Talvez fosse cisma dele, afinal para um garoto novo em Levittown, Adam Burbank Lazzara estava criando muitas teorias. Já estava estudando na escola pública da cidade há pelo menos uma semana, e estava razoavelmente surpreso por ainda não ter apanhado ou ter sido xingado por conta de suas calças justas e camisetas curtas. Tinha quinze anos, e era mais do óbvio que era gay. O grande problema pro menino do Alabama não era que ele fosse gay, mas que ninguém mais na cidade parecia ser, com exceção talvez daqueles dois. Acontece que os ditos dois não estudavam na sua escola, e não estavam nem sequer em um universo próximo ao dele, e Adam só os conhecia de vista, literalmente. Todos os dias depois da aula passava na Starbucks para tomar um cappuccino quente – o inverno de Long Island castigava mesmo- e acabava sempre sentando na mesma mesa, olhando pela mesma janela e vendo as mesmas pessoas passando por ali. Duas dessas pessoas eram garotos que deviam ser uns dois anos mais velhos que ele, que saíam da escola no mesmo horário, e que passavam por ali. Nunca os viu lá dentro no entanto.
Sabia que estudavam em uma escola católica e cara ali perto – usavam a calça social preta, camisa preta e o agasalho preto com o emblema da escola -, e que faziam parte da alta sociedade de meninos comportados, ricos, bonitos e héteros. Tudo bem que héteros era a única coisa que não combinava com os dois, mas nos outros quesitos eles se encaixavam perfeitamente. Um deles, tinha o cabelo e os olhos castanhos, usava óculos, era magrelo e pequeno, parecia tímido e era sempre quem estava ouvindo seu amigo. O outro tina o rosto adornado por cachos castanho-claro, olhos terrivelmente azuis, e era expressivo, falava e gesticulava muito. Sempre que os via estavam assim: o dos olhos azuis falando, e o outro escutando.
Mais tarde veio a descobrir que se chamavam Jesse e John, olha só, até os nomes combinavam.
Adam se sentia mais ou menos como um stalker, ficava os observando quando surgiam no fim da rua, e se virava na própria cadeira vendo até que sumissem. Pensou inúmeras vezes em seguir os dois, mas o que diria se fosse pego?
É, não teria desculpas.
Não podia dizer aos dois que sabia seus nomes, que os observava passar todos os dias, que os achava lindos e que durante a noite fantasiava sobre eles dois juntos, fazendo o que os padres da escola católica onde estudam considerariam pecado, dentro de um confessionário, usando aquele uniforme lindo que vestiam. Eles ficariam no mínimo enojados.
Ou assustados.
Mas era tão claro que se gostavam. Tudo indicava isso, pelo menos, desde as guerras de neve na rua, até os abraços inesperados dado enquanto andavam por aí.
Adam às vezes se perguntava se o que imaginava realmente acontecia, se Jesse e John alguma vez já pensaram que essa amizade deles dois era obviamente cheia de tensão sexual, se já se imaginaram juntos, se um pensava no outro dessa forma, ou se já chegaram a fazer alguma coisa. Se entretinha por horas e horas a fio pensando no assunto, e chegou à conclusão que era mesmo obcecado pelos dois, e eles nem imaginavam.
Não, não, Adam nunca quis um, ou outro. Se pudesse, um dia, ia querer os dois. Juntos.
Naquele uniforme, é claro.
Tinha quase certeza de que um sabia dos sentimentos do outro. Os sorrisos trocados, os toques tímidos, os olhares que achavam que passavam despercebidos, todos eram registrados por ele. E ele achava lindo. Eram lindos juntos, e tão, tão claramente apaixonados! Seu único pesar era que estavam comprometidos um com o outro, e que ele nunca, nem que fosse correndo atrás dos dois, se apresentasse, enchesse ambos de bebida, ou fizesse uma chantagem falando sobre o que sabia, de modo algum conseguiria ser o terceiro membro da relação. Sempre seria o intruso, o estorvo.
Ou o que estava sempre observando os dois.
Podia escolher, não é?
Estava sentado no Starbucks quando viu os dois apontarem na rua, os observava da janela lateral onde ficava todos os dias. Mas não conseguiu ver quando sumiram pela rua, pelo simples fato de que estavam agora sentados há pelo menos duas mesas dele.
O de olhos azuis, Jesse, tomando um Mocha.
O de óculos, John, tomando um Macchiato.
Ninguém, exceto ele percebeu que suas mãos estavam entrelaçadas por debaixo da mesa.
Ninguém, exceto ele, percebeu que foi Jesse quem pagou a bebida de ambos.
Ninguém exceto ele ouviu a troca de “eu te amos” deles.
E ninguém, nem os dois, sabia o quanto aquilo o deixava feliz.
Ainda ficou ali mastigando o canudo do copo onde esteve seu café até que os dois saíssem, desejando que talvez, em um futuro distante, pudesse contar a eles que sabia. Afinal, esteve certo uma vez, ninguém impedia que estivesse certo uma segunda.
Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.