Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

SOBRADO AZUL

Chiisana Hana

Beta-reader: Nina Neviani

Capítulo XI

– Então acha que eu sou seu pai? – o homem pergunta incrédulo, sentando-se outra vez em sua poltrona.

– É – Hyoga responde com convicção. – Encontrei um processo onde o senhor procurava um menino. Um menino filho de uma mulher chamada Natássia. E esse era o nome da minha mãe.

– Hum... – ele retruca com desconfiança, esfregando uma mão na outra. – Sabe, a única vez em que vi meu filho foi quando ele acabou de completar um mês de vida. Natássia e eu já estávamos separados e eu tinha voltado ao Japão. Só retornei à Rússia anos mais tarde, quando ela já tinha morrido. Foi quando eu comecei a empresa de pescado, que prosperou e me fez ter dinheiro.

– Você fala tão friamente na minha mãe.

– Nós não nos entendíamos muito bem... – ele admite.

– E por que não me procurou antes?

– Ainda não sei se você é meu filho – ele retruca, cético.

Hyoga então tira uma foto da carteira e entrega ao homem.

– Esta é a minha mãe. O bebê no colo dela sou eu.

O homem observa a foto atentamente, mas sem demonstrar qualquer emoção.

– Então? – Hyoga pergunta, impaciente com a demora do homem em lhe dar alguma resposta.

– É ela. Essa era a mãe do meu filho – ele diz.

– Então eu sou seu filho – o rapaz diz pausadamente, com os olhos marejados.

– Parece que sim – ele concorda, ainda hesitando.

Então Hyoga se aproxima dele e o abraça com força. Desajeitado, o homem levanta-se da poltrona e tenta corresponder ao abraço. O rapaz prossegue:

– Poucas foram as ocasiões em que pensei em ter um pai. Minha vida sempre girou em torno da minha mãe e, depois, da memória dela. Agora é tudo novo. Eu tenho um pai!

– Sim. É tudo novo – o homem diz, desvencilhando-se do abraço e tornando a sentar-se na poltrona. – Também é novo para mim. Quando você nasceu e eu vim visitar sua mãe, eu me senti... estranho. E acabei me afastando. Aí veio o naufrágio e a notícia de que tinham morrido.

– Íamos para o Japão porque ela queria que eu o conhecesse – Hyoga interrompe.

– É, eu soube. Mas como eu dizia, disseram que tanto ela quanto você tinham morrido no naufrágio. Só voltei a procurá-lo anos depois, na época desse processo do qual você falou, porque acabou chegando aos meus ouvidos a história de um garotinho que sobrevivera ao acidente. Disseram que tinha sido levado para um orfanato no Japão. Como você já sabe, o garoto que encontrei não era meu filho.

– Seu filho sou eu.

– Está tão convencido disso, garoto. O que o faz ter tanta certeza?

– Eu sinto que sou seu filho. Isso me dá a certeza. E o senhor viu a foto da minha mãe!

– Certo, certo. Eu vi. Era ela.

– Por que desistiu de procurar?

– Na verdade, nem sei por que comecei a procurar. Então, quando deu errado, eu simplesmente deixei de lado. Mas então, conte-me da sua vida – diz o homem, inutilmente tentando parecer menos frio. Hyoga começa a falar dos anos no orfanato, da casa onde mora, dos amigos, da faculdade e, principalmente, da namorada. O homem ouve tudo e às vezes tece algum comentário superficial. Depois, começa a falar essencialmente de seu trabalho, da empresa de beneficiamento de pescado que possui, e da vontade de expandi-la.

As horas passam rapidamente e o velho criado pergunta ao patrão se deve arrumar o quarto de hóspedes para o garoto. O homem responde afirmativamente, e então o velho some pelas entranhas da casa, levando a pequena mala que Hyoga trouxera e que deixara no hall de entrada. Minutos depois o velho passa pela sala e, antes de falar qualquer coisa, o patrão diz que ele já pode se recolher.

– Bom, é tarde – o homem diz a Hyoga, levantando-se da poltrona. – Seu quarto está pronto. Suba a escada. É a primeira porta. Amanhã iremos ao hospital fazer um exame de DNA.

