Sobre Príncipes e Princesas

Contos de fadas não são para sempre


Isso é tão confortável, tão quentinho... abro os olhos, ainda sonolenta... isso aqui é... estou muito encrencada. Isso aqui é... o colo de Leon! Como minha cabeça foi parar neste local? Tanto lugar para minha cabeça ir parar e ela foi justamente parar nesse exato lugar.

Levanto rapidamente. Ele está dormindo de um modo totalmente dono do sofá, seus braços estão descansando em cima do encosto. Pelo menos, acordei primeiro. Se ele descobrisse que minha cabeça estava utilizando como travesseiro o seu colo... Emma Jones seria uma garota torturada pelo resto de sua curta vida.

Melhor tentar esquecer esta cena. Resolvo tomar um banho. São sete horas da manhã, minha família, ainda bem, não está acordada.

Leon continua dormindo, constato ao sair do banho. Vou para a cozinha em busca de algo para comer.

No palácio, as refeições são sempre trazidas ao meu quarto. Se eu quiser comer qualquer coisa, sério, qualquer coisa, como uma omelete feita por um chef francês às três horas da manhã, em menos de dez minutos a omelete estará em meus aposentos. Mas, por mais que a comida do palácio seja deliciosa, nada é tão bom como a comida de minha casa.

Pego um pedaço de bolo. Bolo de laranja, o meu predileto.

— Emma, já acordou? — se espanta minha mãe, entrando na cozinha. — E o que o príncipe está fazendo na sala? — pergunta ainda mais espantada.

— Ficamos até tarde assistindo Buffy — respondo vagamente.

A cena de ontem, daquele pequeno mal-entendido, vem a minha mente, por isso trato de mudar de assunto.

— Mãe, você pode fazer uma omelete para mim, por favor, sim?

— É claro!

Minha mãe começa a preparar a omelete, sento-me à mesa e fico observando seus movimentos.

— Emma, por que Sua Alteza está dormindo no sofá? — indaga meu pai ao entrar na cozinha.

Pelo visto, ver o príncipe dormindo se tornou o grande espetáculo de hoje.

— Ele acabou dormindo no sofá depois enquanto assistíamos Buffy — falo, sem mencionar o fato de que também dormi alí.

Sim, estamos casados. Mas, isso é estranho. Sei lá, falar com seus pais sobre sua vida íntima tem algo de esquisito.

Meu pai começa a preparar o café, que a sua especialidade. Isso é tão nostálgico. Sorrio com essa imagem.

O cheiro do café, da omelete aos poucos vai tomando posse da cozinha.

Escuto um bocejo e me deparo com Leon parado na porta. Seus cabelos estão molhados, sinalizando que acabou de tomar um banho.

— Bom dia — cumprimenta os meus pais.

Eles se viram em direção a ele e parecem completamente desorientado, do tipo: “tem um príncipe na minha cozinha, o que eu faço?”.

— Bom dia — respondem meus pais.

— Quer uma omelete? — oferece minha mãe.

— Quero sim, obrigado — senta-se ao meu lado.

O príncipe é muito bom em interpretar o papel de rapaz educado e gentil.

— Emma, por que você demora tanto no banheiro? — meu irmão reclama, entrando na cozinha e sem reparar que não estamos sozinhos. — Eu quase fiz xixi nas calças, esperando você sair do banho!

Leon olha para Andy.

— Eu estava no banheiro, Andrew — sorri. — Desculpe.

Meus pais olham para o pobre de meu irmão como se ele estivesse acabado de cometer um crime. Um crime tão grave que merece prisão perpétua.

— Ah — Andy coça a cabeça. — Tudo bem.

— Aqui está sua omelete — diz minha mãe, entregando uma omelete muito bem caprichada para Leon.

Por que todo mundo quer agradá-lo?

— Então, vocês moram aqui há muito tempo? — pergunta ele.

— É, moramos — responde meu pai.

— É um lugar bom para se viver — afirma minha mãe. — Desde que nos casamos, moramos aqui.

A conversa segue com observações triviais. Até mesmo falam sobre o clima de hoje.

— Eu tenho que estudar — diz Andy, pegando suas coisas, após lavar a louça. — Vou na biblioteca...

Andy estudando em uma manhã de sábado? O que foi que aconteceu nestes meses que estive fora?

— Eu preciso comprar algumas coisas... — fala minha mãe.

— E eu vou ajudar sua mãe — se prontifica meu pai.

— Mas... — começo a falar, porém sou ignorada olimpicamente.

— Tchau! — dizem os três, saindo da cozinha e me deixando sozinha com Leon.

