Sob a Luz do Sol

Capítulo 4 - Edward


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*tema: Yuko Ohigashi’s “If You’re Not Here” (Kimi ga inaito)

O vampiro caminhava ao meu lado, enquanto eu me deslumbrava com tudo. O sol havia sumido, diversas nuvens o encobriam. Percebi que o local era nebuloso… e gelado. Havia ar gelado soprando, mais gelado ainda do que imaginava ser a pele dos puros. Ou a minha própria. Ele caminhava sem dizer nada, apenas caminhava. Mãos nos bolsos, pude notar que ele sorria. Seria possível que aquele vampiro tivesse tanto senso de humor?

_Diga-me… prefere ser chamada Beatrice ou Bea? – O gelo foi quebrado.
_Bea. – O apelido me era confortável. – Minha tutora me chamava assim.
_Tutora?
_Sim, ela me cuidou quando cheguei ao covil. Recém transformada.
_O que recorda de sua vida humana?
_Nada. Rudolph diz que isso é característica dos híbridos, não se recordar de nada. Porque… a vida humana não nos deixa.
_Ora vejam. – Ele pareceu ainda não saciado com os questionamentos. – Então, Bea… quantos anos tem?
_Vinte.

Edward coçou o queixo. Um raio de luz escapou das nuvens e o atingiu. Caminhávamos em direção ao amontoado de árvores que ficava por trás da casa dos Cullen. Ele brilhou, imediatamente, reluzente. Olhei um tanto aturdida para ele, tentando compreender como alguém poderia brilhar mais do que o próprio sol.
_Sua pele… – Comentei, vendo o brilho lhe escapar pelas mangas da camisa.
_É, esse sol irritante. Notei que ele não causa esse efeito em você.
_Não. Mas… tenho bolhas. – Puxei as mangas da blusa, visando esconder as marcas que o sol me deixara.
_Bolhas? – Edward parou instintivamente e agarrou meu braço, com força. Seus dedos frios me comprimiram a pele enquanto ele saciava sua curiosidade. – Você se queima, como os humanos. Aha, o sol então te machuca mais do que a um vampiro…
_Talvez porque eu não seja um vampiro. – Balbuciei em protesto. Ele me intimidava; não me sentia à vontade para falar em voz alta com ele, em contestação. Puxei o braço de volta e o cobri com as mangas. Não gostava, mesmo de expor minhas fraquezas.
_Bem, Bea… você precisa ter 17 anos agora. – Ele continuou seu diálogo. Já estávamos por sob as árvores, e o sol havia novamente se escondido. Daquela vez, permanentemente… pois pesadas nuvens negras tomavam o céu de assalto.
_Preciso?
_Sim. Vamos estudar… e precisa ser mais jovem.
_Estudar? – A tola parecia apenas repetir as palavras do jovem vampiro macho. Tola.

Edward riu. Seus dentes brilhavam por sob a claridade que ainda me perturbava, e então percebi que ele era… que ele me exercia algum tipo de atração. Claro, ele era um macho. O que eu deveria esperar? Não conhecia outros machos da minha idade, ainda não estava preparada para eles, dizia Rudolph. Super protetor, sempre. Olhando para aquele, eu considerava se Rudolph não estaria certo. Talvez eu não estivesse mesmo preparada para eles.

_Como vou explicar a você? Bem… vivemos aqui, na superfície, porque nos misturamos aos humanos, Bea. Eles não sabem quem somos… o que somos. Por isso, vivemos aqui. Então, fazemos tudo que eles consideram normal fazer. Jovens estudam. Você poderia manter sua idade, e trabalhar… ou ir para a Universidade. Mas não existem Universidades em Forks. E também, você não me parece muito habilitada a trabalhar… não conhece algumas coisas básicas dos humanos, pode ser perigoso e constrangedor.