– Claro – Hyoga responde, um tanto decepcionado. Esperava uma recepção mais calorosa. O pai, entretanto, o recebera friamente. – Boa noite.

– Boa noite.

Hyoga sobe a escada devagar e assim que se instala no quarto, um cômodo amplo, voltado para a frente da casa, ele pega o celular e liga para a namorada. Apenas um toque e ela já atende.

– Oi, meu amor – ele diz.

– Oi! Estava esperando você ligar! Demorou um século – ela diz falando tão rápido que ele mal compreende.

– Percebi que esperava. O telefone nem tocou direito.

– Pois é. Estava grudada nele. Como está?

– Estou bem – ele responde, menos empolgado do que pretende.

– E ele é seu pai?

– Acho que sim.

– Acha? Mas você não foi aí para confirmar isso?

– Sim, mas ele me recebeu friamente. Vamos fazer um exame de DNA amanhã.

– Meu lindo, não é normal? Você chegou aí do nada, dizendo ser filho do homem. Lógico que ele ia querer provas.

– Eu esperava que acreditasse em mim, sabe? Que a intuição dele dissesse que eu sou o filho que ele pensava ter morrido.

– Meu anjinho, nem todo mundo tem essa sensibilidade.

– É. Deixa pra lá. Amanhã faço o exame e pronto. Domingo volto para casa. Passo aí para vê-la assim que chegar.

– Tá, vou esperar. Se cuida, meu bem. E vá com calma, por favor. Não fique criando grandes expectativas.

– Não se preocupe. Até domingo, meu amor.

– Até. Te amo.

– Também te amo.

Ele encerra a ligação e desliga o aparelho, pois não deseja falar com mais ninguém. Depois, deita-se na enorme cama e pensa em tudo que acabara de acontecer. Sente que o homem lá embaixo é mesmo seu pai, mas não compreende como ele pode encarar sua chegada de maneira tão indiferente.

No orfanato, Minu espera ao lado de Eiri para saber as novidades.

– E então? – ela pergunta ansiosa.

– Ele disse que o sujeito o recebeu friamente – Eiri responde.

– Mas também, né? O Hyoga é maluco!

– É, eu também achei maluquice. Mas sabe como ele é com negócio de família, não é? Vão fazer exame de DNA.

– Claro! Só na cabeça do Hyoga é que o homem não ia querer!

– Agora é esperar até domingo, que é quando ele volta.

– É, isso se o velho não colocá-lo para fora antes!

– Ai, Minu, não exagera! E depois esse exame não sai na hora. Demora um tempão. Bom, vamos lá, que ainda temos que colocar as crianças na cama!

– É! Vamos lá com nossos adoráveis pestinhas!

– Por falar em peste, tem visto o Ikki?

– De novo essa pergunta? Não tem outra, não?

– Eu gosto de fazer essa! – Eiri diz, rindo muito.

– Você sabe que eu não tenho visto aquele... aquele... aquele peste! É, não tem outra palavra!

– Ah, acho que você devia ir mais vezes lá no sobrado, sabe? Para ele ver você! Como é que ele vai gostar de você se ele nunca lhe vê?

– Eiri, eu não vou ficar indo lá pra me iludir. Eu não sou o tipo de garota que ele gosta.

– Que tipo o quê, Minu? Quando o amor vem, essa coisa de tipo não tem a menor importância.

– Pode ser, mas eu sei que ele nunca vai me amar.

– Que dramático! Já disse que o namoro com aquela Pandora não dura!

– Já chega! Vamos cuidar das crianças!

– Vamos, srta. Dramática!

–S -A -

No sobrado, Shiryu acaba de chegar do trabalho. Depois de um bom banho, ele se senta no sofá e começa a estudar um pouco. O celular está a sua frente, para o caso de Shunrei pedir que ele vá buscá-la no trabalho, apesar de intuir que ela não o faria. De fato, minutos depois, ela chega em casa sozinha.

– Oiiiii! – ela surpreende o namorado com um beijo.

– Ah! Oi! Já veio!?

– Sim! Vim de metrô! Não vou ficar fazendo você de meu motorista, não é?

