Sobre o Amor dos Humanos
Primeira Impressão
O mesmo por-do-sol nostálgico enchia minha visão. Realmente, aquele morro era o melhor lugar para ficar. Meus dedos passavam pelas teclas acinzentadas do aparelho em minha mão, ansiando por algo fora do normal.
Me parecia que estava calmo demais hoje.
- Toushirou! - chamou-me uma voz.
Me surpreendi. Estava tão absorto na calmaria que não senti a densidade forte da garota chegando? Sim, ela tinha uma densidade espiritual diferente. Complexo demais para explicar, estava em meu momento zen e a pirralha vinha estragar tudo.
- Ah, pirralha... Hmmm... A irmazinha do Kurosaki, certo?
- Kurosaki Karin-sama, pra você!
- Hitsugaya Taichou pra você - brinquei. Não exatamente, tentava impor respeito.
Havia alguns dias que a Kurosaki descobrira que eu era um Taichou da Soul Society. Em suma, que eu era um Shinigami. O Mais engraçado - ela levava tudo pacificamente. O mais irritante - ela continuava me chamando pelo primeiro nome e sem se peocupar em usar nenhum sufixo (nada de taichou, sama, san, dono, senpai).
- Calado, você ainda está no primário!
- Garota... - irritei-me - Tenho idade pra ser seu pai, se quer mesmo saber.
Ela se assustou por um instante - pelo menos foi o que eu pensei. Desde que vim para o mundo dos humanos, fiquei muito inocente -, então começou a rir.
- Pai...? - riu - Tudo bem, então. Posso te chamar de Ojisan?
- Fique com o Toshirou, mesmo - suspirei -. Então, o que veio fazer aqui? Me encher até me fazer ir embora?
- Exatamente.
- Está funcionando muito bem.
- Eu sei. Lembra-se que eu sou a irmã do Iichi-nii?
- É, esqueci desse detalhe importante... - fitei-a. Os cabelos negros esvoaçados pela brisa fria. Ela até que era bonita. Virei-me para o celular e comecei a teclar aleatoriamente, entando me destrair - Vocês dois são extremamente parecidos.
- Ei... Você gosta do Ichi-nii?
- Sobre o que estamos falando? - senti o sangue subir para a cabeça. Não era hora para isso.
- Sobre você gostar do Ichi-nii - enfatizou.
- Não exatamente, ele me irrita um pouco.
- Não é desse gostar que eu estou falando.
Eu parei. Ela me olhou. Fitei aqueles olhos negros - por Deus, idênticos aos do Kurosaki - a minha frente.
- Eu sou um homem, Kurosaki - suspirei.
- Eu sei, mas está vermelho.
Oh, merda.
- Estou com febre - tentei desviar.
O olhar dela se preocupou; a mão direita tocou minha testa com carinho. Por Deus, alguém me ajude.
- Tem certeza? Não está tão quente - sorriu, tímida.
- Você está muito quente. Você também deve estar com febre.
- Estou bem - sorriu.
Levei a mão direita até a testa dela; ascostas da minha mão pressionaram a bochecha e o pescoço da garota. Ficou vermelha - certamente fofo.
- É, está realmente bem para um Kurosaki - sorri, cínico.
- Desculpe se Ichi-nii causa tantos problemas assim.
Ah, merda.
Ela parecia sincera.
Sincera demais.
Suspirei pesadamente - não era nada agradável fazer o tipo de brincadeira que deixaria alguém tão culpado. Virei-me para ela e apoiei a mão esquerda em seu ombro. Olhei-a nos olhos - os olhos tão absortos e fundos.
- Kurosaki Ichigo é um bom homem. Certamente não dá problemas nenhum para nós, Shinigamis. A verdade é que ele salvou a vida da Soul Society.
- Soul Soci... O que? - confundiu-se.
Sentei-me na grama diagonal do morro e a convidei. Ela se sentou ao meu lado.
- Soul Society - comecei - é o lugar para onde os bons espíritos vão quando seus corpos morrem. Às vezes, eles tem de fazer algo a mais aqui, no mundo dos humanos, e ficam presos a esse mundo, sem poder ir para a Soul Society. Chamamos esses bons espítitos de Plus.
- Que cruél... Mas eles ficam para sempre presos aqui? - indignou-se.
- Nosso trabalho... O trabalho dos Shinigamis é proteger os Plus dos Hollows e mandá-los para a Soul Society.
- Hollow... - fitou o por-do-sol, absorta em pensamentos - São aquelas coisas que eu fico vendo sempre? Quer dizer, aqueles monstros gigantes parecidos com caveiras?
- Basicamente.
Preocupou-se. Até demais. Acho que saber que o irmão luta com coisas tão poderosas - ao menos, para um humano são poderosas - quanto os Hollows é demais para uma criança. Ela se enrolou numa bola.
- Ichigo... - comecei - É um cara forte - ela levantou o rosto e me fitou - Ele conseguiu se tornar mais forte do que qualquer Shinigami normal em menos tempo do que um Taichou consegue seu posto - o orgulho se espatifou em seu rosto. Eu sabia, pensei, essa garota não é qualquer um - Um homem... Um Taichou chamado Zaraki Kenpachi era dito e visto como o mais forte do mais fortes. Tirando eu claro - ela riu -.
“Ichigo, quando foi para a Soul Society pela primeira vez, foi para salvar uma garota, uma Shinigami que tinha esprestado seus poderes de Shinigami para ele, mas isso era extremamente proibido.
- Kuchiki Rukia? - perguntou. Eu acenei com a cabeça e continuei.
- Vez, ele teve de lutar com esse Zaraki Kenpachi. A luta durou muito tempo. Quer adivinhar, para mim, quem ganhou?
- Ichi... Nii...?
Eu sorri e assenti. Um sorriso iluminou seu rosto. De orelha a orelha.
- E ele conseguiu fazer o que nenhum Shinigami mal treinado conseguiria. Ele feriu Kenpachi seriamente; mas saiu triunfante da luta. Sabe o que isso significa?
- Que o Ichi-nii é especial?
- Não - baguncei os cabelos negros da menina, que protestou rindo - Que o seu irmão não é qualquer um, ele pode se virar muito bem sozinho. E tenho certeza que você também não é qualquer uma, Karin.
Oh, merda - novamente -. Decerto, soltar o primeiro nome de alguém que conheci a menos de uma semana não é muito promissor. Imaginei que ela me enfiaria um tabefe na cara; ou iria impôr respeito - pra você, é Kurosaki! -; ou discutiria; ou...
Ela sorriu. Um sorriso singelo, o qual eu juraria que nem todo o dinheiro ou força do mundo poderia substituir. Um sorriso sincero, meigo, carinhoso.
- Obrigada, Toushirou.
Eu sorri para o último feiche de luz que tentava se esgueirar por trás das montanhas. As estrelas já haviam coberto por inteiro o céu azul-marinho, abosorto em nuvens claras e incontáveis constelações coloridas. A Lua cheia engolia boa parte do céu. Tão grande e imponente. Tão bela e respeitosa.
- Hitsugaya Taichou - reclamei.
Fale com o autor