Sobrevivente
Capítulo 5
Grissom e Sara chegaram em casa antes do anoitecer. A morena precisava de apoio para andar e se movimentar mas, segundo o médico, as dores passariam em breve. O entomologista estava sendo o mais atencioso possível: acomodou-a na cama deles, preparou sua comida preferida para o jantar e ficou o tempo todo ao lado dela.
Sara, por outro lado, se sentia estranha. Estava confusa emocionalmente. Feliz por estar em casa, mas com as emoções à flor da pele. Sentia medo, raiva, angústia e alívio. Eram muitos sentimentos para serem administrados ao mesmo tempo. Por isso, mantinha-se em silêncio e sorria para os agrados do namorado.
—-Querida, você precisa de alguma coisa?
Eles já haviam tomado banho e estavam deitados e prontos para dormir.
—-Obrigada, Gil. Estou bem.
Ele sorriu ternamente pra ela e lhe deu um casto beijo nos lábios. Era o primeiro desde que ela fora resgatada. O toque macio trouxe conforto para ele e segurança para ela. Ainda um pouco desconfortável por causa do gesso, Sara logo dormiu, enquanto Grissom ficou lendo ao seu lado e pageando seu sono.
Mas a tranquilidade durou pouco.
Absorto em seu livro, Grissom não percebeu que Sara estava ficando agitada em seu sono. Mas quando ela começou a se mexer, ele parou para olhá-la.
—-Não! Não! Você o matou! Mãe! Mãe!! --Ela murmurava e suava frio.
—-Sara, querida… --Gil tentou acordá-la.
Sara tremia sob o edredom, seus olhos estavam apertados e sua voz saía rouca.
—-Não! Gil.. Gil… GIL!
Um grito agonizante saiu de sua garganta e ela enfim acordou.
—-Sara, querida… Foi só um pesadelo. --Grissom tentou acalmá-la.
Ela arfava e suava. Tentou se levantar e não conseguiu. Grissom a ajudou assustado e ficou olhando-a, sem saber o que dizer.
—-Eu… eu… --Sara começou com a voz embargada. --Me desculpa, eu…
A morena desatou a chorar, deixando Grissom muito preocupado.
—-Sara, foi só um pesadelo. --Ele a abraçou, enquanto ela chorava de soluçar. --Não vai acontecer mais nada com você. Eu não vou deixar.
Ela nada respondia, só chorava.
—-Honey, tente se acalmar. --Ele se afastou e a olhou nos olhos. --Você está segura.
Ele pegou um pouco de água ao lado da cama e entregou à ela. Sara bebeu devagar, tentando se acalmar.
Grissom nunca havia visto a morena daquele jeito e não sabia bem o que fazer. Voltou a abraçá-la e aconchegou-a em seus braços.
—-Estou aqui com você, honey. Nunca mais vou deixar nada acontecer com você.
Ela soluçou nos braços dele até pegar no sono novamente. Grissom tardou a dormir e a cada movimento dela durante a noite o fazia acordar.
De manhã, Grissom preparava o café quando Sara foi até a cozinha. Seu semblante estava carregado e as olheiras profundas.
—Bom dia! Estou fazendo panquecas.
—Bom dia. - Sara respondeu sem emoção.
Grissom parou o que fazia para observá-la por um momento. Sara não o encarava. Ele sabia que ela precisava de ajuda, mas que também precisava de um tempo. Optou pelo segundo e voltou sua atenção para o fogão.
—Pensei de passarmos o dia juntos. Podemos ver algum filme. -Ele sugeriu animado.
—Pode ser, Gil.
—Falei com o Ecklie hoje e ainda tenho quatro dias com você. Mas se precisar, posso pegar mais alguns…
—Não precisa. Pretendo voltar para o laboratório logo. Não gosto de ficar sem fazer nada.
O tom amargo dela o surpreendeu, mas ele nada disse. A serviu com panquecas e mel e sentou em sua frente.
—Querida, o que acha de tirarmos umas férias?
Ela o olhou friamente e disse:
—Acha que vou aproveitar alguma coisa desse jeito?
Ele a olhou nos olhos. Não via aquela raiva no olhar dela há anos. Desde antes de ficarem juntos.
—Podemos esperar um pouco. -Ele disse simplesmente.
Ela revirou os olhos e ele não aguentou:
— Sara, eu sei que você está mais ferida por dentro do que no próprio corpo, mas eu só quero te ajudar. -Ela desviou o olhar. -Me diga do que precisa.
Ela bateu a mão boa na mesa e saiu sem dizer nada, deixando Grissom aflito para trás. Ele suspirou e terminou seu café da manhã sozinho.
Durante a tarde eles não se falaram muito. Sara dormiu e ele ficou trabalhando em seu escritório. Estava anoitecendo quando ouviu a campainha.
—Oi, Gil.
—Entre, Jim.
O capitão entrou e olhou ao redor, procurando por alguém.
— Sara está dormindo. -Grissom disse. -Aceita uma bebida?
O capitão aceitou uma dose de whisky e os dois se sentaram na sala.
—Como estão lidando com isso tudo? -Jim indagou baixinho.
Grissom sorveu um grande gole da sua bebida antes de responder com calma:
—Ainda não sei. -Disse simplesmente. -E no lab?
—Não se fala em outra coisa.
O entomologista assentiu e eles permaneceram um minuto em silêncio.
—O que o Ecklie vai fazer?
—Não conversamos ainda, Jim, mas…
—Gil? -A voz rouca de Sara vinha do quarto.
Com medo de ser outro pesadelo, ele foi rapidamente para o quarto. Grissom encontrou Sara sentada na cama.
—Precisa de alguma coisa, Sara?
Ela esfregou os olhos.
—Acordei com a campainha.
—Brass está aqui. Venha, te ajudo a se vestir.
Grissom a ajudou a colocar um robe e prender os cabelos. Sara sorriu e agradeceu.
—Está melhor? -Ele perguntou baixinho.
Ela assentiu com a cabeça e respondeu no mesmo tom:
—Tive uma noite difícil. Me desculpe por hoje mais cedo.
Ele sorriu levemente para ela e respondeu com um beijo terno nos lábios. Juntos, foram para sala.
—Oi, querida. Como está hoje? -Brass indagou preocupado. -Nao consegui te ver antes, pois estava resolvendo umas pendências na delegacia.
—Estou bem, Jim. Obrigada. -Ela sorriu.
O Capitão a analisou por alguns segundos e percebeu algo estranho, mas nada disse sobre isso. Preferiu mudar de assunto:
—Estou sendo interrogado por todos. Aparentemente, eu sabia que meus amigos estavam juntos e escondi o jogo.
O casal se entreolhou.
—Não estou ressentido. -Ele continuou, rindo. -Desde aquela declaração do Grissom no caso da enfermeira eu desconfiava. E sei que as paredes do laboratório têm ouvidos.
—Vamos marcar um jantar para conversarmos sobre isso. --Sara disse calmamente.
Grissom se mexeu desconfortavelmente ao seu lado, e ela emendou:
—-Você sabe que precisamos fazer isso, Gil.
Ele concordou a contragosto e o capitão sorriu.
—-Mal posso esperar!
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