“Eu estive esperando por você durante toda a minha vida” – Honeybee (Steam Powered Giraffe)

Desde o início, ele sabia que havia algo.

Na primeira vez que a viu, todas as circunstâncias indicavam que ela tratava-se de uma completa desconhecida. Ainda assim, por alguma razão ela lhe era tão estranhamente... familiar.

A hipótese de que ele poderia já conhecê-la era pouquíssimo provável, principalmente porque Jacob tinha certeza de que se já tivesse encontrado uma mulher como ela, jamais teria se esquecido tão facilmente.

Entretanto, havia algo naquela moça... nos modos graciosos dela ao se virar para encará-lo, juntando as mãos quase nervosamente; no brilho singular daqueles olhos azuis gentis, na covinha que se fez presente em sua bochecha macia quando ela sorriu aquele sorriso nada menos que absolutamente estonteante. Céus, ela poderia parar guerras com aquele sorriso... que ela dera quando percebeu que ele a notara.

Chegava a ser engraçado que uma pessoa tão resplandecente quanto ela sorrisse tão sinceramente assim ao ser notada por alguém tão comum quanto ele. Quer dizer, isso devia acontecer o tempo todo com ela. E no entanto, ela sorria como se o dele fosse o único olhar que quisesse atrair.
Seria realmente possível que já fossem conhecidos?

Jacob tinha até mesmo a impressão de saber o nome dela. Chegou a perpassar sua mente de maneira fugaz, desaparecendo logo em seguida e deixando-o somente com aquele fantasma e aquela sensação de estar esquecendo de algo importante.

Era tudo tão bizarro quanto as ideias que ele tinha para os docinhos temáticos da padaria. Pensamentos aleatórios que iam e voltavam quase parecendo lembranças, mas... lembranças de quê?

“Olá”

Em uma voz doce e suave como a de um ser celestial, ela o fez notar que se aproximara do balcão.

Ele foi atendê-la, forçando-se a agir com sanidade embora sua mente estivesse um completo nó.

Ao longo do curto diálogo, foi reconhecendo nela trejeitos, traços, o timbre da voz. E a sombra daquele nome parecia latejar em sua mente a todo momento. Ainda assim, ele simplesmente não conseguia se lembrar com clareza de quem era ela.

Não, ele não tinha como conhecê-la. Estava parecendo um louco, isso sim. Devia estar embasbacado demais com a beleza dela.

Ao final, contudo, não resistiu:

“Perdão senhorita, mas já nos vimos antes?”

O rosto dela se iluminou novamente com outro sorriso radiante. Em antítese, porém, sua resposta foi enigmática:

“Talvez.”

E partiu, saindo pela porta da frente em seu andar cheio de charme, deixando-o perturbado com os próprios sentimentos.

Ele não conseguiu tirá-la da cabeça pelo resto do dia. O motivo principal foi a resposta misteriosa dela para aquela dúvida esquisita, mas não era como se ela não fosse capaz de causar tal efeito já naturalmente, por ser lindíssima.
Por fim, Jacob concluiu que era melhor esquecer o assunto. Por mais fortes que fossem os pressentimentos, ele não conseguia ligar os pontos e nada parecia ter um sentido geral.

No dia seguinte, ela voltou. No outro, também. E assim, foi aos poucos se tornando parte da rotina.

Ela fazia sempre o mesmo pedido e sorria sempre daquele mesmo jeito que deixava qualquer um completamente desarmado.

Toda vez que a via a sensação de reconhecimento ficava mais intensa, mas na falta de explicações plausíveis para tal, em algum momento parou de se importar.

Demorou uma semana para que ele percebesse que se apaixonara perdidamente por ela, fossem ambos já conhecidos de outrora ou não.

Manteve a descoberta em segredo. Escondeu seu amor dentro de si, alimentando-o todos os dias com olhares, sorrisos e palavras doces, que, na verdade, pareceram ter se tornado cada vez mais frequentes. Era quase como se ela soubesse, embora ele jamais cogitasse se atrever a confessar. Amava-a em silêncio.

Até todas as suas perguntas encontrarem resposta. Foi num dia de chuva. Chovia tanto, tanto que o céu parecia estar se desfazendo.

Ele voltava da padaria e amaldiçoava o fato de não ter um guarda-chuva quando a encontrou. E ela tinha um.

Sem pensar duas vezes, ela foi para perto dele, na intenção de mantê-lo também sob aquela proteção.

“É muita gentileza sua, mas não precisa se preocupar. Pode seguir seu caminho, senhorita.”

“De modo algum!” ela se recusou.

Talvez a educação mandasse, mas ele não quis insistir. Não havia como resistir a ela.

Conversaram, então, com palavras e com olhares. Nunca tinham se encontrado fora da padaria, eram ainda dois estranhos um para o outro, todavia... não eram.

Não era como se fossem.

De repente, o silêncio se fez. Era, porém, um silêncio apenas de palavras.

Ela o fitava intensamente.

“Jacob”, murmurou, e com as mãos gentis segurou-lhe o rosto num gesto carregado de afeto.

Ele não entendeu, principalmente porque nunca lhe dissera qual era seu primeiro nome, por mais natural que soasse na voz dela. Contudo, nem ousou se mover. Era um instante precioso demais para ser estragado com indagações.

Com uma risadinha, delicadamente ela fechou-lhe os olhos.

Ele parou de respirar.

Com os dedos finos, ela tocou-lhe os lábios... e o beijou.

O mundo parou de rodar. A chuva parou de cair. Não se ouvia mais o som dos automóveis furiosos a passar pela rua, não se sentia mais o frio do vento anunciando a chegada do inverno. Não havia mais nada além.
Apenas o calor que o envolvia. O calor dela, ela, ela... ela.


E então, ele finalmente soube. Cada parte dele soube, cada parte dele enfim reconheceu:

“Queenie.”

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.