– Pode fazer. Eu não me incomodo.

– Imagina! Nem é tão longe assim.

– Então, como foi? – ele pergunta.

– Tudo ótimo! Emme não para um segundo, mas é uma fofa. Dei banho nela quando chegou da escola, depois dei o almoço e ela dormiu um pouco. Enquanto ela dormia, arrumei o quarto dela, lavei o uniforme. Aí ela acordou e fomos fazer a lição. Quando eu estava saindo de lá, ela perguntou se eu voltava amanhã e eu disse que só na segunda-feira. Então ela disse que ia ficar com saudade.

– Você está tão radiante! – ele constata, satisfeito.

– Estou mesmo!

– E... está cansada?

– Hum... um pouco. Por quê?

– Hoje faz uma semana que nos conhecemos.

– Uau! – ela exclama, perplexa. – Uma semana! É como se tivesse sido há meses! Meu Deus! Sabe o que parece? Aqueles reality shows. Duas pessoas se conhecem num dia, no outro já estão namorando, e no seguinte já é como se estivessem juntos há muito tempo.

– Mas é quase isso, não é? Afinal, acabamos moramos juntos de cara também.

– Verdade.

– Só que não seremos volúveis como esses casais. Nosso namoro é pra casar!

Shunrei dá uma risada gostosa e diz:

– Para, Shi!

– Estou falando sério! Não é pra rir, não!

– Assim espero! Tomara que a gente se case mesmo algum dia. Mas me diga, quando perguntou se eu estava cansada, estava pensando em alguma coisa?

– É, pensei em sairmos com a galera. Eles sempre reclamam que eu nunca saio. Então dessa vez eu pensei em ir. Eu e você, claro. Mas só se você quiser. Senão, ficamos em casa. Ou podemos fazer algum programinha só nosso. Você decide.

– Eu acho que quero ir com a galera! – ela diz rindo muito, e depois beija o namorado. – Vai ser divertido.

– Ótimo! A probabilidade de acontecer alguma coisa bizarra é bem grande.

– Coisas como você socar um cara no meio do restaurante?

– É, coisas como essa. Se alguém se meter com você...

– Milagre! Milagre! – Seiya interrompe ao entrar em casa batendo palmas irônicas. Ouvira o que o casal disse sobre sair e agora comemora. – Você vai sair de casa na sexta-feira? Inacreditável. Pena que o Hyoga não está aqui para ver isso.

– Pois é – Shiryu diz, e logo procura mudar de assunto. – Aliás, já que falou nele, como será que foi lá na Rússia? Será que o tal homem é pai dele mesmo?

– Quem sabe? Eu só sei que ele vai pirar se o velho for mesmo pai dele.

– Acho que não. Ele é equilibrado.

– Equilibrado? Sei... Mas esqueça disso. Eu preciso tanto falar com você.

– Se for sobre o assunto S.M. nem venha – Shiryu diz, muito sério.

– S.M.?

– Você sabe.

– Sei não.

– Shaina Meneghetti – Shiryu diz num sussurro, depois de uma careta impaciente.

– Ahhh! Sim! É sobre ela.

– Então estou fora!

– Deixa de ser mala, seu virgem! Eu preciso conversar.

Diante do comentário, Shunrei cora, mas ri.

– Rapazes, vou tomar um banho enquanto vocês conversam sobre esse assunto! – ela diz.

– Vai, meu amor. Melhor não ouvir as coisas que o Seiya fala.

Ela deixa a sala e Seiya pula no sofá, bem ao lado de Shiryu.

– Qual é a bobagem de hoje? – Shiryu pergunta.

– Fiquei embriagado.

– No serviço? – Shiryu arregala os olhos.

– É. Mas embriagado pelo perfume dela.

– Ah, Seiya, me poupe! Você tem namorada!

– Eu sei. Eu não quero namorar a Shaina. Eu quero transar com ela.

– Tá, Seiya, tá – impacienta-se Shiryu.

– Ultimamente não paro de pensar nisso.

– Já deu, Seiya. Vou tomar banho logo, antes que você se enfie no banheiro e não saia mais...