Olho para ele.

— Sabe, os plebeus são muito interessantes... — fala, se levantando da mesa. — Muito interessantes — enfatiza, andando pela cozinha e analisando tudo com muita curiosidade. — Vocês só têm um banheiro minúsculo, comem na cozinha...

Lanço meu melhor olhar: “um chute no traseiro está a caminho”.

— Que bom que podemos contribuir para seu manual de como vivem os plebeus — digo ironicamente, me levantando da mesa.

Deixo-o sozinho na cozinha, pesquisando sobre a vida de pessoas que não nasceram com o sangue azul, mas com o sangue vermelho.

Vou para meu quarto.

Ele está como sempre. Às vezes, em meio a tantas mudanças, é bom encontrar um lugar que não se alterou.

Ontem, não pude aproveitar o meu quarto. Deito-me na cama e fico apenas olhando o teto por um bom tempo, pensando e pensando. Pensando em como minha vida mudou dentro de três meses, em como sinto falta desta casa, deste local. De pensamento em pensamento vou tecendo minha teia de nostalgia.

Porém, não posso ficar o resto do dia deitada em minha cama, pensando sobre a vida, preciso terminar um trabalho da faculdade. Volto na segunda-feira para a faculdade, finalmente. Meu tempo para os estudos tem sido bastante reduzido. Com tudo o que aconteceu na minha vida, precisei perder várias aulas, pois tive que tirar algumas semanas de “férias” por causa do meu casamento.

Pego meu notebook, sento-me em minha escrivaninha e começo a trabalhar. Passo quase a manhã toda em cima deste trabalho. Afinal, é um trabalho sobre Shakespeare para a professora Florence. Ela é uma especialista neste assunto do tipo que sabe cada fala. Sério, ela sabe, não é uma figura de linguagem.

— Pensei que seria mais interessante... — diz Leon, desabando em cima da minha cama.

Olho para ele.

— Ei, não faça isso na cama dos outros!

Leon me ignora e continua deitado em minha cama, ocupando-a quase inteira. Por que ele tinha que ser tão alto e espaçoso?

— O que você está fazendo? — pergunta.

— Terminando um trabalho para a faculdade.

— Sobre o quê?

— Hamlet.

— Ser ou não ser, eis a questão — cita de um modo meio dramático. — Ele também é um príncipe...

— Um príncipe atormentado em busca de várias respostas — digo. — Alguém sendo agente de sua própria história.

— Hamlet tem mais liberdade do que muita gente... — observa e logo em seguida solta um bocejo.

— Você não tem nada para fazer, não?

— Não! — responde. — Estou entediado... e com fome.

Olho para o relógio, quase meio-dia e meus pais ainda não apareceram. Também estou com fome. Resolvo ligar para eles. Minha mãe atende ao celular e diz que eles vão chegar atrasados para o almoço.

— Mas, mãe...

— Emma, fique bem, tchauzinho — desliga, sem me deixar terminar.

A fome aumenta. Vou para a cozinha. Não encontro nada pronto. Olho para a geladeira e o armário de comida. Minha habilidade na cozinha... bem, digamos que é preferível eu não a exibir. Minha especialidade é, sem sombra de dúvidas, macarrão instantâneo.

— Então? — pergunta Leon, entrando na cozinha.

— Eu... — olho para ele. Sorrio. Acho que está na hora de me divertir um pouquinho. — Meus pais não vão vir para o almoço... Temos uma regra entre os plebeus, sabe?

— Uma regra?

— É, a visita faz a refeição, quando os donos da casa não estão...

— Então, você vai fazer o almoço?

— Eu? Não. Esta regra não se aplica a visita dos filhos.

— Você quer que eu cozinhe?

Assinto.

— Eu?

Balanço a cabeça mais uma vez.

— Sim, você.

— Eu? — repete incrédulo.

Isso está ficando cada vez mais divertido. Pego o avental e jogo para ele.

— E o que eu faço? — indaga um tanto perdido.

Dou os ombros.

— Seja criativo.

Vai ser tão divertido ver o príncipe fazendo uma intragável gororoba. Terei munição contra ele por meses.

— Certo — ele vai até a geladeira e pega vários legumes. — Hum... o que eu faço agora? — me olha.

— Que tal lavar os legumes? — isto está ficando cada vez mais sensacional.

Por que não tenho uma câmera em minhas mãos para registrar o momento? Eu poderia ganhar muito dinheiro com este vídeo na internet. Poderia até vender para aqueles programas de TV que adoram mostrar a vida da família real. Ficaria rica.

— Assim? — pergunta, lavando os legumes meio sem jeito.

