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*tema: Beethoven’s Pathétique*

A escola. Eu tinha 20 anos na minha idade humana, mas não havia estudado em nenhuma ocasião. Eu sabia que não havia, pois aprendi a ler e escrever no covil. Os meus tinham seus truques. Rudolph e os outros líderes saíam vez ou outra… eles buscavam comida, eles aprendiam as novidades, e eles encontravam humanos dispostos a nos ajudarem. Desde que ficássemos longe, essa era a verdade. Então, aprendi a ler… a escrever… aprendi várias coisas. Felicia era minha tutora. Ela ensinava a mim e a outros do covil, os chamados jovens. Jovem era quem fosse transformado jovem… enquanto os outros eram os anciãos. Felicia estava no meio… ela tinha idade para ser minha ama. Talvez minha mãe. E eu creio que, vendo os Cullen, Felicia tenha sido minha mãe.

Mas aquilo era a escola. Eu ouvi os Cullen falar sobre ela durante longas horas… mas ainda não sabia o que seria. Chegaria atrasada, claro. Isso foi o que Edward disse… que estávamos atrasados por causa das idéias de Alice. Que eu não precisava se examinada… não precisava ser testada, ou nada. Afinal, eu não era uma cobaia, certo? Naquele instante, eu previ que ele não desejava que eu fosse revelada. Afinal, eu era parte humana… e Edward poderia não estar interessado nesta parte. Ele poderia não estar interessado no que esta parte humana poderia representar. E então, ele não desejava que ocorresse. Eu não queria que as fraquezas da minha humanidade fossem expostas de uma maneira que o fizessem sentir ainda menos interesse por mim. Mas estávamos na escola, e tão logo Edward parou o carro – que eu logo descobri amar! – e tão logo nos dirigimos ao prédio, eu entendi que estava próxima a eles.

_Esse… – eu disse, sorvendo o ar, olhos fechados.
_Sim, o cheiro. – Ele sussurrou. – Tentador, não?
O cheiro dos humanos era totalmente diferente do que eu estava acostumada.
_Faz-me considerar meu verdadeiro desafio deste lado da terra. – Fui verdadeira. Minha boca salivou no primeiro instante em que eu inspirei o ar límpido do estacionamento.
_É uma questão de controle… e sede. Sente sede? – Ele continuava sussurrando, enquanto me empurrava em direção aos lugares certos.
_Não. Estou bem.
_Então isso basta por enquanto.

Meu tutor vampiro cuidaria de mim até o final do dia. Ele teve o cuidado de me colocar para realizar as mesmas atividades que ele, mesmo que seus irmãos não estivessem em todas. Edward pareceu muito afeito a todos naquele lugar. As pessoas com quem ele conversou pareciam lhe abrir largos sorrisos de condescendências, sempre. Aquilo era quase irritante, pensei. Na verdade, eu não sabia o que faria ali, ao certo. Disseram-me que era um lugar de aprendizagem… que entre eles eu não aprenderia em casa com os tutores, mas naquele lugar. Com professores. E outros semelhantes.
_Como você… se mistura? – A curiosidade, assim que entramos no que ele chamava sala de aula.
_Eu não me misturo. – Ele sorriu. Fazia tempo que não sorria. Fazia tempo… fazia tão pouco tempo que estava entre os outros, como poderia fazer muito tempo que eu não o via sorrir? O paradoxo do tempo me perseguia, sempre. Mas o sorriso de Edward me havia tomado conta da sanidade desde o primeiro momento. Era como se houvesse uma ligação tênue e complicada entre seu sorriso e meu autocontrole. Era mais fácil manter o controle sem o brilho cortante de seus lábios à luz.

Edward levou-me até o professor e me apresentou. Beatrice Caldwell, prima. Por sorte, aquela seria a única exposição que eu parecia ter que enfrentar. Depois, ele me puxou até um par de cadeiras no canto da sala, e ali ficamos durante toda a denominada aula.

A aula. Eles eram interessantes, afinal. O professor parecia deter tanto conhecimento… e ele passava de forma simples e desinibida para aqueles que chamava alunos. E eles tinham que responder… acertadamente, sempre que inquiridos. Ora, não tão desinibido assim, então. Observei em volta enquanto o professor falava algo que eu já estava cansada de saber, sobre literatura antiga. A literatura que eu vivi, e que me acompanhou nos momentos de solidão, no covil. A literatura não me era mistério. Eu não tinha interesse no tema, e divaguei. Os olhos os procuravam… eles. Tantos, e tão diferentes. Sim, éramos parecidos e podíamos passar desapercebidos. Mas… eles cheiravam mesmo muito diferente.