Se ele não sabia como explicar, imaginei quando soubesse.
_Isso é… confuso. – Baixei o olhar.
_É sempre tão evasiva? – Ele se colocou à minha frente. Estávamos tão dentro das árvores que temi estarmos perdidos. Ou poderíamos nos perder…
_Evasiva?
_Sim… fala baixo, olha para o outro lado…
_Não sei bem o que dizer. – Virei-me para ele. Talvez eu fosse, então, evasiva. – Eu… acabo de deixar meu covil. Não estou com muita noção de tempo, mas imagino que muito não tenha se passado. Eu não sei muito daquilo que vocês sabem, aqui sob o sol. Eu sei coisas que talvez vocês não saibam, mas que provavelmente não precisarão saber. Eu… eu só queria deixar o covil, ver como seria estar… do outro lado.
_E agora, o que pensa? Está aqui, do outro lado. – Ele falava e caminhava de costas, sempre a me olhar.
_Eu ainda não sei.
_Vamos voltar. – Edward decidiu, e passou por mim como se eu fosse feita de ar. Estremeci, e o segui. Ele podia saber como sair do meio das árvores, eu não.
_Já vi o que tinha para ver? – Perguntei. Sarcasmo àquela hora talvez não me fosse útil.
_Ainda não viu nada. – Ele sorriu, outra vez. Senti então um arrepio. – Mas eu terei muito tempo para mostrar… algo me diz que sua estada em casa será longa.

Edward começou a andar novamente, e daquela vez mais rápido. O dia parecia esvair-se aos poucos… o dia, o sol. Eu não sabia direito como seria minha vida entre os Cullen. Ou se eu me demoraria entre eles. Se eles se tornariam meu novo clã. Ou se voltaria para o covil. Mas eu estava decidida a provar. Decidida a experimentar aquilo que Edward disse, estudar. Talvez mais coisas. Eu queria viver entre eles. Queria sentir a pele quente deles.

Chegamos à casa dos Cullen e Carlisle aguardava na varanda. Sentado, ele parecia sereno. Um vampiro sereno. Eu que sempre os imaginei com garras… imaginava vampiros como monstros. Porque eles assim me foram apresentados… extintos monstros bebedores de sangue humano. Eles pareciam bem pouco extintos em minha frente, então.

_Beatrice. – Carlisle me cumprimentou. – Edward, preciso lhe falar.
Aquela deixa foi para que eu me retirasse. Edward franziu-se, e eu entrei na casa. Não me sentia à vontade, mas Carlisle disse que queria falar com Edward… de uma forma bastante sugestiva. Entrei, fechei a porta e encostei-me na parede, já arfante. Aquela coisa de respirar ar fresco também me era novidade. Talvez oxigênio demais, o coração a pulsar mais do que devia.

_Diga. – Edward falou, e eu ouvi. Então, poderia ouvir-lhes a conversa. Seria errado, mas eu costumeiramente fazia isso, em nosso covil. Não havia padrões éticos em questão.
_Edward… que impressão teve da híbrida?
_Que impressão.. ela é uma híbrida. Ela é estranha… porque às vezes o vento muda e ela cheira como um humano. Um odor me que confunde… desejei beber-lhe o sangue quando a vi pela primeira vez.
_Acha que pode controlar-se ao seu redor? – A voz de Carlisle demonstrou preocupação. – Edward, ela é uma vampira também… esse comportamento não é adequado.
_Posso me controlar. Aliás, o seu cheiro não mais me atrai tanto, agora.
Oras, meu cheiro não o atraia! Aquilo me indignou, mesmo não devendo indignar. Tola, novamente. Como poderia sentir-me indignada porque um puro não desejava minha morte? Mas a indignação passou pelo fato de que eu não o atraía. Como fêmea.
_Bom saber. Edward, quero que seja seu companheiro.
Silêncio. Silêncio cortante, como o gelo do exterior. Carlisle disse a frase, e nada mais podia ser ouvido. Nem Edward, em resposta. Até que…
_Mas Carlisle… pensei que deixaria esta escolha para mim.
_E a escolha é sua, Edward. Acalme-se… será companheiro dela durante a estada. Como um… primo. Sim, pode ser seu primo. Ela, minha sobrinha. O que acha? Boa a idéia? Quero apenas que não a deixe meter-se em encrencas… a híbrida parece bastante ingênua.
_Sim.. ela é ingênua. A idéia é boa… podemos apresentá-la na escola como uma prima. Poderá estudar algumas disciplinas. E… poderemos testá-la para saber se comida humana lhe apetece. Sempre tive essa curiosidade.
_Edward, a híbrida não é uma cobaia. Não a teste. Sua função é estar presente, não causar problemas.
_Está certo, Carlisle. Tentarei não permitir que ela se encrenque.