— É, por aí...

— E agora?

— Corte os legumes — instruo.

Tenho que me conter para não rir. Leon segura a faca sem jeito e começa a fatiar os legumes, de modo totalmente desastrado. Isto é melhor do que assistir uma série de comédia.

Ele pega uma travessa de vidro joga molho de tomate, azeite e alho, em seguida coloca os legumes.

Saio da cozinha para não rir. Ou melhor, para poder rir melhor. Sua Alteza Real fica lá. O resultado disso será icônico.

Volto para meu quarto para terminar meu trabalho da faculdade.

— Está pronto! — anuncia, depois de um tempo.

Vou para a cozinha. A travessa está em cima da mesa. Confesso que fico um tanto decepcionada por não sentir cheiro algum de coisa queimada ou sinal de fogo na cozinha. O momento seria ainda mais épico.

— Sirva-se — diz Leon.

Pego um prato e talheres.

— Espero que isso não me leve para o hospital.

Ele me olha, mas não diz nada.

Pego uma pequenina porção e enfio em minha boca, já planejando as palavras que irei dizer... mas não digo nada. Isso aqui está...

— Delicioso — fala.

Olho para Leon, tentando rebater. Mas...

Droga, isto realmente está... (para minha surpresa total) muito bom.

— Ratatouille — explica com um sorriso.

— Você...

— Foi divertido ver você acreditando que eu não sabia cozinhar — ri. — Muito divertido.

Ele solta uma grande gargalhada.

— Enganei você direitinho — se vangloria.

— Argh!

— E você achando que eu não sabia cozinhar! — ele continua a rir, enquanto serve-se.

Perfeito. Agora sou a piada. Eu é que deveria estar rindo dele. Eu é que deveria estar soltando piadinhas infames sobre as habilidades do príncipe na cozinha. Mas, em vez disso, eu é que sou a piada. Grande vitória. Por que as coisas nunca dão certo para mim?

— Você está precisando de um chute no traseiro!

— Não tenho culpa desta vez. Você estava querendo se divertir as minhas custas, mas no final fui eu quem se divertiu.

Sento-me à mesa, com os braços cruzados.

— Não fique zangada — diz, se esforçando para conter o riso. — Foi divertido! — zomba.

Bufo.

— E não está nem tão bom assim — desdenho.

— Aham...

Meu estômago neste momento se manifesta. Leon olha para mim, sorrindo.

— Quer um pouco mais?

Olho para ele.

— Só vou comer para não desperdiçar comida!

— Certo.

Pego um pouco de ratatouille, que para meu desgosto, está realmente gostoso.

— Nós da realeza sempre temos que aprender muitas coisas — explica. — Cozinhar é uma delas.

— Hum... sabe tenho uma dúvida...

Leon arqueia a sobrancelha.

— Qual?

— Você teve aula de atuação ou alguma coisa do gênero? — disparo.

— É.... mais ou menos.

— Sabia! — falo, vitoriosa.

— Não foram aulas de atuação — contesta —, exatamente. Eu tive aulas de retórica, oratória e como se portar perante ao público, mas, eu já sou naturalmente charmoso sem precisar disso.

Este príncipe é mesmo um narcisista incurável.

— Já que eu cozinhei — fala, levantando-se da mesa —, você lava a louça — sorri e sai da cozinha.

— Ei!

Minha mãe e meu pai aparecem no meio da tarde. Andy também chega logo após meus pais. Leon não sei como (ele sempre consegue inverter a situação) dá um jeito de conquistar minha família aos pouquinhos. Sei lá que técnica ele utilizou, mas funciona. Minha família começa a se sentir menos tensa na presença do príncipe.

Nosso jantar é menos, com certeza, menos constrangedor do que o de ontem. Após o jantar, vamos para a sala. Minha mãe puxa um álbum de fotos. E sem que eu possa fazer nada para impedir, começa a contar histórias (vergonhosas) sobre mim.

— Olha aqui a Emma com três anos! — aponta a foto para Leon.

Lá estou com um cara estranha, segurando um chumaço de algodão. Ah, não, esta história não, por favor!

— Mãe! — sou ignorada.

— Emma queria comer algodão doce, então, ela pegou algodão e colocou açúcar.

Ele ri e olha para mim.

— Ela é uma pessoa tão criativa — diz, sem parar de rir.

— Tivemos que levar Emma para ver como o algodão doce era feito. E olha esta outra foto! — prossegue minha mãe.

Lá estou em uma festinha de criança.

