugeriu animado.

—Pode ser, Gil.

—Falei com o Ecklie hoje e ainda tenho quatro dias com você. Mas se precisar, posso pegar mais alguns…

—Não precisa. Pretendo voltar para o laboratório logo. Não gosto de ficar sem fazer nada.

O tom amargo dela o surpreendeu, mas ele nada disse. A serviu com panquecas e mel e sentou em sua frente.

—Querida, o que acha de tirarmos umas férias?

Ela o olhou friamente e disse:

—Acha que vou aproveitar alguma coisa desse jeito?

Ele a olhou nos olhos. Não via aquela raiva no olhar dela há anos. Desde antes de ficarem juntos.

—Podemos esperar um pouco. -Ele disse simplesmente.

Ela revirou os olhos e ele não aguentou:

— Sara, eu sei que você está mais ferida por dentro do que no próprio corpo, mas eu só quero te ajudar. -Ela desviou o olhar. -Me diga do que precisa.

Ela bateu a mão boa na mesa e saiu sem dizer nada, deixando Grissom aflito para trás. Ele suspirou e terminou seu café da manhã sozinho.

Durante a tarde eles não se falaram muito. Sara dormiu e ele ficou trabalhando em seu escritório. Estava anoitecendo quando ouviu a campainha.

—Oi, Gil.

—Entre, Jim.

O capitão entrou e olhou ao redor, procurando por alguém.

— Sara está dormindo. -Grissom disse. -Aceita uma bebida?

O capitão aceitou uma dose de whisky e os dois se sentaram na sala.

—Como estão lidando com isso tudo? -Jim indagou baixinho.

Grissom sorveu um grande gole da sua bebida antes de responder com calma:

—Ainda não sei. -Disse simplesmente. -E no lab?

—Não se fala em outra coisa.

O entomologista assentiu e eles permaneceram um minuto em silêncio.

—O que o Ecklie vai fazer?

—Não conversamos ainda, Jim, mas…

—Gil? -A voz rouca de Sara vinha do quarto.

Com medo de ser outro pesadelo, ele foi rapidamente para o quarto. Grissom encontrou Sara sentada na cama.

—Precisa de alguma coisa, Sara?

Ela esfregou os olhos.

—Acordei com a campainha.

—Brass está aqui. Venha, te ajudo a se vestir.

Grissom a ajudou a colocar um robe e prender os cabelos. Sara sorriu e agradeceu.

—Está melhor? -Ele perguntou baixinho.

Ela assentiu com a cabeça e respondeu no mesmo tom:

—Tive uma noite difícil. Me desculpe por hoje mais cedo.

Ele sorriu levemente para ela e respondeu com um beijo terno nos lábios. Juntos, foram para sala.

—Oi, querida. Como está hoje? -Brass indagou preocupado. -Nao consegui te ver antes, pois estava resolvendo umas pendências na delegacia.

—Estou bem, Jim. Obrigada. -Ela sorriu.

O Capitão a analisou por alguns segundos e percebeu algo estranho, mas nada disse sobre isso. Preferiu mudar de assunto:

—Estou sendo interrogado por todos. Aparentemente, eu sabia que meus amigos estavam juntos e escondi o jogo.

O casal se entreolhou.

—Não estou ressentido. -Ele continuou, rindo. -Desde aquela declaração do Grissom no caso da enfermeira eu desconfiava. E sei que as paredes do laboratório têm ouvidos.

—Vamos marcar um jantar para conversarmos sobre isso. --Sara disse calmamente.

Grissom se mexeu desconfortavelmente ao seu lado, e ela emendou:

—-Você sabe que precisamos fazer isso, Gil.

Ele concordou a contragosto e o capitão sorriu.

—-Mal posso esperar!