Imediatamente, senti empatia por uma garota que trajava azul e tinha olhos claros. Pensei se os olhos humanos também mudavam de cor. Como se lesse minha mente, Edward me fez olhá-lo e, com uma cara bastante amistosa, sinalizou que não. Ele não lia mentes, claro. Vampiros não lêem mentes… claro. Eu era óbvia, essa era a questão. Talvez fácil demais de se ler… um problema. A garota parecia absorta nas palavras do professor, e não percebeu que eu a observava. Alguém ao seu lado sim. Um rapaz, loiro de olhos também claros. Era bonito… eles eram bonitos, então! E sua beleza era ainda mais interessante associada ao seu cheiro de sabor confuso. Talvez doce, talvez amargo, eu praticamente pude sentir o sabor e o calor do… sangue. Ele me fez ser vista pela garota que eu observava, e ela então me olhou. Senti algum constrangimento, então decidi parar de prestar atenção nos humanos.

Passaram-se outras aulas, e todas muito parecidas afinal. Somente os conteúdos ensinados mudavam, e eu fiquei seriamente entediada. Edward por algumas vezes segurou minha mão e apertou-a com força, provavelmente para repreender-me por agir de maneira estranha. Eu agia de maneira estranha inconscientemente, pelo simples fato de não saber portar-me em público. Vivera toda a eternidade em um covil, ele poderia ter paciência. Mas eu entendia que ele tentava apenas proteger o disfarce.

_Tente ser menos indiscreta. – Ele disse, quando a quinta das aulas acabou. Repreensão, então.
_Lamento. – Olhar baixo, sempre submissa.
_Bea. – Ele disse, puxando-me o queixo. – Não precisa desculpar-se. Eu… só quero manter-te na linha. Afinal, me fora designada esta missão… quero cumpri-la a contento.
_O que fazemos agora? – Tentei não prestar muita atenção nele. A claridade fazia seus olhos muito… atraentes.
_Almoço.
_O que é?
_Hora de comer.

Arregalei os olhos, surpresa. Não, assustada. Hora de comer… alimentar-se?
_Calma, Bea… – ele riu novamente, e muito. – nós não nos alimentamos agora. É que os humanos… eles comem várias vezes ao dia. Comida humana.
_Vocês também comem com eles?
_Fingimos. – Ele sorriu. Chegamos ao local de alimentação, e o restante dos Cullen já estava ali, sentados em uma mesa, com bandejas a frente. – Sirva-se de algo, distraia a comida, e depois estamos livres.

Demorei a entender, e preferi seguir Edward. Fiz exatamente tudo que ele fez, mas…
_Ei!! – Uma mão me segurou enquanto passava pelas mesas. – Ei… – era a garota que observei durante as primeiras aulas. – Novata na escola… ninguém vai apresentá-la a nós?
Notei que os Cullen me olharam, um tanto apreensivos. Edward parou, e intentou retornar para me socorrer.
_Sou Beatrice Caldwell… – tentei parecer gentil, e ensaiei um sorriso. – Sobrinha do Dr. Carlisle Cullen.
_Oh! – A garota pareceu bastante interessada, repentinamente. – Sobrinha do doutor! Que divertido… é de onde?
Ótima pergunta, que não me havia sido ensaiada antes. Eu não conhecia a superfície geograficamente, e não sabia responder “de onde”. Foi quando precisei efetivamente de socorro. Não havia treinado respostas, estava apenas arriscando. Eu não sabia que me fariam perguntas… não imaginava que eles interagiriam comigo.
_Ela é européia… e estudou até hoje em colégios internos. – Edward aproximou-se. Notei que a sua aproximação causou uma reação química nas presentes. Eu era notavelmente sensível à química, e aquela exalou um odor bastante complexo. Elas pareciam… satisfeitas com a presença dele, ali. Eu também estava, era fato. Poderia o meu cheiro denunciar-me, como o delas o havia feito?
_Sente-se conosco. – A garota então pediu. – Meu nome é Sylvia…
Olhei para Edward, assustada. Eu não estava preparada para ser abordada por eles… senti pânico. Um pavor terrível, muito pouco familiar. Pensei que meu coração ainda pulsante – e bastante perturbado desde minha fuga – fosse escapulir por entre os meus dentes. Que estavam cerrados, travados.
_Amanhã, Sylvia. – Edward empurrou-me para frente. – Bea está muito confusa hoje, o fuso horário a deixa alterada. Prefiro tomar conta dela até que ela se sinta totalmente… bem.