– Bem que eu queria, mas nem posso. Vou lá na mansão buscar a Saori. E depois vamos sair todos, inclusive você, por obra da santa Shunrei! Milagreeeee!

– Tonto – ri Shiryu. – A que horas vamos?

– Umas dez, né?

– Certo.

Pouco depois, quando Ikki chega em casa, encontra Shiryu estudando no sofá.

– E aí? – diz o rapaz de cabelos azuis.

– Oi, Ikki – Shiryu cumprimenta-o de volta.

– Está arrumado... – intriga-se Ikki.

– É. Shunrei e eu vamos sair com vocês.

– Está de brincadeira?

– Não.

– Olha, nunca pensei que um dia esse milagre fosse acontecer, mas já que os pombinhos vão sair conosco, vamos para um lugarzinho comportado hoje!

– Acho bom! Não vou levar minha namorada para os lugares cafonas que você frequenta!

– Cafona? Você nunca foi! Como pode chamá-los assim?

– Pelo estado que você chega!

– Ah, mas o estado que eu chego depende das mulheres que eu encontrar pelo caminho, não dos lugares propriamente ditos.

– Sei... sempre aqueles perfumes baratos.

– Mentira! Só pego mulher de nível, rapaz! E já que está reclamando é você quem vai pagar a conta hoje.

– Eu?

– Exato.

– Tá, eu pago, explorador.

– Ótimo!

Os dois riem juntos. Ainda estão rindo quando Shunrei volta à sala. Veste uma blusa branca com listras horizontais azuis, e uma calça jeans simples. Arrumara o cabelo num coque propositalmente desalinhado e pusera nas orelhas um par de brincos de bolinha que, de tão pequenos, parecem infantis.

– Estou pronta.

– Uau! Está linda – Shiryu volta-se para ela e sussurra.

– Obrigada. Foi o que deu para arranjar. Não sou muito de sair.

– Como é que foi no trampo? – Ikki pergunta a ela.

– Foi ótimo!

– Que bom. Então, vamos. Você vai no seu carro, Shiryu? – Ikki pergunta

– Claro.

– Ótimo. Então passa na June e pega o Shun, beleza?

– Opa, dando ordem? – protesta Shiryu. – Custa dizer "por favor"?

– Shiryu, só não vou dizer uns desaforos porque a sua namorada está aqui.

– Você é sempre muito gentil – Shiryu ironiza. – Eu pego o Shun, pode deixar.

–S -A -

Mais tarde, todos já estão no barzinho, escolhido a dedo: um cantinho aberto há pouco tempo, notadamente caro, e frequentado somente por ricos.

– Cada uma que você me arranja, hein, Ikki? – Shiryu sussurra no ouvido do amigo.

– Relaxa. Divido a conta com você – o outro sussurra de volta. – Mas não espalha.

– Certo.

– Sozinho, Ikki? Não vai convidar a Pand? – June provoca.

– Você sabe muito bem que nós brigamos. Não se faça de desentendida.

– Tão rápido, né? – ele continua a provocar.

– Pois é. E isso não é da sua conta.

– Só comentei.

– Pois não devia se meter em assuntos que não lhe dizem respeito!

– Ela é minha amiga! – June diz, em tom ameaçador.

– E eu com isso?

– Vamos parar com as farpas? – Shun intervém.

– Sua querida namorada foi quem começou – Ikki diz.

– Não importa quem começou. Só quero que parem!

– Nossa, que estresse. Está nervosinho, mano?

– Quero um pouco de sossego, será que posso? Isso devia ser um agradável momento de descontração, mas ao invés disso vocês ficam se provocando.

– O Shun tem razão, Ikki – Shiryu afirma. – Vamos tentar ser um grupo de pessoas civilizadas.

– Você também? – Ikki reclama. – Ah, eu vou cair fora.

– Já vai tarde – June não se contém e diz.

– Ah, é? Só por causa disso eu vou ficar – Ikki retruca.

– Relaxa, Ikki – Shiryu tenta amenizar.

– É, ainda mais que hoje é do bom e do melhor por conta do Shiryu! – Seiya completa. – Essa parte é boa!

