Sob a Luz do Sol
Prólogo
Foi rapidamente que decidi ser a minha hora. Eu estava cansada... simplesmente cansada de tentar fugir daquilo que eu realmente era.
_Não me esconderei mais. – Foi o veredicto, tão logo pude me dirigir a Randolph.
_Não tens opção. – Rudolph disse, saboreando o líquido avermelhado dentro de uma taça. – Ah, isso é quase tão bom quanto deveria ser.
_Rudolph... – caminhei até ele, olhar aflito. – parece que não me leva a sério. Mas falo sério. Vou embora...
_Embora para onde? Pretende sair ao sol, ir à terra, entre eles? O que sabe deles, Beatrice? O que sabe deles que te faça acreditar que poderá estar entre eles?
_Eu não sei nada, talvez seja essa minha inquietação.
Rudolph franziu o cenho, e deixou de lado a taça de odor nauseante. Eu o encarava, tentando entender onde encontrei coragem suficiente para desafiá-lo. Se aquele meu arrobo adolescente pudesse ser considerado desafio.
_Beatrice... não há nada neles que precise conhecer ou saber; nada deles é interessante. São mortais... eles envelhecem, engordam, alimentam-se...
_Também nos alimentamos. – Corrigi.
_É diferente, muito. Eles produzem dejetos... têm cheiros muito, mas muito confusos para nossas narinas sensíveis... eles são desagradáveis.
_Vivemos sob a terra. Não seríamos também desagradáveis a eles?
_E se eles desejarem matar-te? – Rudolph jogou-me uma isca.
_Podem matar-me? – Não me deixaria fisgar tão facilmente.
_Podem tentar. Podem descobrir fraquezas... mas pode ser pior... e se desejar matar-lhes?
_Vou desejar... não vou? Afinal, nossa alimentação não é baseada exclusivamente em...
_Sim, é. – Rudolph não me deixou falar a palavra. – Mas estás mesmo pronta para... matar, Beatrice? Conseguiria conviver com a morte de um humano em seus braços?
_Não desejo matar-lhes. Sei reprimir o instinto.
Rudolph soltou uma gargalhada. Pegou novamente a taça sobre a mesa, e aproximou-a de mim. O odor era desagradável, sim. O líquido viscoso não parecia saboroso, e ele sabia disso.
_Consegue bebê-lo? – Ele desafiou.
_Sim, se desejar. Alimento-me disso.
_Conseguiria resistir se ao invés deste cheiro fétido tivesse em sua frente o mais refinado dos banquetes? Preferiria a taça morna de sangue desconhecido à veia pulsante e viva de cheiro esfuziante?
Mantive-me muda, então. Rudolph riu novamente, e bebeu todo o conteúdo da taça, deixando o salão. Ele era irritantemente sábio. Sempre certo, sempre conhecedor demais de tudo que eu desconhecia. Mas eu já havia tomado minha decisão. Eu iria para o meio deles, mesmo que isso significasse algo ruim. Não passaria o meu “para sempre” ali, solitária. Eu queria mais, mesmo que mais significasse... menos.
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