Eu não olhei para trás, mas pude ouvir várias exclamações após a fala do meu tutor. Elas pareciam, então, lamentar que eu não ficaria com elas. Ou lamentar o afastamento de Edward.
_Obrigada. – Falei, enquanto me sentava com os Cullen. – Não saberia como me sair dessa.
_Por isso precisa ficar conosco no início. – Alice sorriu, condescendente. – Mantenha-se por perto… Edward vai cuidar de tudo.
_Eu… não sei por que são tão gentis comigo. Por que me acolhem… e por que eles demonstraram interesse em mim.
_Você por vezes lembra muito um deles. – Jasper falou, e pude notar hesitação em sua voz. – Você… chega a cheirar como um deles.
_Ela também é humana, Jasper. – Alice o cutucou. – Não seja complexo demais, faz mal para sua adaptação.
_E… por que me acolhem? Vocês…
_Cuidamos uns dos outros. – Emmet era de poucas palavras com estranhos, pensei. – Você… Carlisle é uma pessoa ótima, ele sempre acolhe os que necessitam dele. Ele acolheu você, passou a ser parte da família.
_Simples assim. – Edward sorriu, enquanto se divertia com um alimento.
_Isso tem um aroma bom. – Eu disse, pegando o alimento de suas mãos e levando até as narinas. – Come-se?
_Sim. Mas só para quem tem sistema digestivo que funcione. – O comentário de Jasper desencadeou risos entre os Cullen; todos eles. Não era tão divertido assim ser o centro das atenções quando se está sendo ridicularizada. Mas parecia um passatempo divertido para eles, ridicularizar-me. Sim, eu era bastante ingênua como mencionara Esme. Talvez uma ingenuidade irritante, insatisfatória. Eu não queria ser ingênua. Eu queria ser sábia como Esme, linda como Rosalie, prosaica como Alice. Queria ser uma… mulher. E não somente uma fêmea. Eu parecia um animal cativo ao lado deles… uma tola sem conhecimento algum da vida.

Meu primeiro dia entre eles não foi muito ruim. Foi apenas diferente, como tudo que vinha acontecendo naquele lugar. Sob o sol as coisas aconteciam, foi como pensei. Sob a terra era sempre o mesmo… nos alimentávamos, ouvíamos Felicia e suas fábulas fantasiosas, conversávamos, líamos, adormecíamos. Sob o sol as pessoas faziam outras coisas… pude perceber. As conversas eram tão animadas e eles pareciam envolver tantos semelhantes…

Ao final do dia, eu estava exausta. Eu não estava acostumada a sentir exaustão, porque eu não dormia muitas horas por vez. E levava um grande tempo até me sentir exausta novamente. Não era exaustão… era apenas a necessidade do meu corpo em adormecer. Naquele dia não, senti-me exausta. Principalmente porque Alice e Rosalie, após a aula, me levaram para fazer algo completamente inusitado. Comprar roupas.

_Não acredito que nunca fez isso! – Rosalie reclamava, enquanto chegávamos a uma loja.
_As fêmeas mais velhas fazem as roupas de todos no covil. – Comentei, sentindo ansiedade.
_Mulheres, Bea. – Alice corrigiu-me. – Os humanos usam o termo mulher para definir a fêmea… e homem para definir o macho.
_Ah… então sou uma mulher. Edward é um homem.
_Sim, você entendeu. – Alice sorriu. – Venha… temos que lhe escolher roupas. Você não pode continuar usando as minhas… precisa de estilo próprio.
_E seu guarda roupas não agüenta. – Rosalie implicou.