– Boa para vocês. Andei olhando o cardápio. Tudo caro. Mas a ocasião merece. Fiquem à vontade.

– Oba! Só não pensei que o fato de você sair de casa era tão importante assim.

Shiryu e Shunrei olham-se cúmplices e sorriem.

– É, é importante – ele diz, deixando transparecer que há algo a mais.

– Então vamos aproveitar! – Seiya diz e ergue a mão, chamando o garçom e ao fazê-lo, vê quem acabara de chegar ao bar: Shaina Meneghetti. Acompanhada por um rapaz alto, muito bonito e vestido com extremo bom gosto, ela se aproxima da mesa para cumprimentar Saori.

– Boa noite, senhorita Kido – ela cumprimenta sorridente.

– Boa noite, Shaina – Saori responde.

– Não quer sentar com a gente? – Seiya convida.

– Não, obrigada. Só parei para cumprimentá-los. Com licença.

– À vontade – Saori diz, e se volta para o namorado com cara de poucos amigos. – Mas será possível que você babe descaradamente por ela? Não se dá nem ao trabalho de disfarçar.

– Não sei do que você está falando.

– Sabe, sim. Em casa conversaremos mais sobre isso.

Na mesa de Shaina...

– Minha patroa – ela diz ao rapaz que a acompanha, apontando discretamente para a mesa de Saori.

– Aquela garota?

– É.

– Mentira.

– Não, não, é verdade.

– Ela não deve ter nem vinte anos.

– Tem dezenove.

– Inacreditável!

– Ela herdou a empresa e começou a comandá-la, sempre com auxílio de excelentes consultores, claro, incluindo euzinha aqui.

– Interessante. Uma garota que comanda um império.

– O sujeito ao lado dela é o namorado.

– Aquele magricela que não tira os olhos de cima de você?

– É – ela responde, e dá uma gostosa risada. – Não tira os olhos dos meus seios, você quer dizer.

– Ele é uma criança.

– Não é tão criança assim, Afrodite.

– Você sairia com esse carinha?

– Por que não? Se ele fosse solteiro eu até dava uma chance para ele me mostrar o que sabe.

– Você é doida.

– É, eu sou. Mas ninguém pode saber disso.

– Juro que vou manter segredo! – o rapaz promete, rindo.

Com Saori e Seiya em pé de guerra, June e Ikki se estranhando e, consequentemente deixando Shun mais estressado a cada minuto, todos acham por bem terminar o passeio cedo. Shiryu e Shunrei voltam para o sobrado com Shun, depois de deixarem June em casa. Seiya e Saori vão para a mansão. Ikki disse que esticaria a noite em outro lugar, mas também acaba voltando logo para casa.

– Foi legal, não foi? Apesar das farpas entre os outros – Shiryu pergunta à namorada assim que a deixa no quarto.

– Foi! – ela responde, abraçando-o.

– De vez em quando podemos fazer algo assim.

– Eu vou gostar. Bom, então boa noite.

– Boa noite, meu amor.

E os dois beijam-se. A cada dia que passa os beijos ficam mais intensos e o calor que os toma nessas horas cresce igualmente. Ele a aperta forte contra o corpo. Gosta de sentir o coração dela batendo rapidamente, tal qual o seu próprio. O calor torna-se quase palpável quando ele beija a nuca dela. A respiração de ambos começa a ficar mais ofegante. As mãos brancas dela passeiam pelo torso definido e bronzeado do rapaz. Ele volta a beijá-la na boca de um jeito ainda mais sensual, tão sensual que ele para bruscamente ao sentir que seu corpo reagira às carícias. O rosto, que já estava afogueado pela excitação, fica ainda mais vermelho pela vergonha.

– Desculpa... ele murmura, respirando fundo.

– Tudo bem ela responde sussurrando, também com a face extremamente corada. Ia acabar acontecendo, não é?

– É... ele respira fundo outra vez e completa, meio desajeitado: – Eu... eu vou dormir. Boa noite.

– Boa noite, meu amor.

–S -A -

Quarto de Shun e Ikki.

– Agora vamos falar sério – Ikki diz ao irmão. – O que é que você tem? Você é de chiliques, mas não como aquele que deu no bar.