— Nesta festa, Emma estava de olho no bolo, tanto que quando foram cortar o bolo, ela gritou: “mãe, diz para eles não comerem todo o bolo e guardarem um pedaço para mim!”.

Leon se acaba de rir.

Perfeito. Agora ele sabe as minhas histórias vergonhosas de infância. Preciso catar os caquinhos que restam da minha dignidade e sair daqui.

— Estou com sono, vou dormir! — falo, saindo da sala.

Na verdade, não estou com sono. Mas mesmo assim, me preparo para dormir. Visto meu pijama, composto de uma camiseta velha e um moletom, pego um livro e me estico na cama.

— Ahã — Leon faz eu notar sua presença, limpando a garganta.

Olho para a minha pequena cama. Eu havia esquecido completamente de certo problema que envolve dormir, eu, Leon e minha cama.

— O que foi? — finjo não estar ciente da situação, viro a página do meu livro calmamente. Talvez, viver com a realeza tenha melhorado meu nível de atuação.

— Está na hora de dormir.

— E daí? — pergunto, sem levantar os olhos do livro.

— Só temos uma cama.

— E? — continuo impassível, pelo menos, estou fingindo muito bem.

— Eu não vou dormir no chão.

Este príncipe!

— Eu também não vou dormir no chão — rebato, sem levantar os olhos do livro.

Toma esta, principezinho!

Ele não diz nada, em vez disso, deita-se ao meu lado.

— Ei! — olho-o.

— Já disse que não vou dormir no chão — fecha os olhos.

Já mencionei o fato de minha cama ser um pouco maior do que uma de solteiro e bem menor do que uma de casal? E o fato de Leon ser alto e ocupar grande parte da cama sozinho? Mas, se ele pensa que vou me render, está bem enganado.

Fecho o livro e me acomodo na cama. Estou praticamente encostada em Leon.

Repentinamente, ele se vira, tomando grande parte do meu espaço (que não é lá grandes coisas). Dou um empurrão com meu ombro, recuperando meu território. Meu adversário responde se virando e invadindo novamente meu território. Assim não dá.

— Deste jeito você vai me derrubar! — protesto. — E vai ficar com toda a cama.

Ele abre os olhos e sorri, sinalizando que este é seu objetivo.

— Então, é assim?

Uso minha melhor arma, cosquinhas. Porém, Leon revida com cosquinhas também. Como ele é mais vulnerável do que eu no território das cócegas, tenho uma pequena vantagem. Estabelecemos um campo de batalha de cosquinhas.

Tentando me livrar do ataque adversário, subo em cima de Leon e consigo imobilizar seus braços. Sorrio.

— Quem está ganhando agora?

Ele sorri.

— Você que pensa!

Sem precisar de nenhum esforço, ele inverte nossas posições. Agora é ele que está em cima de mim. Suas mãos seguram meus braços.

— Argh! — tento me livrar, mas meus esforços não rendem nenhum resultado.

— Você não vai conseguir — sussurra.

Estamos muito próximos. O rosto de Leon está a centímetros do meu. Posso até sentir o agradável cheiro de sua colônia. Aliás, seu aroma está se impregnando em mim.

Seus admiráveis olhos verdes mostram que ele está se divertindo muito com minha derrota. Esses lábios, esses olhos... Foco, Emma!

Sorrio. Elevo meu joelho até o abdômen dele (esta é uma vantagem de ser pequena, você pode fazer movimentos que pessoas maiores normalmente não conseguiriam), e solto meu joelho com a maior força que consigo. Leon me solta e eu aproveito para tomar o controle da situação, o enchendo de cócegas. Volto a posição anterior, estou por cima dele e segurando seus braços.

— Você acha que consegue me vencer? — indaga.

— Não acho, tenho certeza.

— Certeza, é? — duvida.

Leon começa a se mover embaixo de mim, tentando me derrubar.

— Emma? — minha mãe bate na porta e antes que eu consiga fazer qualquer coisa, a porta se abre.

Ela fica paralisada na porta, nos olhando.

Ah, de novo não!

A posição em que me encontro é bem crítica, estou sentada no abdômen de Leon, prendendo seus braços na cama... nem é preciso mencionar o resto.

Saio de cima dele.

— Eu só vim perguntar... — ela balbucia. — Se vocês precisavam de algo...

— Está tudo bem — diz Leon.

— Certo... — minha mãe fecha a porta.

Me sento na cama. Ele volta-se para a parede. E eu me deito dando as costas a ele.