Comprar roupas era divertido, então. Eu fui obrigada a vestir diversas diferentes, e as duas me ajudavam a escolher o que combinava. Enquanto isso, me explicavam coisas de mulheres. Femininas, como diziam. Eu não sabia quase nada daquilo… as mulheres no covil limitavam sua vaidade aos cabelos. Os meus eram longos, muito longos… não muito escuros, com cachos nas pontas. Eu tinha o cuidado de mantê-lo preso a maioria do tempo, e os escovava diariamente. Fora isso, nada mais. Usávamos o mesmo vestido até que ele se acabasse e tornasse imprestável. Alice me disse que as mulheres usavam vários vestidos até no mesmo dia… que precisávamos de muitas roupas.

_Se você dorme, melhor comprarmos peças específicas. – Rosalie considerou, aparecendo com mais roupas.
_Usamos roupas… para dormir? Quero dizer, roupas especiais?
_Claro, boba! – Riram as duas. – Bem, nós não dormimos… mas sabemos das tendências da moda. As mulheres adoram modelos ousados…
_Acalme-se Rosalie. – Alice tomou algo de suas mãos. – Bea terá que passear na casa… gostaria que ela desfilasse para Emmet neste visual? Afinal, mulheres são mulheres… homens são homens…
Rosalie me encarou, mesmo sem eu ter feito nada, aparentemente. As duas falavam difícil demais. Um vocabulário moderno… e confuso Eu demorei muito a entender que elas não desejariam me tornar atraente para dentro da casa. Afinal, aquilo implicaria nos machos delas. Homens… nos homens delas. Se eu estivesse certa, claro. Se Emmet e Jasper fossem realmente tudo que eu pensava que fossem.

O período entre eles parecia divertido, e os puros demonstravam estar completamente integrados no mundo dos humanos. Se os meus tivessem agido da mesma forma… talvez nunca tivéssemos sido banidos. Mas não… os meus tinham que se mostrar. Queriam mostrar que não eram perigosos… sempre foram! Sempre fomos perigosos. E muito. Por isso, banidos. Tivéssemos ficado em silêncio… eu nunca teria sido confinada à escuridão.

Ao retornar para a casa dos Cullen, eu logo me recolhi aos meus aposentos e lá fiquei. Deixei as roupas em qualquer lugar, e joguei-me na cama. Meu corpo ansiava por algum descanso, enquanto os puros pareciam completamente renovados a cada instante que se passava. A luz do exterior já havia se extinguido, até porque lá os dias duravam muito pouco. A luz do sol era quase pálida e sem vida, um pouco diferente daquela que vi quando saí à superfície. Ou não… ou meus olhos, por estarem condenados a nunca ver o sol, não conseguiram distinguir bem suas nuances.

Eu tinha os olhos fechados e tentava em vão perder a consciência em um sono profundo, quando meus ouvidos se enganaram com uma melodia. Música… ela penetrava em meus ouvidos, e me faziam sentir algo estranho. Um arrepio talvez. Eu não sei se eu sabia o que era um arrepio… era uma sensação tão humana. A minha consciência retornou por completo, e eu me dei conta de que a noite já pairava. A bola cinzenta – a lua – preenchia o céu com sua grandeza. As nuvens encobriam grande parte das estrelas, dando ao céu um aspecto aveludado. Senti conforto, a melodia me fazia sentir aquilo.

Saí do meu quarto, vagante. Era como nas lendas de Felicia, a pessoa que caminhava durante o sono. Movi-me lentamente, como em um baile, deixando que meus ouvidos se guiassem pelo som abafado do piano. Desci as escadas lentamente, para deparar-me com uma cena que me causou… desconforto. Edward, sentado ao piano. Era de seus dedos que a melodia surgia. Olhei em volta, não vi mais ninguém além dele. A sala era muito grande, e parecia na penumbra. Apenas a luz da lua e uma pequena luminária artificial traziam brilho às teclas amadeiradas do instrumento. Preto, eu pude ver as cordas vibrando suavemente a cada toque dos dedos longos e cadenciados de Edward.

_Beatrice. – Ele disse, sem desconcentrar-se da melodia. – Além de tudo é uma espiã? – Ah, ele também tinha senso de humor.
_Eu… acordei com sua música.
_É Beethoven. – Ele parou de tocar, e levantou o olhar. Aproximei-me um pouco, respirando bem lentamente. Eu sempre respirava lentamente, mas daquela vez a sensação era de agonia. Talvez Alice estivesse certa, e eu precisasse mesmo dos cuidados de Carlisle. Eu… parecia outra pessoa, sob o sol. Edward trajava apenas calças. Nada cobria seus pés ou peito. Minha cabeça entortou e meus olhos se acomodaram para visualizar melhor a sua figura. Ele me encarava, e sua expressão me denotava dúvidas. – Aconteceu algo?
_Por que veste-se assim? – Eu tinha que perguntar. Eu sempre perguntava demais, era a crítica de Rudolph. Aquela curiosidade ainda iria me levar a lugares ruins, ele me dizia. Mas, se a curiosidade me havia levado até os Cullen… e se aquele era um lugar ruim… que eu padecesse no inferno eternamente.