– Não gosto de ver discussões – Shun responde, pouco convincente.

– Sim, eu sei, mas não foi só isso. Algum problema entre você e a June?

– Não. Está tudo ótimo.

– Certeza?

– Absoluta.

– Então o quê?

– Nada.

– Tá, não quer contar, não conta. Agora depois não venha choramingar dizendo que eu não me importo com você.

O irmão mais novo dá de ombros e vira-se para o outro lado. "Como é que vou dizer o que é, se nem eu mesmo entendo o que estou sentindo?", pensa.

–S -A -

Mansão Kido.

– Eu não quis fazer mais confusão lá no bar, mas eu vi como você passou a noite inteira olhando para a Shaina. E não negue! – Saori diz, andando pela sala.

– Bom, eu... eu... eu olhei.

– Ainda admite! – Saori grita.

– Você falou para não negar!

– Mas era pra você negar até a morte!

– Da próxima vez, peça claramente.

– Seiya, assim eu não quero mais.

– O quê? Vai terminar só porque eu olhei para os peitos da Shaina?

– É! Você tem que olhar para os meus!

– Tá, eu sei, adoro os seus, adoro você, você é minha vida... mas eu não me controlo diante daquele par de peitos!

– Pois acho bom começar a se controlar, senão o namoro acaba mesmo.

– Vou me controlar sim, meu amor... – ele diz e a agarra de forma sensual.

– Nem vem que não tem! – protesta Saori. – Hoje não tem nada! Você vai para casa com vontade!

– Pô! Você é má!

– Sou mesmo! Vai, vai! Estou com raiva de você.

– Tá, tá, já vou. Até amanhã.

– Até. E pense bem no que você quer! Porque se o que você quer são os peitos da Shaina, que fique com eles de vez!

– Calma, amor!

– Se manda!

–S -A -

Um mês depois. Seis e meia da manhã.

Todos estão acordando e se preparando para ir à universidade. Ikki, entretanto, já saíra de casa faz tempo. O telefone toca e Shun atende.

– Alô – ele diz, ainda meio sonolento.

– Oi, é a Pandora. Eu queria falar com o Ikki.

– Ele não está.

– Como não está? São seis e meia da manhã! Acorda ele, por favor. É um assunto muito importante.

– Desculpa, mas ele realmente não está.

– Deve ter dormido com alguma vagabunda – ela murmura consigo, mas Shun ouve e diz:

– Não acho que tenha sido isso. Hoje é um dia peculiar para ele.

– Peculiar como?

– Coisa dele. Olha, ele só deve aparecer em casa à noite. Então, nem adianta tentar ligar antes disso.

– O celular dele?

– Você pode tentar, mas deve estar desligado.

– Eu preciso falar com ele. Preciso mesmo.

– Bom, boa sorte, mas pelo que conheço do meu irmão, hoje vai ser difícil.

–S -A -

Cemitério da cidade.

Ikki está ajoelhado diante de uma lápide branca.

– Minha querida – ele murmura. – Quanta saudade. Cada dia mais. É como se você tivesse ido embora ontem. A ferida está tão aberta ainda... tão aberta...

Enquanto fala, ele lembra claramente de como tudo aconteceu...

– Ah, amor, para com isso! – Esmeralda disse, sentada à porta de casa com Ikki. – Daqui a pouco meu pai chega e é aquela confusão por estarmos nos beijando na rua. Você sabe que ele diz que é não coisa de moça decente.

– Que nada! – ele retruca. – Quero mais é beijar você até cansar.

– Você nunca se cansa!

– Por isso mesmo! Vamos nos beijar eternamente!

– Bobo!

– Bobo, sim. Mas um bobo que ama você.

– Eu sei. Também amo você, seu bobo.

– Tem campeonato de boxe amanhã lá no orfanato. Vai ver minha luta?

– Vou e não vou.

– Como?

– Eu vou estar lá, mas vou fechar os olhos na hora. Detesto ver você apanhando.

– Apanhando, Esmeralda? Eu só bato!

– Convencido!