Adoraria relatar que cai no sono quase instantaneamente, mas a realidade não é bem esta que planejei. Demoro um pouco (ok, bastante) a dormi, preciso até recorrer a velha técnica dos carneirinhos. Porém, isso não tem a nada, absolutamente, nada a ver com o fato de que certo príncipe está dormindo a poucos centímetros de mim. E o maldito nem demora para pegar o sono, sua respiração fica lenta em poucos minutos. Ok... talvez tenha um pouco a ver, afinal ele ainda é Leon. E eu ainda sou uma pobre garota que tem olhos, olfato, tato...

Depois de algum (muito) tempo consigo dormir.

Uma cama pequena, duas pessoas, igual a uma situação super estranha na manhã seguinte.

Por quê?

Como eu fui parar nesta situação? Acabo de acordar e me dou conta que meu rosto está colado nas costas de Leon e meu braço direito envolve sua cintura.

Por quê?

Vamos as explicações:

1) A noite estava fria, precisava de calor. Leon é uma boa fonte de calor.

2) O sono é pior que bebida. Nunca temos controle sobre nosso corpo quando estamos dormindo.

3) Até mesmo meu corpo é um grande piadista e gosta de me envolver em situações críticas. Há algo de muito errado com você, quando até mesmo seu corpo gosta de te colocar em encrencas.

Trato de sair imediatamente desta inusitada posição. Se ele souber disso... Melhor nem pensar! Serei considerada uma pervertida, que ataca príncipes indefesos.

Depois de tomar um relaxante banho, vou tomar meu café da manhã.

— Vai demorar um pouco, Emma — diz minha mãe.

Pego um pedaço de pão e começo a mastigar.

— Tudo bem.

Resolvo ir até o quintal, enquanto o café da manhã não sai.

Minha velha bicicleta verde jaze em um canto do quintal. Me aproximo dela. Dei tantas voltas nesta bicicleta, costumava fazer as entregas da lavanderia dos meus pais nela.

O ar está bom, o céu é de um azul intenso e encantador. Uma manhã fresca e cheia de energia. Ideal para sair de bicicleta por aí e sentir o vento bater no rosto, despertando-me. Porém, isso ficou no passado. Não posso sair por aí livremente, este direito me foi roubado.

— Tenho que voltar para o palácio — Leon me traz a realidade com sua voz.

Me volto para ele.

— Por que temos que voltar ao palácio? — indago alarmada. — Você disse que poderíamos voltar hoje à tarde! — não quero que nenhum segundo de minha volta ao lar me seja roubado.

— Eu disse que eu tenho que voltar para o palácio — fala. — Você não precisa.

— Posso ficar mais um pouco, verdade? — pergunto sem acreditar direito em suas palavras.

Ele assente.

— E você até pode ficar mais uma noite aqui... — diz casualmente.

Um sorriso imenso se abre em meu rosto.

— Sério?

— É, falei com o pessoal do palácio, eles permitiram que você fique aqui por mais esta noite.

Estou tão feliz, mas tão feliz que sem perceber, abraço-o.

O abraço dura uns três segundos, pois logo meu cérebro trata de alertar da situação. Deve ser esta sensação de uma manhã de domingo que está me afetando.

— Desculpa...

— Tudo bem — diz ele.

— Obrigada!

Ele sorri.

— Sua família é bastante interessante... Foi bem instrutivo viver entre os plebeus.

Suspiro. Leon é Leon. Isso nunca vai mudar.

— Amanhã, você vai direito para a faculdade e depois para o palácio ­— informa. — Sebastian vai continuar acampado do lado de fora...

Pobre Sebastian, ser um guarda-costas da família real é um trabalho estressante.

— Ok.

— Então, é isso...

Ele se afasta de mim.

— Nós vemos amanhã — digo.

Observo ele se afastar e finalmente sair de meu campo de visão.

Corro para minha casa. Minha família está sentada em volta da mesa com um delicioso café da manhã.

— O príncipe já foi? — pergunta minha mãe.

— Já — respondo, apanhando um pedaço de bolo de laranja. — Isto está gostoso!

Minha mãe sorri e passa outro pedaço de bolo para mim.

O dia passa rápido. Jogo vídeo game com Andy, assisto ao programa de “Perguntas e respostas” com minha família, e ficamos tentando acertar as respostas. Minha mãe faz bolo e eu fico com as raspas da tigela. A noite até brincamos de jogo da mimica. Eu e Andy perdemos, o que nos força a cantar músicas e dançar.

Quando percebo, o dia acabou. Meu pequeno conto de fadas em que a mocinha tem seu dia feliz, terminou.

Ao me deitar sinto um leve aroma impregnado em meus lençóis, o cheiro da colônia de Leon. Adormeço com este delicado aroma embalando os meus sonhos.