Então, ele demorou a responder. Talvez porque eu tenha ficado vidrada em sua figura. Meus olhos não conseguiram facilmente desprender-se… do seu corpo. Então eu ainda estava fascinada pelo corpo dos machos? Homens!! Eu precisava aprender que Edward era um homem! E sim… ele era muito mais lindo do que os meus… do que todos eles juntos. O conceito de beleza me deixava confusa, pois tudo que eu via sob a terra, no covil, era parecido, para mim. Talvez a luz do sol tornasse as coisas mais apreciáveis aos olhos. Eu não sabia. Só que desde que subira à superfície tudo realmente ficou mais belo. E eu estava ali, realmente fascinada pelo corpo de um homem. Sem imaginar que implicações aquilo poderia ter, eu desejava tocá-lo. Oras, tocá-lo não deveria ser tão complicado.. mas era. Primeiramente porque eu sentia um impedimento físico de fazê-lo, como se meus músculos jamais fossem esticar-se para que eu pudesse tocá-lo. Segundo porque parecia inadequado. Eu nunca tocara os … homens.

Mas eu desejava tocá-lo, e toda a forma definida de seu peito, a linha que descia até seu abdômen e se perdia ao encontrar-se com a vestimenta. Os músculos que subiam e desciam com a respiração mais lenta que eu já presenciara. Os braços com finos traços de pelos dourados que preenchiam toda a extensão do antebraço até as mãos… e os longos dedos que dedilhavam o piano de forma madura, clássica. Ele era quase… eu não conseguia descrevê-lo.

_Ah! – Ele riu, movendo-se na banqueta. – É mais confortável… não acha?
_Pode ser. – Baixei o olhar novamente. Talvez fosse confortável, mas não seria… insano?
_Sente-se ao meu lado, Bea. Aprecie a música comigo. – Sua mão tocou o couro avermelhado da banqueta. Minha vontade então não parecia muito sob meu controle. Fui conduzida por meus pés até ele, sem que o cérebro emitisse qualquer comando. Simplesmente fui levada… ele voltou a tocar, e a melodia era tão doce que eu me sentia flutuando.

Não me recordo de mais nada, até que acordei em meu quarto. Estava zonza. O dia já estava claro, e eu me lembrei subitamente da escola. Sobressaltei-me, e senti um mal estar súbito quando me coloquei de pé.
_Bom dia. – A voz ecoou por meus ouvidos, e o susto foi ainda maior. Edward estava da forma como antes, sentado por entre algumas almofadas.
_Você… o que faz aqui? – Senti mais uma vez aquele rubor quente que me assombrava. O quente não era meu.
_Você tem um sono muito agitado. – Ele riu. – Sente-se bem? Eu fiquei… preocupado. Aliás, ando preocupado. Você… costuma pegar no sono muito rapidamente, e eu acabo sempre tendo que te carregar.
_Escola? – Eu disse, constrangida.
_Sim, vou vestir-me. Não devo sair nessas condições de casa. – Mais senso de humor. – Afinal, está frio lá fora.

O vampiro saiu de meu quarto, e eu fiquei me olhando no espelho. Algo estava acontecendo comigo. Algo muito… assustador. Talvez estar no meio deles fosse… perigoso, então. Mas o perigo não estaria na minha sede, ou no meu desejo de beber o sangue fresco de algum humano. Eu provavelmente me saciaria com os animais, eu sempre me saciei. Mesmo que tivesse que bebê-los, mesmo que tivesse que caçá-los… eu não conseguia acreditar que eu fosse perigosa para eles. Mas… eles pareciam perigosos para mim. Era como se desde que subi à superfície algo naquele lugar me influenciasse barbaramente. E eu podia jurar que estava tudo relacionado a eles. E ao seu sol, àquela luz que tanto me encantava.