– Sou mesmo! – ele admite. – Sabe, eu estava pensando... quando eu for maior de idade o sobrado que a mãe deixou vai ser meu... Então, eu vou me casar com você e nós vamos morar lá.

– Casar, Ikki? Você só tem quinze anos!

– Sim, mas não estou falando em casar agora. É quando eu fizer dezoito. Você se casaria comigo?

– Claro! – ela diz. – É o meu sonho.

– Então pronto. Ano que vem já vou poder trabalhar. Aí vou juntar dinheiro e nos casaremos. Um casamento simples, claro. Não vou ter grana para coisas muito cheias de frescuras.

– Vai ser lindo de qualquer forma.

– Vai sim. Agora tenho que ir – ele disse e os dois levantaram-se do meio-fio. Ela o abraçou fortemente.

– Já vai mesmo? – perguntou.

– Já. Se eu chego tarde no orfanato ficam me torrando a paciência. Amanhã venho ver você de novo.

– Certo.

Enquanto os dois olhavam-se ternamente, um carro em alta velocidade subiu a calçada e os atingiu. Esmeralda sofreu o maior impacto e bateu violentamente contra o para-brisa. Ikki foi jogado contra a parede e um corte profundo abriu-se em sua testa. Ainda tonto, esforçou-se para chegar até a namorada.

– Esmeralda... – pronunciou o nome dela dolorosamente. A cabeça latejava e sentia como se alguma costela estivesse quebrada. – Meu amor!

– Ikki – ela sussurrou. Mal conseguia abrir os olhos e havia sangue por toda a parte. – Eu não vou aguentar.

– Vai sim. Não fala bobagem.

– Não é bobagem. Eu te amo muito, Ikki. Eu vou estar com você sempre. E vou cuidar de você.

– Eu também te amo. Aguenta mais um pouquinho, meu amor. Só um pouquinho.

– Não consigo – ela disse, num fio de voz. – Adeus.

– Não, não, não. Não vai, não! Esmeralda!

Os vizinhos que ouviram a batida já começavam a se aproximar. O motorista do carro abriu a porta e, cambaleando, saiu.

– Mas que merda que eu fiz! – disse, com a fala enrolada comum aos embriagados.

Ikki olhou-o furioso. Era o próprio pai de Esmeralda.

– Você a matou – disse baixo, para logo aumentar o tom e gritar o mais alto que podia: – Você a matou, seu filho da mãe!

– Se ela morreu é porque era o dia dela – desdenha o homem.

– Ela é sua filha! – Ikki gritou ainda mais alto.

– Eu sei. Mas eu preferia que tivesse nascido homem.

– Eu vou matar você agora! – Ikki partiu para cima do homem e socou-o com violência. Bêbado demais, o homem desequilibrou-se com o soco e caiu, batendo a cabeça contra o meio-fio.

– Tomara que tenha morrido! – Ikki disse sem olhar para o sujeito, e voltou para perto de Esmeralda. Abraçou-a com força. Pouco depois as ambulâncias chegaram, mas a única coisa que puderam fazer foi dar alguns pontos no corte que Ikki tinha na testa, pois tanto Esmeralda como o pai já estavam mortos.

Ao relembrar a morte de Esmeralda, Ikki sente novamente as emoções do dia em que a perdera, há exatos sete anos.

– Se você não tivesse ido embora – ele diz, ainda olhando para o túmulo da namorada –, a essa altura estaríamos casados, seríamos pais de muitos filhos. Eu seria feliz... – O celular toca. Ele se irrita. Não gostava de ser incomodado nesse momento. – Merda! Esqueci de desligar.

Ele tira o aparelho do bolso. A vontade é jogá-lo a metros de distância, e ao ver quem está ligando ele se sente tentado a realmente fazê-lo. Ao invés disso, deixa-o tocar. A pessoa continua ligando insistentemente e então ele resolve atender.

– Fala, Pandora.

– Aleluia!

– Fala logo, porque não estou de bom humor. Hoje não é um bom dia.

– Eu também não estou. Temos um problema.

– Temos? Eu e você? Acho que não.

– Acho que sim. Aliás, tenho certeza que sim. Estou grávida.

– Como é que é?

– Vou ter um filho seu.

Continua...