Devia ignorar o monte de insultos que me foram dirigidos. Ingênua, cobaia… eu já me sentia horrível, e aquele diálogo não serviria para me causar melhoras. Afastei-me da parede de caminhei freneticamente para outro lugar que não denunciasse minha fraude. Humana, sempre em um combate incansável com alguns valores desnecessários.

O caminho para meu quarto já era conhecido, então foi para lá que me dirigi. O coração estava mesmo pulsando mais vezes e fora do ritmo natural. Talvez não fosse somente o oxigênio em excesso, afinal. Talvez houvesse outra coisa que me fizesse sentir tudo aquilo. Meu coração sequer deveria bater… eu não estava viva. Mas ele batia, três, quatro vezes a cada vinte segundos… era tão lento que eu mal poderia senti-lo. Acelerado, eu sentia uma agonia terrível. Joguei-me na cama preparada por Esme, comprimindo minha cabeça com as duas mãos. Malditos vampiros… maldito ar fresco, malditas reações desconhecidas de meu corpo.

Sentindo menos dor, e a dor era dilacerante, deixei que meu cérebro pensasse… que Edward seria meu companheiro. Primo, era a palavra técnica. Secretamente gostei daquela idéia de pertencer a uma família pequena, e mais ainda de ter Edward como companheiro. Não adquiri por Jasper a mesma empatia que por Edward. Jasper parecia ansioso em minha presença… seu olhar sempre tenso, como um radar. Talvez a minha parte humana lhe incomodasse muito. Edward parecia mais controlado… ainda mais depois de garantir que eu não lhe atraía mais.

Batidas na porta, e alguém apareceu. A figura pálida de Alice me sorriu, enquanto ela entrava no quarto.
_Olá Beatrice… sente algo? – Ela perguntou. Tentei recompor-me…
_Sim.. não… quero dizer…
_Sim não? – Ela riu. Eu devia ser muito engraçada, pois todos riam muito perto de mim. Riam de mim.
_Eu estou bem. – Confirmei. – É que… estou ansiosa. São muitas sensações novas.
_Talvez você devesse ser examinada por Carlisle.
_Examinada? – Arregalei os olhos, pois aquela palavra me era estranha.
_Sim… Carlisle é médico dos humanos. Ele… os cura. Pelo menos tenta, os humanos são tão frágeis! E bem… você tem parte deles, não?
_Sim, tenho. – Confessei, mesmo diante da afirmação de minha fraqueza. Frágil.
_Vou pedir a ele que te examine… para saber se alguma coisa humana…
_Eu… – pensei em recusar, claro. Mas até eu não sabia a extensão da minha humanidade. Talvez fosse… divertido. – Tudo bem, eu agradeço.
_Vou falar com Carlisle então. – Alice virou-se para a porta, intentando sair. – Ah, e Beatrice… mais uma coisa.
_Sim? – Levantei uma sobrancelha, encarando-a.
_Não deixe Edward perturbar-te muito. – Ela sorriu. – Ele é o mais velho de nós… o filho mais antigo da família… mas é ainda o mais irritante.

Alice fechou a porta atrás de si e novamente a figura de Edward Cullen me dominou o que restava dos sentidos. A palavra cobaia não me saía da mente enquanto pensava em ser examinada por quem quer que fosse. Melhor que fosse por alguém parecido comigo. Pior era não saber se eu mais parecia um vampiro ou um humano. Eu sequer sabia quem gostaria de parecer. Edward Cullen. Por que seria que Alice me alertava sobre ele? Seria um alerta ou um comentário de irmãos? Seria implicância simples ou… algo com o que me preocupar? As perguntas começaram a surgir e eu não sabia se teria respostas para todas.